𝑿𝑰𝑽. honor.
CAPÍTULO CATORZE
Honra.
── ISSO TUDO pode acabar em um instante. A decisão é de vocês. Quem destruiu o Miyagi-Do? — o Lawrence gritava, passando pelas fileiras, enquanto os alunos faziam o mesmo exercício repetitivo milhões de vezes. Uma flexão, se erguia em um pulo, uma flexão novamente.
Theodora buscou por ar cansada, enquanto estava em pé e se abaixou novamente repetindo o movimento. Se continuasse assim por muito tempo seus músculos virariam pó.
── Sabem que eu não gosto do LaRusso, mas não ensinamos essas coisas aqui — o olhar dos dois senseis examinava minuciosamente a turma, mas só um deles parecia achar a punção justa — Pelo menos, não mais. Então vou perguntar novamente: Quem destruiu o Miyagi-Do?
── Não foi eu, sensei. Eu jamais desrespeitaria outro dojo... — o aluno mais velho respondeu a pergunta claramente retorica.
── Fecha o bico, Gordinho! — o mais velho rapidamente o cortou — Não quero desculpas, quero respostas!
── Não sabemos quem foi, sensei — Miguel respondeu parando por alguns segundos de pular, sua voz era ofegante.
── Alguém sabe algo — o Kreese se pronunciou pela primeira vez desde o início da confusão — A pergunta é... Quem vai falar?
Talvez fosse constante perda de água do corpo, ou o café da manhã mal tomado que estivesse fazendo Theodora delirar mas a garota jurava ter visto o mais velho e Falcão se entreolharem cúmplices.
Um telefone tocou do escritório.
── Continuem. Podemos fazer isso o dia todo! — Johnny gritou, sumindo em direção ao outro cômodo.
Depois de alguns minutos sobre o constante esforço físico combinados com o olhar mortal do Kreese e algumas reclamações, a voz do mais velho rompe as repetições.
── Pausa de dois minutos! — John gritou. Imediatamente os alunos se dispersaram em direções opostas — Recomponham-se.
Theodora sentou no chão próxima a própria bolsa enquanto bebia longos goles de água da garrafa. Os olhos dela focados no garoto de moicano conversando com o sensei mais velho.
Algo estava estranho nessa história e as cartas não favoreciam Falcão.
E para o terror maior da garota, Johnny precisou resolver uma emergência, deixando a classe apenas com o Kreese, que apenas intensificou a punição.
Na academia do dojo, o antigo depósito, Theo estava posicionada em frente de grandes cordas, ao lado de Miguel e Tory, executando um movimento exaustivo. Os cabelos loiros dela estavam molhados de suor e os braços doíam como se pegasse fogo.
── Continuem — o sensei ordenou, soando como a voz do diabo vinda do subsolo — Tenho o dia todo.
── Será que eu posso vomitar? — o homem mais velho perguntou com a respiração pesada para Aisha.
── Não.
── Homens da marinha vomitam direto.
── Não vomite! — a garota de óculos rebateu apavorada.
── Se você vomitar, eu te mato — Theo reforçou, também ofegante sem parar de movimentar as cordas.
── Ele não vai relaxar. Temos que descobrir quem foi — Miguel disse para as duas loiras ao seu lado.
── Aposto que foi o bafo de merda! — Tory resmungou cansada.
── Vai se foder! — o garoto acusado se levantou do chão, se aproximando.
── O que disse? — a Nichols rebateu, largando as cordas.
── Vai encarar? — provocou.
Tanto o garoto quanto Tory estavam prontos para partir pra cima, o cansaço intensificando o ódio dos dois. Miguel e Theodora também largaram suas respectivas cordas, o moreno avançou no meio dos dois tentando evitar uma briga e a Young colocou a mão sobre a barriga aproveitando a oportunidade para recuperar o fôlego.
── Parem! — a voz do Kreese reverberou — Querem mesmo saber quem foi?
Os alunos se entreolharam confusos. Depois de tanto esforço o sensei teria a resposta na ponta da língua?
── Foi o Falcão.
Theodora sentiu o coração errar uma batida, era como se sua intuição, mesmo sem provas, estivesse certa. Todos os olhos se voltaram para o garoto de cabelos vermelhos espertados, o dojo inteiro pareceu segurar o fôlego.
── E o Diaz — Kreese continuou. Miguel franziu as sobrancelhas — E a Young. E a Robinson, a Nichols, o Gordinho, o Red...
Todos pareciam mais confusos do que nunca, se entreolhando como se houvesse um impostor entre os inocentes.
── Quando um de vocês faz algo, todos fazem. Vocês vivem e morrem com as consequências e glórias. Porque vocês são todos Cobra Kai — o mais velho colocou as mãos no bolso do kimono com um ar de superioridade — Dojo principal, cinco minutos. O treinamento de verdade vai começar.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
Toda a força que restava em Theodora foi usada para desferir um chute no peito de Mitch que cambaleou, caindo de joelhos no chão.
O Kreese havia escolhido treinar combate, o que seria a escolha favorita da garota loira se ela não estivesse completamente exausta. Os músculos da Young pareciam pesar toneladas e havia um rubor impregnado nas bochechas devido ao calor e suor.
── Ponto! — Miguel anunciou estendendo uma bandeira vermelha.
── Bata de novo — o comando do mais velho fez os olhos cinzentos da garota se arregalarem, o peito dela subia e descia rapidamente e Mitch ainda estava de joelhos no chão.
── O que? — a voz da Young soou hesitante, não era nem um pouco ético bater em alguém já caído após o ponto ser marcado.
── Algum problema com isso? — a voz do mais velho atingiu a garota na espinha, era impossível não se sentir tensionada a obedecê-lo mesmo que fosse por medo — Uma luta só acaba quando o inimigo é derrotado. Não tenha compaixão com o inimigo.
Theo só conseguia ouvir o barulho do próprio batimento cardíaco acelerado, o sangue correndo desesperadamente tapando seus ouvidos. O olhar dela percorreu do sensei para Mitch no chão, eles compartilhavam a mesma coisa no olhar, medo.
A loira se preparou para dar um chute circular no rosto do garoto, mas antes que seu pé pudesse deixar o chão e pegar velocidade a voz de Miguel cortou o ar como uma lâmina.
── Espera! — o Diaz e a amiga se entreolharam — Não é isso que o sensei Lawrence ensina.
── Como? — John franziu as sobrancelhas, se existisse algo que ele odiava mais do que ordens não cumpridas era alguém questionando sua superioridade, especialmente um adolescente.
── Não há honra em ser impiedoso — respondeu — Theo marcou um ponto. Acabou.
O Kreese cerrou os olhos e inalou profundamente, analisando uma possível resposta.
── Sensei Lawrence tem razão, claro. Em um torneio, a luta para quando você marca um ponto — o mais velho caminhou, atravessando o tatame lentamente — Mas, no mundo real, não se trata de marcar pontos. Se trata de ser um vencedor ou um perdedor. E não há perdedores nesse dojo.
Apesar do medo que sentiu com a ordem, Theodora sabia que no fundo ele estava certo.
As regras do karatê se aplicam para o tatame, mas a vida real é completamente diferente. Não existem regulamentos para te proteger em brigas reais. A vida real não mostra compaixão.
Não concordava com os métodos do mais velho, mas finalmente conseguia entender que a teoria dos seus ensinamentos eram boas.
E talvez, só talvez... Johnny não estivesse tão errado assim em junta-lo ao Cobra Kai.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
── Sensei Kreese — a voz de Miguel interrompeu o levantamento de peso do mais velho na academia do dojo. Theodora estava ao lado dele, mexendo nervosamente nas unhas.
── Em que posso ajuda-lo, Sr. Diaz? — John estava de costa para a porta.
── Queríamos nos desculpar pela aula de ontem — A Young comentou, anunciando sua presença.
── Foi desrespeitoso desafia-lo — Miguel continuou.
Kreese posicionou os pesos no chão, virando para os dois adolescentes.
── Vocês honram o sensei Lawrence com lealdade. Não se pede desculpa por ser leal — o mais velho disse amigavelmente — A intenção do sensei Lawrence é boa. Mas acho que ultimamente ele está um pouco confuso. Juntos vamos fazer com que ele volte aos trilhos. Não é?
Os três sorriram suavemente enquanto o Kreese dava batidinhas no ombro de ambos. Theo acenou com a cabeça e Miguel murmurou um "arram."
E quando a loira e o Diaz voltaram ao dojo principal para o início da aula, o sorriso do Kreese sumiu por completo. Ele sabia que seria muito mais difícil do que pensava, mas jamais desistiria ressuscitar o verdadeiro Cobra Kai de volta.
── Cobra Kai não é um hobby. Não é um clube — o mais velho disse, as mãos atrás do corpo enquanto caminhava entre as fileiras de alunos praticando socos sincronizados — Cobra Kai é seus irmãos e irmãs. Vocês serão Cobra Kai para a vida toda. Porque Cobra Kai... Nunca morre.
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