𝑿𝑰𝑰𝑰. fighter by nature.
CAPÍTULO TREZE
Lutadora por natureza.
NA OPINIÃO de Miguel e Theodora, Johnny Lawrence havia feito uma pessima escolha ao promover o Kreese a sensei. Porém era inegável o tanto que o dojo evoluiu com os ensinamentos dos dois combinados.
A garota ainda tinha um pé atrás quando se tratava do mais velho. Ele possuía uma aura incomoda, como se a qualquer momento fosse se transformar em um vilão de desenho animado dando risadas malignas e alisando um gato sobre o colo.
Certo, talvez Theo estivesse ficando doida.
Ela estava tentando se livrar do seu preconceito com o Kreese, talvez fosse apenas o etarismo falando mais alto.
A garota expulsou os pensamentos aleatórios focando na aula.
── Está enferrujado — o Lawrence provocou, segurando a perna do mais velho e o empurrando levemente em seguida. Todos os alunos estavam sentados ao redor do tatame assistindo os dois senseis colocarem os movimentos aprendidos em prática.
Ambos trocaram alguns socos antes do Kreese imobilizar seu adversário, ainda em pé.
── Prestem atenção. Ele pegou meu pescoço, e eu, o cotovelo dele. Se eu tentar sair... — Johnny simulou o movimento.
── Eu aperto e apago ele — completou o mais velho.
── Se eu for para a costela... — o Lawrence simulou uma cotovelada no abdômen do sensei para se libertar.
── Ele deixa o peito aberto — novamente a voz do Kreese completou, voltando a imobiliza-lo — Duas opções difíceis.
── O que você faz?
O dojo prosseguiu em silêncio, ninguém sabia a resposta para a pergunta quando subitamente Johnny engancha a perna no adversário, levando os dois em direção ao chão.
── Esquece as consequências e parte pra cima — respondeu a própria pergunta, batendo a poeira do kimono preto e se colocando de pé.
── Você pode se machucar, mas quem fica parado não ganha.
── Você faz uma escolha, toma uma atitude e aposta tudo — o olhar dos dois senseis recaiu sobre Miguel, Theodora e Falcão sentados lado a lado, com os olhos hipnotizados nas instruções.
Internamente, o Kreese estava fazendo sua aposta de prodígio. Falcão já parecia envolto aos encantos e romper as amarras do Diaz com o Lawrence parecia uma tarefa mais difícil do que trazer a Young para o lado do verdadeiro Cobra Kai.
Depois do treino os amigos haviam combinado de ir a um restaurante ao shopping. Theodora dividia a mesa com Tory, Aisha e Moon, enquanto Miguel parecia alheio em outra mesa trabalhando em algo no laptop e Falcão passeava pelas mesas irritando os novatos.
── Meu Deus! A Yasmine tem o mesmo biquíni que eu! — Moon comentou sorridente, mostrando uma foto do instagram da garota loira que costumava encher o saco de Theo e Aisha.
── Eu não acredito que essa garota ainda existe — a Young comentou, se recostando no assento e dando um gole no milkshake de morango.
── É, fala que ela pode ficar na França — a de óculos completou, revirando os olhos.
Tory parecia dispersa na conversa. Theo acompanhou com o olhar quando a Nichols pegou um cubo de gelo no próprio copo arremessando em direção ao Diaz na outra mesa.
── Ei!
── Opa! Deve ter escapado da minha mão — Aisha e Theodora, sentadas lado a lado, se entreolharam com sorrisos de canto — O que você está fazendo aí?
── Apostando tudo — o garoto respondeu concentrado na tela, fazendo a loira franzir as sobrancelhas.
── Aposta online é crime viu — Theodora comentou rindo, sendo ignorada pelo amigo.
Demorou alguns segundos a mais para a curiosidade da novata falar mais alto, caminhando até a mesa do Diaz e ocupando uma cadeira de frente pra ele.
Theodora sorriu, antes da sua atenção se voltar para o seu celular apitando na mesa. Uma mensagem do grupo do Cobra Kai, sobre uma review de uma estrela sobre o dojo. Ao clicar no usuário responsável sobre as palavras a loira pressionou os lábios em uma linha fina.
── Merda — a garota depositou alguns dólares sobre a mesa e levantou apressadamente, confundindo as duas amigas ainda presentes — Tenho que ir. Mantenha os olhos neles dois. Eu quero meus dez dólares.
Os olhos cinzentos da garota vagaram pelo restaurante, Falcão não estava em nenhum lugar, o que só podia significar a pior das hipóteses: Ele iria resolver do seu jeito.
Oh Deus, Demetri estava ferrado.
Theo sabia como o Cobra Kai havia ajudado a auto estima do amigo. Mas sentia que pouco a pouco as lições do sensei Kreese se tornavam cada vez mais mantras, entonados por Falcão sem nenhum questionamento.
A mente da garota vagou sobre os breve conhecimentos que tinha sobre Demetri. Era quarta-feira, ou seja, era um senso comum que ele estaria na loja de quadrinhos, analisando os lançamentos.
A Young apertou o passo, quase correndo, quando o barulho e a multidão na praça de alimentação captou sua atenção. Os olhos da loira se arregalaram ao ver os dois alunos do dojo rival lutando quase que sincronizados contra cinco alunos do Cobra Kai, dentre eles Falcão.
Samantha tinha o braço extendido em direção a Demetri, protegendo o garoto enquanto Robby estava prestes a dar um chute certeiro no garoto de moicano distraído.
O corpo de Theodora avançou contra sua vontade e quando menos percebeu a garota estava entre os dois, segurando a perna do Keene, bloqueando o golpe e o empurrando.
O Keene cambaleou, apoiando as costar em uma mesa para não ir de encontro ao chão, os olhos vacilando quando encontraram com os da loira. Theo era como um cubo mágico que Robby havia montado diversas vezes mas agora parecia impossível de ser desvendado. Era como se todo o poder dele de decifra-lá por inteiro agora só servia para enxergar seu exterior completamente mudado.
── Dê o fora daqui — a garota rosnou entredentes, os punhos cerrados preparados pra atacar a qualquer momento.
── Vamos, Robby — a voz de Samantha fez a garota travar ainda mais o maxilar.
Falcão não avançou mais, sentindo a tensão enquanto massageava uma mancha vermelha no rosto que logo se tornaria arroxeada.
A movimentação dos seguranças se aproximando alertou os jovens. Theodora sabia que estaria de castigo por pelo menos uma década se seu pai soubesse dos acontecimentos do dia, então foi rápida em agarrar o pulso de Falcão e sumir na direção oposta dos alunos do Miyagi-Do, aproveitando a multidão para a camuflagem.
── Que porra foi essa? — a Young se controlou para não gritar. Ela e Falcão estavam em um local mais calmo, longe da confusão.
── Demetri entrou para o Miyagi-Do — respondeu o do moicano simples, limpando algumas gotas de sangue do lábio cortado.
── E você ia matar ele no soco? — Theo retrucou abismada — Ele é nosso amigo!
── Ele é um nerd! E sempre vai ser um nerd! — Falcão rebateu no mesmo tom de voz.
── E daí! — Theodora gesticulou indignada — Se você continuar nesse ritmo vai acabar preso. E pior, levando todos nós com você.
O garoto bufou sarcástico.
── E enquanto você e o Keene? — as palavras pingaram como veneno da boca do mais alto, adentrando um território perigoso. Theodora se arrependeu amargamente de ter contado a Falcão sobre sua antiga amizade com o garoto, mesmo que tivesse sido apenas a versão rasa da história.
── O que tem? — a Young rebateu afiada, se aproximando como se ele estivesse a desafiando. Nenhum dos dois gritava mais.
Falcão sentiu vontade de falar como ela havia fraquejado na presença do garoto, sobre como ela não tinha o potencial do Cobra Kai, sobre como ela era covarde pra lidar com o passado... Mas ao olhar nos olhos cinzentos que o dilaceravam ele sabia que estaria mentindo algumas partes, então engoliu em seco, obrigando sua raiva a voltar pra dentro.
── Foi o que eu pensei — Theo completou, se afastando.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
── Bom dia — Theodora cantarolou, depositando um beijo no topo da cabeça do seu pai que estava sentado na mesa, tomando café e lendo algo no celular.
── Bom dia — o homem leva a xícara aos lábios, bebericando a bebida quente — Tem café na cafeteira.
── Valeu.
A Young mais nova estava vestida com suas roupas de ginástica e tinha uma bolsa traspassada no corpo, enquanto servia uma xícara de café e enfiava uma torrada na boca.
── Tem treino hoje? — o mais velho perguntou prestando atenção na pressa da filha.
── Sim. E eu me superei no atraso — comentou a loira, mordendo a torrada com um barulho estralado.
── Deixei almoço pronto pra você na geladeira. Consegui um projeto novo, pode voltar sozinha? — Christopher era um arquiteto freelance, ou seja, quando conseguia um trabalho novo ficava imerso no projeto por um bom tempo.
── Claro — Theo se aproximou novamente abraçando o pai por trás — Amo você.
── Amo você também, Teddy — Chris depositou um beijo na bochecha da garota, sua barba fazendo cócegas na pele da filha.
A Young saiu de casa como um foguete, chegando no dojo em cima do horário. Ela mal falou com os amigos e se apressou em colocar o kimono branco e fazer um breve aquecimento para os exercícios do dia.
O Lawrence ordenou que os alunos se sentassem ao redor do tatame para praticar algumas lutas, Miguel e Theodora foram os primeiros.
O Diaz rodou tentando acertar um soco na garota mas foi bloqueado. Theo segurou o braço dele e o empurrou, enquanto ele esquivava a loira avançava. Miguel provavelmente era o seu adversário mais acirrado, quando o moreno deixou uma brecha aberta a garota aproveitou o golpeando no peito.
── Bom trabalho, Young — a voz de Johnny reverberou — Cumprimento. Repitam.
Os dois alunos se curvaram prontos para começarem a lutar novamente quando o sino da entrada ecoou, sinalizando uma presença inusitada.
Daniel LaRusso marchou com raiva sobre os tatames, uma postura tensa com as sobrancelhas juntas alertou a atenção de todos, os alunos se levantaram.
── O que você está fazendo? — perguntou o Lawrence sendo contaminado pela raiva.
── Como se não soubessem.
── Tira o sapato do tatame, está desrespeitando meu dojo — Johnny avançou ficando no centro do tatame.
── Vai mesmo falar sobre desrespeitar dojos depois do que fez com o meu — Daniel se aproximou, seu tom de voz e posturas nada típicos do tipo de karatê que ensinava. Miguel e Theodora se entre olharam confusos.
── Não estou entendendo. Eu não fiz nada.
── Como não atacou meu funcionário? — a expressão do loiro suavizou, ele tinha um ponto — Parte de mim teve pena de você em algum momento, mas você torna fácil lembrar quem é o bandido nisso tudo. Você se chama de "sensei"? Você nem sabe o que é um sensei. Um sensei orienta. Um sensei engrandece. Não ensina destruição e desrespeito!
O LaRusso avançou furioso com os dedos apontados para Johnny.
── Já disse que não sei do que está falando, LaRusso — o Lawrence disse calmo mas ao mesmo tempo agressivo, dando um passo a frente. Theo sentiu que uma briga estava prestes a explodir na frente dos seus olhos, como se a rivalidade acumulada dos dois estivesse em uma panela de pressão sem válvula —E você também não sabe o que está falando.
── Bom, eu sei que não se ganha uma medalha de honra roubando-a.
Se uma agulha caísse no chão naquele exato momento era capaz de você ouvi-la tintilar.
── Vou contar algo sobre seu sensei. Ele pode até ensina-los a lutar, mas não sabe o que é preciso para vencer na vida — Daniel passou os olhos sobre todos os alunos, demorando um pouco mais sobre Theodora, como se a decepção pudesse ser transmitida pelo olhar — Podem se salvar antes que seja tarde, o Miyagi-Do está de portas abertas para vocês.
A Young travou o maxilar, admirando a audácia do homem.
── Acha que pode vir aqui e roubar meus alunos? — o Lawrence avançou.
── O que vai fazer? — o moreno abriu os braços em redenção — Sabe que eu não vou atacar primeiro.
Atrás da briga o Kreese se remexeu cruzando os braços, esperando a resposta de Johnny.
── Vou ser maduro — para a surpresa de todos o loiro recuou.
── Veremos.
Daniel se retirou e logo após dele uma onda de alunos pegaram suas mochilas e seguiram o seu novo sensei.
── Tá de brincadeira — Theodora resmungou, passando a mão sobre a franja suada, enquanto o dojo em silêncio ficava com a metade dos alunos e Kreese e o Lawrence se entreolhavam.
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