𝑿𝑰. like our parents.
CAPÍTULO ONZE
Como nossos pais.
── VOCÊ vai sacar essa bola ou engravidar ela? — Theodora perguntou enquanto Demetri se ajeitava do outro lado da rede, lançando a bola, que percorreu alguns metros antes de atingir a rede e ir de encontro com o chão.
── Não valeu, manda de volta — o moreno se justficou, colocando as mãos na cintura, enquanto Moon, sua parceira de time ria.
── Não existe isso no vôlei — rebateu Falcão sem paciência, ao lado da Young. A loira também tinha os cantos dos lábios levemente curvados pra cima.
── Quem disse? — Demetri arqueou as sobrancelhas, caminhando para fora da rede — Pausa pra água.
Moon e Theo se entreolharam, quando uma dupla de garotas, uma loira e a outra morena, abordou o garoto graças a toalha com uma cobra estampada que ele usava.
── Cobra Kai? Vocês ganharam o torneio de karatê, certo? — a menina de cabelos pretos perguntou, deixando o garoto meio atordoado.
── O Regional? A Luta de Resseda? É, a gente ganhou — Demetri jogou a toalha sobre os ombros, se apoiando na pilastra que sustentava a rede de vôlei. A ação fez Theodora morder os labios para conter um sorriso que crescia contra a sua vontade.
── Legal. A gente vai dar um mergulho. Depois podemos jogar? — a morena colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto apontava para a amiga.
── Belê! — o garoto disse se arrependendo amargamente em seguida — Isso quer dizer "Beleza" — as duas garotas sorriram e acenaram, antes de saírem em direção ao mar.
── Olha, que conquistador! — Moon comentou sorridente, dando batidinhas no ombro do amigo.
── Ia ser legal se você merecesse o crédito do Cobra Kai — o de cabelos azuis rebateu — Quando vai entrar?
── Falcão... — Theo repreendeu, ela estava farta dessa conversa. Se Demetri não queria fazer parte do dojo era problema dele, eles ainda podiam continuar amigos. Mas na concepção de Falcão as coisas eram um pouco diferentes...
── Não sei. Estou gostando do ganho sem dor — Demetri se pronunciou com um sorriso, ignorando a loira.
Quando os lábios de Falcão se separaram para rebater acidamente o comentário a atenção dos três foi atraída para Miguel, que carregava uma expressão não muito feliz.
── Ei, aí está o cara! — cumprimentou o de cabelos azuis se aproximando.
── E aí — o tom mórbido do Diaz enquanto falava com os dois amigos fez a loira se lembrar da mensagem, que perturbava tanto a mente do garoto quanto a dela. De repente Theo se viu ansiosa pelas respostas que Miguel prometeu.
── Não, chega disso. O dia está lindo a praia está cheia de gatas. Tira essa cara feia do rosto por causa da Sam.
── Não é sobre a Sam — a Young cruzou os braços, fazendo contato visual com o Diaz — Pelo menos, não dessa vez.
── O que?
── É sobre o sensei — Miguel respondeu tão calmo que Theodora teve vontade de soca-lo enquanto a ansiedade borbulhava dentro dela.
── Por causa da ficha criminal? — o olhar de Falcão estava dividido entre os dois amigos, os olhos da loira se alargaram — Meus pais leram. Eu acho que isso torna ele ainda mais durão.
── Espera, ficha criminal? — Theo balançou a cabeça confusa, franzindo as sobrancelhas.
── É sobre ele e Robby Keene — Miguel cortou o assunto drasticamente, quando Falcão se preparava para responder a loira. A menção do nome de Robby fez o estômago da loira se revoltar furiosamente, parece que o "problema Keene" não estava disposto a ir embora tão cedo.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
── Eu pesquisei online — Falcão comentou, junto a Miguel e Theodora se alongando no tatame — E você tinha razão. Sensei é definitivamente o pai do Keene.
A loira sentiu a respiração ficar presa na garganta. Como poderia ser possível em uma cidade com tantos habitantes que seu sensei fosse justamente o pai do seu ex-melhor amigo?
── Deus isso não faz nenhum sentido pra mim — a Young confessou — Eu conheço... — ela se interrompeu — Conhecia Robby desde que eu tinha o que? Seis, sete anos? Eu nunca conheci o pai dele, a relação deles não era boa, Keene estava sempre falando mal dele. Como esse homem e o nosso sensei podem ser a mesma pessoa? — Theo se pegou perguntando internamente se o Lawrence sabia o que tinha acontecido entre ela e seu filho, enquanto gesticulava.
Miguel suspirou, passando as mãos pelo rosto.
── Eu só não consigo entender por que ele não nos disse?
── Sei lá — Falcão respondeu — Mas explica porque ele nos deu uma bronca pela surra no Keene no torneio — a loira franziu as sobrancelhas — Sem compaixão? Exceto com o filho dele. Aí temos que pegar leve.
── Eu não acho que foi só isso — Theo rebateu em um tom de voz baixo, pensando consigo mesma. Afinal, se o Keene era mesmo o filho de Johnny isso significa que ele estava lutando no dojo do maior inimigo do pai, Daniel LaRusso.
── Pessoal, viram o comercial? — Aisha mudou de assunto, se aproximando do grupo com o celular em mãos — O pai da Sam abriu um dojo e desrespeitou o Cobra Kai.
O Diaz esticou-se pegando o aparelho das mãos da garota.
"No Miyagi-Do, não é o dinheiro que conta, é o karatê."
A figura de Daniel LaRusso usando um kimono branco destacava na tela do celular, Theo franziu as sobrancelhas, sabendo muito bem que aquilo não poderia significar algo bom.
No mesmo momento em que o anúncio acabou e uma logo com um bonsai dominou a tela, Johnny saiu do escritório animado, com um bonsai em mãos. Ordenando que os alunos se arrumem em seus devidos lugares.
── Eu preciso de ajuda com um vídeo — o mais velho declarou, entregando a planta nas mãos de um dos novatos, sem muita explicação.
Aisha se voluntariou para filmar, enquanto o Lawrence posicionava um saco de pancadas e arrastava o aluno que segurava o bonsai.
── Gravando — a garota de óculos disse quando tudo estava arrumado da maneira que o mais velho queria.
── Tem um papo rolando no Vale sobre aula grátis de karatê. Mas todo mundo sabe que, na vida, o barato sai caro Quer destruir seu rival? — o Lawrence se preparou, chutando o bonsai, cujo o vaso quebrou em um milhão de pedacinhos, fazendo terra cair sobre o novato que segurava — Então você precisa vir ao Cobra Kai. Nada de baboseira de meditação. Você precisa do bom e velho karatê americano destruidor de ossos — o sensei disferiu alguns socos e cotoveladas sobre o saco de pancadas — Chega de defesa pessoal, aprenda a atacar. Não seja frouxo. Venha pro Cobra Kai e deixe que eu te ensine o método do punho.
── E corta! — Aisha sorriu, parando de gravar.
── Ficou bom? — a mais nova concordou com a cabeça, mexendo no celular — Ótimo. Ponha a cobra do Cobra Kai no fim, certo? Quero em destaque — ele começou a se afastar falando animado — Prateada. E "Thunderstruck" ao fundo.
── O direito por essa música deve ser caríssimo — Aisha comentou.
── Eu já tenho. A fita está no carro — os alunos riram confusos — E põe uma rachadinha no fim. Tipo, "rachadinha Equipe Cobra Kai." E depois joga na internet! — ele gritou a ultima parte, sumindo em direção ao depósito.
Theo, Miguel e Falcão aproveitaram a oportunidade para acompanhar o mais velho, que destilava ordens para os funcionários encarregados de remover os objetos do antigo depósito.
── Sensei, podemos conversar sobre algo? — o Diaz perguntou hesitante.
── Se for sobre o comercial, eu sei — o mais velho passou a mão sobre os cabelos estressado, como se quebrar o bonsai em um milhão de pedaços não fosse o suficiente para extravasar a raiva.
── Não é isso — a loira respondeu hesitante.
── É sobre Robby Keene — novamente o nome saindo pela boca de Falcão fez Theodora se remexer desconfortável, desejando que o garoto na qual era o assunto sumisse da face da terra.
Os lábios do sensei se separaram como se fosse dizer algo, mas nenhuma palavra escapou, ele apenas passou o olhar sobre os três estudantes parados na sua frente.
── O que tem ele?
── Vi a foto dele na sua geladeira — Miguel explicou — Eu não fui xeretar mas... Sabemos que ele é seu filho.
Foi a vez do Lawrence se remexer desconfortável.
── Por isso você ficou bravo depois do torneio, né? — questionou o garoto de cabelos azuis.
── É isso o que pensam? — rebateu. A Young e o Diaz negaram com a cabeça — É, Robby é o meu filho. Mas isso não afeta maneira como eu levo meu dojo. E não é da conta de vocês, ouviram? — o tom dele mudou de sério para ríspido rapidamente, como se os adolescentes estivessem despejando sal sobre uma ferida aberta.
── Sim, sensei — Falcão foi o primeiro a se retirar da sala, enquanto Miguel ainda tinha os lábios levemente separados como se quisesse perguntar algo a mais.
── Algo mais? — o olhar do mais velho parecia indecifrável sobre a loira e o moreno.
O Diaz engoliu em seco.
── Não, sensei.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
Theodora estava jogada no sofá de Miguel rolando incansavelmente pelo instagram quando Johnny apareceu arrastando os dois amigos para uma lanchonete, como um pedido de desculpas silencioso por ter sido rude mais cedo. A loira mergulhava tediosamente uma batata frita no ketchup, levando em direção a boca.
── É bom, não é? — disse o Lawrence de frente para os dois alunos com um hambúrguer meio comido nas mãos. O rosto dele se transformou em uma careta contida quando tudo que conseguiu de resposta foi murmúrios de aprovação — O segredo é picar as cebolas. O sal não complica. Vegetariano não tem chance. Só uma grelha quente e carne boa.
A Young deu um gole do próprio copo de refrigerante se encolhendo na cadeira. O clima entre os três não era típico, ao invés de ser leve e descontraído parecia artificial. Ela devia isso ao Keene.
── Vocês conseguem ver aquele prédio ali? — o mais velho mudou de assunto drasticamente, apontando para a porta de vidro e o grande prédio paralelo ao restaurante.
── O hospital? — Miguel franziu as sobrancelhas.
── O Robby nasceu ali — de repente a porção de batatas fritas na frente da loira parecia cada vez mais interessante — Dia 4 de fevereiro de 2002. Era uma segunda. O trabalho de parto durou 17 horas.
── Deve ter sido louco — o garoto respondeu.
── Tenho certeza que foi. Eu não estava lá.
O olhar de Theodora finalmente deixou os dedos engordurados que brincavam com a comida, voltando-se para o mais velho.
── Minha mãe tinha acabado de morrer. Eu estava mal. Não tive pai, eu só tinha ela — a confissão pareceu atingir os dois jovens no ponto fraco, como se de alguma forma eles tivessem feridas semelhantes — Aí fico sabendo que vou ser pai. Levei um susto danado. Então, em vez de estar lá para recebê-lo no mundo, eu fiquei aqui enchendo a cara por três dias, tentando ter coragem de atravessar a rua. Eu nunca fui.
Theodora abaixou a cabeça, empurrando o prato um pouco pra frente, sua fome havia sumido. Miguel parecia profundamente abalado, afinal, nesse quesito ele também ocupava o mesmo lugar do Keene.
── Eu falhei com meu filho no primeiro dia dele neste mundo. E falho com ele todo dia desde então.
── Sensei, isso é coisa pessoal — a Young disse delicadamente, a culpa avassaladora que Johnny tinha contrastando com o ódio que o Keene guardava— Não precisa contar.
── Não, eu... — o mais velho respirou fundo, resistindo às lágrimas que ameaçavam transbordar — Devia ter contado há muito tempo. É uma das coisas mais dolorosas na minha vida. Mas uma das melhores coisas tem sido ensinar vocês. Quero que saibam que, não importa o que aconteça, eu prometo... Sempre estarei do lado de vocês.
── Obrigado — os dois amigos responderam em um sussurro, os lábios curvados levemente.
O telefone dos dois amigos apitaram no mesmo momento, uma mensagem de Aisha no grupo do quarteto do Cobra Kai brilhava na tela. Theo foi obrigada a conter uma careta quando leu as palavras da amiga.
── O que foi? — questionou o mais velho.
── Aparentemente o Miyagi-Do vai se apresentar no festival hoje — Miguel respondeu confuso, digitando uma mensagem rápida como resposta.
O sensei se recostou na cadeira, cruzando os braços, com a feição de quem estava arquitetando um milhão de planos.
── É mesmo?
── Deus, porque vocês sempre escolhem o dia em que meu kimono está lavando? — Theo resmungou em resposta.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
Daniel LaRusso estava no mínimo orgulhoso da ideia de apresentar o karatê Miyagi-Do durante o festival, era a maneira perfeita de unir o útil ao agradável, a concessionária e o dojo. Bom, isso era antes do Cobra Kai aparecer.
Quando os alunos de kimonos pretos cortaram a multidão guiados, gritando o nome do dojo e uma música de rock passou a ecoar pelas caixas de som, o sorriso do LaRusso diminuiu drasticamente se transformando em choque.
Samantha e Robby não pareciam diferentes, eles assistiam as luzes piscarem no palco principal enquanto os alunos acompanhados do seu sensei, demonstravam movimentos agressivos e certeiros, cativando a multidão que antes assistia um karatê completamente oposto.
O Keene cruzou os braços, os olhos fixos na Young e Miguel demonstrando seus movimentos, alguns socos e chutes que derrubaram seus companheiros de dojo e em seguida compartilharem um toque de mãos especial como em um filme.
Já Samantha sentiu um gosto amargo se espalhar pela boca quando Aisha apareceu, quebrando tábuas de madeira enquanto usava uma venda, a multidão ia a loucura e a garota se sentia traída pela amiga.
E Daniel parecia inacreditado quando os alunos posicionaram não um, não dois, mas cinco blocos de concreto em meio ao palco. O Lawrence roubando o seu grande final, de uma forma mais radical ainda.
── Cobras, coloquem fogo! — ordenou o mais velho.
A plateia pareceu segurar a respiração momentaneamente enquanto as chamas sobre os blocos ardiam. O sensei se preparou, golpeando-o com um soco e vendo o concreto se desfazer em um mil pedaços e levando a multidão em êxtase.
── Cobra Kai!
As múltiplas vozes deixaram Daniel atordoado, era como assistir o seu maior pesadelo se tornando realidade. E pior do que isso era a imagem do legado de Winter Young ao lado direito do seu maior inimigo.
O sorriso da garota loira ao lado do Lawrence foi como se mil facas cravassem no coração do LaRusso, ele sentia que estava falhando com a mãe da garota, a deixando em perigo. Ele precisava fazer algo.
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