𝑽𝑰. rivalry.
CAPÍTULO SEIS
Rivalidade.
THEODORA acordou com tantas mensagens de Miguel, que seu coração disparou em ansiedade. O encontro tinha sido horrível? Sam era uma babaca? O amigo se magoou? Precisava ir até a casa dele consolar o garoto?
O momento de pânico durou alguns segundos até a garota clicar no chat de mensagens dele, sentindo quase que um alívio imediato.
Samantha e Miguel estavam oficialmente namorando.
A loira digitou uma rápida mensagem de parabéns acompanhada de alguns emojis, enquanto coçava os olhos na tentativa de expulsar o sono. Mas foi apenas a resposta seguinte que causou uma reação mais exagerada da garota.
A Young arregalou os olhos, soltando um gritinho de felicidade agudo, enquanto tentava se levantar da cama apressadamente. O que não deu certo, ela caiu da cama embolada nos lençóis azuis, com um baque.
A porta do quarto foi aberta quase que imediatamente, revelando a figura de Christopher ainda de pijamas com uma feição preocupada, segurando uma sandalha, pronto pra golpear o motivo do grito.
── Cadê a aranha? — o pai da garota perguntou em alerta, ajudando a garota a se libertar das cobertas.
── Não tem aranha nenhuma! — Theo exclamou animada, já de pé, o mais velho tinha as mãos sobre os ombros dela —Johnny conseguiu! O cobra kai está de volta ao torneio!
Chris largou o calçado no chão, sorrindo, feliz pela sua garota. Ele sentia que a vontade dela de continuar vivendo voltou. Ela estava radiante, com novos amigos, um novo hobby... E agora a vontade novamente de competir. Devia tudo isso ao karatê.
── Teddy isso é incrível, filha — disse o mais velho.
A Young mais nova não disse nada, ela apenas envolveu os braços ao redor do pai. Chris beijou o topo da cabeça dela, carinhosamente.
── Eu faço o café da manhã hoje! — a menina se soltou dos braços dele, caminhando saltitante em direção a cozinha. O homem riu. Fazia tempo que a casa dos Young's não tinha cor assim.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
O torneio se tornou o auge da loucura de Johnny Lawrence. Quanto mais a data se aproximava mais os treinos iam ficando diversificados, devido ao método exótico de ensino do homem.
O melhor até agora havia sido o do ferro-velho. Onde os alunos fizeram diversos exercícios de força e resistência e aproveitaram para descontar a raiva em algumas velharias.
Devia ter sido o melhor, se Falcão não tivesse sido mordido por um cachorro raivoso em uma dinâmica maluca do Lawrence. O garoto passou a semana inteira resmungando sobre a dor do novo machucado e da vacina anti raiva que foi obrigado a tomar.
Porém, nesse momento, só havia ela e o Diaz no dojo. O garoto praticava socos em um manequim, já a garota treinava diferentes tipos de chutes no tatame com a ajuda de Johnny.
── Você está chutando muito fraco, isso não é uma competição de balé é uma luta, Young — o sensei relatou, usando protetores na mão para amortecer o impacto dos golpes — Deixe sua base estável e mais força — repetiu, enquanto a garota retirava a franja do rosto molhado com gotículas de suor.
Theodora teve que repetir o golpe mais algumas vezes até conseguir pegar o jeito, fazendo o sensei cambalear pra trás com o impacto e com um sorriso orgulhoso no rosto.
O Lawrence acenou positivo com a cabeça, fazendo a garota se jogar sobre o tatame deitada no chão como uma estrela do mar, exausta. O homem e o garoto riram com a ação.
── Eu acho que morri — Theo resmungou.
── Por que só tem a gente aqui, sensei? — Miguel questionou ofegante, tão cansado como a loira.
── Sejamos realistas, vocês são minhas únicas chances de ganhar — confessou o mais velho fazendo ambos os alunos sorrirem convencidamente.
── Somos seus melhores alunos? — o Diaz cutucou o mais velho, implicante.
── Não se gabem.
A Young não admitiria para ninguém mas na mesma proporção que estava ansiosa para o torneio, estava com medo. Medo de congelar e não conseguir subir no tatame da mesma maneira de que não conseguiu entrar no gelo. De procurar os olhos dela na multidão e encontrar apenas faces estranhas, sem história.
A adolescente foi arrastada de volta pra realidade quando Miguel riu para a tela do celular, fazendo Johnny franzir as sobrancelhas. Theodora se sentou no tatame, se esticando para alcançar a garrafa d'água.
── O que é tão engraçado? — o loiro questionou, espiando o telefone do mais novo.
── Nada, só uma foto engraçada que minha namorada postou — o Diaz riu, virando a tela do celular para o sensei.
── Espera aí — em um movimento rápido o celular foi arrancado das mãos do dono — Essa é a filha do Daniel LaRusso? — foi a vez da garota sentada no chão, franzir as sobrancelhas enquanto terminava de beber água.
── Você conhece a senhorita perfeitinha? — Theo questionou, enquanto Miguel revirava os olhos. Não importa o que ele achasse, o apelido já tinha pegado entre seus amigos.
── Você está namorando uma LaRusso? — Johnny pronunciou o sobrenome como se fosse um xingamento, ignorando a pergunta da Young.
── Sim, por que? Algum problema? — o garoto respondeu na defensiva.
── Precisamos conversar. Vão se trocar — o homem respondeu simples, caminhando de volta pro escritório.
Os dois amigos se entreolharam confusos.
── Não olha pra mim — Theo levantou as mãos em redenção — Eu não fiz nada.
Alguns minutos depois, a loira e o Diaz já haviam se livrado dos kimonos suados, trajavam roupas simples e confortáveis enquanto estavam sentados no meio fio na frente do dojo. Johnny havia comprado uma lata de refrigerante pra cada e uma cerveja pra si, o barulho estalado dos lacres ecoaram antes da história ser contada.
── Era o verão de 1982 — os dois adolescentes ouviam atentamente — Rocky III tinha acabado de sair. Meu amigo Dutch era fã do Mr. T, então fomos ao cinema para ver. Na nossa frente, tinha um grupo de garotas bonitas. Dutch começou a jogar balas nelas.
── Por que ele faria isso? — Miguel perguntou confuso.
── Porque é uma jogada alfa. As gatas adoram ser tratadas como lixo.
── Acabei de descobrir que eu não sou uma garota — murmurou Theodora, dando um gole da sua coca-cola.
── Mas elas ficaram tão irritadas, que uma delas começou a gritar conosco — o Lawrence continuou, ignorando o comentário da garota — Foi a primeira vez que a vi.
── Quem? — o Diaz questionou, tão curioso quanto a garota.
── Ali. Ela jogou pipoca no Dutch e sujou todo ele de manteiga — os três riam, imaginando a situação, ou no caso do sensei, lembrando — Dava pra ver que essa garota era fogo.
── Você chamou ela pra sair? — quase que simultaneamente os dois adolescentes perguntaram, envoltos na história.
── Sim, fiquei na paquera até ela me dar uma chance — se aquele fosse um diálogo normal, a Young teria feito uma piada sobre a palavra "paquera" só ser usada por gente velha, mas desistiu ao ver o sorriso de nostalgia estampado na cara de Johnny — O primeiro encontro foi no Golf N'Stuff. Nos beijamos na roda gigante. Estávamos apaixonados. Namoramos por dois anos. No dia dos namorados, em vez de anéis, dei a ela uma pulseira de silicone rosa — o loiro remexeu-se, tirando sua faixa preta do bolso — Ela me deu isso.
── O que aconteceu depois? — o garoto murmurou delicadamente.
── No verão antes do meu último ano, nós brigamos. Achei que resolveríamos as coisas. Aí Daniel LaRusso apareceu. Ele começou a paquera-lá, eu vi os dois flertando.
── O que você fez? — a loira questionou curiosa, inclinando a cabeça.
── Fui bater um papo civilizado com ela. LaRusso se meteu. Eu falei pra ele cuidar da vida dele e do nada, o cara me dá um soco.
── Que babaca — o comentário de Miguel fez Theo balançar a cabeça positivamente, concordando.
── Pois é, fiz o que qualquer cara faria, me defendi. Achei que tinha acabado, mas o LaRusso não me deixava em paz. No baile de Halloween, eu estava sentado lá, cuidando da minha vida, ele me dá um banho de mangueira! Não via o cara há meses. Ele ligou uma mangueira na minha cabeça! — a garota escondeu uma risadinha atrás da sua lata de refrigerante — Fui atrás dele para acabar com essa história, certo? No final das contas ele tinha um mestre de karatê. O cara surgiu do nada e nos atacou, eu e meus amigos!
── Meu Deus — exclamou o Diaz.
── Decidimos resolver as coisas no Torneio Regional. Nós dois chegamos à final. Dois a dois... — os amigos prenderam a respiração com expectativas para o final da história.
Johnny deu um longo gole da cerveja.
── O que aconteceu? Quem ganhou? — ambos questionaram o mais velho, ao mesmo tempo.
── LaRusso venceu, eu perdi — Miguel suspirou decepcionado enquanto Theo abaixou o olhar, focando no asfalto — Mas o pior é que perdi a Ali — o olhar do Lawrence se voltou para os dois alunos e suas feições chateadas — Olha, a razão de eu estar contando isso a vocês é porque vocês tem que ter cuidado com os LaRussos — apesar do conselho ser no plural, a Young sabia que era muito mais sobre o relacionamento do amigo e de Samantha do que sobre si, ela remexeu um pouco a latinha em sua mão, bebendo mais um gole, enquanto um silêncio pairava entre os três.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
Conciliar a escola com os treinos havia sido fácil para Theodora, agora arrumar tempo para sair era outra coisa. A garota sempre foi sociável e extrovertida, mas nos últimos meses ficar em casa na companhia do seu pai e de si própria havia sido o auge da sua zona de conforto. E é claro que Aisha não iria deixar isso acontecer, arrastando a amiga para todos os lugares que podia.
Dessa vez as amigas estavam juntas a Falcão e Miguel, assistindo um filme genérico de ação. Theo estava muito concentrada misturando m&m's com seu balde de pipoca ao invés de prestar atenção nas explosões e tiros na grande tela.
── Ei, o que foi? — perguntou Aisha, ao perceber o comportamento estranho do Diaz, que também parecia alheio ao filme.
── Não paro de pensar no que o sensei falou sobre o pai da Sam — o garoto sussurrou. A Robinson e o Moskowitz já estavam a par da história da rivalidade.
Falcão arremessou uma unidade de pipoca na dupla de garotas sentadas na poltrona da frente.
── O sensei e o pai da Sam têm uma rixa. O que isso tem a ver com você? — a garota murmurou, pegando alguns chocolates do balde de pipoca da Young.
── Tenho que soletrar para você? — a resposta amarga de Miguel fez Theo levantar a cabeça no mesmo instante — O pai da Sam odeia o cobra kai. Eu sou parte do cobra kai. Então, por extensão, o pai da Sam vai me odiar.
── Jesus Cristo, que nerd você é — Falcão sussurrou, voltando sua atenção em seus alvos, jogando mais uma pipoca.
──E não é só na minha cabeça. Sam ficou estranha quando o pai dela chegou.
── Você está sendo dramático. Ele nem te conhece ainda — a loira se pronunciou pela princesa vez, jogando um punhado de pipoca com m&m's na boca.
── Theo está certa, eu conheço o Sr. LaRusso desde a terceira série. Ele é um cara muito legal. Você só tem que conversar com ele — Aisha concordou com a amiga.
── Ainda nem fui convidado — Miguel bufou, enquanto Theodora se encolheu na cadeira. Esse com certeza era um sinal ruim — Ela deve ter medo de me apresentar.
── Cara, só vai até lá. É uma jogada alfa — o garoto de moicano sugeriu, no mesmo momento em que sua mira falhou atingindo um homem, com o dobro da altura do grupo, fileiras mais à frente que se levantou revoltado.
Ninguém se quer teve tempo contestar a ideia de Falcão.
Mais tarde naquele mesmo dia, Miguel se arrependeria amargamente disso, ao chegar na residência dos LaRussos e encontrar uma família grande e feliz reunida na mesa de jantar no quintal. E pior ainda, um garoto desconhecido sentado ao lado de sua namorada, ambos rindo, se divertindo.
Era o início de uma nova rivalidade, afinal, toda história se repete, não é mesmo?
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