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𝑰. welcome to hell, mate.

CAPÍTULO UM
Bem-vindo ao inferno, parceiro.

           THEODORA não se lembra quando os primeiros dias de aula deixaram de ser divertidos e se tornaram torturosos. A garota não sabia se era um efeito colateral de crescer, ou se era mais um dia no calendário em que a falta da sua mãe se destacava. Talvez ambos.

Em frente ao espelho do seu quarto, a garota loira checa os cabelos. Ela veste uma camisa de botão verde escura e calças jeans, já nos pés típicos converses azuis. O cabelo está completamente loiro, sem raiz preta, cortado em um mullet bastante repicado que causa uma aparência rebelde.

── Vamos lá — a Young fala com si própria, pegando o celular sobre a cômoda e a mochila preta encostada na parede.

Só mais um ano típico e pacato. Mais um ano antes da formatura e faculdade. Ou pelo menos era isso que ela esperava.

A garota desce as escadas animadamente e se depara com seu pai na cozinha, o cheiro bom preenchendo o ambiente enquanto o mais velho tem um pano de prato sobre o ombro, concentrado na frigideira.

── Bom dia — a garota comenta, colocando a bolsa no sofá e se sentando na bancada da cozinha de frente pro pai.

── Bom dia, Teddy — o mais velho coloca mais uma panqueca sobre o prato onde já haviam duas, posicionando a refeição em frente a filha.

Theo sorri quando percebe o que é o alimento.

── Pai... Não precisava... — as panquecas de banana estão empilhadas no prato da garota e exalam um cheiro maravilhoso.

── É tradição do primeiro dia de aula.

Todo primeiro dia de aula desde que Theodora se lembra sua mãe fazia panquecas de banana para o café da manhã. Faziam anos que a garota não mantinha essa tradição, mas ao ver o esforço e cuidado de seu pai para acordar cedo e prepara-las a garota não pode deixar de sentir um calor reconfortante no peito.

Ela se levantou, para abraçar o mais velho, que rapidamente envolveu os braços na filha. Ao menos, sempre teriam um ao outro.

── Obrigada — Theo sussurrou, ainda no aperto.

Christopher apenas riu, depositando um beijo no topo da cabeça da filha.

── Agora vá comer, se não vai acabar tendo que ir de ônibus — a garota riu, voltando a se sentar e desfrutar da comida enquanto o Young mais velho terminava de se arrumar para o trabalho.

Christopher deixou Theo na escola e seguiu para o escritório em que trabalha. Já a garota foi obrigada a enfrentar aulas tediosas, sem a companhia de nenhum dos seus amigos, pois, para sua sorte, não acabaram com nenhuma aula juntos na segunda feira.

A jovem Young passou metade dos horários rabiscando no caderno, onde supostamente deveriam está as anotações sobre as aulas, e olhando para a janela na esperança do tempo passar mais rápido.

O único alivio que sentiu foi durante o almoço, quando avistou o garoto da loja de conveniência conversando com Demitri e Eli. Aí estava o motivo para Kyle e seus amigos mexerem com ela, Theo não era o tipo de garota popular típica. Ela era conhecida por muitos, mas ao mesmo tempo ninguém a conhecia direito. Poucos eram aqueles que a garota considerava amigos, dentre eles, os dois garotos nerds.

──  Desculpe, mais a mesa está bombando — Theo e Eli disfarçaram sorrisos ao ver o amigo utilizando seu sarcasmo exagerado com o novato, a garota em pé atrás de Miguel segurando uma bandeja — Eu posso te colocar na lista de espera mas vai ter que ficar pro próximo semestre.

── Certo — Miguel está pronto pra dar meia volta quando Theodora coloca sua bandeja sobre a mesa e se senta, atraindo a atenção do garoto.

── Ele tá brincando, senta aí — a loira reconhece o garoto da briga entre o grupo de Kyle e ele fica feliz ao conhecer pelo menos um dos rostos naquela escola.

── Miguel  — o Diaz se apresenta, sentando.

── Demitri. Esse é o Eli. É um homem de poucas palavras — o garoto de cabelos pretos diz — E essa é a Theo.

── Nós já nos conhecemos  — a loira responde, brincando com a própria comida que não parece nem um pouco apetitosa, ela deveria ter embalado algumas panquecas. Antes que Demitri possa encher os dois de perguntas, a atenção do grupo é guiada para as duas garotas populares que passam.

── Cara, não se torture — Demitri aconselha — Essas são as garotas ricas.

── Você fala com elas ou... — Miguel pergunta esperançoso, fazendo Eli e Theodora se entreolharem enquanto seguravam o riso, esperando por mais um comentário sarcástico do amigo.

── Claro! O tempo todo. Saímos juntos depois da aula. Nós beijamos, nós masturbamos.

── Ew — a Young comenta, mas isso não para o discurso do garoto.

── A Theo é capitã das líderes de torcida e meu amigo Eli aqui é o rei do baile. Transa mais do que qualquer um. Não é, Eli? — os dois amigos citados riem enquanto o Diaz revira os olhos — Falar com elas? Você sabe em que mesa está, né? Você praticamente abandonou toda a esperança de perder a virgindade antes da faculdade.

── Ah não assuste o novato, a esperança é a última que morre — a loira comenta, arrancando sorrisinhos dos dois amigos.

── Merda, a Yasmin tá olhando pra cá  — Eli se pronuncia pela primeira vez na conversa, se mexendo desconfortavelmente — Deve está rindo de mim.

── Não acho que ela esteja rindo — Miguel proferiu — Digo, só porque elas são gostosas não significa que sejam más.

── Você tem que assistir mais filmes de adolescentes, começa por meninas malvadas — Theodora comentou, checando de canto o grupo de garotas. Enquanto Eli do outro canto da mesa cobria o próprio lábio, inseguro.

── Eu não ligo se a Yasmin é a garota mais malvada do colégio. Eu mataria vocês três só para ela cuspir na minha cara — a confissão de Demitri fez a garota soltar uma risada nasalada.

── Sem agir, você nunca vai ter uma chance  — o Diaz parecia determinado em provar seu ponto.

── É verdade, mas também nunca vou sofrer uma rejeição humilhante. Estou em paz com minha depressão. A última coisa que eu preciso ser é suicida.

Quando Demitri terminou seu discurso, Miguel se levantou da mesa, atraindo a atenção dos três presentes no grupo.

── O que você está fazendo? — o garoto perguntou, soando como "você é maluco?"

── Atacando primeiro.

O grupo observou atenciosamente, Miguel andando pela cafeteria como se estivesse em camera lenta até a mesa das garotas. Ele até chegou a fazer contato visual com Samantha LaRusso, que sorriu para ele, antes de Kyle e sua trupe aparecer arruinando o plano do garoto.

── Até mais, Reia — um dos garotos disse, enquanto o asiático acenava para o Diaz. O latino deu meia volta, sentando-se no seu local de origem.

── Então como foi?  — Demitri perguntou provocativo.

── Bem vindo ao inferno, parceiro — Theo brincou dando batidinhas amigáveis no ombro dele — Eu espero que você goste da classe econômica.

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