𝕆𝕟𝕖𝕤𝕙𝕠𝕥.
Osamu Dazai.
Ah, o suicídio, a morte precoce de um indivíduo causado por si mesmo é simplesmente algo poético, o fato de nossa sociedade como um todo procurar diversas formas para retardar o inevitável ou, em casos ambiciosos, evitar o inevitável torna tudo cômico se visto por um ângulo mais dramaturgo, e então havia um grupo deveras grande na nossa sociedade atual que apenas quer adiar as coisas, se refletido parece dois lados da mesma moeda, é fato que não sabemos oque vem depois do último suspiro e talvez por isso pessoas temem tanto a morte, entretanto, há aqueles que mesmo tendo ciência disso preferem tirar suas vidas ao passar mais um milissegundos em terra.
E existe eu, mesmo sendo fascinado por tudo que envolve o suicídio e a morte como todo odeio sentir qualquer tipo de dor ou desconforto, e por conta disso eu busquei o suicídio perfeito, o mais lindo de todos os suicídios já cometidos. Inocente eu era, buscando algo que nem mesmo Ranpo com sua dedução ultra sabe a resposta, verdade seja dita, no fundo eu não quero morrer, almejo acima de tudo o descanso e é realmente uma pena o único descanso eterno conhecido pelo homem seja justamente a morte.
Mas eu cheguei ao fim da linha, para mim acabou, eu sempre procurei motivos para me prender nesse mundo e quando me dei conta esses mesmos motivos que fazia-me permanecer vivo se tornaram os motivos de minha sina, as pessoas ao meu redor pouco a pouco se transformaram como tinha de ser e eu... fiquei, as piadas mórbidas sobre cometer suicídio à dois não tinha o mesmo impacto de antes, antigamente os membros da A.D.A reagiriam com preocupação e cada um faria questão de ter certeza de que eu estou bem de sua própria maneira, atualmente eles apenas soltam um longo suspiro e fazem caretas com um semblante de "e lá vamos nós novamente", as tentativas falhas de suicídio não são mais vistas com seriedade como devia de ser, eles apenas dão um resmungo irritado de como minha "brincadeiras" sem graça atrapalham a vida pessoal, e os prazeres mais mundanos se tornaram tão sem sentido quanto ver uma parede que acabara de ser pintada secar, o sake não era mais apreciado e sim ingerido da maneira mais rápida para efeito imediato, as comidas saborosas se tornaram sem gosto ao meu paladar, as músicas agitadas que me fariam pular da cama para dançar à passos desengonçados se tornaram meros sons ambientes, o sexo que chegava a ser o ápice do prazer no sentido mais literal da palavra se tornou algo pouco harmonioso e conseguindo ser até pior que minhas noites mal dormidas.
Isso é o ápice da ironia, um suicida que procurava um suicídio mais belo em todos os sentidos da palavra está prestes a se matar da maneira mais humana o possível, se jogar do alto de um prédio de 5 andares enquanto segurava com mãos trêmulas uma garrafa do rum mais forte do mercado, no bolso do meu costumeiro sobretudo uma carta dividia em cinco partes que de certo vai se manchar de sangue e ficar ilegível.
Apenas um passo, um pequeno deslize e eu iria cair nos doces braços da morte, um ato e eu finalmente teria o tão merecido descanso, minha alma iria poder viajar até um local belo onde não existe precipitações, por que eu ainda estou a um passo de conhecer o paraíso? Coragem.
É muito mais fácil para mim colocar-me diante de um tiroteio sem nenhum colete a prova de balas com a certeza que uma hora irei morrer do que puxar o gatilho, me dê missões suicidas e eu irei cumprir sem hesitar, porém, me dê a certeza absoluta de que irei morrer sem sentir dor que eu hesitarei.
Este é o grande dilema da minha vida, um dilema que está prestes a se acabar, em todas as mídias que tive oportunidade de ver o indivíduo sempre tinha grandes revelações ou enormes arrependimentos em seu último suspiro, vejo agora que isso é apenas uma forma problemática de romantizar o suicídio, em meu âmago tento pensar desta maneira para amenizar o quão patético é toda a situação, talvez tenha um fundo de verdade.
Sinto-me estranho por tudo estar tão... normal, não há uma multidão lá embaixo com câmeras apontadas em minha direção esperando o momento exato do baque, não há milhões de chamadas perdidas em meu celular com pessoas se perguntando se eu estou bem, não, há apenas as pessoas circulando apressadamente lá embaixo com rotinas individuais distintas, há também a ausência de qualquer notificação em meu telemóvel.
A vida está continuando e vai continuar independente das minhas ações e é estranho pensar que nesse momento de fragilidade o universo não está olhando para mim.
Nesses momentos é que eu queria estar com o Chuuya.
Sorri docemente com a memória do pequeno mafioso, ele sempre esteve ao meu lado enquanto eu fazia parte da máfia do porto, depois que eu saí de lá as coisas ficaram meio estranhas, mesmo que o ruivo nunca tenha dito em voz alta (talvez proporcionado pelo seu orgulho) eu sentia o quão amargo ele estava com a situação, e eu, tão orgulhoso quanto o pequeno não consigo verbalizar o quão grato sou por ter-lo em minha vida.
Sei que é estranho pensar nisso, talvez seja apenas um pensamento intrusivo, porém, eu queria que o Nakahara estivesse aqui comigo, não para me impedir nem para ouvir minhas lamúrias, apenas iríamos observar as pessoas lá embaixo até o momento em que o meu inevitável suicídio chegasse, eu diria apenas um simples adeus carregado de muitos sentimentos ocultos e iria pular com um sorriso nos lábios.
É realmente uma ideia bem idiota.
Todo o momento já está cotidiano demais, por que não deixá-lo ainda mais?.
Eu pesquei o celular no bolso no meu sobretudo, meus dedos trêmulos sinalizando o quão bêbado e/ou ansioso eu estou, mas quem pode me julgar? Meus olhos desfocado quase cegam-se pelo excessivo brilho da dela, o papel de parede sendo uma imagem do ruivo distraído bebendo vinho resplandece por conta da composição de cores vivas, atrás do celular, em sua capinha transparente, havia uma pequena foto Polaroid do Odasaku com o cenário escuro do conhecido bar Lupin.
Eles são as pessoas mais importantes em minha vida e ter fotos deles por perto faz sentir-me menos só.
Não perdi tempo ao desbloquear o aparelho e clicar no ícone de chamadas, por curiosidade chequei o histórico de chamadas surpreendendo-me um pouco pela última chama ter sido realizada por um número desconhecido a três dias atrás, lembro-me de ser feita por um policial que queria a visão de um detetive da A.D.A em um caso de assassinato, tirando ele nenhum outro número ligou para mim.
É estranho pensar que eu sou amigo de todos na agência e mesmo assim não recebo nenhuma ligação de ninguém.
Liguei finalmente para o Nakahara, ligou uma, duas, três vezes e quando achei que iria cair na caixa postal o ruivo finalmente decidiu me atender na quarta vez, eu prendo minha respiração por um milésimo de segundo, não sei onde exatamente eu quero ir clamando pela atenção do indivíduo, não haveria hesitação desta vez, eu iria me suicidar nesse fatídico dia da maneira mais mudana o possível e essa ligação não é um grito de socorro para me tirar de uma enrascada propositalmente criada para minha morte prematura, não, sou apenas um tolo que está tentando alcançar os céus (mesmo não acreditando em paraíso e inferno), oque eu iria discutir com o mafioso?.
Um suspiro foi escutado do outro lado seguido por um resmungo não tão baixo assim, como sempre o ruivo estava com seu humor rabugento de um velho de 70 anos, um sorriso singelo escapou dos meus lábios molhados pelo rum ao imaginar o rosto emburrado do Nakahara, não pude deixar de me decepcionar um pouco com sua reação frívola, claro que eu conheço bem como o Chuuya se porta, deus sabe o quão bem eu conheço o pequeno e seus trejeitos, porém, saber que suas lamúrias de insatisfação são direcionadas à mim por nenhuma razão me deixa frustrado, eu apenas não queria que fosse desse jeito, não com ele.
Chuuya: O desperdício de bandagem vai falar ou quer que eu adivinhe.- disse desgostoso do outro lado da linha.
Sempre tão frio e direto comigo.
O sorriso preso em meus lábios sumiu no mesmo instante desmanchando-se junto com um suspiro melancólico, não sei por que eu achei que nesse dia em especial ele estaria mais dócil, e mesmo com seu humor todo ácido e seu pavio curto eu não consegui evitar a alta palpitação de meu coração prisioneiro do Nakahara, mesmo com suas recorrentes declarações de ódio contra mim e apaixonantes confissões de homicídio em minha pessoa eu não conseguia dissipar o amor que eu sentia pelo pequeno. No final, não importa se for uma mulher com fartos seios ou um homem com glúteos deliciosos meu coração sempre iria escolher a pessoa com tendências homicidas que são particularmente contra mim, entretanto, mesmo eu já tendo sentido algo tão semelhante ante, ainda é tudo novo para meu ser, nunca senti um emaranhado de emoções tão misteriosas.
Dazai: É assim que você trata seu antigo colega de crime? Assim vou acabar me magoando.- minha voz saiu rouca e manhosa, só eu sabia que ali tinha um fundo de saudade que virava um grande nó sufocante de palavras não ditas.
Há tanto a ser dito, tanto a ser expressado e apreciado que eu simplesmente não consigo, pensar nisto como o fim me deixa completamente devastado, porém, não pensar nisso me deixa extremamente ansioso por algo. Eu só queria que ele estivesse aqui ao mesmo tempo que temo a mínima probabilidade dele saber oque estou fazendo, e que desta vez é real, sem escapatória, sem teatrinho, verdadeiramente verdadeiro, nu e cru.
Chuuya: Fale logo oque você quer, sua cavala suicida, estou no meu dia de folga e não gostaria de ser interrompido!.- aquele tom de raiva se misturava com o ódio que ele tem somente por mim.
Meus olhos apreciaram o horizonte, o sol agora se punha transformando o céu em uma grande obra de arte com pinceladas laranjas e um lindo degrade azul, observando só consigo associar-lo ao pequeno Nakahara, este que por sua vez deve estar se mordendo de raiva ao outro lado da linha, Chuuya não tem muitos dias de folga, ele é um dos mais importantes dentro da máfia e sempre está a disposição de realizar os serviços mais sujos e complicados, logicamente ele é o mais requisitado e com grande confiança do Mori.
No final Nakahara sempre será o homem que cuida de tudo, seja da "sujeira" de terceiros, de membros mais novos ou fracos de dentro da organização ou até mesmo de amigos suicidas com jeito de criança que sempre traz dor de cabeça, esta é a nossa dinâmica, eu sempre me colocando à sua frente para tomar as balas por ele, mas não por desejo de ser altruísta e sim pelo anseio do homicídio simplista ao ter um suicídio complicado, é realmente mais fácil se por diante da arma do que ter o objeto em mãos e puxar o gatilho, prático e menos problemático. É claro que o ruivo percebia como meu jeito de agir em campo de batalha não é por eu comparar-lo à uma donzela nos trilhos, ele via através da minha máscara, por isso com o passar das missões o Nakahara sempre se colocava a diante usando sua habilidade para proteção minha.
Dazai: O céu está lindo, não acha, Chuuya?.- perguntei mudando a dinâmica da conversa com a voz ainda rouca.
Uma simples pergunta, um grande desvio de atenção para oque realmente acontecia, eu apenas queria ser cego e não enxergar o grande "elefante na sala", naquele momento a simplicidade de conversar paralelas parecia ser mais fácil de lidar do que a complexidade da verdade.
O silêncio no outro lado da linha me deixou ansioso, temendo o mafioso percebesse a verdade forcei uma risada, ela soou estranha aos meus ouvidos, estava arranhada, devagar, nitidamente falsa e com uma "cortina de fumaça" escondendo que ali havia um enorme peso, o cansaço estava nítido demais, e no desespero eu comecei a tossir como um fumante de 80 anos, a ansiedade me tortura lentamente deixando-me impossibilitado de respirar corretamente, meu coração acelerado e alto aos meus ouvidos doía como um ataque cardíaco.
Chuuya: Dazai?.- em um sussurro me chamou hesitante, um pouco curioso para saber o motivo do meu surto.
E com sua voz baixa e questionadora eu acordei de meu transe doentio, meus olhos turvos fixavam novamente o horizonte, perdidos, minha garganta levemente machucada e a grande certeza que a essa altura a bebida não seria capaz de me fazer esquecer a crise de pânico outrora sentida.
Um suspiro, um sorriso torto como se tudo que acabara de passar fosse um mero empecilho e não uma "bandeira vermelha" enorme que indicava o quão perturbada está a minha mente, o quão cansada está.
Dazai: Desculpe, eu acho que acabei exagerando de novo na bebida.- confessei então minha embriaguez deprimente.
Um som de decepção com um toque de "e lá vamos nós".
Eu realmente não queria te aborrecer tanto assim, Chuuya, entretanto, você nunca parece estar disposto a olhar para mim se não for para lançar repúdio, será que em minha sepultura ainda irá ver-me como um desperdício de barragens?.
Chuuya: Qual é a ocasião da vez? Um brinde à um caso resolvido?.- perguntou, surpreendentemente, com um tom ameno.
Então olhei para as nuvens com um sorriso triste, Odasaku estaria olhando para mim agora? Bom, não que eu acreditasse em qualquer forma ou crença divina, meu coração apenas gostava de confortar-se com a idéia de que mesmo estando morto ele permaneceu nesse plano para me vigiar e cuidar de mim.
À quem eu devo um brinde? Ou melhor, à o que eu devo um brinde, um último brinde.
Dazai: Aos velhos tempos.- digo com um sorriso nostálgico e torto em meus lábios.
Levantei minha mão trêmula que segurava a garrafa de rum já pela metade para o alto, em direção às nuvens, esperando que de alguma maneira do outro lado daquelas coisas brancas e flutuantes um Oda cansado de um dia de trabalho árduo esteja brindando também, como nos velhos tempos, tempos que não irão voltar a ocorrer por uma fatalidade.
Eu me pergunto se em um universo alternativo em que o Oda estivesse vivo ainda estaríamos juntos, como o trio de amigos não oficiais que sempre afogava os problemas em copos de whisky e procurava soluções em fundos de garrafas em um bar de esquina.
Por muito tempo eu culpei o Ango, era fácil culpar-lo pela morte do outro, até eu ver o seu semblante cansado, culposo e abatido com um vazio inexplicável, tempos depois eu descobri que apesar de eu ver o Oda como uma figura de irmão mais velho a ser respeitada o Ango o via como seu tudo, seu parceiro de crime e romântico o qual dividia uma história extensa, naquele dia não foi apenas eu que o perdi.
Chuuya: Está lembrando de como eu sempre tinha que salvar sua bunda de problemas?.- questionou de modo cínico.
Sempre com comentários muito afiados.
Eu sorri com as lembranças revividas com o ruivo, trouxe a garrafa de volta para perto me distanciando das nuvens e bebendo de seu líquido com sede.
Dazai: Você sabe que eu te salvei muito mais vezes.- me gabei sorridente.
Aquilo era uma mentira.
O ruivo surpreendentemente não ficou irritado com a mentira deslavada, ao contrário, ele riu com gosto parecendo genuinamente humorado com a simples piada, o riso elegante do pequeno era como uma sinfonia de Beethoven para os meus ouvidos sendo agraciados pela harmonia que era sua felicidade, sem eu perceber também comecei a rir contido e pouco confuso.
Ali criava-se um daqueles momentos que não há nada de muito especial, todavia, sua mente irá sempre lembrar-se como se fosse algo especial, e talvez no fim fosse sim algo precioso, afinal, é dos momentos mais pequenos que lembramos com carinho e exatidão, ele também se lembraria deste momento?.
Chuuya: Você sabe que desde que entrei na máfia eu vivi salvando o seu corpo, tenho certeza que se eu ganhasse uma moeda cada vez que eu te salvei estaria rico agora.- gabou-se com humor ácido e a voz carregada de imponência.
Eu ri ainda mais forte e alto com sua observação sarcástica e um tanto exagerada.
Dazai: Bem que dizem que mentira tem perna curta.- o sarcasmo salpicado de malícia em minha voz era palpável.
Imaginei-o do outro lado da linha com uma careta entre o emburrado e o raivoso, suas bochechas deviam estar inchadas em descrença e avermelhadas cor raiva, seus braços deviam estar cruzados acima do peito em uma posição de "tanto faz" ao mesmo tempo que transmitia um "eu me sinto incomodado com esse tipo de comentário", os olhos azuis do mafioso de certo estão brilhando em ódio e familiaridade e na ponta de sua língua há uma resposta tão sarcástica quanto meu comentário.
Um cenário muito fofo de se imaginar.
Sorri minimamente com o pensamento carinhoso que minha mente criara, apesar dos muitos momentos assustadores e sérios do Nakahara ele ainda conseguia ser um poço de fofura em determinados momentos, como por exemplo este, e mesmo com ele negando até a morte que é um ser perigoso com capacidade de dizimar uma cidade inteira com facilidade eu só conseguia enxergar um ser humano de meio metro de altura muito fofo, ah, e suas diversas qualidades ainda o deixavam ainda mais fofo e bonito, como por exemplo; o fato dele ser gentil e cuidadoso com todo e qualquer tipo de criança, quase como um irmão mais velho ou até mesmo um pai, ele ser super fraco com bebidas fazendo com que seu rosto ficasse corado com extrema facilidade, ele sempre comprar roupas com alguns milímetros maior que o recomendado por pura teimosia deixando um pouco de suas mãos escondida entre as longas mangas, ah, suas mãos, suas delicadas mãos, ele sempre faz questão de nunca usar as mãos em campo de batalha a não ser que seja de extrema importância, ele ser bonito de natureza, tudo, são tantas qualidades que eu poderia ficar aqui até amanhã listando elas, e mesmo assim não seria o suficiente para lembrar de todas.
Chuuya: Calado sua cavala suicida!.- ele gritou ofendido tirando-me de meu tranze.
Balancei a cabeça em negação sorrindo com seu jeito explosivo e previsível de sempre.
Dazai: Será que um dia teremos uma conversa que não envolva uma ameaça de homicídio?.- questionei-o sarcasticamente.
Não, nunca teríamos esse tipo de conversa, não á mais tempo para qualquer outro tipo de conversa, realmente uma pena nossas últimas palavras trocadas sejam recheadas de farpas, gostaria desse pensar em um cenário o quão fomos abertos um para o outro da maneira mais sentimental o possível dizendo tudo que nunca conseguimos falar antes.
Mas a realidade é outra, no fim sempre seremos a dupla dinâmica com uma inimizade irritante.
Chuuya: Eu não teria que te ameaçar tanto se você fosse um homem decente.- decretou com sarcasmo e alfinetadas de ódio.
Como se você fosse o exemplo em pessoa.
Revirei os olhos com sua falsa observação, um pequeno sorriso brincava entre meus lábios, levei novamente a garrafa até minha boca virando em um grande gole que desceu queimando minha garganta em um sentimento de familiaridade, uma tosse doente saiu de mim e ali perguntei-me se, mais uma vez, era algo meramente psicológico ou algo como uma virose, acho que nunca irei saber, nunca gostei muito de ir em hospitais e preferia mil vezes ficar acamado por 10 dias à ir em uma consulta com um médico, e não é que eu odeio todos os médicos existentes, eles apenas são muito certinhos e iriam me questionar sobre minhas diversas cicatrizes.
Teve apenas uma situação em que eu acabei parando em um hospital, foi em mais uma tentativa frustrada de suicídio, tomei incontáveis pílulas de fluoxetina e bebi uma garrafa inteira de gin enquanto chorava como um recém nascido e discava com dedos trêmulos o número do Chuuya, fui levado as pressas para o hospital já em estado de coma e tiveram que fazer uma lavagem estomacal em mim. Até hoje lembro como o ruivo estava preocupado e como eu estava pirando por estar naquele ambiente.
Minha cabeça doía como um inferno e parecia mais pesado que uma tonelada, minha garganta ainda parecia queimar por conta da bebida e por um possível acesso de tosse ao mesmo tempo que estava seca como um deserto, meus olhos estavam pesados e ardiam por conta dos fantasmas das lágrimas que por ali haviam passado, havia uma janela naquele maldito quarto branco que por algum motivo estava aberta e dali saía um fecho de luz de um sol caloroso, meu corpo incapaz de mover-se sem sentir o mundo nos ombros mexeu-se com dificuldade ficando sentado sobre a cama, ali eu finalmente havia notado a ilustre presença do Nakahara, suas madeixas ruivas estavam descabeladas como se estivessem sido puxadas com muita força, ele estava inclinado sobre a cama com o rosto enfiado nos lençóis e dormia tranquilamente.
Eu sorri bobo com a imagem e não me contive em passar minha mão em seus cabelos iniciando um cafuné hesitante, senti ele começar a se mover devagar e logo já estava cara a cara comigo em expressões faciais raivosa e com olhos inchados de tanto chorar.
Chuuya: Seu idiota! Como pode tentar se matar dessa maneira!.- gritou como uma vadia louca.
Naquele momento eu estava com a cabeça cheia, meus pensamentos eram apenas emaranhados sem sentido e tudo parecia demais para eu processar, o ruivo estar gritando como um cachorro louco piorou em níveis alarmantes minha maldita dor de cabeça.
Chuuya: Você sabe o quão preocupado eu fiquei com você?! Seu idiota egoísta, nunca pensa nas outras pessoas enquanto faz esse tipo de merda!.- esbravejou com ódio e com a voz embargada.
Em seus olhos havia lágrimas gordas com semblante de preocupação, porém, eu não conseguia me importar muito com aquilo, eu estou com tanta raiva, aquele maldito ruivo jogou o peso de tudo em minhas costas dizendo que sou egoísta por pensar em tal coisa como se compartilhamos um corpo em conjunto, como se essa casca vazia que eu chamo de vida fosse dele por direito e ele pudesse fazer oque bem entender dela.
Dazai: CALA A BOCA! Você acha que eu gosto de estar aqui nessa merda de hospital? Confinado com uma vadia louca que não sabe a porra do peso que eu tenho que carregar todo o tanto dia, quer saber Chuuya, vai se fuder! Você não é a porra do meu pai para decidir se mereço viver ou não, você não é porra nenhuma para mim! SAÍA DAQUI AGORA!.- eu gritei com toda a força que eu tinha, toda a raiva reprimida que eu sentia a meses eu depositei naquele grito.
No fim eu realmente fui um egoísta, afinal, apesar de ser clichê oque irei pensar, o sentido de vida é indefinido e cabe ao indivíduo decidir por si só oque lhe convém, entretanto, não dá para negar que nos relacionamos com pessoa no caminho, seja bom ou ruim, então, sem você perceber, acaba criando raízes por onde passa, e quando você morre as raízes permanecem ali, uma parte de você permanece dentro das pessoas, então sim, é egoísta você não pensar nas pessoas enquanto tenta se matar, porém, é mais egoísmo ainda você não pensar em si mesmo acima das pessoas, pois, estaria traindo à si mesmo.
Dazai: Você poderia fingir que sou um homem decente uma vez na vida, já que este é o problema.- digo com uma voz brincalhona que escondia um clamor.
Ouvi uma pequena risada do outro lado da linha, contida e pequena, sorri sem perceber imaginando o pequeno com seu tópico sorriso sarcástico tomando fôlego para me dar uma resposta recheada de xingamentos.
Chuuya: Acho que posso fazer esse esforço por você, mas só hoje.- alertou, surpreendentemente, meigo.
Pisquei confuso, afastei o celular de minha orelha apenas para confirmar se era realmente o ruivo que eu estava conversando ou se por um mistério ele havia sido trocado de repente por uma versão paralela mais compreensível, porque só assim para o Nakahara ser meigo comigo, ali ainda era a mesma foto de perfil do ruivo com o fundo do seu apartamento, seus cabelos soltos e em seus lábios um cigarro pela metade.
De modo hesitante aproximei novamente o celular da minha orelha podendo ouvir a respiração do mafioso do outro lado da linha.
Dazai: Como vão as coisas na máfia? Não tenho muitas atualizações desde que sai.- questionei com uma genuína curiosidade.
Eu só podia imaginar como tem ocorrido vida por lá, nunca foi uma vida boa, não sei nem se o termo exato para definir minha estadia por lá é a palavra vida, considero apenas como uma sobrevivência autodestrutiva, aliás, é a máfia do porto, a gangue que reúne aqueles que não tiveram uma vida fácil e decidiram entrar ali em busca de algo melhor, aqueles que por conta de uma sociedade desestruturada tiveram que buscar meios mais rápidos de conseguir dinheiro. No fundo eu agradeço por ser "acolhido" por aqueles psicopatas, apesar dos métodos nada ortodoxos eu consegui evoluir muito meu poder bem como minha mente, e foi lá que eu conheci o Oda.
Chuuya: Mori ainda tem raiva de você assim como o Akutagawa, e sinceramente eu não posso culpa-los.- confessou com uma pontada de ressentimento.
Mori Ougai era um pedaço de merda desprezível que faz qualquer coisa para atingir seus objetivos, qualquer coisa, ele ascender como o novo chefe daquela gangue não fez-me respeitar-lo, ao contrário, eu só o odiei ainda mais por isso, eu sabia de seus segredinhos sujos, não por escolha própria, ele sabia o quão inteligente eu sou e tentar esconder o assassinato do último chefe seria perca de tempo, então ele decidiu tentar me traumatizar matando o antigo chefe bem na minha frente com o maldito bisturi, não funcionou, e ele partiu para outra abordagem que consistia em ter-me por perto o suficiente para me vigiar e fazer-me de braço direito mas longe o suficiente para eu não saber de seus verdadeiros planos.
Eu sempre irei o odiar.
Ah, o Akutagawa, aquela pobre criança a qual entrou cedo demais para a sobrevivência no crime, eu me arrependo amargamente de ter-lo desprezado por coisas tão fúteis, assim que eu encontrei o Ryonosuke juntamente ao seu irmão/irmã Gin naquelas malditas ruas perigosas eu decidi acolher-los, claro que eu não queria que eles ficassem dentro daquela maldita máfia, porém, Mori encontrou o potencial no poder dele e como ele era apenas uma criança assustada na época era facilmente manipulável, e é aí que eu entrei na jogada, Ougai imediatamente me colocou como uma espécie de tutor do outro e eu não tive escolha à não ser treinar-lo, todavia eu odiava, nunca fui muito paciente para ensinar terceiros e Akutagawa estava passando por muitos problemas psicológicos para concentrar-se 100%, e de alguma maneira ele criou uma admiração obsessiva por mim, e eu me aproveitei disso.
Ele sempre será meu maior arrependimento.
Dazai: Será que um dia ele vai me perdoar?.- perguntei angustiado com a possibilidade da rejeição.
Eu ouvi um longo suspiro cansado do outro lado da linha.
Chuuya: Sim, claro que ele vai, ele te admira demais para não te perdoar.- me acalmou.
Não é como se estivéssemos com mais tempo agora, espero que em minha sepultura ele me perdoe.
Dazai: Eu espero que sim.- confessei deprimente.
Chuuya: Quando você irá perdoar o chefe?.- perguntou esperançoso.
Eu já estou farto das tentativas falhas do ruivo em tentar uma reaproximação entre mim e o moreno, sobreviver dentro daquela gangue era um inferno sem precedentes e parecia que Mori fazia questão de dificultar ainda mais minha estadia, então quanto ele decidiu que ia treinar-me eu pensei que tudo iria acalmar-se, tolo, ficou um milhão de vezes mais difícil conviver com o dito cujo, aquilo não era treinamento, era tortura psicológica e as vezes física.
Porém, tudo ficou estranhamente diferente desde minha tentativa de suicídio quase bem sucedida.
Assim que eu derramei todas aquelas palavras de ódio recheadas de melancolia o clima ficou tenso, Chuuya parecia estar processando tudo que eu havia dito bem como eu estava tentando acalmar meu coração palpitante, tudo estava turvo e fora do lugar, minha cabeça doía como um inferno por conta dos remédios e a choradeira de outra hora, eu só queria ficar sozinho com meus próprios pensamentos e arrependimentos, eu não preciso desse meio metro de gente enchendo minha cabeça, não agora. E mesmo assim, quando olhei-o tive incertezas, o arrependimento bateu no mesmo segundo e eu quis me desculpar por tudo, entretanto, o orgulho me impedia, eu apenas fiquei lá observando a tempestade que encontrava-se seus olhos de diamantes, as lágrimas em suas bochechas avermelhadas finalmente tiveram pausa permanecendo ali como fantasmas.
Uma batida leve na porta foi escutada, Nakahara rapidamente saiu de perto da cama indo em direção à porta e abrindo-a com força atropelando quem quer que fosse e saindo do cômodo.
Eu me joguei para trás novamente me deitando na cama sentindo-me cansando demais, arrependido demais... perdido demais.
Mori: Nunca imaginei que iria ver-lo tão miserável assim.- comentou com a voz ácida e sarcástica.
Eu encarei-o com ódio.
Dazai: O que está fazendo aqui?.- questionei raivoso.
Ele me olhou de cima a baixo, parecia procurar algum machucado visível, isso me deixou ainda mais puto, eu sei bem que não está procurando algum hematoma por altruísmo, esse pedofilo de merda deve estar preocupado com o fato de eu estar impossibilidade de realizar algumas missões por enquanto.
Estou cansado demais para isso.
Dazai: Eu ainda estou vivo como pode ver, então... caí fora!.- o expulso em um grito.
Suas expressões antes relaxadas tornaram-se raivosa, seus olhos transmitia o escárnio que ele sentia no momento, sua postura rígida só acrescentava ainda mais a pose de chefe que ele adquiria sempre que estava falando sobre algo de extremo sigilo, eu sinceramente odeio toda aquela pose, pois isso só me lembra as infinitas reuniões que eu tenho que comparecer por ser seu "braço direito".
Mori: Não seja tão arrogante assim, Osamu, estou verificando se você tem algum machucado pois me preocupo contigo.- ele explicou-se friamente.
Até onde ele planeja fingir se importar verdadeiramente comigo?.
Dazai: Não me chame de Osamu! Você não tem o direito de me chamar assim!.- eu mandei totalmente seco e sem aberturas para sugestões ou perguntas.
Ele me olhou por um instante antes de abrir um sorriso de sarcasmo, seus olhos brilhavam muito como quando ele estava prestes a torturar uma vítima psicologicamente, e eu conheço bem aquele olhar, oh, como eu conheço.
Mori: E quem mais iria lhe chamar assim? Você acabou de afastar a única pessoa que verdadeiramente se importa com você, pobre Chuuya, teve que ir até o seu apartamento limpar o seu próprio sangue e você ao menos agradece, sabe, ele que trocou suas ataduras pois ele sabe que você odeia quando os outros olham suas cicatrizes.- terminou seu monólogo com soberba.
Balancei a cabeça para os lados tentando afastar os pensamentos, apesar de odiar-lo mais que tudo não poderia tirar sua razão, naquele momento eu realmente não tinha ninguém, Oda não era tão próximo assim de mim naquela época e Chuuya era o único que importava-se de verdade comigo, ele que sempre esteve lá por mim me ajudando ou cuidando de mim, e como eu retribuo? O expulsando daquele maldito quarto e o xingando à torto e a direita.
Dazai: Desista, Chuuya, você sabe que eu odeio ele e vice versa.- encerrei o assunto com firmeza.
Um suspiro longo foi escutado do outro lado.
Chuuya: Nunca irei desistir, ele é uma criança igual você, todos somos, estamos aprendendo a viver ainda.- disse sabiamente.
Eu não consigo o perdoar.
Sempre que lembro-me dele é com ódio de tudo que passei naquela máfia, eu era apenas um adolescente revoltado com o sistema na época, porra, eu não precisava de tortura psicológica e sim de um abraço forte e um ombro para chorar, e tudo que ele me deu foi um peso ainda maior para eu carregar e incentivos de meus suicídios, eu sentia que eu não importava naquele instante e tudo que eu fazia tornou-se no piloto automático.
Depois de um tempo eu conheci o Odasaku, entretanto, já era tarde demais, eu já estava quebrado demais.
Dazai: Apenas vamos mudar de assunto.- pedi em tom suplicante.
Nesse momento eu não preciso lembrar-me dos meus momentos ruins, eu apenas quero memórias felizes, afinal, estou prestes a me jogar de um prédio de cinco andares em direção aos doces braços da morte, e apesar de ser um suicida pensar em coisas remetentes a tristeza é patético.
Ele suspirou um pouco decepcionado mas logo retornou a falar.
Chuuya: Sobre o que exatamente você quer conversar? Não temos mais assuntos em comum á muito tempo.- apontou com sarcasmo na voz e com uma mágoa escondida.
Eu só queria reconectar-me contigo novamente, sentir-me realmente seu amigo, todavia, não dá mais, eu duvido muito que você irá perdoar todas as palavras cruéis que eu já lhe disse, todos os atos amigáveis que eu ignorei por pura soberba de me achar melhor que você, o fato de eu ter saído da máfia sem lhe dar explicações deixando nossa história toda para trás, aliás, você também foi afetado pela morte do Odasaku e tudo que nós dois precisávamos era um do outro, de um ombro amigo, e eu apenas deixei-lhe em um momento de fragilidade e luto. Você sempre me diz o quão feliz se sentiu assim que eu pus meus pés para fora daquela gangue, comemorando com a melhor e mais cara garrafa de vinho de sua adega particular, nós dois sabemos que isto não passa de uma mentira deslavada usada apenas para máscara sua dor e o meu orgulho.
Dazai: Eu sinto muito, Chuuya.- digo sinceramente, minha voz começando a ficar novamente embargada.
Eu realmente sinto muito por... tudo.
O silêncio do outro lado da linha era palpável, isso desencadeou um sentimento de pura ansiedade mesclada com a impotência, eu senti minha garganta ficar novamente seca e um nó se formar nela impossibilitando minha voz de sair, meus pulmões estavam começando a ficar erráticos, eu sofria de respirar e a cada fungada sentia pequenas agulhas perfurar ambos meus pulmões, minha vista embaçada pelas lágrimas tentavam focar no céu em minha frente, tudo estava tão fudidamente fudido que eu não consegui prender um soluço que saiu de minha garganta seguido por vários outros.
Eu desesperadamente levei a garrafa até perto de minha boca engolindo em grandes goles o líquido ali restante, eu tosso como um animal doente antes de normalizar minha respirar, as lágrimas ainda caiam em meu rosto mas para meu alívio podia respirar um pouco melhor, claro que eu ainda sentia aquela maldita dor nos meus pulmões só que em menor escala.
Me aproximei ainda mais da borda daquele prédio, as pessoas ainda passavam por lá, elas ainda viviam suas vidas sem conhecimento do que acontecia neste prédio azul, sem o conhecimento de que logo, logo teria um corpo espatifado no chão como um pacote flácido, será que tiram câmeras gravando meu corpo? Reportes como abutres tentando ser os primeiros a registar meu suicídio sem nenhum respeito ao meu corpo, será que eles iriam assediar todos meus conhecidos em buscas de mais informações minha sem se preocupar com o luto de cada um?.
Eu joguei de lá o objeto de vidro, a garrafa já vazia quebrou-se no chão, algumas pessoas que estavam por perto olharam assustada para cima e com rapidez me joguei para trás saindo do campo de visão deles.
Logo, logo serei eu a garrafa vazia.
Chuuya: Você sempre fala a mesma coisa quando está bêbado, eu só queria que dissesse o mesmo estando sóbrio.- falou ressentido, sua mágoa era enorme demais para mim.
Eu realmente queria fazer isto quando sóbrio, ajoelhar-me em sua frente e rastejar diante de seu ser implorando pelo seu perdão como um rato imundo, porém, eu não conseguia, o orgulho e o medo do que poderia acontecer me deixa ansioso demais para dizer toda a verdade, e até mesmo em uma situação como esta que nada irá restar além de minhas lembranças eu consigo hesitar.
Só espero que em outra vida eu peça perdão a ele corretamente.
Dazai: Você sabe que é verdade.- eu sussurrei em um tom de afirmação hesitante.
Ele apenas suspirou decepcionado.
Chuuya: Dazai, onde você está?.- perguntou, apesar de seu tom indicar que ele não iria abandonar o assunto anterior permanentemente.
Eu apenas observei o horizonte, todos os prédios ao redor eram em grande parte comerciais, o prédio o qual eu planejava me suicidar no entanto era um pequeno distribuidor de aluguéis de apartamentos, ele não tinha uma estrutura muito bonita e sua fachada parecia ser antiga e não era do tipo vintage, a cor azulada dele estava um pouco desbotada mostrando que não recebia uma demão de tinta a muito tempo, ali eu sentia que era um local escondido da visão do povo, todos que passavam por sua volta era unicamente para caminhar em direção à outros prédios mais altos.
Talvez por isso foi tão fácil de entrar sem causar grandes alarde, eu estava sem rumo enquanto andava com a garrafa de rum na mão e procurava com olhos e mãos trêmulas um bom local para meu suicídio, foi aí que eu parei em frente ao prédio em questão, de alguma maneira eu senti que este seria o lugar perfeito para beber uma última vez.
Tive medo em apertar o botão do interfone e ser barrado na portaria, surpreendentemente não foi isso que aconteceu, lembro-me de apertar o botão preto e rezar para que ninguém tentasse me impedir, foi então que magicamente a porta se abriu sem mais perguntas, eu fiquei um pouco hesitante em adentrar o local e tive que beber mais de minha bebida alcoólica para dar-me a coragem necessária, assim que atravessei o portão vi que o pequeno hall de entrada tinha apenas um balcão com um sistema antigo de monitoramento de câmera e uma cadeira velha de escritório.
O senhor que olhava as câmeras desviou o olhar e me observou com julgamento, ele já era de idade avançada, muito avançada, seu rosto já todo enrugado era torcido em uma careta mal-humarada, ele era baixinho, mais do que o Chuuya, era um senhor de grande peso, tinha poucos cabelos em sua cabeça e os que tinham já eram grisalhos, sua expressão era como de um buldogue raivoso e cansado.
???: Você faz parte de alguma gangue? Não quero mais jovens tentando entrar aqui e fazer baderna.- perguntou-me com desconfiança.
Eu apenas sorri minimamente, a bebida deturpando o sentido de como eu enxergava o mundo, de modo leve e despreocupado eu deixei as palavras fugirem de mim.
Dazai: Estou apenas planejando me matar.- não havia sarcasmo em minha fala, e apesar da verdade cruel eu falei tudo com a leveza de uma pluma.
Ele me olhou de cima a baixo, sua cara enrugada não demonstrava surpresa, tampouco empatia, ele apenas me encarou com aqueles olhou velhos e cansados de trabalhar e acenou com a mão me dispensando, aliás, ele parecia ser um senhor muito à moda antiga, e realizar um trabalho bem feito não importa oque aconteça ao redor é típico de quem já está alienado demais pelo sistema capitalista, talvez eu devesse agradecer-lo por apenas me encarar com cansaço e não querer fazer uma palestra bonitinha com palavras difíceis para tentar concretizar-me sobre o quão errado é me tacar de cima deste prédio.
É realmente tão errado assim desejar a doce morte? Pois vejo muitos discutir que sempre tem uma saída mas agir que nem o senhor em situações extremas, no fim somos todos hipócritas.
Dazai: Estou apenas apreciando a vista.- o respondi depois de um tempo sendo propositalmente vago em minha resposta.
E eu realmente estou apreciando a vista, é a última vez que irei apreciar este céu e o ignorar é burrice.
Chuuya: Está estranho hoje, parece mais nervoso que o comum, resolveu algum caso difícil?.- me questionou curiosamente.
O caso que eu havia solucionado mais cedo realmente havia sido um pouco difícil, porém, nada tão extraordinário ao ponto de sair em algum jornal sensacionalista, apenas mais um assassinado encoberto por um pequeno mistério.
Dazai: Nada tão impossível para o incrível Osamu Dazai.- me vanglorio com prepotência.
Ouvi um pequeno e contido riso do outro lado da linha, eu amava cada riso que o ruivo emitia, e ser o motivo de tanto cativo deixa-me cada vez mais apaixonado, como um tolo inconformado, conseguia imaginar a pequena e contida curvatura que seus provocantes lábios poderia estar fazendo agora mostrando timidamente seus dentes brancos, meu coração batia até mais rápido em pensar nisto. E quando eu menos percebi já estava sorrindo como um louco bêbado, oque não deixa de ser verdade.
Dazai: O céu está realmente lindo hoje, não é Chuuya.- perguntei novamente.
Um soluço escapou de mim, as lágrimas viram logo em seguida banhando meu rosto avermelhado, eu olhava para a multidão abaixo com vertigem, achei que seria mais fácil porém como já diz o ditado, se você encara o abismo o abismo lhe encara de volta, e naquele instante o abismo não era uma rua movimentada em pleno horário de pico, não, enquanto eu encarava a estrada abaixo via toda a minha vida, as pessoas que nela passaram pareciam estar aqui por mim, era emocionante demais.
Chuuya: Onde você está?!.- perguntou de repente desesperado.
Chorei mais ainda com o tom do ruivo, saber que eu causava esse tipo de preocupação no Nakahara me enchia de culpa, porém, também me enchia de gratificação, meu coração sempre se esquenta ao pensar no mafioso preocupado comigo enquanto tenta desesperadamente me amparar ao mesmo tempo que se encolhe em meu peito, é tão egoísta pensar nele desta forma, talvez por isso me sinto tão culpado.
Nesses últimos momentos de vida não queria causar-lhe muito alarde, sinto que lhe devo isso por tudo que ele tem feito por mim e que já fez, como último ato de bondade nesse mundo queria partir sem deixar seu coração quebrado de preocupação, mas eu não... consigo, saber que estou aqui encima desse prédio sozinho me preenche de um vazio imensurável, saber que basta só falar a localização exata para que o ruivo venha socorrer-me como em outras ocasiões deixa-me hesitante.
Pular daqui é um encerramento de nossas histórias, de minhas experiências de vida, e puta que pariu, eu estou com muito medo, isso nunca foi fácil, das outras tentativas também havia sido a mesma coisa, entretanto, das outras vezes eu tive a certeza que logo estaria em meu apartamento apreciando de uma bela garrafa de whisky e descontente por ter hesitado mais uma vez e não ter caído no braço da doce morte, esta vez é diferente, não há ninguém para me socorrer, e isso é amedrontador para caralho.
Dazai: Desculpe, eu...eu realmente sinto muito, por tudo, eu.. eu te amo Chuuya Nakahara.- eu declarei com a voz embargada e irreconhecível.
Chuuya: Você está me assustando, onde você está?!.- perguntou cada vez mais desesperado.
Eu apenas sorri, as lágrimas ainda eram presentes porém não poderia me importar menos, eu olhei novamente para o abismo só que desta vez ele não me encarou de volta, eu estou tão orgulhoso de mim mesmo, poder partir desse mundo com menos um arrependimento nas minhas costas era tão gratificante, ter finalmente dito essas três palavras era tão... bom, claro que eu queria uma circunstância diferente, algo um pouco mais romântico e ensaiado. Consigo até imaginar a cena, ele e eu estaríamos em algum piquenique, as árvores de cerejeiras estariam deixando suas folhas caírem pelo chão formando uma bela paisagem para admirar, eu iria brindar por algo bobo e ele riria da minha piada sem graça, então eu me ajoelharia sobre seus pés e puxaria uma caixinha de veludo vermelho de meu bolso e timidamente começaria a lhe dizer tudo que tenho guardado, ele ficaria envergonhado e vergonhosamente aceitaria minha proposta e então nos beijariamos de modo apaixonado enquanto lágrimas de felicidade saía de meus olhos.
Pena que não há mais tempo para nada disso.
Eu dei mais um passo em direção à borda do prédio azul.
Dazai: Está tudo bem, eu só queria falar isso... eu precisava.- digo agora em tom mais sorridente.
Chuuya: ONDE VOCÊ ESTÁ DAZAI?!.- ele se desesperou ainda mais.
Olhei para o céu, tão lindo e perfeito, era como encarar o ruivo, sinto até que ele está aqui, presencialmente e não apenas uma voz de um celular, pergunto-me se quando eu me jogar nos doces braços da morte irei sentir o abraço de Chuuya, talvez isso seja apenas uma desculpa para tornar tudo mais fácil.
Apenas um passo, é estranho pensar que o que me separa deste mundo físico é um mero passo em direção à morte, bom, como últimas grandes palavras um velho ditado que se encaixa perfeitamente com a ocasião.
Dazai: Um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade.- eu disse sorridente rindo de minha estupidez embriagada.
Chuuya: Chega de graça! Onde você está?!.- ele berrou em uma pergunta suplicante.
Eu ri baixinho, por um momento eu me esqueci que o ruivinho estava do outro lado da linha, céus, estou tão... perdido, tudo que estou vivendo nesse exato momento é tão desconexo com a realidade, talvez eu não esteja só perdido nesse prédio, talvez a perdição que sinto, o vazio, não é no sentido mais literal se sua palavra, no final eu sempre me senti muito perdido, apenas respirando como um verme que eu sei que eu sou e tentando sobreviver nesse mundo devastador, seja na máfia do porto ou na agência de detetives armados eu sempre me senti perdido, sempre tão não... humano.
Droga! Chuuya, eu sempre pensei que eu trazia a humanidade para você porém você à traz até mim, sempre me mantendo o mais humano o possível, cara, eu te amo tanto, que dói, porra, doi para caralho, é um tipo de dor dilacerada, aquela que corrói a alma.
Dazai: Eu espero que a carta ainda seja legível, tem tanta coisa que eu ainda preciso te dizer... eu te amo, nunca se esqueça.- digo como última declaração.
E então eu dei o último passo, foi tão bom, não senti mais as mil amarras de arrependimentos e angústias que eu sentia por permanecer nesse plano, era libertador pular em direção à morte certa, deixar tudo para trás é realmente bom, naquele momento o sorriso mais verdadeiro que eu pensei que nunca seria capaz de dar se fez presente em minha face, meus olhos fechados só esperando o impacto como a garrafa de rum que outrora se quebrara no chão, e em meus últimos momentos, como era de se esperar eu pensei no Chuuya.
Eu espero que você seja feliz Chuuya Nakahara, todos os momentos em que vivemos juntos irá ficar guardado para sempre em minha mente, não importa se eu for embora daqui para sempre, faço questão de deixar minha alma com todos nossas lembranças, você é o motivo dos meus momentos de suspiros ofegantes, você é o motivo de eu acordar e me levantar da cama todos os dia... você é tudo... você era tudo.
Eu te amo, Chuuya Nakahara.
Chuuya: DAZAI!.
Foi a última coisa que escutei.
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Olá queridos (as) leitores (as).
Eu queria agradecer a todos que leram a fanfic até aqui, peço para que votem e comentem bastante.
Eu sempre gostei bastante de músicas internacionais e principalmente as antigas, quando estava pensando em fazer uma música triste desse querido shipp nosso logo pensei nessa música, sei que não encaixou tão bem assim com a letra mas é apenas uma inspiração e não uma história baseada 100% na letra da música.
Enfim muito obrigada por todos.
Ah, e se essa fanfic bater 1k eu irei fazer uma parte dois com a carta que o Dazai deixou, então compartilhem se possível.
Fanfic não revisada.
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