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# 𝟑𝟓 - 𝖴𝗆 𝐟𝐢𝐥𝐡𝐨 𝗉𝗈𝗋 𝗎𝗆 𝐟𝐢𝐥𝐡𝐨

Era como se o corpo cobrasse um preço que Drasilla queria pagar, mas não conseguia, de nenhuma maneira. Fraca, com fome, sede e dores no corpo, a princesa desmaiou ali mesmo, na frente de todos aos pés da mesa com o grande mapa de Westeros, sendo rodeada de guardas e meistres, a rainha e o príncipe consorte se encararam e em meio a sua dor, Rhaenyra empurrou Daemon para o lado, segurando o vestido para ir até onde a morena tinha caído, seu rosto pálido quase como se alguém sem vida.

── Ela está queimando em febre, majestade. ── Sir. Erryk era quem segurava o corpo da morena. 

── Chame o Grande Meistre. ── A rainha se levantou e Daemon estava em seu encalço. ── Leve-a a um dos aposentos

── Nós precisamos retalhar o que aconteceu. ── O príncipe não mediu suas palavras ao direcionar a loira. ── Agora.

── Nós não vamos ter a menor chance na guerra sem ela. ── Rhaenyra agia em automático, era como se sua mente se concentrasse em outra coisa para suportar a dor, quem não a conhecesse talvez dissesse que ela estava banalizando a morte de Lucerys, mas ela estava - inconscientemente - tentando seguir em frente, como precisavam que ela seguisse. ── Você sabe disso, como sua rainha Daemon, eu ordeno que não faça nada e espere a princesa acordar.

── Rhaenyra ... ── Ele começou a falar. ── Não podemos esperar.

── Nós vamos esperar. ── A rainha respondeu, olhando para Sir. Erryk pegando Drasilla no colo.

Era nítida a preocupação de Rhaenyra com Drasilla, por mais que ela estivesse sempre em torno da mesa conversando com os seus apoiadores e traçando rotas para conseguir apoio, ela sempre pedia para que Sir. Erryk, vez ou outra, fosse até os aposentos da princesa e perguntasse ao meistre que a acompanhava sobre a saúde da morena, ainda não havia acordado, pelo que sabiam, então enquanto esperava por notícias a rainha tentava conter ânimos e se certificar que não comandaria o reino com fogo e sangue.

Drasilla até se mexia quando dormia, o meistre que a vigiava e trocava os medicamentos da princesa percebia isso enquanto fazia anotações, ela ficou assim por quase quatro dias, enquanto os outros lá fora iam e voltavam em suas funções, quase todos apareceram por ali, entre Rhaenyra, Baela, Rhaenys, Corlys, até mesmo Joffrey, com seus 10 anos e meio, havia levado seus irmãos mais novos, Viserys e Aegon, para ver a tia, a única pessoa que não tinha ido até lá era Daemon, pelo menos até aquela noite.

O Príncipe carregava tantos sentimentos dentro de si naquele momento que nem mesmo conseguia dormir direito, ele parava por alguns momentos, olhava para algum lugar, refletindo, às vezes encostava em algum canto, mas parecia não ter paz, não teria até que todos os verdes tivessem queimado, ele gostava de Lucerys, mas a vingança maior era pela dor que a perda dele causou nas duas pessoas que o Príncipe mais amava no momento, sua irmã e sua esposa. Ele tinha pedido ao meistre para ficar a sós com ela, a luz da lareira iluminava o recinto e ele a encarava em silêncio, sem Rhaenyra, que tinha saído para voar com Syrax, ele deveria estar em torno da mesa com os Lordes, mas estava ali a encarando, enquanto deixara Corlys Velaryon em seu lugar.

── Você perdeu o funeral dele. ── Daemon falou, recostando na cadeira. ── Não tinha um corpo para queimar, então queimamos suas roupas. 

Não havia resposta pelo lado dela, a princesa ainda dormia.

── Acho que isso é um adeus. ── Ele falou, inclinando o corpo. ── Eu sei que você vai acordar uma hora e vai se culpar por tudo, é sua cara, mas não é sua culpa. Estou indo lutar essa guerra e na minha idade acho que voltar é complicado, dependendo do inimigo.

── Me sinto particularmente ofendida de ouvir isso. ── Uma voz feminina foi ouvida na porta, era Rhaenys. ── Eu sou mais velha que você.

── Mas é mais esperta. ── Ele concordou ponderando a cabeça e ainda olhando a irmã. ── Nenhum de nós teria salvo o garoto.

── Eu acredito que você não teria deixado o Aemond subir naquele dragão, teria cortado a cabeça dele no meio do salão de Ponta Tempestade. ── Rhaenys seguia apoiada na porta. ── Ela hesitou e eu não a culpo, a Rhaenyra também hesitaria, elas não querem um reino banhado de sangue.

── E você quer? ── Daemon a olhou, por cima do ombro.

── Não é sobre o que eu quero ou eu teria queimado os verdes naquela coroação. ── O ar escapava rápido dos lábios dela. ── Mas alguns de nós precisam querer, para isso dar certo.

── Você deveria e acredito que a Drasilla concorde com isso, ela seria nossa única perda. ── Daemon voltou a olhar a irmã. ── Compreendo o que você quer dizer e a Rhaenyra tem razão, precisamos esperar ela acordar.

── Daemon ... ── Rhaenys falhou baixo, o vendo se levantar.

── Ela não perdoaria nenhum de nós se tirássemos a chance de fazer algo para consertar isso. ── Ele se vira para a outra loira. ── Você sabe.

── Mas não sabemos como ela vai acordar, se vai.

── Ela vai. ── Daemon olhou por cima do ombro. ── Ela sabe que estamos sem tempo.

Na mente da princesa, mesmo em sono profundo, ela revivia a viagem de Pedra do Dragão até Ponta Tempestade, aquele encontro com Borros e Aemond, a fuga de Lucerys, a sua mente procurava uma saída para que Luke tivesse ficado vivo, como se fosse possível que isso acontecesse, sua mente só tentava achar algo, um acalento, mas seu pequeno garoto estava morto, seu Lucerys tinha morrido de uma forma cruel. Aos poucos aquelas cenas foram transformadas em um breu completo, ela estava no escuro.

O vento parecia tocar seu rosto, calmo, o barulho dos pássaros, o aroma do campo, era como se ela piscasse algumas vezes, sentindo que a vista turva ia tomando um ar mais límpido, enxergando o verde que a circulava, ela olhou as próprias mãos, cheias de anéis, todas pintadas, ao olhar os braços e pernas via que usava um vestido, ao seu redor uma espécie de jardim, com um belo lago, ao andar pela grama notou que estava descalça, ela raramente fazia isso, mas fez, se aproximando do lado e vendo seu reflexo, cabelo esvoaçante, um belo vestido carmim, era o que ela via, o seu reflexo.

── Querida? ── Uma voz masculina o chamou. ── Não fique muito perto do lago, as carpas foram alimentadas recentemente e costumam pular.

── Rasmus? ── Seu corpo girou, com medo de estar delirando ao identificar a voz. ── Rasmus ...

── Baelon e Alyssane, parem de correr! ── Ele ralhou com uma menina de cabelos escuros que deveria ter doze anos e um menino loiro de treze. ── Mace, coma o seu café, as panquecas ficam duras quando esfriam.

Ela ficou ali de pé, naquele jardim, olhando a cena, Rasmus tinha uma pequena tesoura em mãos e cortava algumas folhas de uma árvore pequena sob a mesa, ao lado dele, segurando um livro, um garoto de cabelos escuros como a menina, mas que aparentava mais jovem, uns onze anos talvez, lia um livro que Drasilla claramente reconheceria como o que Vaegon tinha dado a ela na cidadela anos antes. O garoto loiro pareceu finalmente pegar a menina e a garota, que tinha cabelos longos e levemente ondulados, correu na direção de Drasilla, abraçando a morena.

── Mamãe, o Baelon não para de me irritar. ── A pequena era Alyssane Tyrell, a segunda filha que Drasilla havia perdido. ── Ele disse que quando for Lord vai mandar o Silverviper embora.

── Esse seu dragãozinho vai virar churrasco em Pedra do Dragão. ── Mace respondeu abaixando o livro.

── Alyssane ... ── Drasilla segurou o rosto da filha entre as mãos, Alyssane a olhava curiosa, ela acenou para o mais velho, Baelon veio devagar, passando por Mace e o puxando a contra gosto para perto da princesa. ── Crianças ...

── Eu não sou criança. ── Mace resmungou quando Baelon o fez abraçar a mãe também. ── Porque você demorou?

── Demorei? ── Drasilla olhou para Mace e depois para Baelon e Alyssane.

── É mãe, a gente ta te esperando há muito tempo para o café. ── Baelon respondeu. 

── Crianças levem o Silverviper para acertar alguma coisa, eu preciso conversar com a sua mãe a sós. ── Rasmus olhava diretamente para a esposa enquanto os filhos passavam perto de si.

Drasilla se sentia nua sem os três, olhando enquanto eles e o dragão que parecia pequenino demais, quase como um gato grande, sumiam entre as árvores, ela só tirou os olhos da direção em que eles tinham ido quando não os via mais, encarando então o homem que estava perto dela. Foi um impulso, ela pulou sobre Rasmus, o abraçando com tamanha força, temendo que não pudesse sentir ele de novo, que acordasse daquilo e estivesse sozinha, ela sequer conseguia chorar, só apertá-lo.

── Eu senti tanto a sua falta. ── Seus olhos queimavam, mas sem lágrimas. ── Porque você foi embora?

── Alguém precisava cuidar das crianças. ── Ele a segurava firme. ── Você não deveria estar aqui.

── Não quero estar em outro lugar, não quero estar com ninguém que não seja a minha família.

── Rhaenyra é sua família. ── Ele respondeu ao pé do ouvido dela. ── Ela precisa de você.

── E se eu não quiser voltar?

── Quando meu lírio desistiu de lutar? 

── Quando você foi embora. ── Ela sussurrou pra ele. ── Eu amo você, eu não quero viver em um mundo onde você não esteja, não vou suportar não te ver de novo.

── Mas você vai me ver de novo. ── Ele se separou dela, vendo as lágrimas agora caindo e as limpando. ── Eu e as crianças vamos estar te esperando no nosso jardim, mas agora você precisa ir.

── O Luke ... ── As lágrimas dela escorriam em cachoeira.

── Eu sei, mas você precisa terminar com isso, se quer que a Aemma e o Lyonel tenham algum lugar para serem felizes.

── Não quero um reino coberto de sangue. ── Os olhos dela tremiam.

── Então precisa voltar ou é isso que ele vai virar sem você. ── Ele acariciava o rosto dela. ── Até breve, meu lírio, eu acredito em você.

O corpo de Drasilla doía, ela apertou Rasmus de novo, estava com dor, mas ainda sim não queria soltá-lo ou perder ele de vista, mas é claro, que assim como ele bem a alertou, ela não podia ficar ali, nos jardins com sua família, então seu corpo foi puxado de volta com força, como se alguém a agarrasse pela cintura, então ela caiu, caiu e caiu, mas quando ia acertar algo, o seu corpo não bateu com as costas, mas sim acordou de sopetão sob a cama, assustando um meistre que lia algo em um pergaminho. 

Toda a extensão do corpo dela doía, com se não fosse possível sentir outra coisa, ainda havia um amargo gosto na boca, o meistre repousou a mão em seu ombro, mas a princesa o afastou, ignorando qualquer palavra sobre ter cautela, um pouco tonta quase caiu no chão quando se ergueu, se apoiando no homem ao seu lado, quando conseguiu se manter em pé ela caminhou até a porta, tendo que se amparar também, atrás dela o meistre pedia que ela voltasse para a cama, com urgência, a conversa em alto tom deles chamou a atenção de sir. Erryk que foi até ambos.

── Princesa? Você acordou. ── O guarda parou na frente dela, sem saber se encostava ou não em Drasilla. ── Volte pra cama, você precisa descansar.

── O Daemon. ── Ela falou meio rouca. ── Onde está o Daemon?

── O Príncipe está se arrumando para partir para Harrenhall. ── Ele avisou. 

── Me leve até o Daemon. ── Ela rosnou. ── AGORA!

Erryk queria pegá-la no colo, mas Drasilla era resistente, precisou de pouco apoio, mas foi levada até o grande salão, onde o Príncipe Daemon e Lorde Corlys conversavam, Erryk ainda a ajudou a descer as escadas sob o olhar de todos ali presentes, só quando já estava de pé próxima ao irmão e o Serpente Marinha que ela se desvencilhou do guarda, mantendo-se em silêncio e olhando para Daemon, era um recado claro quando as íris lilás de ambos se encontravam.

── Me deixem a sós com a princesa. ── O loiro pediu.

── Mas meu Príncipe, nós ...

── Saiam agora! ── A voz de Drasilla ainda era rouca e dóia a garganta, mas todos se retiraram. ── Onde está a Rhaenyra? E a Rhaenys?

── A Rainha partiu para Ponta Tempestade, quando o meistre garantiu que você estava bem, o luto finalmente começou a fazer efeitos nela, está em estado de negação a procura do corpo do filho. ── O Príncipe parecia cansado, do tipo que não tinha tentando impedir a rainha. ── Rhaenys foi lidar com o exército Lannister sob Pouso de Gralhas.

── Para onde você vai?

── Harrenhall. ── Ele se limitou a responder. ── Deixarei você com o Lorde Corlys, a Baela ficará com vocês assim que voltar das Terras Fluviais, deve ser logo. Jacaerys ainda está no Norte e a Rhaena está com a Jeyne no Vale.

── Eu vou para King's Landing. ── A morena declarou. ── Eu sei que você está tramando algo.

── O seu dragão está cansado e fraco, não pode voar. ── Daemon a alertou.

── Eu consigo sem o Flarion. ── Ela prendeu a respiração por pouco. ── Eu vou atrás dele.

── Não, você vai voltar para sua cama e vai ficar viva. ── Ele assoprou o ar dos pulmões passando por ela. ── O Cadmus deve chegar a Pedra do Dragão em breve, fique aqui e cuidem da fortaleza, do Joffrey, do Aegon e do Viserys.

── Eu vou vingar o Lucerys. ── Ela disse de costas pra ele. ── Pode ser com a sua ajuda ou sem ela.

── Você não vai ter coragem de matar ele, Drasilla. ── Daemon falou, parando onde estava. ── Porque se martiriza?

── Porque ele me tirou meu menino. ── As lágrimas caíam do rosto dela. ── Você vai me ajudar ou eu vou morrer tentando?

Daemon tinha seus planos, é claro, ele sabia que a irmã era alguém tão cabeça quente quanto ele e que não iria desistir até fazer o que bem entendia, parte de si estava com tanta raiva e outros sentimentos que se sentia cego em vários pontos, ele odiava estar cego, odiava pensar que de alguma forma estava vulnerável, mas ela seria uma perda grande demais para Rhaenyra, para ele, por si prenderia Drasilla e seus aposentos, mas ela daria uma forma de fugir, mesmo já tendo mais de 30 anos, ela se comportava como uma criança as vezes, pelo menos pra ele.

O príncipe retornou, colocou o elmo que carregava sob a mesa, caminhou até perto do mapa, parando perto da capital do reino, King's Landing, colocou o dedo sob o local e chamou a irmã com um aceno de cabeça, Drasilla caminhou devagar, arqueando as costas, sentia dor, mas parte dela era por estar deitada a tempo demais para seu gosto, sua boca ainda tinha um sabor amargo e seus dedos doíam, mas ela precisava de algum tipo de energia, a batalha era ela, a vingança com certeza era uma delas.

── Há dois mercenários, Sangue e Queijo. ── Ele se virou pra ela. ── Você vai embarcar em um navio com eles, mas de forma nenhuma dele confiar em um dos dois, mantenha a Coração de Valíria escondida, não é porque eles estão a meu mando que são seus seguranças, eles são carniceiros, se você estiver no caminho deles, eles vão te eliminar e eu nunca mais vou achar nenhum de vocês três.

── Eu não preciso de uma babá. ── Ela retrucou. ── Continue.

── Vocês vão para a capital, entrarão pelos esgotos, eles já tem as coordenadas e um infiltrado dos mantos dourados deixará vocês entrarem. ── Ele olhou o mapa e depois a irmã. ── Seu trabalho é matar o Usurpador e tomar a rainha como refém.

── Não. ── Ela o cortou. ── Não vamos tocar na Helaena ou na Alicent, vamos pegar o Aemond como refém e forçar os verdes a recuarem, a Helaena não monta, o Daeron deve estar na Campina, sem o Aegon e com o Aemond em nossa posse, eles vão precisar recuar.

── Porque não matar os dois? ── Daemon a encarou sério. ── Porque quer tanto o seu marido por perto?

── A morte para o Usurpador basta. ── Ela respondeu a Daemon. ── Ao matador de parentes eu quero garantir que sofra, muito.

── Certo, vocês partem pela manhã, esteja pronta. ── Daemon colocou o elmo passando por ela. ── Boa sorte.

── Nos vemos quando você voltar de Harrenhall? Quando isso estiver acabado? ── Ela se virou para ele.

── Se nós dois estivermos vivos até lá, sim. ── Ele respondeu saindo do campo de visão dela. 

Drasilla sentia seus dedos formigarem, não era como se ela achasse que os dois não fossem capazes de voltarem vivos daquela situação, mas era vida ou morte, algo que eles não tinham encarado em tal escala antes, numa guerra até os melhores caem, por isso nós devemos evitá-la, foi o que Viserys disse mais uma vez enquanto contava histórias sobre o reinado Targaryen para ela e Rhaenyra na juventude, Drasilla só pensava que se Viserys estivesse lá, nada daquilo estaria acontecendo, mas seu irmão agora estava morto, de uma forma que seus dedos doíam de pensar, ainda nem mesmo tinha superado a morte dele e o destino havia te tirado mais uma pessoa de forma tão cruel. Ela pensava em como mataria o Usurpador e não sentia qualquer culpa, nunca gostara de Aegon mesmo, seria só um débito a ser pago pelos crimes que seu irmão havia cometido, quando a Aemond e seu crime ... Por ela, ele teria tempo de se arrepender e ainda pedir perdão pela alma de Lucerys.

Drasilla usava roupas simples, como a da peble de Kings Landing, uma longa capa marrom escuro suja na ponta, que cobria seu rosto e seu corpo, a espada Coraçãod e Valíria estava presa na cintura e quando ela encontrou dois homens no píer de Pedra do Dragão, logo dispensou um Sir. Erryk desconfiado, só pediu a ele que avisasse Cadmus de onde ela estava se ele chegasse antes de seu retorno. A viagem de navio até a capital durou quase dois dias, Drasilla mal dormiu, estava enérgica, com certo receio do tipo de lugar em que tinha se enfiado, Queijo era quem ficava mais perto, como se a vigiasse, Sangue não fazia tanta questão.

O trio chegou a capital no fim da tarde, seguindo as orientações de Daemon pelos esgotos, naquele momento Drasilla sequer se importava com o cheiro, andava atrás da dupla de mercenários, Queijo que estava entre ela e Sangue olhava por cima do ombro vez ou outra, para garantir que ela estava lá, mesmo que pudesse ouví-la caminhar. Quando chegaram na entrada para o castelo um guarda deixou que passassem, Drasilla sentia-se grata por ainda terem homens aliados de Daemon dentro da Fortalza Vermelha.

── Vocês vão até os aposentos do rei e vão matá-lo, usem essas passagens. ── Ela esticou para Sangue um pergaminho, havia desenhos da Fortaleza e suas passagens secretas. ── A torre fica para aquele lado.

── Onde está o resto do pagamento? ── Sangue vociferou. ── O Príncipe só nos pagou metade.

── Receberão esse valor se estiverem aqui nesse lugar ao amanhecer, com a cabeça do usurpador. ── Ela respondeu de pronto, ajeitando seu capuz.

── Nós nos contentamos em tomar a princesa como pagamento também. ── Queijo riu olhando o outro mercenário.

── Se quiser ficar sem suas mãos... ── Ela respondeu passando pelos dois. ── Aqui ao nascer do sol, quando ele estiver despontado no céu, eu já terei ido embora.

O trio se separou, Sangue e Queijo foram para um lado, Drasilla foi para outro, parte de si queria tomar Aemond como seu refém, outra queria que ele sofresse, ela pensaria no caminho como lidaria com ele após desarmá-lo. Andar pela Fortaleza Vermelha era como um pesadelo vivo, lá fora as nuvens de chuva estavam carregadas e a cada clarão ela se encolhia um pouco, se esgueirando de guardas enquanto procurava o marido, ele poderia nem mesmo estar lá, visto que antes estava na residência dos Baratheon.

Ela andou por vários lugares, ousou até entrar no quarto em que dividiam, impecavelmente arrumado, como se ninguém deitasse ali a um bom tempo, ela sentia um arrepio só de pensar, mas precisou seguir por entre os corredores, virando o rosto para amas e guardas quando passava por eles, para conseguir chegar a outros lugares. Ela passava perto da sala do trono, onde as portas normalmente ficavam fechadas a não ser que estivesse em uso, mas um conjunto de vozes provou que haviam pessoas lá, outro clarão, ela olhou pela fresta da dobradura da porta, uma das pessoas segurava um candelabro, eram Alicent e Aemond.

── Você tem noção do que fez? ── A ruiva parecia ralhar com o filho. ── O que isso vai nos custar?

── Eles viriam atrás de nós com toda certeza. ── Aemond parecia impaciente. ── Só agimos antes.

── Aemond, eu ... ── Alicent começou a falar, mas o barulho de passos chamou a atenção deles.

── Saia. ── Drasilla falou, sem qualquer cerimônia, descendo as escadas para o salão. ── Eu não sou de falar duas vezes, Alicent, saia.

── Não. ── Ela passou a frente do filho. ── Eu sei como você está se sentindo, mas não é assim que quer agir.

── Você não sabe como eu quero agir. ── Drasilla afastou a capa da cintura, segurando o cabo da Coração de Valíria. ── Só quero um tempo a sós com o meu marido.

── Mãe, vai. ── Aemond a empurrou pelas costas, de leve. ── Chame os guardas, o rei vai gostar de saber que temos uma prisioneira e você sabe como meu dragãozinho é arisco.

A mão da princesa tremia sob o cabo da espada, seus olhos acompanharam Alicent passando por ela, a rainha verde não correu ou fez nada de diferente, passou pelas portas até que seu passo fosse sumindo para ambos, a luz que seu candelabro trazia ara a sala do trono esvaiu-se com sua saída e agora era a luz da lua e o brilho dos lábios que iluminavam o casal, ambos em silêncio como se esperassem que o outro desse um passo em falso.

 ── De todas as coisas que você poderia fazer, de tudo que poderia me tirar. ── A voz de Drasilla resoou no salão. ── Porque o Luke? Porque remoer um assunto acabado?

── Acabado para você, que apoia as transgressões e indecências da princesa e seus bastardos. ── Ele respondeu. ── Eu te dei tudo, meu amor, minha confiança, minha lealdade, me moldei para ser a pessoa que você admiraria e iria querer do seu lado, suas cores favoritas eram as minhas cores favoritas, a sua forma de montar era a única forma certa, eu engoli aquele livro que você me deu tantas vezes que eu sei palavra por palavra decorada.

── Porque essa obsessão por mim?

── Eu AMO VOCÊ. ── O grito dele ecoou pelo salão, então o caolho deu dois passos a frente, mas ela não recuou. ── Amei você desde a primeira lembrança que tenho de te ver naquele dragão.

── Se você me ama, de verdade. ── Ela se aproximou, ainda segurando a espada em sua cintura. ── Prove isso, peça perdão a rainha, assuma que a morte de Lucerys foi um acidente e aceite a punição, que sempre estarei do seu lado, no exílio se for preciso.

── Não minta pra mim. ── Ele vociferou. ── Você nunca vai ser minha por completo.

Aemond tremia, um pouco de raiva, um pouco de de nervosismo, aquele sentimento que havia carregado por tanto tempo dentro de si parecia se desmanchar ao ver que ela, diferente dele, não o colocava a frente de suas decisões, não seria totalmente sua como ele prometeu aos deuses ser dela, bem que Viserys o avisara, ela nunca seria dele, não de verdade, ele teria que aceitar isso, uma vida pela metade, junto ao receio que tinha de Daemon e Rhaenyra, se tornou incabível. Ele sabia que Drasilla tinha razão, Aegon não seria rei por muito, talvez com aquela guerra menos ainda, então ele estaria lá, não trocaria a coroa pelo exílio, com muita sorte, com a mulher que talvez o amasse pela metade.

── Fique do lado do legítimo herdeiro, Aegon II da Casa Targaryen. ── Aemond pediu. ── Apoie essa reinvidicação, com você ao nosso lado eles vão ceder.

── Eles não vão, Daemon não vai parar até dar essa coroa a Rhaenyra. ── Ela tinha lágrimas nos olhos e tentava alertá-lo. ── Por favor, pare você com isso, não é você que vim matar, você tem uma chance.

── Eu não tenho nenhuma chance ao seu lado e ao deles. ── Ele puxou a espada e apontou para ela. ── Você está usando o que eu sinto por você para me manipular, sabendo que eu sempre te amei. Você me amou? Pelo menos uma vez? Um pouco?

── Não, eu usei você porque era propício. ── Ela respondeu dando passos atrás e dando as costas. ── Mas eu tentei salvar você, não se esqueça disso.

── Pare. ── Ele quase gritou e ela parou. ── Essa é a última chance que eu te dou, se você continuar, não importa os sentimentos que tenho por você, serei obrigado te matar.

── Me matar? ── Ela riu se virando pra ele e puxando a Coração de Valíria. ── Gostaria de te ver tentar.

A sala do trono estava envolta em uma escuridão quase total, rompida apenas pelos relâmpagos que iluminavam o grande salão com flashes de luz prateada. O príncipe Aemond e a princesa Drasilla, ambos exímios nas espadas, estavam em meio a uma feroz batalha silenciosa a priori, suas lâminas cintilando e ecoando ao primeiro golpe trocado, quando ela partiu para cima dele. O príncipe, com seus cabelos prateados típicos de sua linhagem, avançava com destreza, enquanto a princesa, de cabelos castanho-escuros, refletia a raiva que sentia dele e tmbém alguns sentimentos que conflitavam em si, respondendo cada ataque com igual ferocidade.

Os trovões rugiam do lado de fora, como se os deuses observassem a batalha com atenção. A disputa era acirrada, nenhum dos dois dava sinais de cansaço, cada um buscando uma abertura na defesa do outro. O príncipe atacava firme, conhecendo a forma como ela agia, quase uma dança, mas a princesa, mais ágil, desviava dos golpes com graça letal, contra-atacando com uma velocidade que o surpreendia, quando ela o alertara, tempos antes, que só um deles tinha sido treinado por Daemon, ela não estava brincando, era mais letal que a maior parte dos cavaleiros que ele tinha treinado. Após uma sequência de paradas e desvios, a morena viu sua chance. Em um movimento rápido e preciso, ela desarmou o marido, fazendo sua espada voar pelo salão e cair com um clangor distante.

Drasilla ficou de pé, ofegante, a ponta de sua espada apontada para o coração do príncipe caído. Ele a encarava, seu olhar misturando raiva e admiração, de certo, ele tinha melhorado, se não fossem aqueles termos, poderiam estar mais calmos. Mas ela hesitou, a coragem de tirar a vida de seu próprio sangue, daquele que nutria sentimentos conflitantes, lhe faltava. Foi nesse momento de distração, atraída pelos gritos de agonia que quebravam o silêncio e vinham do lado de fora do salão, em outro ponto do castelo, que o príncipe aproveitou. Com um movimento brusco, ele a derrubou, escapando por uma passagem lateral. Drasilla ficou no chão, sozinha, na vasta sala do trono, a chuva de raios ainda iluminando o cenário de sua derrota momentânea. 

Ela se sentia lenta, isso era verdade, esperou or alguns segundos, talvez minutos, recuperandxo o seu fôlego, não tinha visto que direção Aemond tinha tomado, mas sabia que ele tinha corrido, possivelmente para onde os gritos iam, ela não poderia ficar lá, não iria pegá-lo agora, mas os verdes sabiam que Drasilla estava lá, ela precisava ir embora, antes que virasse uma refém deles ou pior, mais uma vítima como Lucerys. Então ela correu, pegando sua capa que havia deixado cair e amarrando no corpo, após colocar a Coração de Valíria na bainha onde a espada normalmente ficava.

Sair da Fortaleza não foi tão fácil quanto entrar, os guardas, em emaranhado, se organizavam, possivelmente a mando de Aemond, para encontrá-la, não teria como contar com o contato de Daemon agora, então ela só foi para o ponto de encontro, ainda estava escuro, ela se sentou em meio a água suja do esgoto, ignorando o cheiro pavoroso e só respirou o que pode, era difícil. Demorou um tempo e ela poderia jurar que os raios de sol estavam passando pelas frestas do buraco em que entrou, quando uma pessoa saltou para dentro do túnel, ela se ergueu, levantando a espada, mas logo reconheceu Queijo.

──  Onde está o outro? ── Ela questionou, ainda mantendo a espada erguida, não deveria confiar nele. 

── Os guardas o pegaram. ── Ele balançou algo, jogando um saco aos pés de Drasilla. ── A cabeça está aí, onde está meu pagamento.

── Um momento. ── Ela se abaixou pegando o que ele havia jogado. ── Vou conferir.

Quejo não gostava daquilo, não gostava dela e nem de Targaryens, mas Daemon pagou bem, então ele não discutiu, só olhou para Drasilla pegando a sacola que antes era cor palha, mas agora tinha uma forte coloração avermelhada. A morena deu dois passos a frente, abrindo o saco a luz, mas quando olhou direito, sentindo o estômago se revirar, não foi a cabeça de Aegon que viu, era pequena demais, suas mãos tremeram e ela olhou para Queijo.

── Esse não é o rei! ── Ela exclamou. ── De quem é essa cabeça?

── De um dos filhos dele. ── Queijo riu. ── Como o Príncipe Daemon ordenou. Eu e Sangue deveríamos ir aos aposentos da rainha e matar um dos filhos dela, em retalhação.

── Esse não era o plano. ── Ela vociferou para ele. 

── Não era o seu plano, princesa, mas não foi você que me contratou. ── Ele respondeu sem paciência. ── Me dê meu pagamento ou eu tirarei de você a força.

Ela não questionou Queijo, só deixou que ele fosse embora, jogando o saco de moedas de ouro para si, ali Drasilla se deu conta, eles também haviam derramado sangue inocente. Ela queria levar a cabeça, queimá-la em um digno funeral Targaryen, como a criança merecia, mas não podia ficar no navio com isso, nas docas, alguns mendigos queimavam algo dentro de um barril de metal, ela só jogou o saco, subindo a bordo novamente.

Havia um enjoo entre relembrar a cena, o seu fracasso e em como ela tinha partido para acabar com uma guerra e agora ela estava mais quente do que nunca, Drasilla estava mais do que cansada, ela estava exausta. As dores tinham voltado, naqueles dois dias ela parecia um fantasma, não conseguia dormir, vomitava o pouco que ingeria e quando chegou novamente a Pedra do Dragão, praticamente se arrastou de volta a Fortaleza, queria dormir, mas encontrou Daemon, todo sujo, em torno da mesa, não viu Rhaenyra, ele parecia ter voltado de algum lugar.

── Que merda você fez? ── Ela falou, chamando a atenção dos lordes, podia ver Corlys e Baela entre os conhecidos. ── Você derramou sangue inocente.

── Não. ── Ele disse se virando. ── Mercenários derramaram.

── A seu mando! ── Ela vociferou descendo as escadas, os outros permaneciam em silêncio.

── Um filho por um filho. ── Daemon declarou a ela. ── Lucerys foi vingado.

──  Não, o assassino dele continua vivo. ── Ela empurrou o irmão com as mãos, mas ele mal se mexeu.

── Porque você foi incapaz de matá-lo. ── Daemon deu um passo a frente, a intimidando. ── Nós estamos uma guerra, não se ganha uma pedindo por favor.

── Onde está a Rhaenyra? ── Ela perguntou olhando para Baela e Corlys além de Daemon. ── Onde está a rainha?

── Ainda procurando por seu filho. ── Baela falou para ela e o silêncio permeou.

── Eu vou trazê-la de volta. ── A princesa resmungou dando as costas ao grupo.

Ela deu as costas a eles, não havia dor no corpo agora que a impediria de ir atrás de Rhaenyra, de trazê-la de volta para onde ela deveria estar, ela sabia que havia dor, mas como Rasmus bem a lembrou, Rhaenyra precisava dela, agora mais do que nunca precisou e todos eles precisavam de sua rainha.

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