Haviam passado muitas noites e dias depois daquele momento tumultuado entre Cadmus e Drasilla em Pedra do Dragão, pra ser mais exata, havia meses. Na ocasião, Cadmus estava sozinho em seu aposento em Winterfell, sentado em uma cadeira de madeira esculpida, com o olhar perdido no fogo crepitante da lareira, o frio já invadia as frestas de cada moradia do Norte. A cena que havia acontecido a meses, a troca de olhares intensos e o beijo fugaz com a Princesa Drasilla, ecoavam em sua mente como uma melodia agridoce, enquanto o prazo pra finalmente cumprir a função prometida se acabava.

Ele se questionava se havia agido com imprudência, se havia cometido um erro irreparável. No entanto, não conseguia negar a intensidade de seus sentimentos. Amar a princesa era algo que ele havia guardado no mais profundo de seu coração por anos, mesmo quando suas ações e palavras eram permeadas pela lealdade e pelo dever.

A proposta de Drasilla de se mudar para Pedra do Dragão e cuidar das coisas em seu nome era uma oportunidade que ele havia almejado, mas também trazia consigo um peso imenso, ainda mais depois do que tinha feito, havia confidenciado apenas a Sara o ocorrido. Ele sabia que seria difícil resistir à tentação de estar perto dela, de sentir o toque de sua mão, de afundar nos profundos olhos violeta que o haviam cativado lentamente desde que a conheceu, parte porque se sentia sujo em desejá-la tão jovem, o afastamento e os anos distantes não apagaram o sentimento e nem o amadurecimento de ambos.

No entanto, Cadmus era um homem de palavra. Ele havia jurado lealdade e proteção à Princesa, uma promessa feita a frente do Rei Viserys, e não podia abandonar seu juramento, mesmo que seu coração estivesse em conflito. Ele suspirou profundamente, sentindo a tristeza e a angústia se misturarem com a esperança que aquele momento roubado havia trazido. Se levantou da cadeira e caminhou até a janela, observando as estrelas no céu noturno. Pedra do Dragão se erguia no horizonte, se ele fechasse os olhos e imaginasse que estava perto o suficiente, uma ilha misteriosa e repleta de perigos. Ele estava prestes a embarcar em uma jornada que poderia definir seu destino, uma jornada que testaria sua lealdade, sua coragem e sua capacidade de resistir à tentação, mesmo que soubesse que ela estaria levando sua vida fez e confortável com o marido na Campina.

Com um suspiro resignado, ele se preparou para a mudança iminente. Sua bagagem estava arrumada, alguns baús, de coisas que não podia se desfazer, seu juramento estava intacto, e sua determinação permanecia inabalável. O problema, de fato, foi comunicar o tio, Lord Rickon Stark, de sua partida, ele havia dito isso algumas vezes nesse tempo, mas Rickon sempre desconversava. 

— Podemos conversar? — O mais jovem se aproximou do tio, que lia próximo a uma lareira. — Acho que não podemos mais ficar adiando o inevitável.

— Achei que você fosse desistir com o tempo. — Rickon balançou a cabeça na direção da poltrona perto da lareira. — Sente-se.

— Certo ... — Cadmus falou baixo, ocupando o lugar que ele sabia que um dia foi o pai que o fez. — Não é como se eu fosse dar as costas ao Norte.

— Você vai morar lá, como um maldito Targaryen. — Rickon o lembrou. — Você é um lobo, lobos moram no Norte.

— Você me mandou para capital para ser um guarda, tio. — O semblante de Cadmus estava cansado. — Estou fazendo o que um guarda faz.

— Ser capacho daquela garota? — Rickon ousou, Sarah adorava conversar com o pai quando estavam a sós. — Esse não é o homem que o seu pai iria querer.

— Sarah tem que aprender a controlar a língua. — Ele riu arrumando os cabelos. — Eu não sou o capacho da princesa. Eu só ...

— Só?

— É meu dever, ok? — Ele disse categórico. — Sou o guarda juramentado dela.

— Você está apaixonado, meu garoto. — Lord Rickon riu, sabia que era uma guerra perdida. — Espero que perceba que está levando isso longe demais antes que seja tarde.

— É só o meu dever. — O mais jovem se levantou junto ao mais velho. — Voltarei pra casa em breve.

— Claro ... — Rickon o abraçou rápido e com força. — Não teria ninguém melhor para treinar o Cregan que você.

— Tem a Sarah. — Cadmus o alfinetou. — Você sabe como aquela garota é letal com uma espada na mão.

— Esse é meu medo. — Rickon riu batendo de leve no ombro dele. — Boa viagem. 

Após falar com o tio, Cadmus retornou a seus aposentos, sairia pela manhã, junto do sol, seria uma longa viagem até Pedra do Dragão, mas seria o suficiente para não passar a noite por locais perigosos na estrada. No silêncio da noite, enquanto os aposentos à sua volta permaneciam em tranquilidade, Cadmus pensava na jornada que estava prestes a empreender. Pedra do Dragão era um lugar enigmático, envolto em lendas e mistérios, e ele estava indo para lá como o representante da princesa Targaryen. A tarefa de cuidar dos assuntos da ilha, dos dragões que a habitavam, e de relatar os acontecimentos a Drasilla era um fardo que ele estava disposto a suportar.

Seus pensamentos voltaram à cena do beijo, que ainda ardia em sua memória como uma chama inextinguível. O toque dos lábios de Drasilla, o sabor do momento roubado, tudo aquilo era como um sonho que ele não queria acordar. No entanto, a realidade o alcançava, lembrando-o das complexidades de seu papel como guarda juramentado e das obrigações que tinha com a princesa e sua família.

Ele se questionava se ela também estava aflita como ele, se compartilhava dos mesmos sentimentos proibidos. A imagem da expressão dela, misturando surpresa, desejo e culpa, estava cravada em sua mente. Ela havia se afastado, como se estivesse fugindo do que quer que estivesse se desenvolvendo entre eles.

Enquanto Cadmus se preparava para a mudança, ele se prometeu a si mesmo que manteria sua lealdade inabalável. Seu juramento a Drasilla era sagrado, e ele não permitiria que seus sentimentos pessoais o desviassem de seu dever. Ele era um homem de honra, e a honra estava em cumprir sua palavra, mesmo que isso significasse viver na sombra do amor que nunca poderia ser totalmente seu.

Cadmus olhou para a lua que brilhava lá fora, sabendo que sua jornada estava prestes a começar. Pedra do Dragão aguardava, com seus segredos e desafios, e ele estava disposto a enfrentá-los de frente. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas estava determinado a servir a princesa Drasilla com toda a sua força e dedicação, mantendo seu juramento e protegendo-a, mesmo que isso significasse esconder o amor que sentia por ela.

Sarah, em outro canto, era mais alguém que permeava no silêncio, a jovem apesar de contar ao pai tudo que tinha feito e visto, havia omitido sobre a visão em sua explicação de porque suas mãos tinham marcas de queimaduras agora, ela tinha medo do que tinha visto e como isso poderia influenciar no seu futuro e no da princesa, só poderia ser um delírio, nada mais.

Em outro ponto de Westeros, mais precisamente na Campina, as pessoas pareciam em uma frenética movimentação, em todos os pátios de Jardim de Cima parecia que tinha algo acontecendo, no alto da primavera, uma época abençoada e fértil para os moradores da região, Rasmus não parava em momento algum, ele e Lyonel se dividiam na agenda de acompanhar todas as coisas que a preparação de um festival pediam, Rasmus até pediu que Drasilla acompanhasse sua mãe, Carmine Lannister, mas no fim das contas a agitação da loira deixava a princesa cansada e confusa, Drasilla não conseguia acompanhar o ritmo frenético da sogra.

— Tem certeza que não quer acompanhá-la na reunião? — Rasmus trocava de roupa pela terceira vez no dia, o calor e as movimentações acabavam sujando e desalinhando suas vestes. — Minha mãe adora sua presença, a Alys também vai estar lá.

— As pessoas esperam muito de mim nessas reuniões, eu fico nervosa. — Drasilla estava sentada sob a cama de ambos, apertando os dedos. — A Alys muda quando está lá, de uma forma positiva, aposto que ela se dará bem tomando a frente dessa organização no futuro.

— Conhecendo minha mãe, não será tão cedo. — Ele riu arrumando os botões. — Mas sabe que depois dela, você será a responsável, não sabe? É algo a cargo da Rainha de Cravos e Rosas, a Senhora da Campina.

— É, eu sei. — Ela falou dessa vez se deitando na cama. — Mas seu pai está bem de saúde e você não é o lorde, não vamos apressar nada. Não tem outra coisa que eu possa fazer?

— Você pode fazer qualquer coisa, meu lírio. — Ele riu se aproximando dela e inclinando-se próximo a princesa. — Não preciso te designar uma tarefa, faça o que gostar.

— Rasmus ...

— Ok, hmm. — Ele pensou por breve. — O Leo vai a cidadela conversar com os meistres, com o festival meu pai teve que dar atenção total nisso, ele e o Lorde Hightower marcaram de se encontrar, o Leo vai no lugar do meu pai.

— Porque eu iria querer acompanhar seu irmão? — Ela estreitou os olhos. — Ele não gosta de mim.

— Drasilla ... — Ele falou se aproximando dela e dando um beijo rápido nos lábios antes de se afastar. — Ele vai conversar sobre a futura noiva, é uma moça da família Redwyne, o pai dela era amigo próximo do Lorde Hightower, com a morte do pai dela, ele ficou responsável em coisas como essa, sabe ... Arrumar um bom casamento.

— E ele vai casar a filha de um amigo próximo com um bastardo? — Drasilla sussurrou baixo.

— Não fale isso de novo. — Rasmus a olhou sério. — Meu pai legitimou o Leo, ele não é um bastardo.

— Mas sua mãe ... 

— Minha mãe nada, ela também deveria segurar a língua quando bebe vinho. — Rasmus assoprou o ar dos pulmões se olhando no espelho, estava pronto. — Eu já vou indo, vou avisar ao Leo que você vai com ele, a comitiva sai em umas duas horas, Vila Velha é aqui do lado, vocês voltam até o anoitecer.

— O que eu farei enquanto ele está na reunião? — Ela se levantou indo atrás dele.

— Dizem que tem uma biblioteca incrível na Cidadela. — Rasmus riu saindo do campo de visão dela. — Se divirta, meu lírio.

Drasilla queria voar até lá com Flarion, mas sabia o que falariam depois disso, então vestiu roupas azuladas, era o mais perto do verde que ela poderia chegar e desceu para o pátio para encontrar a comitiva. Leo como era de se esperar estava com a cara de poucos amigos, muito por causa da presença da cunhada, eles tinham opiniões bem divergentes, das quais  os mantinham em lados quase opostos na maioria das coisas, não é como se eles brigassem ou algo do tipo, era uma guerra silenciosa, como foi toda a viagem a cidadela.

Quando chegaram a mesma, Leo logo tratou de deixar Drasilla sozinha a frente da grande biblioteca, disse a ela que não iria demorar, que a princesa deveria estar pronta para partirem quando ele terminasse, a morena nada disse. Estar numa biblioteca era quase tão confortável quanto estar nos céus, de fato, ela sabia que lá tinha muito mais conteúdo que na de Porto Real ou de Driftmark, então imergiu entre as prateleiras organizadas a procura de algo em Alto Valiriano e sobre a antiga Valíria.

— Posso ajudar-lhe, senhorita. — Um homem velho pergunta, ele tem longos cabelos brancos e usa as vestes de um meistre. — O que procura?

— Algo sobre Valíria, você teria? — Ela pede interessada. — Conhece?

O homem ri, deixando o livro que lia sob a bancada perto dela e imergindo nas sombras entre as prateleiras, ele começa a falar o que sabe sobre a Antiga Valíria, nisso Drasilla se encosta na bancada próxima ouvindo, ele falava muita coisa e falava rápido, em um momento ele passou a falar em Alto Valiriano, julgando que se ela procurava algo naquele tema, deveria saber pelo menos o básico, ele retornou com um livro até pequeno, sobre espécies de dragões.

— Você conhece muito sobre Valíria. — Ela riu batendo os dedos no livro entregue. — Só um Targaryen saberia tanto.

— É bom saber que finalmente me desvencilhei de ser reconhecido por minha família. — Ele tinha um semblante sério e sereno. — Foi o que eu sempre quis desde que meu pai me deixou vir pra cá.

— Você ... — Ela estreita os olhos, calma ela pensa devagar sobre quem ele era. — Você é ... Vaegon?

— Não uso mais esse nome. — As mãos do homem mais velho se escondem nas costas. — Ou me reconheço como um Targaryen, sou só um meistre.

— Me chamo Drasilla. — Ela se apresenta sorrindo. — Meu pai é Baelon Targaryen, seu irmão.

— Passei tanto tempo nesse buraco que os Targaryen perderam seus traços valirianos?

— Minha mãe é uma Baratheon. — Ela explica meneando o livro em mãos.

Eles ficam conversando por um tempo, Drasilla gostou de encontrar Vaegon, ele preferia se manter afastado da família, mas a garota pareceu interessante, ela não calava a boca um só minuto e normalmente ele não gostava das tagarelas, ele a lembrava um pouco de Alyssa, mesmo que a mulher não tenha sido sua mãe, ficaram nisso por horas, Vaegon falava pouco, Drasilla falava muito mais, aquilo só se encerrou quando Leo chegou, a princesa agradeceu pelo livro e deixou o tio voltar a sua vida de reclusão.

A viagem de volta a Jardim de Cima era silenciosa, Drasilla não sabia como desenvolver uma conversa com Leo, estavam só os dois lada a lado na carruagem, mas eles sequer se encostavam, a princesa acuada a esquerda, o rapaz debruçado a direita,olhando a paisagem, por ele teria ido sozinho, ficar na presença dela era algo que ele não almejava ou gostava, por Leo ele evitaria a princesa a todo custo.

— Hm, olha ... — Drasilla quebrou o silêncio. — Não quero que exista um clima estranho entre nós dois, Leo.

— É difícil quando há uma intrusa dentro da sua casa. — Ele sequer a olha.

— Eu não sou uma intrusa. — Ela dá uma risada anasalada. — Eu me casei como seu irmão, somos cunhados. Não entendo porque você é tão odioso comigo.

— Na minha posição, eu preciso ser odioso, sempre. — Dessa vez ele a encara, ainda sério. — Ou vão pisar em mim.

— Eu entendo como é ser taxado de bastardo. — Ela o olha, ainda apertando o livro que Vaegon a deu na biblioteca. — Na capital eu ...

— Nunca mais repita isso! — Ela a interrompe, agarrando o rosto dela com uma mão. — Você não faz ideia de como é estar na minha pele.

— A de um homem com privilégios que não deveria. — Ela tenta puxar o rosto mas ele é forte.

— Não me teste princesa. — Ele a solta, ainda a encarando. — Você que cresceu cercada de privilégios em King's Landing, segue cercada de privilégios ao não dar um filho ao meu irmão mesmo tendo se casado a um certo tempo, você foi e é protegida pelo rei, por isso as pessoas não questionam a sua existência e seus atos, eu vivi sozinho entre as ervas daninhas da Campina.

— Mas o Lord Lyonel ...

— Ele colocou um alvo nas minhas costas com o sobrenome Tyrell. — Privilégios vinham com alguns sacrifícios, Leo sabia.

O resto da viagem até Jardim de Cima foi feita em puro silêncio, Drasilla não sabia mais o que falar ou se queria falar, ela só não disse nada. Ao chegar em casa e encontrar Rasmus, que finalmente tinha parado com a correria, ela conta o que viu e o livro que pegou, quando o marido a questiona sobre Leo a princesa simplesmente sorri e diz que o cunhado foi agradável, não queria que o marido soubesse da verdade.

Semanas depois chega a Campina a notícia que a princesa Rhaenyra tinha dado a luz ao seu segundo filho, Drasilla queria voar direto pra lá, mas Rasmus queria ir junto, seria uma viagem longa e cansativa, depois de dias de festividades do festival anterior tudo que ela queria era um tempo sob seu dragão, então é claro que ela pensou em uma proposta ousada: E se Rasmus voasse com ela no dorso de Flarion até a capital?

— Não vai rolar. — Ele foi categórico aquela manhã. — O que te fez pensar que eu aceitaria isso?

— Porque não? — Ela sorria pegando a mão dele. — O Flarion é grande o suficiente para carregar duas celas e ele gosta de você.

— É um dragão, Drasilla. — Ele a lembrou. — Nunca sabemos de quem ele gosta ou não.

— Ele gosta de mim. — Ela rebateu.

— Sim, vocês são irmãos de alma, nasceram juntos. — Até Rasmus reconhecia isso. — Eu seria um intruso sob o dorso dele.

— É o homem que eu amo. — Ela riu apertando os dedos dele. — Por favor, só uma vez, você vai amar voar, eu prometo.

— Meu lírio ... — Ele estava receoso, era uma experiência além de tudo que ele já imaginou fazer, ele sabia que ela não ia desistir. — Não sei.

— A capital é perto daqui, será rápido de dragão. — Ela via nos olhos dele que Rasmus estava perto de ceder.

— Ok! — Ele se deu por vencido. — Me amarre na cela, se eu desmaiar, não vou cair.

— Dramático. — Ela resmungou.

Drasilla mal podia acomodar-se em animação quando garantia que os dois ovos de Sigmis que ela guardava cuidadosamente a tempos fossem amarrados ao dorso de Flarion, ela levaria de presente a Nyra e ao novo filho de Viserys, já estava quase pronta ao fim do dia quando viu seu marido vindo, ele usava roupas diferentes das que normalmente usava, essas não eram pomposas eram mais escuras e densas, apropriadas para voar de dragão, ele parecia com um montador e isso fez Drasilla sorrir, parecia ele e não parecia ao mesmo tempo.

— Você está muito bonito com essa roupa. — Ela comentou e olhou para Flarion deitado no pátio. — Reverência...

— Claro. — O loiro fez e o dragão olhou de canto a princesa. — Isso é mesmo necessário?

— Não, mas foi engraçado. — Ela riu e ele se ergueu estreitando os olhos. — Vem, sobre na cela de trás.

Rasmus ainda estava trêmulo, ele subiu primeiro com a ajuda dela, Flarion não se movia após algumas palavras em Alto Valiriano que Drasilla proferiu e Rasmus não entendeu nada. O sol estava se pondo sobre Jardim de Cima quando Rasmus e sua esposa, a princesa Drasilla Targaryen, se prepararam para sua jornada em direção a King's Landing. Era uma noite tranquila, com o céu tingido de tons dourados e alaranjados, e o majestoso dragão, batizado de Flarion, esperava pacientemente para levá-los aos céus, ele havia crescido bastante longe do fosso dos dragões da capital.

Rasmus sentia uma mistura de emoções enquanto se aninhava sob o dragão. Ele estava nervoso, extremamente nervoso, nunca tendo sequer pensado em voar em um dragão antes. Sempre admirou a coragem e a ousadia de sua esposa, mas preferia manter seus pés firmemente plantados no chão. No entanto, ele havia aceitado a viagem porque a amava profundamente, e queria compartilhar essa experiência com ela. Drasilla olhou para ele, percebendo sua ansiedade, e colocou a mão gentilmente em seu ombro.

— Não se preocupe, meu amor. Estarei aqui com você o tempo todo. — Ela tentou tranquilizá-lo. — Você vai adorar a sensação de voar.

Com um pouco de hesitação, Rasmus concordou com a cabeça já sob o dragão atrás de sua esposa. A pele de Flarion era escamosa e quente, e ele se agarrou firmemente às rédeas enquanto o dragão se preparava para decolar. Seu coração estava acelerado quando Drasilla deu o comando e Flarion impulsionou-se para o ar com um poderoso bater de asas. No início, Rasmus sentiu uma onda de medo quando o chão começou a se afastar rapidamente. A altura era impressionante, e ele agarrou Drasilla pela cintura, mantendo os olhos fechados por um momento. No entanto, quando teve coragem de olhar para baixo, viu Jardim de Cima diminuindo até se tornar apenas uma mancha verde no horizonte.

A medida que Flarion subia mais alto, o medo de Rasmus começou a se dissipar. Ele começou a se sentir incrivelmente leve, como se estivesse flutuando nas correntes de ar. A brisa fresca roçava seu rosto, e ele finalmente abriu os olhos para apreciar a vista deslumbrante. As terras de Westeros se estendiam diante deles, um mosaico de campos, rios e bosques. O rio Mander serpenteava como uma fita de prata através do cenário, e ao longe, ele podia ver a imponente King's Landing, com suas torres e muralhas se destacando contra o horizonte, bem pequenas.

Rasmus não conseguia deixar de sorrir enquanto olhava ao redor. A sensação de voar com Drasilla era incrivelmente libertadora. Ele soltou a cintura dela e estendeu os braços, como se quisesse abraçar o próprio céu. Aos poucos, ele começou a relaxar e a apreciar a experiência única. Drasilla, por sua vez, estava radiante. Ela adorava voar, mas voar com seu marido ao seu lado era ainda mais especial. Ela podia sentir a alegria e a coragem dele, e isso aqueceu seu coração. Flarion, acompanhando o humor ácido da montadora, moveu-se assustando o Tyrell que agarrou a cela que sentava novamente.

— Flarion! — Drasilla ralhou em Alto Valiriano. — Não faça isso novamente.

À medida que se aproximavam de King's Landing, Rasmus voltou a abraçar a cintura de Drasilla, mas desta vez não por medo, mas sim para compartilhar a experiência com ela. Quando pousaram suavemente nos arredores da capital, ele desceu do dragão com uma sensação de euforia e gratidão.Rasmus Tyrell havia superado seus medos e experimentado a liberdade e a beleza de voar com sua amada, algo que outros antes dele jamais fariam.  Drasilla estava feliz por poder compartilhar uma parte tão importante de sua vida com o homem que amava. Eles caminharam juntos em direção a Fortaleza Vermelha, prontos para visitar a princesa Rhaenyra e seu novo filho, sabendo que essa jornada tinha fortalecido ainda mais o vínculo entre eles, uma figura de cabelos longos e castanhos é quem os recebe.

— Porque é sempre você que está aqui quando eu chego? — Drasilla quis saber abraçando Harwin Strong

— Porque eu percebo o perigo chegando nesse castelo. — Ele responde piscando pra ele. — Lord Rasmus ...

— Harwin! — Rasmus o cumprimenta. — Vamos ver a princesa?

— Claro, me sigam por favor. — Harwin tomou a frente. — Como ela te convenceu a voar nesse dragão maluco dela?

— Ela me amarrou e me colocou na cela. — Rasmus respondeu bem humorado. — Gritei por socorro toda a viagem, mas ninguém me ouve lá em cima.

— Ela é tão pequena, como conseguiu isso? — Harwin segurava a risada andando agora ao lado de Rasmus e deixando Drasilla passos atrás.

— Eu estou aqui ouvindo isso. — Ela resmunga.

— Na verdade ela usou segredos contra mim. — O loiro olha por cima do ombro vendo a esposa. — Ela sabe muitos por dividir a cama comigo.

— Isso é mais a cara dela. — Harwin responde e recebe um tapa de Drasilla. — Isso também.

— Engraçadinho, anda logo, quero ver meu sobrinho. — Ela resmunga novamente. — Falei com a Nyra que seria um menino.

Quando eles entram pelas portas do aposento da princesa a encontram sozinha, sem as amas, tanto Drasilla quanto Rasmus notam a troca de olhares de Rhaenyra com Harwin e parte do Tyrell o pigarreio que tira ambos do devaneio e pouco depois o guarda deixa-os a sós no ambiente. Os olhos de Drasilla brilharam ao olhar para o pequeno Lucerys, ela nunca quis ser mãe, não de verdade, mesmo que soubesse que cedo ou tarde iria acabar se tornando por obrigações matrimoniais.

O momento era repleto de tranquilidade e ternura quando a princesa Drasilla segurou nos braços o pequeno Lucerys pela primeira vez. O bebê era uma preciosidade, com grandes bochechas rosadas e olhos curiosos que exploravam o mundo à sua volta, atento demais para um bebê tão jovem. Drasilla nunca havia considerado a maternidade como parte de seu destino, mas ao ter o pequeno nos braços, algo dentro dela se transformou.

Lucerys exalava um aroma doce e reconfortante, misturando o cheiro suave de leite materno com uma fragrância que parecia emanar da própria inocência. A princesa segurou-o com cuidado, como se tivesse nas mãos a coisa mais preciosa do mundo, e olhou para o bebê com um sorriso gentil. Quando o pequeno deu um pequeno espirro, Drasilla não pôde evitar soltar uma risadinha maternal. Ela inclinou-se um pouco para perto dele, sussurrando palavras suaves e acariciando sua bochecha macia com o dedo indicador. Lucerys olhou para ela com uma expressão curiosa, como se soubesse que estava nas mãos de alguém que o protegeria com todo o seu coração.

Aquele momento de conexão entre a princesa e o bebê, que era seu afilhado, era mágico. Drasilla não havia planejado ser mãe, mas naquele instante, ela sentiu um profundo instinto de proteção e cuidado. Era como se o destino tivesse colocado Lucerys em seus braços por uma razão, e ela estava disposta a abraçar essa responsabilidade com todo o amor e carinho que possuía.

Enquanto o pequeno príncipe olhava para ela com olhos curiosos e brilhantes, Drasilla sentiu seu coração se encher de um amor incondicional. Ela estava encantada com a inocência e a fragilidade do bebê, e estava determinada a ser uma figura maternal forte e protetora em sua vida. Próximos a eles Rasmus e Rhaenyra observavam a cena.

— Ele é tão fofo. — Ela riu segurando as lágrimas. — Vou levar ele pra mim.

— Não mesmo, o Jace ficaria com ciúmes. — A loira riu. — Quando eu disse que o tio Rasmus ia vir ver o Luke ele começou a chorar.

— Então ele tem um favorito. — Drasilla olhou indignada ao marido. — Como ele pode? Você nem tem um dragão, eu tenho 2.

— Ele só escolheu o melhor, não fique triste, meu lírio. — Rssmus riu tocando a bochecha de Luke no colo da esposa. — Aposto que esse terá você como favorita.

— Claro que vai, nós temos as mesmas bochechas rosadas. — A morena levantou Luke até perto do rosto. — A Rhaenyra vai negar, mas é verdade.

— TIO RASMUS!!! — Uma voz extridente veio da porta e um garotinho de dois anos corria em direção ao trio, era o pequeno Jacaerys. — Você veio!!!!

Rasmus se abaixou captando Jace nos braços e depois o ergueu jogando pra cima, Rhaenyra arregalou os olhos de imediato, mas Drasilla ria com a cena, ela sabia que a tia era mais louca que aquilo e só não tinha levado Jace para uma volta de dragão porque ela não deixou, aliás, Daemon fez o mesmo pedido, negado pela loira. Era inegável que Jace achava Rasmus um máximo desde que o conhecera, ainda bebê, era comum que o primogênito do Lorde da Campina estivesse muito na capital para ver o rei, sempre passava para dar um oi a princesa e ao pequeno Jace, diferente de Daemon que quase sempre estava com a cara fechada.

— Claro que eu vim. — Rasmus apertou a bochecha do pequeno. — Te ver! Não ao Luke.

— AEEEE! — Jace ergueu as mãos em uma comemoração infantil.

— Falando no bebê, quando vocês vão ter o de vocês ein? — Nyra se afastou se sentando em uma poltrona. — Aposto que será uma menina primeiro.

— Nós temos tempo ainda. — Drasilla respondeu olhando o marido.

— Altezas ... — Uma voz masculina chamou a atenção deles, era um guarda. — O rei deseja ver Lord Rasmus, ele disse que pode receber a princesa Drasilla depois e que vossa alteza poderia fazer companhia a Princesa Rhaenyra.

— Claro. — Rasmus riu colocando Jace no chão, o menininho correu na direção do guarda. — Ele ta sempre correndo por aí?

— Você não faz ideia. — Rhaenyra respondeu. — Eu cuido dela pra você.

— Não a deixe fugir, Nyra. — Ele respondeu beijando a testa da esposa e se afastando. — Já volto, meu lírio.

Quando Rasmus se afasta, Drasilla logo se senta junto de Rhaenyra, próxima o suficiente para que a loira sinta o filho por perto, logo na poltrona ao lado, ela imaginava ela e Drasilla como guerreiras em seus dragões, agora a tia estava lai babando no seu segundo filho, como as coisas tinham mudado rápido demais, era até estranho pra loira constatar isso.

— Você não vai poder levar ele com você, desista. — Nyra quebrou o silêncio.

— Ela que pensa, Luke. — Drasilla brincou. — É a primeira vez que me sinto conectada a uma criança assim.

— Fico feliz com seu carihnho por ele. — Nyra sente dores e se aninha na cadeira melhor. — E você? Quando vai dar uma namoradinha pro Luke?

— Eu ... — A voz de Drasilla falha. — Eu tenho tomado chá da lua, todos esses anos, pra evitar você sabe ...

— DRASILLA! — Rhaenyra ralha com a morena de imediato. — Isso pode acabar com sua capaciedade de gerar um bebê, te deixar infértil.

— Eu sei mas ...

— Isso causaria uma crise enorme no seu casamento. — A loira a lembra. — Nem meu pai poderia impedir que você se torne uma irmã silenciosa.

— Eu sei, desculpa. — A culpa galga sob o corpo da mais nova. — Rasmus é um marido tão bom.

— Aposto que seria um pai ótimo também. — A loira completa, entende o medo da morena.

Drasilla não se demora muito na capital, após o jantar ela e Rasmus alçam voo em Flarion novamente, dessa vez o lorde passou a viagem toda com os braços em torno dela, abraçando a esposa, com o acabeça em seu ombro, foi uma experiência mais gratificante que a ida, por mais que ainda tivesse medo de Flarion e de voar, que possivelmente não faria aquilo de novo tão cedo ou nunca, foi algo para se adicionar na sua experiência de vida.

Já iniciava a madrugada quando os dois pousaram em um dos pátios laterais de Jardim de Cima, Drasilla tirou as celas de Flarion e ele alçoou voo, obviamente cansado demais para proferir qualquer outra coisa. O casal caminhou junto pra dentro, apesar de interessante, voar no dorso de um dragão por horas era cansativo, quando chegaram em seus aposentos uma das criadas avisou a princesa que ela havia recebido cartas de Cadmus Stark, vindas de Pedra do Dragão.

— Você fala mais com o seu guarda do que comigo sobre essa ilha. — Rasmus brincou tirando a roupa para dormir.

— Está com ciúmes, querido? — Ela provoca o outro. — Nunca o levei para voar no Flarion, se isso acalenta seu coração.

— Aposto que o Flarion prefere a mim. — Rasmus diz convencido.

— Ele deixou o Cadmus fazer carinho nele. — Drasilla ri tirando suas vestes também.

— Eu não gosto dele, as vezes. — Rasmus já está perto dela nesse momento. — De verdade, não gosto da proximidade dele com você.

— Ele é só o meu guarda juramentado, não acha que o Laenor se sente ameaçado com a presença do Harwin em relação a Rhaenyra, acha? — Ela o questiona.

— Você tem a mesma relação com Sir. Cadmus que a princesa tem com Harwin Strong? — As sobrancelhas de Rasmus se unem.

Um longo silêncio é feito, Drasilla compartilhava coisas demais com o marido, algumas das quais ela sabe que é perigoso que sejam ditas fora daquele quarto. Sua cabeça relembra muitas coisas, algumas das quais é a noite em Pedra do Dragão ao lado de Cadmus e Sarah, do beijo, das juras, de tudo que escondeu de Rasmus pelo bem do que tinham e poderiam ter, lembrava-se do chá da lua e das palavras de Rhaenyra.

— Rasmus ... Não.

— Nós dois sabemos a relação da Rhaenyra e do Harwin, das preferências do Sir. Laenor, a gente só não fala em voz alta sobre os filhos da princesa. — Eles não sabiam de verdade, mas as palavras de Rasmus estavam certas.

— Perceba o que está falando, o que está verbalizando. — Ela ralha em sussurro com ele.

— Vocês tem a mesma relação? — Ele a encurrala próxima aos pés da cama. — Seja sincera comigo, sempre sou com você.

— Claro que não! — Ela não mentira, na cabeça de Drasilla o beijo foi nada, os sentimentos od nortenho não pdoeriam existir. — É um insulto dizer isso de mim, sou fiél a você, Cadmus é um empregado da coroa que Viserys fez jurar lealdade a mim, ele só se comunica para falar dos dragões, leia as cartas.

— Querida ... 

— Não! — Ela ergueu a mão pra ele. — Não mesmo, nunca te dei motivos. Vamos dormir.

Apesar daquela discussão, os dois logo esqueceram o que haviam dito. Os meses se passaram e passando cada vez mais rápido em 117DC, a saúde de Viserys não se encontrava na melhor hora, mas o rei não queria deixar de prestigiar os lordes que eram fiéis a coroa que ele colocava sob a cabeça. Um festival de cavaleiros em Winterfell se aproximava, a intenção de Viserys era mandar Daemon como seu representante, mas a relação com o irmão parecia distante, o rei então incumbiu Drasilla de representar a coroa em seu lugar, só havia dado uma regra clara para a irmã caçula: Você não tem autorização para competir. Isso claro a deixou de cerra forma irritada.

Drasilla contava com o marido para acompanhá-la, mas com a saúde de Lyonel deixando o mesmo de cama mais uma vez, isso fez com que Rasmus tivesse que representar o pai em uma reunião em Bravos, o impedindo de comparecer a Winterfell. Com a ausência de Rasmus, o cavaleiro que lutaria pela Campina sob o estandarte Tyrell, além de acompanhar a princesa até o Norte, seria Leo.

— Eu não queria que tivesse quer ser você a me acompanhar. — Ela resmungou entrando na carruagem que ele já ocupava.

— Não pense que eu escolhi isso. — Ele virou a cara para o outro lado. — Se a Alys fosse homem teria a mandado no lugar do Rasmus.

— Parece que o maior problema pra você sempre é uma mulher. — Ela estreitou os olhos ao cunhado. — Como sua esposa te aguenta?

— Eu calo a boca dela na cama, por isso ela está grávida. — Ele respondeu de pronto. — Entendo porque você é falante e sem filhos.

— Babaca. — Ela resmunga.

— Mimada. — Ele retruca.

Ambos seguem calados pelas horas que se seguem, Drasilla lê o livro que Vaegon havia a dado, já havia lido a maior parte, mas nunca parecia conseguir terminar de fato, visto que eram muitos afazeres. Eles perceberam que chegaram ao Norte quando o vento frio tomou seus corpos, estavam atrasados, o torneio começaria na manhã seguinte, por pouco Leo não perde as justas.

Drasilla sentia falta de ir a torneios em King's Landing, de ver Daemon ganhar e de resmungar com Viserys sobre ela poder ganhar de alguns cavaleiros, o rei sabia que ela poderia, por isso evitava o constrangimento de alguns cavaleiros. Ao chegarem perto da residência dos Stark, que iriam abrigar o grupo Tyrell, Drasilla saltou da carruagem, já afoita, seus olhos encontraram três figuras à frente, Lorde Rickon, Lady Sarah e o jovem Cregan.

— Princesa! — Sarah avança tomando Drasilla nos braços. — Eu estava morrendo de saudades.

— Sarah! Eu também. — Drasilla apertou a morena, se aproximando do seu ouvido. — Onde ele está? — Sussurrou.

— Bebendo mais do que deveria. — Sarah respondeu se afastando. — É bom finalmente tê-los em Winterfell. Lord Leo ...

— Lady Sarah... — Ele respondeu sério. — Lord Rickon.

— Princesa, Lord Leo ... — Rickon os cumprimentou. — Venham, os aposentos de vocês já estão prontos para receber ambos.

Rickon sai andando na frente junto com Leo, já Drasilla vem atrás com Sarah a sua direita e um Cregan de 10 anos a sua esquerda, ele estava silencioso, olhando para a princesa de forma curiosa, Sarah não parava de falar dela, Cadmus sempre tinha um fascínio em suas palavras ao falar da morena, ele estava curioso em conhecer a mesma. As duas moças conversam animadas, Sarah admirava a princesa e queria de fato contar o que ela tinha visto ao tocar o ovo em Pedra do Dragão, mas se resguardou, precisava falar só com ela.

— Então você é a famosa Drasilla que recusou ser a minha esposa? — O menino estreitava os olhos, sério. — Eu poderia ter considerado isso um insulto, sabia?

— E você lá tinha idade pra se casar com ela? — Sarah resmungou do outro lado da princesa pra o irmão. — Você era só um moleque, ainda é.

— Eu sou melhor nas espadas que você! — Ele resmungou franzindo o nariz.

— Sonho seu, você se gaba porque foi o Cadmus que treinou você quando estava aqui. — Sarah voltou a provocar o irmão mais novo.

— Vocês vão lutar no torneio? — Drasilla quis saber. — Teria sido um honra me casar com você, se fosse alguns anos mais velho, da idade da Sarah quem sabe.

— Não, meu pai disse que ainda sou novo demais e a Sarah ... — A voz do jovem lobo falhou olhando a irmã que tinha parado. 

— Eu sou uma garota. — Ela riu irritada. — Não te deixaram lutar também não é?

— Claro que não, eu acabaria com todos eles. — Drasilla riu.

Todos olharam quando Rickon chamou Cregan para acompanhá-lo mais a longe, o garoto parecia grande demais para alguém de só 10 anos, mas os seus sobrinhos também pareciam crianças grandes, o treinamento os deixava assim, espichavam rápido, ela achava que era por isso que mesmo sendo um ano mais nova que Rhaenyra ainda era mais alta que a sobrinha. Drasilla pensou em sair e acompanhar o grupo, mas notou a figura de Sarah ainda parada, com uma face de poucos amigos.

Drasilla como ninguém entendia a frustração da outra, elas tinham idades próximas, Drasilla tinha 2 anos a mais que Sarah, ela sabia mais que ninguém o que era ter suas vontades negadas e com a nortenha era ainda pior, Drasilla tinha todo o privilégio de ser uma princesa, também os deveres, como o que a obrigou a se casar tão cedo a seu ver, ela se perguntou por breve porque não tinham casado Sarah ainda, ela era a primogênita do rei do Norte, valeria muito.

— Não faz essa cara, infelizmente o ego deles têm medo de constatar o óbvio. — Drasilla cutucou a mão de Sarah com a sua. — Nós os derrotáríamos fácil.

— Alguns deles sim. — Sarah riu. — Tipo seu cunhado com nariz empinado.

— Eu teria prazer em derrubar ese daí. — Ela confessou. — Eles não estão te infernizando com um casamento ainda?

— Não, meu pai não liga o suficiente pra mim pra isso. — Havia um claro desgosto na voz da mais jovem, mesmo que Rickon fosse um pai próximo, ele ainda não era o que ela queria. — Ele deu meu nome pra porcaria de uma bastarda dele, você acredita?

— Oi? — Drasilla uniu as sobrancelhas. 

— É isso mesmo. — Os ombros de Sarah se encolheram. — É, eu ouvi ele e o Cadmus brigando, mas deixa, hmm não é isso que eu queria falar com você.

Sarah estava tensa, por mais que os problemas com o pai fossem algo que ela queria resolver logo e sua situação de mulher naquele momento, havia outras coisas mais urgentes para falar com a princesa. A Stark sempre olhava por cima do ombro de Drasilla e em volta pra ver se ninguém estava por perto enquanto contava. Sarah não negou detalhes para a princesa quando falava sobre a visão, mostrava as mãos, que por mais curadas que estivessem ainda possuíam marcas, algo que normalmente ela escondia, não havia contado a ninguém, Drasilla era a única que sabia.

Na sua posição a princesa estava um misto de boquiaberta e confusa, não queria desacreditar em Sarah, mas era algo complicado, tinha ouvido falar sobre Sonhos de Dragão, mas isso não era da mesma forma, Sarah sequer tinha sangue valiriano nas veias. Algo dizia a Drasilla que ela precisava confiar na outra.

— Isso é ... — Ela nem tinha palavras. — Eu acredito em você, de verdade, não conte isso a ninguém e por favor, me escreva em Jardim de Cima, sempre. Pode ser?

— Claro, será um prazer. — Sarah sorriu, se sentia bem em finalmente confiar aquilo em alguém. — Vamos entrar.

Na manhã seguinte nada se falava que não fosse do torneio, das tribunas armadas em torno da arena, até os salões onde os banquetes erma organizados, ao longo dos dois dias seguintes eles festejavam em Winterfell, Drasilla por mais de uma vez se abrigava em casacos pesados enquanto olhava os cavaleiros, Sarah era sua companhia sempre que podia, as duas se tornavam inseparáveis, ela desejou que Rhaenyra ou Alys estivessem ali, seria um bom grupo.

Na manhã do terceiro dia havia uma tensão quase palpável no ar, apenas uma disputa havia sobrado, de um lado o lobo do norte, Cadmus Stark, que lutava representando o seu tio Rickon, muito a contra gosto de Cregan, que queria ser ele a representar o pai, em outro lado estava Leo Tyrell, que se gabava de suas habilidades como cavaleiro e nobre, tinha derrubado com facilidade todos até ali, diferente de Cadmus que tinha um ombro dolorido.

O grupo se empilhava na tribuna, vendo o sinal a ser dado pelo juiz, os cavalos caloparam firmes, o vento frio queimava os rostos das pessoas, então um corpo foi joga metros atrás, derrubando um cavaleiro atordoado e deixando o cavalo perdido, o resmungo foi ouvido de imediato, o outro cavaleiro vencedor esticou sua lança para captar a coroa de flores  em um ponto mais alto, galopando devagar a frente da tribuna onde a princesa estava.

— É pra você, alteza. — Era a coroa de Rainha do Amor e da Beleza. — Para a moça mais bela do torneio. 

— Você ficou louco? — Sarah ralhou com Cadmus, era ele quem oferecia a coroa a Drasilla. — Tem noção do que fez?

Os murmúrios começaram, Cadmus desceu do cavalo e as pessoas na tribuna começam a falar cada vez mais alto, a silhueta de Leo se aproximou do Stark, ele sentia dores no corpo, mas nada o impediu de avançar pra cima de Cadmus com socos e chutes e logo os dois estavam rolando no chão. Ao ver de Leo, o guarda tinha desrespeitado não a princesa, mas a seu irmão, com quem ela era casada e por mais que Leo não fosse o maior fã de Rasmus, ele representava sua casa, seu nome, sua família.

Sarah não hesitou em saltar da tribuna até o chão da arena, ela era esguia, não era forte, mas sabia como separar uma briga, sempre tinha gente brigando no Norte, sabia onde apertar, onde chutar e acertar pra derrubar uma pessoa bem maior e foi assim que tirou Leo de cima de Rasmus, o primo levantou logo em seguida.

— Seu desgraçado! — Ele gritou pra Cadmus que tinha a boca ensanguentada mais ria do Tyrell. — Eu vou acabar com a sua raça.

— Porque? Só porque eu reconheci a beleza de Vossa Alteza? — O stark limpava o rosto, olhou pro tio com certo desgosto estampado na face. — Ou porque eu venci você?

— Já chega! — Ela gritou com o primo. — Porque você tem que flertar com o perigo?

Leo tentou avançar para cima de Cadmus, mas Sarah interveio, arrastando o primo para longe do conflito em seguida, aquilo era tudo que ele não deveria ter feito. Drasilla olhava aquilo em silêncio e com olhos arregalados, Leo apontou pra ela e gesticulou, eles iriam sair dali agora mesmo. Não deu outra, a longa viagem de volta aconteceu assim que o Tyrell tirou a armadura, mesmo ainda sujo de poeira e com dores, ele entrou na carruagem e a arrastaria pelo braço se precisasse.

A chegada em casa, várias horas depois, não foi agradável, o torneio que deveria ser uma comemoração, se tornou algo problemático, claro que Leo foi resmungar com Rasmus antes que Drasilla pudesse ver o marido, ela estava séria, esperando uma face de poucos amigos quando ele a visse, mas quando o encontrou no quarto, recém chegado de uma viagem horas antes, ele estava com uma cara de bom amigos, diferente do que ela achou.

— Agora eu entendo porque o rei não te deixa andar sozinha por aí. — Ele ria abaixando um livro. — Olha o problema que você nos arruma no Norte, meu lírio.

— Eu não. — Ela riu começando a tirar as vestes pesadas. — Eu só fiquei observando aquela loucura.

— Eu te avisei que o guarda era apaixonado por você. — Ele brincou, mesmo que soubesse que ela não gostava. — Ok, eu paro, não importa se ele for apaixonado por você, você me escolheu, eu te amo e somos felizes juntos.

— Ele só provocou o seu irmão. — Drasilla teria feito bem pior. — Vem, deita aqui comigo.

Os dois ficaram juntos trocando carinhos, nada mais do que isso, por um tempo, Drasilla se sentia tão sortuda por ter Rasmus na sua vida, era alguém que a repeitava, que não a pressionada em seus limites, alguém afável e que a amava, era o melhor tipo de casamento que poderia ter, o que só pesava em sua mente o fato de que ela havia beijado outro e principalmente sobre o chá da lua, do nada ela estava tensa.

— O que foi, querida. — Ele a conhecia, a mudança de expressão dela foi reconhecia imediatamente. 

— Eu preciso te contar uma coisa. — Havia um início de lágrimas nos olhos dela. — Mas você precisa prometer que não vai brigar comigo.

— Eu não posso prometer isso, mas posso tentar ser racional. — Ele a olhava no fundo dos olhos lilás. — O que aconteceu?

— Eu tomei chá da lua. — Ela disse de uma vez, sem rodeios. — Venho tomando desde que nos casamos, pra não ficar grávida.

— Vo...ocê o que? — Ele ficou estático, se afastando dela imediatamente. — Não, você não ... Não fez isso, não me escondeu isso.

— Querido por favor, me ouça. — Ela tentou tocar nele, mas Rasmus se afastou. — Eu posso explicar, por favor.

— Explicar? O que tem pra explicar além de que você me negou o direito de ser pai, de continuar a minha linhagem, mesmo vendo meu pai doente em vários momento e eu podendo ter que suscedê-lo a qualquer hora. — Havia uma seriedade e lágrimas nos olhos dele que ela nunca tinha visto. — Eu não fui um bom marido pra você? ME FALE! Eu obriguei você a ter alguma relação comigo? Te deixei desconfortável.

— Não, meu amor, não ... — Ela já estava em prantos, tentando se aproximar dele. — Você sempre foi ótimo, eu que ...

— Não em toque! — Ela ralhou se afastando mais dela. 

— Eu tenho medo, ok? — Ela respirava, mas o ar não parecia chegar. — Eu perdi a Aemma, eu perdi a minha mãe, Rhaenyra teve um parto difícil com o Luke, eu não quero morrer assim, Rasmus.

— Você nunca quer ter um filho meu, é isso? — Ele tremia o queixo. — Você tem noção do que está falando? Eu estaria do seu lado o tempo todo. 

— Volta pra cama, por favor. — Ela implora.

— Não tem como dormir ao seu lado hoje. — Ele se afastou dela, sumindo em seu campo de visão.

Drasilla não se lembrava da última vez que chorou tanto, um pranto doído e longo, seus gritos podiam ser ouvidos pelos criados de Jardim de Cima, de uma forma dolorosa, ela chorou como se tivesse o perdido naquela noite, sabendo das decisões erradas que tinha tomado, Rasmus nunca mais a veria da mesma forma. Na manhã seguinte, com grandes olheiras em sua face e nariz vermelho, ela foi ao encontro dele, o viu fazendo as malas com a ajuda de seu secretário, ele mal tinha voltado.

— Você vai viajar, meu amor? — Ela perguntou sentindo as orbes trêmulas. — Mas acabou de voltar.

— Meu irmão está machucado após o torneio e eu o substituirei em uma viagem de negócios pelas cidades livres em nome de meu pai. — Ele respondeu sem sequer olhá-la. — Ficarei um tempo fora.

— Quando tempo? — Ela quis saber.

— Não sei, não tempo o suficiente eu acho. — Quando ele deu por si ela estava na frente dele. — Se afaste.

— Me perdoe, Rasmus. — Ela implorava com olhos marejados.

— Vá pra Pedra do Dragão, cuide de seus negócios a pedido do rei. — Ele falou a empurrando. — Quando eu voltar conversamos sobre.

Quando ele sai é como um golpe forte na barriga de Drasilla, ela fica chorando por um longo tempo depois, era como se seu corpo doesse, naquele momento de dor ela só conseguiu se vestir e procurar pro Flarion, em momentos de tristeza como aquele só havia uma pessoa a quem procurar. Foi um longo voo, parecia que King's Landing nunca estava apontando na colina, Flarion se moveu pouco, sentia a princesa chorando no dorso dela. Quando pousou no pátio lateral, vazio, ela andou de cabeça baixa chorando entre os corredores, estava em uma espécie de modo automático ao abrir as portas do quarto de Rhaenyra que amamentava Luke.

— Drasilla? — Ela se assustou ao vê-la assim. — O que houve?

— Eu contei, contei pra ele sobre o chá da lua. — Ela chorava culposamente, se aproximando do sofá onde Rhaenyra estava, a loira colocou Luke em um berço ao seu lado e se sentou novamente, acariciando os cabelos da tia. — Nós tivemos a maior briga e ele foi embora pra uma viagem, nem quis tocar em mim ou me deixar tocar ele.

— Oh querida. — A loira fazia carinho no cabelo dela. — É delicado e apesar da reação dele não ser a melhor, eu o entendo, é díficil.

— E se eu tiver ficado infértil? — Drasilla tremia sob o colo de Rhaenyra. — Não poderei ser mãe e não teremos filhos como você e Laenor.

— A propósito ... — A loira olhou as portas, moveu a cabeça para o guarda de pé as olhando, pediu silenciosamente que ele as fechasse. — Tenho que te contar uma coisa sobre mim e Harwin Strong. — Nyra sussurrou se inclinando sob a morena pra falar baixo.

Rhaenyra acalmava Drasilla enquanto contava sobre seu relacionamento com Harwin Strong e sobre seus filhos, ela até mesmo contava sobre Laenor, ela sabia que Drasilla guardaria todos aqueles segredos, seus e de outras pessoas, era bom finalmente deixar isso sair. A morena sabia, ela achava que todo mundo sabia de certa forma, foi bom sentir que Nyra confiava nela e se acalamr sobre aquele assunto que a assombrava. Drasilla não sabia, mas estava grávida na ocasião.