Meu estômago embrulha em nervosismo enquanto analiso meu reflexo no espelho. 

O evento de moda mais esperado do ano é essa noite, e mesmo estando a frente como representante da Luxen todos os anos, sinto-me insegura e nervosa.

O vestido que uso para promover a grife se molda perfeitamente a cada curva do meu corpo. O forro de tecido frágil e brilhante é protegido por uma camada de renda, dando um efeito perolado.

O decote em formato de V nas costas e o simples na frente deixa a peça sexy, mas longe de ser vulgar, expondo minha clavícula e deixando as mangas japonesas caindo abaixo do meu ombro.

Por último, termino de retocar a maquiagem suave e calço os saltos, deixando o vestido rente ao chão.

— Lisa? Precisamos ir. — Rose diz, calma, do lado de fora do quarto.

— Um minuto. — Peço. Minha voz soa aguda e trêmula, então respiro fundo e olho-me mais uma vez no espelho. — Você consegue.

...

Eventos que esbanjam riqueza nunca são tão emocionantes.

Antes dos desfiles começarem, garçons atravessam o salão servindo taças de champanhe entre os círculos sociais da mais alta sociedade.

Uma banda toca um jazz delicado ao
fundo, e o barulho das conversas preenchem o ar. Está muito agradável, mas mesmo assim ainda sinto uma sensação esquisita.

Aceno com a cabeça sutilmente para alguns conhecidos, entre eles modelos e designers famosos. Um deles em específico me para no meio do caminho:

— Olha só se não é minha rival favorita.

Simon Levine, estilista e diretor criativo da marca rival. Com um ego extremamente inflado e com uma arrogância chegando a patamares elevados, uma das poucas qualidades do homem de cabelos escuros e longos a minha frente é sua esperteza.

— Bom te ver, Simon. — Respondo, solene.

— Não sei se posso dizer o mesmo. Eu fui até o seu último lançamento, mas não a encontrei, devo admitir que as peças estavam relativamente...boas. — Fala, sorrindo de modo azedo.

— Oh, as suas também não estão nada mal. Quem as desenhou? O estagiário?

As sobrancelhas de Simon se arqueiam e seu sorriso é torto, como se ele realmente tivesse acabado de chupar um limão.

— Nos vemos no desfile. — É a minha deixa para me livrar da conversa estressante.

Corro meus olhos pela extensão do salão em busca de Roseanne, que desapareceu da minha vista assim que chegamos, mas não há nenhum sinal dela.

Caminhando entre as pessoas, encontro Tae e Jennie bebendo e conversando — o que é estranho, pois nenhum dos dois parece querer arrancar a cabeça um do outro.

— Gata. — Tae fala assim que eu me aproximo, desviando a atenção de Jennie para mim. — O que foi? Você parece preocupada.

— Se for sobre o desfile, não precisa se preocupar. Acabei de sair do camarim e tudo está sob controle. — Jennie me conforta com um sorriso leve.

— Acho que vou passar lá mais tarde. Vou ao banheiro, não demoro.

Deixo os dois e sigo em direção ao banheiro, em busca de um pouco de privacidade.

Passando pela porta, fico diante do longo espelho, olhando meu reflexo pouco radiante. Passo mais uma vez o batom nude nos lábios e dou um suspiro. A noite mal começou e já me sinto esgotada.

Quando o banheiro começa a se encher de mulheres, vejo-me obrigada a sair, e do lado de fora retomo o caminho em direção ao corredor pouco movimentado que me leva de volta para o salão.

No entanto, um casal atrás de uma pilastra me chama a atenção, o que consequentemente me faz diminuir o passo. A intenção dos dois era aparentemente de que fossem discretos, mesmo que não consigam realizar tal ato com perfeição.

Os dois continuam aos beijos, sem notar minha presença no corredor, mas cesso o passo quando percebo que a mulher nos braços do desconhecido de terno azul marinho ocultado pela pilastra, é na verdade Roseanne.

Então é ai que essa vaca estava?

Quero rir da situação e continuar meu caminho, mas o baque vem bem mais forte consigo ver o rosto do homem, que coloca Rose contra pilastra.

Seus olhos amendoados e gentis carregam um brilho primitivo, que se apaga no momento que seu olhar registra minha presença no local.

Mesmo olhando para mim, Park Jimin continua aos beijos com minha melhor amiga, e quando ameaça parar tenho que acelerar o passo, querendo evitar um momento constrangedor.

Por que ela não me disse nada?

O pensamento martela minha cabeça, mas outro invade minha mente como um míssel e me faz perder o fôlego.

Se Jimin está aqui, é bem provável que ele esteja também...

Um leve tremor passa por meu corpo enquanto me perco na multidão de pessoas espalhadas pelo salão, desnorteada.

Apoio-me no que parece ser o balcão do bar, sentindo um arrepio na nuca e um formigamento nos lábios.

Um garçom passa ao meu lado e eu rapidamente pego uma taça de champanhe da sua bandeja, virando o líquido para minha garganta de uma vez, apertando os olhos.

Não sei o que pensar. Estou mais confusa do que antes e me sinto péssima.

Deixo a taça sobre o balcão, erguendo o olhar e sentindo minha respiração dissipar quando o vejo olhando para mim, com poucos metros de distância nos separando.

A intensidade e tensão carregada em seu corpo é evidente. Agonizante. Como se ele também não soubesse o que fazer.

Ele diminui a distância entre nós, com passos cautelosos e ao mesmo tempo confiantes, o que entra em contradição com seu olhar hesitante e arrependido.

— Por favor, vá embora. — Eu digo, vendo-o abaixar o rosto, envergonhado.

Tento passar por ele, querendo evitar seu olhar magoado, mas ele me impede, barrando-me com o próprio braço.

— Por favor, Lalisa, vamos conversar.

— Conversar? — Eu me viro para ele, pasma. — Não temos nada para conversar.

— Você sabe que temos, Lalisa. Não ignore isso. — Ele se aproximar mais um pouco, mas recuo. Não posso deixar que ele me toque.

— Não vamos dificultar as coisas, Jungkook. Você nem deveria estar tão perto de mim, com toda essa gente aqui.

— Eu realmente não me importo. — Ele parece sincero. — A única coisa que realmente me importa aqui é você.

Eu rio com ironia.

— O única vez em que você se importou comigo foi quando queria me levar para cama, e não negue, você mesmo disse.

Sua mandíbula se aperta em tensão, ele está começando a ficar irritado.

— Eu não disse isso, Lalisa.

— Disse, sim.

— Eu disse que você não precisava entender nada sobre mim, antes que pudéssemos ter feito o que fizéssemos. — Ele ofega. — Ainda assim, sei que errei, e por isso estou aqui. — Sua voz é rouca e baixa. — Por favor, Lisa, eu preciso dessa chance para te mostrar a verdade.

Com os lábios trêmulos e a respiração dificultada pelo meu nervosismo, meu coração bombeia contra meu tórax quando Jungkook levanta a mão para tocar meu rosto, se detendo no meio do caminho.

— Eu faço qualquer coisa, vou passar por cima de tudo, e eu não vou desistir até você me dizer...com todas as palavras...

— Jeon?

Sou tirada do meu transe ao Jungkook ser interrompido por uma voz feminina. Atrás dele, há uma mulher com um vestido magnífico verde brilhante, que combina com a cor dos seus olhos e com seus cabelos curtos e escuros.

A tensão no ar entre Jungkook e eu ressurge em um estalo, e eu aproveito para me afastar do homem, que parece desesperado e louco de raiva ao ver que sai do seu alcance.

— Lalisa! — Ele chama, mas apenas ignoro, retomando o passo para bem longe dali.

...

O desfile já começou, e toda minha equipe acompanha o evento por uma tela nos bastidores.

Todos estão muito contentes e orgulhosos pelo resultado, e eu particularmente estou muito emocionada, mas não consigo expressar nenhuma reação pelo fato da minha mente se ocupar com outras coisas.

— Senhorita? Você foi muito bem! — Lucy para ao meu lado, sorrindo com animação.

— Obrigada, Lucy. — Sorrio de volta. — Nós todos conseguimos, parabéns a equipe.

Todos soltam um grito de comemoração enquanto eu volto a atenção em direção ao desfile na tela. Todas as modelos se reúnem na passarela para finalização, andando alinhadamente uma atrás da outra.

Então há um rápido corte de luz, o que eu imagino que seja algum tipo de efeito especial, mas quando as lutes voltam posso ouvir um enorme burburinho e a expressão confusa de alguns na platéia.

A câmera então foca no telão principal, onde deveria estar o nome do evento e seus patrocinadores, mas é uma imagem que leva toda a atenção.

"Vadia interesseira"

A palavra escrita em letras vermelhas é usada como legenda para minha foto.

Minha foto.

Minha e de Jungkook. No lançamento. Quando nos beijamos na varanda.

— O que é isso? — Jennie para ao meu lado, com os olhos na tela, em choque.
— Resolvam isso! Mudem essa merda agora! — Ela começa a berrar para todo camarim.

Ao fundo, consigo ouvir os gritos e burburinhos se tornando sussurros. Não consigo me mexer. Estou presa no lugar. Minhas mãos tremem e meu coração bate tão rápido e forte que sinto que ele pode sair pela boca. O que está acontecendo?

Sinto lágrimas enchendo meus olhos e cubro meu próprio corpo, a bile queima minha garganta.

— Lali. — Taehyung para atrás de mim, tocando meu ombro e com o tom preocupado. — Você não precisa ver isso.

Não consigo dizer nada. Preciso sair daqui.

Viro-me, desvencilhando-me de Taehyung e correndo as cegas para fora do camarim, passando pelo corredor dos bastidores, sentindo os olhares de alguns dos funcionários em meu corpo encolhido.

— Lalisa!

Registro a presença de Jungkook e seu segurança atrás de mim, cubro a boca e corro em direção a primeira a porta da minha frente, que graças a Deus é o banheiro.

Bato a porta e me inclino sobre o vaso a tempo de esvaziar o conteúdo do meu estômago em convulsão, com o rosto molhado pelo suor e pelas lágrimas.

Estou destruída. Completamente.

— Lalisa! — Ele esmurra a porta atrás de mim, e eu dobro meu corpo novamente, sentindo outra violenta onda de náuseas.
— Lalisa! Abra a porta!

Não consigo respondê-lo, tossindo e respirando com dificuldade quando paro de vomitar. Acabei de ver Nova York inteira tendo acesso a um momento íntimo meu, mas não qualquer momento, mas um em que eu estava ao lado do dono da empresa.

Todos provavelmente concordam com a legenda daquela foto.

Uma vadia interesseira.

Uso um pedaço do papel higiênico para limpar a boca, ao mesmo tempo que Jungkook bate na porta atrás de mim.

— Por favor! — Ele implora, e em seguida ouço um barulho abafado, provavelmente sua testa. — Por favor, Lalisa, abra a porta.

— O que diabos está acontecendo? Lisa! 

A voz de Roseanne parece uma luz no fim do túnel, e estou prestes a responder, mas lembro que se eu abrir a porta, Jungkook vai entrar. E eu não quero vê-lo.

— Ela não quer sair. Por favor, Roseanne, tire-a dai.

Os dois parecem começar a discutir, então mais alguém chega, interferindo:

— Jungkook, é melhor você ir. Ela não vai querer sair enquanto você estiver aqui. — A voz do senhor Park é calma.

— Não! — Jungkook parece histérico. — Ela está...eu...preciso vê-la.

— Tire ele daqui, Nam.

— Jungkook? Ela não vai sair. Venha, seu filho da puta idiota.

Fico sentada, ouvindo Roseanne, Jimin e o tal Nam convencendo Jungkook a sair.

Finalmente há silêncio, e em seguida ouço as batidas sutis de Rose na porta.

— Lisa, ele foi embora. — Ela diz.

Eu me levanto e destranco a porta, para deixar minha amiga entrar no banheiro minúsculo. Ela entra como um furacão, torcendo o nariz em seguida.

— Oh, Deus, Lisa. — Ela me ajuda a sentar sobre o vaso, tocando meu joelho. — Eu sinto muito.

— A culpa foi minha. — Minha voz é chorosa.

— Não é, Lisa. A culpa não é sua. — Limpa os rastros úmidos das lágrimas em meu rosto.

— É, sim. — Balanço a cabeça quando minha voz ameaça falhar. — Eu arruinei tudo, Rose, todos agora acham que eu estou onde estou porque me envolvi com meu próprio chefe, que sou uma mulherzinha. Eu sujei tudo! — Começo a chorar de novo, repassando aquela imagem em minha mente. — Eu quero ir para casa, Rose. Não quero mais ficar aqui.

Os olhos reconfortantes de Rose adquirem um brilho determinado.

Ela se levanta, caminhando até a porta.

— Onde você vai?

— Vou checar se Jungkook ainda não voltou, só isso.

Rose passa por mim, abrindo a porta e deixando-me sozinha. Aproveito para lavar o rosto e as mãos, prendendo a respiração quando a porta se abre de novo.

— Lisa, vamos pegar o carro. — Roseanne sussurra, tocando-me pelo braço e puxando meu corpo de zumbi para fora do banheiro.

Usamos a saída de emergência para evitar tumulto, descendo até o estacionamento, onde meu mini nos espera.

— Me dê as chaves. — Rose fala e eu nem penso em discordar, tirando as chaves da bolsa e entregando-a.

— Lisa!

Ouço sua voz antes mesmo de notar sua presença.

Jungkook desce as escadas do estacionamento com o senhor Park e seu segurança logo atrás, desorientado e com um pânico cego.

Fecho os olhos e respiro fundo, rezando para ter forças.

— Por favor, meu anjo, olhe para mim. — Sua voz também é trêmula e falha, o que me faz engolir o nó em minha garganta, tentando conter as lágrimas. — Por favor. — Sua mão tenta tocar meu braço quando ele se aproxima. Afasto-me.

— Não me toque. — Encontro coragem para encará-lo, encontrando seus olhos. — Vá embora.

Ele está de cabeça baixa, sem saber o que dizer, sussurrando por final:

— Não posso. Não consigo ficar longe de você.

— Bem, então comece a se acostumar, não quero mais te ver. — Minha voz é controlada, mas a dor que atravessa meu coração é insuportável ao dizer essas palavras.

Os olhos de Jungkook ficam marejados, buscando os meus.

— Você está mentindo. Sei que está.

— Não estou, Jeon Jungkook.

O peito se expandindo a cada respiração e o modo que seus olhos buscam os meus deixa evidente seu desespero.

— Abra o carro, Rose. — Peço, afastando-me dele outra vez, mas sua mão é mais rápida, envolvendo meu pulso.

— Não pode fazer isso comigo, Lalisa. Não agora que eu encontrei você.

— Você acha que isso vai ser mais fácil para mim?! — Grito, girando o braço para me libertar.

— Anjo, se eu pudesse mudar a maneira como lidei com as coisas, eu mudaria. — Sussurra, tremendo.

— Mas não pode. Eu não posso. O estrago está feito. — Abro a porta do carro. — Adeus, Jungkook. — Tento fechar a porta, mas ele a segura.

— Por favor. — Implora, uma última vez.

— Eu disse adeus. — Então entro e fecho a porta.

Roseanne entra em silêncio depois de ter presenciado provavelmente ao maior espetáculo de sua vida, girando a chave e dando partida enquanto posso ver o reflexo  do homem que eu amo desaparecendo a medida que nos afastamos.

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Promessa feita é promessa cumprida, certo? Agora acabamos de entrar oficialmente em uma nova fase.

Preparados? 🔥❤️