
➤ Chapter Twenty Six
O sonho péssimo resultou em uma noite péssima.
Pela manhã meu corpo parecia realmente como o de um zumbi, o que foi suficiente para que minha mãe fizesse um escândalo ao achar que eu havia ficado doente.
— Eu não estou doente. Eu só dormi mal. — Respondo, massageando as têmporas. Minha cabeça dói como o inferno. — Não precisa se apavorar tanto.
— Mesmo assim, acho melhor você não ir para o restaurante hoje. Você obviamente não está com cabeça para isso. — Minha mãe interfere, convicta.
Tento revirar os olhos, mas desisto em seguida ao sentir uma dor insuportável.
— Eu vou tomar um remédio e vou ficar bem. — Termino de beber o meu café, levantando-me em seguida. — Te vejo mais tarde, pai.
Ao sair, noto seu olhar preocupado me acompanhar até o final da escada, mas decido ignorar.
Quando chego a porta do meu quarto, Lucas sai pela porta do seu, vestido calças jeans surradas e uma camisa branca.
— Bom dia, bolinho. — Ele vem até mim, deixando um beijo no topo da minha cabeça. — Você parece horrorosa essa manhã. — Provoca, e eu empurro-o para o lado, entrando no quarto. — O que foi? Parece que alguém aqui não teve o seu soninho da beleza.
— Me erra, Lucas. — Resmungo, caminhando até a cama.
Meu irmão ri, entrando no quarto sem ser convidado.
— Sen e eu passaremos mais tarde no restaurante do papai. — Cruza os braços e me observa, como se quisesse capturar minha reação. — Isso te incomoda de alguma forma, irmãzinha?
— Por que isso me incomodaria? — Eu falo, tentada a ver onde Lucas quer chegar, mas ao notar um sorriso se insinuar em seus lábios, desisto. — Não estou com paciência para você essa manhã, Lucas.
Meu irmão ergue as mãos, na defensiva.
— Não está mais aqui quem falou, te vejo mais tarde. — Ele pisca antes de sair e bater a porta.
Solto uma lufada de ar e caio de costas para cama, fechando os olhos enquanto as imagens se repetem em minha cabeça.
A sensação de ansiedade me pega toda vez que me lembro daquele sonho — que está mais para pesadelo.
Parecia tão real, seus toques eram tão certos e quentes, como se ele realmente estivesse ali, mas em questão de segundos o sonho que denunciava a falta que ele fazia, logo tornou-se em um pesadelo horrível.
Por que todo aquele sangue? Por que ele estava chorando?
Minha caixa de mensagens está vazia e suas últimas ligações datam da noite de sábado, quando eu fui embora.
— Será que ele está bem? — Pergunto para o silêncio, sentindo uma pontada desconfortável no coração, pensando na possibilidade de algo realmente ter acontecido.
Foi apenas um sonho! Não quer dizer nada!
Repito mentalmente, exasperada.
— Argh! — Bato na testa, esquecendo-me por uns segundos da dor e gemendo em seguida.
Não posso preencher todos os meus pensamentos com ele.
Simplesmente não posso.
...
O dia no restaurante prometia ser um dos mais longos e desgastantes.
Isso não incluí apenas o fato da onda de clientes ser gigante, mas é que o meu humor também não tem ajudado muito na melhora do meu dia. Estou mais distraída e estressada do que o normal, e sei que isso é bem notório, pelo menos aos olhos do meu pai.
— Lisa. — Ele fala assim que eu saio da cozinha em direção ao restaurante, me parando. — O que está acontecendo?
Seu olhar é sério, assim como o que ele me lançava quando Lucas e eu aprontávamos ou escondíamos algo.
Encolho-me.
— Nada, pai. Eu estou bem. — Torço os lábios em um sorriso forçado, vendo meu pai cruzar os braços com a expressão impassível.
— Conversamos mais tarde. — Ele diz, apenas, voltando para cozinha.
Com um suspiro, volto para o restaurante com o pensamento longe e um gosto amargo na língua.
Não gosto da ideia de esconder as coisas da mamãe e do papai, mas não quero decepcioná-los. Já sou responsável pelos meus atos, e não quero envolver nenhum deles em meus problemas.
No restaurante, duas garçonetes conversam entre si com risadas e sussurros, olhando em direção a outra garçonete, que atravessa o restaurante apressadamente enquanto ajeita os cabelos presos, sorrindo abertamente.
Rolo o olhar até a direção que ela caminha e meus pés congelam no lugar, assim como meu estômago se embrulha e vira um bloco de gelo.
Meu queixo treme e minhas mãos acompanham o movimento, pois precisam de algo urgentemente para se apoiarem, se não eu posso cair.
Jungkook.
Desvio o olhar para garçonete, que se aproxima cada vez mais dele, então sinto que preciso fazer algo.
— Ah, não. — Atravesso o restaurante com passos determinados, caminhando em sua direção.
Os sentidos de Jungkook parecem retomar quando ele desvia o olhar para mim, e eu estou quase desistindo no meio do caminho quando seus olhos escuros brilharam em um misto de surpresa e admiração. Eu não queria, mas não pude deixar de notar.
A garçonete e eu chegamos ao mesmo tempo, mas Jungkook em nenhum momento olha para ela, seus olhos estão em mim, o tempo todo.
— Eu o atendo. — Direciono-me a garçonete, mas também não consigo tirar os olhos de Jungkook, e por isso não consigo flagrar o olhar decepcionado da mulher antes que ela saia. — Venha por aqui.
Quando chegamos a uma mesa disponível, propositalmente mais afastada das outras, viro-me com o coração errando as batidas e pulsando o sangue fervente.
— O que você está fazendo aqui?
O ar falta em meus pulmões quando noto seus olhos ainda em mim, minha reações a ele continuam inabaláveis, talvez até mais intensas, e preciso de muito esforço para controlar minha mãos nervosas e não umidecer os lábios.
Ele inclina o rosto levemente, o leve sorriso se insinua em seus lábios.
— Eu vou fazer um pedido. — Ele se senta, visivelmente calmo.
Eu o olho, abismada.
Como ele pode ser tão...tão...
— Eu disse que não queria mais te ver, então você vem até a Pensilvânia, comer justamente no restaurante do meu pai, é sério? — Ofego, nervosa. Jungkook, no entanto, apenas sorri.
— Eu costumo ser bem determinado, e não desisto do que é meu.
Arrogante!
— Eu não sou sua! — Preciso controlar minha voz para que os outros clientes não ouçam, mas é difícil.
Jungkook continua com seu sorriso idiota estampado no rosto.
Maldito sorriso.
— Oh, você é minha, sim. — Ele afirma. — Você é minha desde que gozou na minha boca em Paris.
Eu estremeço, em choque, sentindo toda minha pele corar enquanto meu queixo cai. Olho para os lados, só para ter a certeza de que ninguém ouviu.
— E você pode negar, meu amor, mas suas reações a mim só mostram o contrário. — Ele apoia o queixo bonito sobre o punho fechado, com os olhos cheios de diversão.
Não consigo dizer nada além de apertar o cardápio de capa de couro em minhas mãos. Sua confiança me desestabiliza, o que me deixa vulnerável e indescritivelmente irritada.
— Diga logo o que quer, e vá embora. — Deixo o cardápio sobre a mesa, tentando evitar qualquer tipo de contato físico com ele.
Ele mal folheia o cardápio antes de estendê-lo de volta, desinteressado.
— Quero a sugestão do chefe.
Recolho o cardápio, com certa agressividade — admito.
Dou meia volta para ir embora, e penso em dizer algo antes de olhá-lo uma última vez, mas desisto. Afinal, é melhor manter minha boca fechada antes que eu diga de que algo possa me arrepender.
...
Mesmo pedindo para que outros funcionários cuidassem de Jungkook, foi praticamente impossível evitá-lo.
Seus olhos me acompanhavam a cada movimento pelo restaurante, como se pedissem para que eu me aproximasse. Desviei o olhar todas as vezes, o que traia totalmente o meu esforço de parecer inabalável a ele.
Eu não era dele.
Com certeza, não.
Não sou dele desde aquela noite que ele me magoou, por mais que meu coração negue essa afirmação com afinco.
— Maninha!
Balanço a cabeça, desviando minha atenção para Lucas e Sen, que se aproximam do balcão.
— Viemos oferecer apoio, como prometido. — Lucas me abraça de lado enquanto Sen cruza os braços, aproximando-se.
— Eai, Lisa? — Ele fala, analisando-me com seu sorriso petulante. — Você até que fica bem bonitinha de garçonete.
Lucas empurra Sen de leve, com o seu exagerado comportamento masculino.
— Sai seu fetichista de merda, é a minha irmã. — Lucas xinga, fazendo Sen conter uma gargalhada.
Reviro os olhos, voltando a atenção para Jungkook, que acaba de pedir a conta para outro garçom, então olho para o caixa.
Papai.
Oh, não.
Atravesso as duas muralhas que são Sen e Lucas, caminhando e parando em frente ao caixa.
— Eu cuido disso, papai. Pode voltar para cozinha. — Tento soar doce ao mesmo tempo que olho nervosamente para trás, notando que Jungkook já se aproxima.
Meu pai olha para mim, confuso.
— Não precisa, querida. A cozinha está cheia, e seu eu ficar por lá, ainda mais com essa cadeira, vou apenas atrapalhar. — Ele dá de ombros.
— Você tem certeza? Talvez tenha alguém precisando...
— Boa tarde. — Sua voz pinica minha pele, fazendo os cabelos da minha nuca se arrepiaram enquanto sinto que se ele se aproximar mais um pouco, seu corpo se encaixará ao meu.
Afasto-me do balcão do caixa, dando passagem a ele passe.
— Boa tarde. — Meu pai fala com seu sorriso naturalmente simpático, pegando a cartela de couro com a conta quando Jungkook a entrega.
Percebo que ele olha para mim, mas o ignoro futilmente enquanto cruzo os braços.
— A comida estava ótima. — Ele elogia, em seguida olhando para mim. — Só esperava que você ficasse comigo até o fim, Lalisa.
Merda de provocador.
— Vocês se conhecem? — Meu pai interfere na conversa que só vem por parte de Jungkook, o que me faz suspirar.
— Sim. — Jungkook responde por mim, animadamente. — Eu sou o chefe dela. — O orgulho em sua voz me faz revirar os olhos.
— Oh. — Meu pai sopra, como se estivesse processando a informação, em seguida sorrindo como se achasse a situação engraçada. — Por que não me disse isso antes, Lisa? Eu sou o pai dela. É um prazer conhecê-lo...
— Jungkook. — Ele se apresenta, apertando a mão do meu pai em um gesto amigável.
— Bom te conhecer, Jungkook! Eu queria poder desejar boas vindas, mas você já está indo embora... — Meu pai ri, virando-se para mim. — Você devia ter me contado, Lisa, nem mesmo consegui cumprimentá-lo adequadamente!
Quero revirar os olhos de novo, mas me contenho.
— Não há problemas, Sr. Manoban. Foi realmente bom conhecer alguém da família de Lalisa. — Jungkook olha para mim. — Ela é uma pessoa muito adorável.
Torço os lábios. O que ele está planejando?
— Ah, sim. — Meu pai fala, com carinho.
— O que você acha de jantar com a nossa família mais tarde? É a sua primeira vez aqui em Pittsburgh, certo? Seria uma honra recebê-lo, não é, princesa?
Solto os braços ao lado do corpo, interrompendo qualquer coisa que Jungkook estivesse pensando em dizer.
— O quê? — Solto uma risada nervosa. — O senhor Jeon é um homem muito ocupado, pai, ele não tem tempo para jantar na casa dos funcionários. Certo, senhor Jeon? — Olho para Jungkook, ameaçadora.
No entanto, uma ameaça para Jeon Jungkook sempre se trata de um desafio.
— Na verdade, é a minha primeira vez em Pittsburgh. — Ele olha para o meu pai. — E como estou passando as noites sozinho em um hotel, um jantar com vocês realmente seria uma honra.
Meu pai se anima, enquanto quero me lançar sobre Jungkook.
Em vários sentidos.
— Ah! Então está na cidade a prazer.
Jungkook sorri, olhando para mim.
— Sim, definitivamente a prazer.
Estremeço de leve. Ele veio até Pittsburgh atrás de mim? Ou há outra coisa por trás?
— Ah, que bom! Vana vai adorar conhecer o chefe de Lisa. Passe o endereço para ele, filha. Nos vemos mais tarde, senhor Jeon! — Meu pai se despede com um aceno, enquanto eu, com um sorriso forçado, guio Jungkook para fora do restaurante.
Já do lado de fora, giro com os punhos cerrados, dando de cara com seu peito coberto pela camisa social com um dos botões soltos.
— O que você pensa que estava fazendo?! — Quero gritar com ele, mas tenho consciência de que há pessoas a nossa volta. — Acha que isso é um jogo? Eu não brinco, Jungkook! — Encosto a ponta do dedo em seu peitoral, irada.
Jungkook segura meu pulso, pressionando a palma da minha mão sobre seu peito sólido e duro, bem acima de seu coração, que bate com força.
— Você nunca foi um jogo para mim, Lisa. — Ele diz, intimamente. — Você acha que eu atravessaria o mundo por causa de um jogo sobre ganhar e perder?
— É o que você tem feito desde que nos conhecemos. — Vocifero. — Você foi embora quando eu precisei de você.
— Você pediu para que eu fosse, e mesmo assim eu não a deixei. Eu estou aqui agora. — Ele sussurra. — Eu não vou deixar você, porque você tem algo que é meu, e que por mais que você quisesse, você não pode devolver. É tudo seu, Lalisa. Só seu.
Afasto minha mão dele quando sinto seu coração batendo contra minha palma. Jungkook me olha, como se esperasse algo.
— Não sou seu desafio, Jungkook. — Eu falo, apertando os lábios e contendo a vontade de chorar.
Jungkook me olha carinhosamente, tocando a ponta do meu que queixo com o indicador e erguendo-o.
— Você está longe de ser um desafio para mim, Lalisa. — Ele acaricia o ponto abaixo do meu lábio inferior com o polegar. — É por isso que eu estou determinado a não desistir de você.
____________________________________________
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro