
➤ Chapter Twenty
Silenciosamente, tento passar pelo corredor sem fazer barulho com os saltos das botas, caminhando em direção ao elevador com minha bolsa.
Ainda é cedo, meu corpo continua cansado e meus olhos inchados, mas decidi começar o dia logo pela manhã, assim não teria tempo para pensar sobre a noite passada.
Como o café do hotel ainda não foi servido, vou para o hall de entrada, agradecendo mentalmente quando não encontro nenhum dos seguranças de Jungkook na portaria, afinal, não queria ser surpreendida e impedida por nenhum dos dois.
Peguei um táxi e pedi para que ele me deixasse na cafeteria mais próxima, onde passei boa parte da manhã me ocupando com trabalho, uma xícara de café e um maravilhoso croassant.
Atualizo meu portfólio, respondo alguns e-mails e envio a base do novo projeto para Lucy, até mesmo lhe perguntando se as coisas estão indo bem sem mim.
Sinto que meus funcionários estão bem tranquilos sem minha supervisão, ou totalmente o contrário, mas prefiro acreditar na primeira opção, assim não terei tantos problemas quando voltar para Nova York esta noite.
Esta noite.
Ainda é estranho pensar que é o meu último dia aqui, passou rápido demais. No entanto estou aliviada, não poderia passar mais um dia ao lado dele.
Não pensar. Não quero pensar.
Sozinha, ando pelas ruas de Paris com a intenção de conhecer outros lugares, entrando e saindo de lojas e mais lojas.
Compro algumas lembranças para os meus amigos e para os meus pais, visito mais alguns pontos turísticos e perto do almoço vou para um restaurante de frutos do mar, onde aprecio da minha própria companhia e de uma boa taça de vinho.
Meu último destino é a já conhecida catedral de Notre Dame.
Silêncio preenche o ar da basílica geralmente cheia de turistas, mas agora completamente vazia.
Sento-me em um dos bancos de frente para o altar, observando a estatueta La Pietà, de Michelangelo.
Minha mãe é budista, e meu pai cristão, isso nunca foi um problema para nenhum dos dois ou para a minha criação e a de Lucas, afinal, o objetivo era o mesmo: que fôssemos pessoas boas em um mundo repleto de pessoas ruins.
Quando eu era mais nova parecia fácil, eu tirava ótimas notas na escola e ajudava nas tarefas de casa, isso parecia suficiente, mas tudo mudou quando completei dezoito anos e me mudei para Nova York para estudar moda.
Foi na faculdade que comecei a fumar, meus pais não tiveram uma boa reação quando descobriram, mas eles também ficaram receosos ao descobrirem que eu estava saindo com um cara.
Chris Peterson. O estudante de direito.
Acho que foi bom no começo, saíamos juntos e fazíamos coisas como um casal normal, mas foi quando comecei meu estágio na Luxen Enterprise que as coisas esfriaram um pouco.
Já não tinha mais tempo para sair com Chris. Nossa relação se desgastava lentamente ao passar dos anos e foi quando conheci Roseanne, que na época fazia estágio de design gráfico na Luxen. Nos tornamos melhores amigas rapidamente pelo fato de passarmos muito tempo juntas, no entanto Chris sempre deixou claro que não gostava da minha amizade com Rose, eu nunca liguei realmente, ainda mais depois que fomos contratadas ao terminar o curso. As coisas se tornaram mais intensas.
Com a vida amorosa desandando e a vida sexual mais pacata que uma vovózinha, Chris e eu decidimos tentar pela última vez.
Mas nada veio.
Nenhum lampejo. Nenhum batimento descontrolado.
Eu não sentia nada, e foi tão estranho e desconfortável que não me importei em atender aquela ligação do trabalho durante o momento.
Quando percebi Chris já estava longe, e eu percebi o quanto ele estava decepcionado, disse que eu já não era mais a mesma e que agora mais parecia o homem da relação do que ele próprio.
Fiquei furiosa e sai do apartamento que dividíamos naquela mesma noite, mesmo sabendo que em partes, ele estava certo. Entretanto, o que ele não sabia é que eu já não era mesma desde que sai da casa dos meus pais.
Mas então eu o encontrei, e foi como se eu tivesse voltado no tempo.
Meu coração pulsava como a tempos não fazia, minha respiração falhava e minha pele fria começava a esquentar. Era instantâneo.
Bastava apenas um olhar ou uma palavra.
E eu me sinto péssima, porque me parece algum tipo de karma em que eu me apaixono por alguém inalcançável, e que não sente nada por mim.
Só quer o meu corpo.
É exatamente o que está acontecendo.
Sou uma mulher idiota e ridícula. E Apaixonada, devo acrescentar. Estupidamente apaixonada.
Meu coração se aperta e eu abaixo a cabeça, tentando segurar as lágrimas patéticas.
Ouço o barulho de passos e imagino ser um visitante ou funcionário da igreja, mas estranho quando noto que a pessoa se senta ao meu lado.
Vejo os sapatos lustrosos e levanto a cabeça, vendo que é Jin ali.
Ele está em silêncio e parece cansado, faço a menção de perguntar como ele sabia que eu estava ali, mas ele me interrompe.
- Não sei o que o senhor Jeon lhe disse na noite passada, garota, mas posso dizer que ele está arrependido e preocupado com você. - Dá uma pausa para respirar. - Ele a aprecia muito, e sei que ele não é fácil com você, mas ele precisa de uma segunda chance.
Fico por calada por um momento, absorvendo suas palavras antes de responder.
- Eu não desejo para ninguém ouvir o que eu ouvi. Você não estaria dizendo isso se tivesse ouvido também. Não defenda-o porque ele é o seu chefe. - Retruco.
Jin fica em silêncio, no final balançando a cabeça positivamente.
- Entendo. - Suspira. - Ele não sabia como contar. Tinha medo que você o deixasse.
- Ele não precisou me contar, e mesmo assim eu o deixei. Não importa, isso iria acontecer hora ou outra.
- Não precisa ser assim, garota.
- Precisa sim. - Retruco, em um sussurro.
- Não precisa, não. - Diz com firmeza.
- Lalisa, eu conheço Jungkook a tempo suficiente para dizer que nunca o vi se comportar assim por uma mulher. Ele nunca teve um relacionamento que fosse além do sexo, mas você apareceu, e mesmo só você sabendo o quanto é difícil lidar com o jeito temperamental dele, eu sinceramente fiquei feliz por vê-lo finalmente dedicar-se tanto com algo que não fosse o trabalho e a própria família a ponto de se comportar assim. Por favor, dê uma chance a ele.
Engulo em seco, desesperadamente tentando ignorar suas palavras.
- Eu realmente não quero falar sobre isso, Jin. - Respondo, pouco gentil.
Jin concorda, e depois do que parece ser alguns minutos ele me leva para o carro, dizendo que precisamos voltar para o hotel para arrumar as malas e ir para o aeroporto.
...
Jin me acompanha até o meu quarto, até mesmo abre a porta para mim, é quando noto que não estamos sozinhos.
Jungkook e o outro segurança estão no meio da sala, olhando na nossa direção.
- Onde diabos você estava?! - Jungkook vocifera vindo até mim. - Saiam do quarto, agora! - Ele ordena para os seguranças, que se entreolham antes de se retirarem. - Me responda, Lalisa!
- Por aí. - Dou de ombros, passando por ele e indo para suíte master.
Ele ofega, parecendo indignado.
- Precisamos conversar, Lalisa. - Fala, tentando se acalmar.
- Ah, agora precisamos conversar? - Eu rio com sarcasmo. - Não quero falar com você, saía do meu quarto.
- Sinto muito, meu anjo. - Ele fala num fio de voz, aproximando-se.
- Não me toque. - Encaro-o com coragem.
- Por favor, Lalisa. Você precisa me ouvir. - Sua voz é trêmula, mas determinada.
- Não, não preciso. Saia daqui.
- Não posso. Eu preciso de você.
- Você não precisa de mim! - Tento manter o tom de voz, apontando para o seu rosto. - Você conseguiu o que queria. Eu também. Não vamos estragar a merda toda. - Disparo. Não consegui o que queria, nem de longe, mas ignoro a voz que grita na minha cabeça. Preciso acabar com isso.
- Do que você está falando? Eu ainda não consegui o que queria!
- Não? Pois eu sim!
Dou as costas e ando em direção a varanda, pegando um cigarro na bolsa e acendendo-o, mas sou surpreendida quando Jungkook arranca-o da minha boca e o joga no chão, pisando.
- Pare de fazer isso como se fosse uma adolescente!
Respirando pesadanmente no meu rosto, ele me olha feio e depois seus lábios se chocam contra minha boca. Meu fôlego é literalmente tirado de mim, e me contorço, tentando me libertar dele.
Ele aperta mais ainda os lábios nos meus, mas não aceito seu beijo. Fico repetindo para eu mesma que vou me magoar ainda mais ainda se aceitar, então tento me libertar com mais afinco dessa vez. Ele rosna, mas me larga.
- Saia daqui! - Grito, empurrando-o e com os olhos inundados de lágrimas.
- Saia!
Ele estuda meu rosto em silêncio por um longo tempo, mas finalmente para de procurar por algum indício positivo em meus olhos. Ele se vira e sai, sem dizer mais nada.
...
Já se passa das sete horas e o avião já está se preparando para decolagem, Jin está ao meu lado assim como da última vez, calado como sempre.
Jungkook está do outro lado, com o rosto impassível e olhos concentrados na tela do celular.
É assim que as coisas deveriam ser. Que nunca deveriam deixado de ter sido.
Nós dois, lados opostos de uma moeda.
Olho pela janela, sentindo aquela sensação esquisita de despedida.
Nova York, lá vou eu.
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