Roseanne havia insistido em me levar para o aeroporto, estava um tanto protetora e preocupada depois que soube o que havia acontecido na noite passada. Nem mesmo quis me contar o que havia acontecido entre ela e o Sr. Park, na verdade, esquivou-se das minhas perguntas o dia todo, corando e dizendo:

"Ele apenas me trouxe para casa!"

Eu tinha quase certeza que algo havia acontecido, ela estava ligeiramente irritada quando voltou para casa, mas desisti de perguntar. Afinal, também não havia lhe contado completamente tudo o que havia acontecido na noite passada, e hora ou outra ela acabaria desembuchando.

Não quer mesmo que eu envie um carro?

Jungkook enviava aquela mesma mensagem pela terceira vez no dia. Ele é tão difícil!

Não, vou com Rose. Te encontro no aeroporto.

Respondi pela última vez e guardei o celular.

Eu sabia que estava o deixando irritado, ele não parece gostar quando as coisas saem do seu controle ou não são do jeito que ele quer. Porém daqui algumas horas estaremos em um vôo e passaremos uma semana juntos, então ele precisa saber que não estou disposta a seguir cem por cento das suas vontades, tenho vinte e seis anos e sei me cuidar. A noite de ontem foi apenas um deslize, um descuido. De pessoas preocupadas comigo já basta Roseanne e minha mãe.

Oh, Deus! Minha mãe surtaria se descobrisse.

— Pronta? — Minha amiga pergunta assim que pega as chaves do carro.

Engulo um suspiro.

— Pronta. — Respondo, mesmo não estando.

...

Assim que me despedi de Roseanne, segui meu caminho pelo movimentado aeroporto. Não estava atrasada, mas por um momento me perguntei como iria encontrar Jungkook no meio de tanta gente.

Antes que pegasse meu celular para lhe mandar um mensagem, ouvi meu nome sendo chamado.

— Srta. Manoban? — Um rapaz alto de cabelos lisos e escuros se aproximou, reconheci-o imediatamente, era um dos seguranças de Jungkook. — Sou SeokJin, mas me chame de Jin. — Se apresentou com rapidez, tirando as malas das minhas mãos sem que eu pedisse e ofereceu o braço.

— Vamos, Jungkook está a esperando.

Dei de ombros e aceitei a gentileza.

Jin não falou um "a" depois daquilo, provavelmente um dos requisitos para ser um segurança é que você não seja muito comunicativo. Bom, Jin faz isso muito bem.

Jungkook e seu outro segurança me esperavam pacientes no lounge do aeroporto, e atenção do meu chefe, antes dispersa, desviou-se completamente para mim.

— Lalisa. — Cumprimentou, mas dessa vez não ousou me tocar. Estava um tanto indiferente.

— Jungkook. — Cumprimentei de volta e ele apenas assentiu.

— Bem, vamos fazer o check in e acabar com isso. — Murmurou antes de passar por mim com seus óculos escuros.

Eu não sabia ao que ele se referia, mas não ousei as questionar quando percebi que seus seguranças se entreolharam em silêncio, como se soubessem exatamente o que acontecia.

Parece que voltamos a estaca zero.

...

— Jin vai cuidar de você. — Jungkook diz enquanto somos guiados por uma aeromoça até a primeira classe.

Arqueei as sobrancelhas antes de tirar meus óculos escuros e olhar para seu rosto impassível.

— O quê? — Perguntei, apenas para ter certeza do que tinha ouvido. — Não preciso de um segurança na minha cola. — Sussurro.

— Pouco me importa. — Deu de ombros.
— Não vou poder ficar de olho em você o tempo todo quando chegarmos a Paris, ele te levará para todos os lugares onde precisar ir quando eu não estiver.

— Tenho vinte e seis anos, sei me cuidar. — Protestei.

Finalmente ele se virou para mim, abaixou os óculos e olhou diretamente em meus olhos, sorrindo com ironia.

— É mesmo? Eu tenho trinta e dois. — Voltou a colocar os óculos. — E se estou dizendo que Jin vai ficar de olho em você, é porque ele irá. Não há nada que você possa fazer. Ponto final.

Ele se afastou completamente, sorrindo para a aeromoça assim que chegamos a nossas poltronas.

Queria explodir. Queria xingar aos quatro ventos. Porém me impediram antes que fizesse qualquer uma das duas coisas.

— Senhorita Manoban? — O gigante Jin chamou, apontando para poltrona ao seu lado.

Dei de ombros e sentei. Sendo isso um plano de Jungkook para me manter afastada ou não, estou ótima! Aliás, acho que mal poderia ficar as próximas sete horas sentada ao lado dele, tendo o perigo de ser demitida caso eu lhe dê outra lição de moral.

Cruzei os braços e de relance olhei para Jin. Não sei se ele percebe minha irritação, mas se percebe está pouco se importando.

É claro que não se importa! Está sendo pago para ficar na minha cola de agora em diante.

— Ele sempre é assim? — Acabo soltando, estressada. Jin me olha com dúvida por um instante, mas solta uma risadinha assim que parece entender.

Olha só! O gigante ri!

— Só com você.

...

O resto do voo era feito em silêncio, por isso tentei usar parte do meu tempo para trabalhar.

Jin disfarçava, mas tinha seus olhos em meu iPad toda vez que eu realizava um rabisco com a caneta. Acabei dando uma risadinha em meio a todo aquele silêncio.

— Está bom? — Inclinei-me para o lado, sussurrando e mostrando o esboço de um vestido para Jin, o mesmo corou, mas assentiu. — Acha que eu deveria destacar mais o decote?

O rosto pálido do homem ficou ainda mais vermelho.

— B-Bem, você é a estilista aqui. Eu sou apenas seu segurança.

Soltei uma risadinha e voltei para minha poltrona.

Jungkook, sentado do lado extremo ao meu no avião, me encarou por meros segundos antes desviar a atenção para o notebook apoiado em suas coxas. Passará a viagem inteira compenetrado e calado, e era provavelmente a primeira vez que eu o via olhando para algo que não fosse a tela do notebook.

Suspirei e voltei a atenção ao esboço no iPad.

Não sabia o que teria acontecido para ele estar tão irritado. Certo, eu quase lhe dei um tapa na noite passada e disse que nosso beijo foi uma burrada fenomenal, mas achei que as coisas estivessem esclarecidas entre nós quando ele me deixou em casa.

"Boa noite, anjo."

Suas palavras tinham sido tão doces. O que havia mudado tanto?

Volto a olhá-lo discretamente pelo canto do olho, analisando seu rosto concentrado. Ele provavelmente cansou de insistir, sabe que o que houve na noite passada foi um erro, então quer me evitar.

Isso é bom. Não é? Então por que me sinto tão decepcionada?

Olho para o meu desenho novamente, ficando frustrada quando percebo que perdi todo o foco e a inspiração. Bufando desligo o iPad e me inclino sobre a poltrona.

...

— Estamos nos preparando para o pouso, senhorita.

Despertei de um cochilo quando ouvi a voz de Jin. 

Olhei na direção de Jungkook, que ainda carregava aquela expressão sombria de quando deixamos Nova York. Prevejo que essa semana será insuportável se o o humor dele não melhorar.

Quando pousamos fomos guiados até o portão, e após uma hora na alfândega pegamos um carro e seguimos para o hotel.
Fiquei inebriada o caminho todo, olhando para rua e para as pessoas que ali circulavam, uma dose de serotonina corria por meu corpo e fazia minhas bochechas doerem pelo sorriso em meu rosto.

Quis dar gritinhos, mas me contive quando percebi que meu chefe me observava com curiosidade. Nada disso é novo para ele, então não faz ideia do que passa pela minha nesse momento, por isso se contenta em observar minhas reações. Ele sorri. Sorri pela primeira vez! Mas logo volta a carranca impassível ao notar que também o observo.

Na porta do hotel somos recebidos por um homem elegante e de penteado engraçado.

— Bienvenue¹. — O homem se curva enquanto outros levam nossas malas. Jungkook e ele começam a conversar, mas fico imersa da conversa quando analiso o hall do hotel, é tudo muito luxuoso e brilhante.

— Vamos?

Desperto com a voz de Jungkook em meu ouvido, e sozinhos, subimos de elevador até a cobertura. Do chão até o teto, o lugar é decorado por um carpete vermelho com detalhes dourados. Estou eufórica, não apenas pelo fato de estar em Paris, mas por estar em Paris com ele. Ainda não sei o que está havendo, o motivo dele estar distante, e nem sei se vou descobrir. Não importa. Estou aqui para trabalhar no final das contas.

— Aqui é seu quarto. — Sinalizou para uma porta branca, e girando a chave, abriu-a para mim.

O lugar era de tirar o fôlego, com uma enorme janela com  vista panorâmica da cidade luz, tendo destaque para Torre Eiffel. A suíte era, de longe, cinco vezes maior que o meu quarto no apartamento de Rose.

— Isso é tão bonito. — Murmurei diante da janela. Admito que estava um pouco emocionada, por isso tentei rapidamente me recompor.

— Que bom que gostou. — Jungkook respondeu, rouco.

Voltei a atenção a ele, que permanecia numa pose tensa e contida. Engoliu em seco, e se colocando atrás de mim,  passou a observar a cidade em silêncio.

Estava um pouco perturbada. Jungkook me deixava assim. Ele estava tão perto e tão distante ao mesmo tempo, estava ali, atrás de mim, bastava ele me tocar. Como havia feito na noite passada. Mas como? Ele agora mal olhava para mim.

Por que não me tocava?

— Você está liberada para descansar, se quiser. — Disse ele. — Não temos nenhuma programação até o fim da tarde. Os meus amigos e donos do hotel querem jantar conosco essa noite. — Olha para mim.
— Está bem pra você?

Apenas balancei a cabeça, analisando a intensidade em seus olhos, mas ele não me permitiu continuar ao se afastar completamente, caminhando em direção a porta.

— Você pode organizar sua agenda, não quero interferir em nada. Amanhã Jin estará te esperando no térreo e te levará onde desejar, não quero que leve isso como se ele estivesse te vigiando, está lá apenas para te proteger caso algo aconteça.

Balancei a cabeça novamente, segurando-me para não protestar.

— Bem, ótimo. Nos vemos mais tarde. — Anuncia antes de dar as costas e caminhar até porta.

Engolindo um suspiro, solto:

— Jungkook, sobre ontem...

— Esqueça. — Ele murmura, se virando com um sorriso amargurado. — Como você disse, foi uma burrada fenomenal.

Então fecha a porta, me deixando sozinha.

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¹| "Bem vindo"