
➤ Chapter Four
É complicado quando você percebe o quanto sua vida se tornou sem graça a ponto de fazer você se sentir inútil por não estar fazendo nada. Como se precisasse desesperadamente fazer algo para recompensar os minutos perdidos em coisas fúteis.
Mas hoje não! Hoje eu não sairei dessa casa ou abrirei meu notebook para trabalhar. Chega!
Também não pensarei sobre viagens, sobre projetos ou sobre um homem atrevido ao extremo, falando nele...
— Você não vai jogar isso no lixo, não! De jeito nenhum! — Minha amiga protesta, puxando meu novo buquê de rosas cor de rosa, o protegendo das minhas mãos. — Você é louca? Deve ter custado um olho da cara! — Me olha como se eu fosse louca.
— Caro ou não, não quero saber. — Dou as costas e vou para sala.
— Você pelo menos leu o cartão? — Ela grita enquanto me segue.
— Não, e nem pretendo ler.
Ela suspira desacreditada.
— Então eu leio! — Ameaçou. — E em voz alta!
Tensiono os ombros, indo até o buquê e tirando o cartão dali. Minha amiga sorri satisfeita quando começo a abri-lo e encontro novamente a caligrafia firme.
Sem beijo dessa vez.
Aperto a mandíbula e fecho o cartão. Ele pode estar arrependido, mas isso não muda o fato de que meus sentidos se perdem quando estamos juntos.
— O que diz? — Minha amiga me incentiva a dizer algo, curiosa.
Ela ficou chocada quando lhe contei sobre a proposta que o Sr. Jeon havia me feito, ainda mais quando falei sobre o atrevimento dissimulado do homem.
— Ele está pedindo desculpas, quer que eu repense na proposta e diz que vai ser profissional. — Balanço a cabeça e jogo o cartão em cima do sofá. — ...mas não muda nada.
Viro-me para subir as escadas, quase tropeçando em Coco, que descansa no meio dos degraus.
— Sério que vai recusar ir a Paris com um gostosão? — Minha amiga deve achar que eu sou realmente louca.
— O "gostosão" tem namorada, e eu não pretendo fazer a mesma coisa que Chris fez comigo, não sou uma vadiazinha.
Entro em meu quarto, deixando a porta aberta por saber que Rose ainda está atrás de mim, ela entra em seguida, agora sem o buquê nas mãos.
— Não quis dizer isso, sabe o quanto eu odeio aquele cara, mas ainda assim é uma oportunidade e tanto, você não pode desperdiçar essa chance, ele disse que vai ser profissional, não disse?
— Esse nem é o maior dos meus problemas. — Sento-me na cama, exasperada.
— Então qual é o problema?
— Eu sou o problema. — Cubro o rosto. — Ele é tão...eu quase não consigo me controlar na frente dele. Me sinto perdida, fico agindo como uma boba, isso quando não começo a gaguejar e me torno patética a ponto de sentir vergonha por ele. Eu fico toda quente quando ele me olha daquele jeito, ninguém nunca me olhou daquele jeito. — Olho para o teto. — Sinto que se eu for nessa viagem algo desastroso pode acontecer e que eu vou me arrepender muito. Ele é o meu chefe! Se algo der errado...
Minha amiga que até então só me escutava explode.
— Garota! Você vive muito no futuro, vamos pensar no agora, ok? Essa é uma chance única de você conhecer um país de uma perspectiva totalmente diferente daqui e poder trabalhar no meio de tudo aquilo! — Ela se joga ao meu lado, deitando-se e fazendo gestos com as mãos.
— Imagina: Você sentada de frente para Torre Eiffell, com aquele seu IPad, desenhando o mais novo sucesso da Luxen enterprise e da moda global, então você vê um sorveteiro passando e diz: "por que não?" então você se vira com um francês fajuto e...
Após isso não consigo parar de rir das fantasiações de Rose, que começa a rir junto comigo. Coco entra no quarto percebendo a gargalhada, porém ignora e vai se deitar em sua cama.
— Ah, Rose. — Limpo uma lágrima que escorre pelo canto do meu olho por conta das risadas. — Você é a melhor.
— É, eu sei. — Responde sincera. — Mas eu estou falando sério, não pense muito, ou pode acabar se arrependendo por perder a chance de fazer algo incrível. Não pense no Sr. Jeon ou na Luxen, pense em você pelo menos uma vez. — Ela se levanta.
— Garanto que não vai se arrepender se fazer pelo menos uma vez o que o seu coração pede e não o que sua cabeça dura insiste em mandar.
Depois disso ela sai do meu quarto, dando espaço para que o silêncio e eu possamos conversar.
Fazer o que meu coração pede pelo menos uma vez.
Qual a chance disso dar completamente errado?
Balanço a cabeça. Prometi que hoje não pensaria sobre isso, nem em viagem, nem no Sr. Jeon. E o melhor caminho para me esquecer disso é sair com a melhor amiga para jantar e beber um vinho caro.
Certamente é a minha escolha e solução.
...
— Boa noite, senhoritas. O que desejam? — Um jovem rapaz se aproxima da mesa com um bloquinho nas mãos.
Rose gesticula para que eu peça primeiro, já que ainda está indecisa sobre o que vai pedir.
Briciola é certamente um dos melhores restaurantes Italianos de Manhattam, além da grande variedade de pratos, o local parece nos levar a algum canto da Itália dos anos 1980, só que dentro de Nova York.
— Uma Minestrone e uma Caesar Salad, por favor.
O garoto de mais ou menos da idade de Lucy confirma com a cabeça enquanto anota, erguendo o olhar para Rose em seguida.
— E a senhorita?
— Uhm...eu quero um Fettuccine com cogumelos e óleo de trufas. Vinho Zinfadel e duas garrafas de água, por favor. — Ela fecha o cardápio com determinação e o entrega para o garoto, que anota tudo antes de sair. Sua atenção volta a mim. — Fiquei feliz que tenha tomado a iniciativa pra sair de casa dessa vez, eu estava achando que deveria sair puxando você pelos cabelos.
Dou um meio sorriso.
— Estava precisando esfriar a cabeça.
Minha amiga sorri orgulhosa diante da minha declaração.
Não é uma novidade minha adoração pelo trabalho. Rose se preocupava com isso quando nos conhecemos, mas depois de um tempo começou a "aceitar". Afinal, sabia que nada do que ela dissesse me faria parar, a indústria da moda é algo no qual você tem que lutar para permanecer, ao contrário é chutado e esquecido.
Não é questão de apenas talento, é esforço.
Estilistas são artistas, depende do nosso esforço sermos reconhecidos ou cairmos no esquecimento.
O mesmo rapaz que nos atendeu volta com duas taças, as enchendo com vinho até a metade e então voltando a se afastar para atender outras mesas. Pego a minha desesperadamente para dar um gole.
Delícia!
Minha amiga ri com o meu desespero, dando um breve gole em seu vinho.
— Não lembro da última vez que bebi algo tão bom.
— Você realmente precisava de um bom álcool, amiga. Sua pele até corou!
Caímos na risada para depois voltarmos a uma conversa mais calma, tentando se esquivar de assuntos sobre trabalho, homens ou qualquer coisa que nos deixasse de cabelo em pé.
Diferente de mim, Rose era do tipo liberal. Não tinha preferências no quesito amoroso, sendo que desde que nos conhecemos — aproximadamente três anos — conheci cerca de seis namorados. Todos um tanto diferentes um do outro, o último em especial era Loren, o cara da academia que tinha um bumbum bonito, mas que a cada cinco palavras que dizia, quatro eram de uma língua que eu desconhecia totalmente.
— Uh! — Ela parecia ter se lembrado de algo engraçado, pois quase se engasgou e cuspiu o vinho quando tentou rir. — Você não faz ideia do que aconteceu ontem, eu só não me desmanchei de rir porque Jennie parecia muito brava, você também estaria.
— Taehyung de novo, não é? — Disse sem muita cerimônia, Rose riu.
— Pois é. Te contei que uma nova garota entrou no setor de design gráfico? Ela até que é bem legal. Aquele galinha do Taehyung não perdeu tempo, chegou cantando a menina e fazendo gracinhas enquanto a seguia por todos os lados, ela caiu tão rápido naquele poço de arrogância e simpatia disfarçada do Taehyung que eu senti pena da coitadinha.
Taehyung era um galinha e isso não era um segredo, todos da empresa sabiam que o fotógrafo tinha algo especial que encantava qualquer um, inclusive as modelos.
— Jennie passou por lá e viu tudo, ficou uma fera. Fez um discurso enorme sobre comportamentos inadequados em ambiente de trabalho e depois pediu para que o Taehyung fosse até a sala dela. Provavelmente ele não gostou nada do que ouviu, pois nem quis me contar. Vamos concordar que ele mereceu.
Os atritos entre Jennie e Taehyung se tornavam cada vez mais comuns, Jennie não suportava Taehyung e Taehyung não podia ouvir o nome de Jennie sem revirar os olhos. Ainda não sei como aquele galinha não foi demitido.
— As vezes acho que Jennie é um anjo por não passar o caso do Taehyung para o RH e chutar a bunda dele de uma vez, ele deveria agradecer a ela.
Minha amiga ri com ironia.
— Você sabe, ele é orgulhoso demais para fazer isso.
A comida chega momentos depois, mas continuamos a conversa no meio de intervalos entre engolir, mastigar e beber.
— Lali. — Ela me chama, um tom meio agudo e confuso.
— Uhm? — Murmuro levando a colher a boca, concentrada no meu Minestrone.
— Você conhece aquele cara que tá olhando pra cá? Especificamente pra você?
Ergo o olhar para ela e arqueio as sobrancelhas percebendo que seu olhar está concentrado em um ponto acima do meu ombro. Não tento ser discreta ao olhar para trás e ver o que ela tanto olha.
Engulo com dificuldade ao encontrar os olhos negros do Sr. Jeon a alguns metros de mim, na porta do restaurante enquanto seu primo, Sr. Park, conversa com um garçom que os guia para uma mesa reservada a poucos metros da nossa.
Ai, não!
— Lali? — Minha amiga repete e eu volto para frente, ela parece captar algo quando vê minha expressão, pois seus olhos arregalam também. — Não! — Ela diz chocada, voltando a olhar para o ponto atrás de mim. — Aquele é o nosso chefe gostosão?
— Rose! — Bato na sua mão discretamente em cima da mesa e ela recua fazendo uma careta.
— E não é que ele é realmente gostosão? Quem é aquele loiro delícia com ele? Ai, meu Deus, Lali! Ele está vindo pra cá!
Merda!
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