
➤ Chapter Eight
Meu alarme nem tocou e eu já estou totalmente desperta. Não dormi nada. Com um suspiro longo deixo minha cama e vou para o banheiro tomar um banho. Agora que uma viagem programada para menos de uma semana foi encaixada na minha agenda não posso perder tempo.
Pego meu vestido lápis cor cereja no guarda roupas e calço meus saltos com dificuldade enquanto sinto meu estômago embrulhar. Agarro minha bolsa em cima da cama e
praticamente vôo em direção as escadas.
— Estou indo, você vem? — Grito para Rose, que surge da cozinha ainda de pijamas enquanto toma seu achocolatado matinal.
— Não, meu irmão deixou o meu carro na garagem ontem a noite. Aquele bundão riscou e amassou a lataria, mas ele não perde por esperar. Nunca mais vou emprestar o meu carro pra ninguém! — Bufa, mas sorri com doçura ao olhar para mim. — Apenas pra você, amiguinha.
— Açúcar não está te fazendo bem, te vejo mais tarde. — Jogo-lhe um beijo no ar e corro em direção a saída.
Checo meus e-mails enquanto desço pelo elevador, já sentindo que o dia será longo.
...
— Gatinha, você vai cavar um buraco no chão e cair do décimo terceiro andar se continuar andando em círculos. Está começando a me deixar tonto. — Taehyung me segue com o olhar enquanto se senta na minha mesa.
Estou ansiosa. Na verdade, estou a ponto de explodir.
Ando em círculos por minha sala, contendo a vontade de pegar um cigarro na minha bolsa. Os eventos da noite passada não param de invadir minha mente, as rédeas da situação pareciam ter saído do meu controle.
Caminho com cautela até o sofá da sala e tento me acalmar. Esfrego as têmporas querendo esquecer, mas não consigo.
Não consigo parar de pensar na noite passada, no quanto Sr. Jeon foi doce, gentil e ao mesmo tempo um tanto provocante. Não consigo parar de pensar que daqui uma semana estarei fazendo uma viagem ao lado dele, mesmo sabendo como meus sentidos se comportam em sua presença.
Isso me faz questionar diversas vezes se eu fiz a escolha certa.
Ele não apareceu na empresa mais cedo, mas todos já haviam sido devidamente avisados sobre a nossa viajem e pareciam tão animados quanto eu deveria estar.
Agora além do fato de saber que meu chefe e eu faríamos uma viagem sozinhos, sabia que toda minha equipe estaria aqui em Nova York, esperando que eu voltasse com algo único e esplêndido em mãos. Todas as esperanças e expectativas estão sendo depositadas sobre mim, mas pela primeira vez não sei como lidar com isso.
— Acho que vou ficar louca. — Admito exasperada e Taehyung vem até mim, cauteloso.
— E eu acho que você está exagerando um pouco. — Se senta de frente para mim.
— Você é muito esquentadinha, respira um pouco, você vai arrasar. — Me encoraja
oferecendo seu sorriso quadrado, não aquele malicioso com segundas intenções, mas sim um cheio de doçura e sinceridade. — Estou orgulhoso de você, sei que vai dar o seu melhor e não vai nos decepcionar.
Consigo sorrir pela primeira vez no dia sem sentir aquela tensão que faz meu estômago embrulhar. Lanço meus braços em torno no pescoço de Taehyung, que mesmo com a
posição um tanto desconfortável me abraça de volta.
— Você é o meu galinha favorito. — Digo em seu pescoço, rindo ele quando cutuca minhas costelas.
— E você é minha gatinha favorita.
Consigo ouvir Lucy protestando do lado de fora da sala antes que a porta seja aberta sem nenhum aviso. Afasto-me de Taehyung, vendo meu chefe parado na porta enquanto olha para o homem ao meu lado, não dirigindo seu olhar para meu rosto nenhuma vez sequer.
Lucy vem logo atrás, desesperada. Olha para mim, quase como se pedisse ajuda e desculpas ao mesmo tempo.
— Que surpresa, Sr. Jeon. — Corto a tensão no ar assim que me levanto do sofá e arrumo a barra da minha saia.
Ele finalmente olha para mim, mas seu olhar é duro.
— Por que seria uma surpresa? — Diz ríspido.
Taehyung limpa a garganta.
— Eu vou indo. Um bom dia pra você, Sr. Jeon. — Meu amigo se apressa para sair da minha sala enquanto meu chefe o acompanha com o olhar.
Lucy que até então estava estática na porta diz que trará água, e então fecha a porta, nos deixando sozinhos.
— Quem é ele? — Meu chefe questiona, voltando a olhar para mim. — O que ele estava fazendo aqui, sozinho com você?
Minha expressão demonstra que estou desacreditada com suas perguntas indiretamente sugestivas.
— Ele é meu fotógrafo, faz parte da minha equipe. Estávamos apenas conversando. — Ando até minha mesa, sentindo os olhos intensos de Jeon acompanhando meus passos.
— O abraço fazia parte da conversa? — Seu tom denuncia irritação, mas ele murcha imediatamente assim que levanto meu olhar na altura do seu.
— Seja lá o que estiver sugerindo, não é como seu eu precisasse te notificar sobre todas as minhas relações com os homens da empresa. — Sento-me em minha cadeira e cruzo as pernas. — Acho que já estabeleci que não me envolvo com pessoas dentro do âmbito de trabalho.
Ele leva a mão até a nuca e desvia o olhar para outro canto da sala, como se estivesse frustrado.
— Eu sei, não quis dizer isso...eu fiquei apenas... surpreso. — Solta uma lufada de ar, voltando a olhar para mim. — Desculpe, não quis ofender você. Sei que você jamais permitiria isso.
Ele parece...decepcionado?
— Pois é. — Murmuro, ainda estou um pouco irritada. — Não te vi pela manhã, o que veio fazer aqui? — Pergunto impaciente, contendo meu tom para não soar grossa.
— Na verdade, iria pedir para que alguém resolvesse a parte da documentação e passaporte com você, mas queria te ver então...estou aqui.
Um pouco da raiva dissipa. Ele queria me ver?
— Bem, Lucy tem acesso a todos os documentos. Sugiro que fale com ela.
— Sim, eu deveria saber. — Dá um meio sorriso, olhando para os próprios sapatos e depois para o relógio em seu pulso. — Tem planos para o almoço? — Pergunta com interesse. Não se parece nem um pouco com o homem que entrou em minha sala a minutos.
— Bem, agora com a viagem estou tendo que adiar algumas coisas, inclusive o almoço, mas obrigada pelo convite. — Agradeço, mas ele não parece se contentar com a resposta.
Ouço batidas na porta e em seguida Lucy entra com uma bandeja e dois copos de água, deixa-os em cima da mesa e se retira em silêncio. Meu chefe me olha.
— Não deveria pular as pausas para comer.
— Não estou pulando. — Respondo. — Apenas adiando.
— Continua sendo péssimo. — Dá de ombros e coloca as mãos nos bolsos.
— Vamos comer, ou vou ser obrigado a fazer que eu adoraria fazer.
O sorriso que se inclina no canto de seus lábios tem uma dose de malícia. E isso me deixa louca.
— Talvez numa próxima. — Levanto-me da cadeira e ando até ele, que me espera em silêncio enquanto me observa. — Agora, se me ser licença...preciso trabalhar, senhor.
O peso de seu olhar em meu corpo me deixa quente. É tão simples para ele. Basta um olhar para ele me deixar fervendo.
— Me chame de Jungkook. — Desta vez percebo que não é um pedido. Ele retoma a fala após alguns meros segundos em silêncio: - Vou estar fora durante os próximos cinco dias, preciso resolver algumas coisas, mas volto a tempo para o lançamento da coleção. Domingo a noite estaremos voando a Paris.
Antes que sequer possa concordar com algo ele pega minha mão e entrelaça meus dedos com os seus, deixando um terno beijo em minha palma.
Acho que poderia parar no teto.
— Vou sentir saudades. Te vejo no sábado. — Sussurra me lançando um sorriso caloroso.
Me solta, dá as costas e simplesmente vai embora.
Fico olhando em direção a porta mesmo já tendo um tempo desde que ele se foi. Levo minha mão até os lábios, que assim como minha pele formiga. Ainda sinto seu perfume fresco na sala, junto a mim.
...
O resto do dia se passou como um borrão para mim. O apartamento estava completamente vazio quando cheguei, exceto por Coco e seus miados que imploravam por uma lata de sardinhas.
Fui a cozinha procurar alguma coisa, meu estômago também roncava. Revirei os armários, mas infelizmente - ou felizmente para os meus órgãos - não havia nada instantâneo ou algo que fosse feito em menos de cinco minutos. Olhei em direção a geladeira, notando um
bilhete preso contra a porta.
Olho em direção ao relógio na parede, os ponteiros marcam onze horas em ponto.
Não foi dessa vez, Rosie.
Esquento a tal lasanha e meu estômago ronca mais uma vez ao cheiro de molho e queijo dispersar no ar quando tiro-a do micro-ondas.
Olho para baixo, vendo Coco miar de um jeito longo e agudo enquanto me olha com seus enormes olhos azuis. Faço uma cara boba.
— Um minutinho, meu bebê.
Coco me ignora, saindo andando em direção a sala e eu acabo soltando uma risada por meu comportamento com minha gata. Coco é um dos seres que consegue fazer meu coração derreter mesmo quando está me ignorando ou querendo me arranhar. É apenas uma bebê rabugenta.
Coloco a ração para gatos em seu pote e quando ela vê que não tem outra opção ao não ser aquela, acaba comendo e cessando os miados.
Volto a atenção a minha lasanha e estômago roncante, mas quando estou prestes a dar a primeira garfada, ali mesmo em cima do balcão da cozinha, meu celular toca.
Mãe
Atendo a chamada.
— Lisa? — Sua voz é aguda, mas ainda assim, relaxante.
— Oi, mãe.
— Lisa? Lalisa? Marco, não estou escutando nada. Estou usando do jeito certo? Lisa?
— Estou aqui mãe. Está me ouvindo?
— Essa coisa deve estar quebrada, Marco. Não estou escutando nada! Lisa!
Ouço murmúrios ao fundo e então a voz de meu pai.
— Alô, Lisa?
— Oi, pai! — Grito e ele solta um chiado.
— Não precisa gritar, porcaria.
— Mamãe não estava ouvindo.
— O celular estava de ponta cabeça, mulher maluca.
Ouço minha mãe rir e um som de um tapa em seguida, é sem dúvida ela batendo no ombro do meu pai.
— Ela está aí? Me dê isso.
Alguns ruídos depois ela está de volta a chamada.
— Lisa? Está ai?
— Sim!
— Ah, sim. Agora está bem melhor. Como vai?
— Bem. Estou bem, mãe. E você? — Acabo sorrindo, mamãe já tem cinquenta anos e é
uma verdadeitá tecnófoba, e me faz rir saber que ela está tentando ser moderna para poder falar melhor comigo.
— Sim, tudo bem. Adivinhe? Temos ótimas notícias. — Ela não me dá tempo para
responder. — Seu irmão conseguiu férias prolongadas e vai vir nos visitar!
Fico animada. Lucas não pode nos visitar com frequência por ser militar, a última vez que nos vimos foi quando ele veio a Nova York a trabalho, mas não tivemos muito tempo juntos já que ele teve que rapidamente voltar para sua base em Nevada.
— Quando? — Pergunto.
— Domingo que vem. Não é ótimo?
— E quais são os planos dele? — Pressiono.
— Ele chega por Harrisburgo e vem direto para Pittsburgo para passar a semana com a gente, depois vai para Nova York antes de voltar. Por que não vem com ele? Você deveria vir também, não a vemos a semanas.
Por um momento me sinto péssima. Não vejo meus pais a mais de dois meses.
— Estou trabalhando tanto, mamãe. O lançamento é esse final de semana e na semana que vem... — Paro no meio da frase, sentindo que já deveria ter avisado minha mãe sobre isso a muito tempo.
— O que tem na semana que vem?
— Tenho uma viajem a trabalho. — Tusso.
— Ah, é? Que legal, filha! Para onde você vai?
Suspiro.
— Vou a Paris, mamãe.
A linha fica em silêncio por alguns segundos. Então minha mãe retoma a fala após tossir.
— Paris? Nossa, é bem longe. Né? — Ela brinca, mas sei que está surpresa. — O que irá fazer lá? Vai sozinha? Se lembra um pouco das aulas de francês que você tinha quando era pequena? Você ficava tão fofa, meu amor!
— Mãe...eu não vou sozinha, meu chefe irá me levar. Minha equipe quer que eu elabore um projeto baseado na moda parisiense. É apenas uma semana. E não, meu francês não era fofo.
— Era sim! Não é, Marco?
Ouço meu pai gritando "sim!" ao fundo e reviro os olhos.
— Estou feliz por você, querida. Só tome cuidado com o seu chefe, aquele dinamarquês, acho ele muito saidinho. Você é uma boa moça!
— Não se preocupe, mãe. É o outro chefe que irá me levar, ele é presidente da Luxen, o nome dele é Jungkook. — Dizer o nome dele ainda é muito estranho, mas terei que me acostumar.
— Jungkook? Que nome diferente. — Ela dá uma risadinha. — Está bem, estou ansiosa
para conhecê-lo. Marco, tome cuidado com a panela! Você está se alimentando bem, filha?
Olho para o meu prato de lasanha. Acho que já deve ter esfriado.
— Sim, mãe. Estou bem.
— Ótimo. Preciso desligar agora, você deveria ir descansar, está muito tarde.
— Ok, mãe. Te ligo semana que vem.
— Se divirta no lançamento e na sua viagem, meu bebê. — Ela ordena.
— Está bem, mãe. Tchau.
Coloco a lasanha novamente para esquentar enquanto penso sobre meus pais. Mesmo a quilômetros de distância, falar com minha mãe pelo celular já o suficiente para me reconfortar, mesmo que ainda sinta uma saudade louca dela e do papai.
Relembro a frase de minha mãe sobre Russel e acabo dando uma risada. Acho que não é com meu chefe dinamarquês que ela deveria se preocupar.
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