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💀 𓄹 ࣪˖⁰⁵| 𝑷𝑶𝑹 𝑺𝑼𝑨 𝑷𝑹𝑶́𝑷𝑹𝑰𝑨 𝑴𝑨̃𝑶, 𝑪𝑹𝑰𝑨𝑵𝑪̧𝑨

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𝑯𝑨𝑽𝑰𝑨 𝑼𝑴𝑨 𝑯𝑰𝑺𝑻𝑶́𝑹𝑰𝑨 𝑭𝑨𝑴𝑶𝑺𝑨 𝑸𝑼𝑬 𝑹𝑶𝑫𝑬𝑨𝑽𝑨  a figura da águia, uma majestosa ave de rapina, com garras poderosas capazes de levantar até mesmo alguns mamíferos do chão. Em suas lendas há quem diga que quando a águia está em seus últimos dias de vida quebra seu bico para que este se renove mais forte e mais poderoso, aguentando mais décadas pela frente. Jon Arryn bem sabia que essa superstição não passava de um simples mito. Tão infundado quanto a possibilidade dos dragões nascerem novamente. Ele mesmo já tinha tido uma em sua tenra mocidade, a ave morrera tão velha quanto ele se encontrava agora. Contudo, bem ele queria que tal conto fosse verdade, assim poderia retornar a seus tempos de glória, agora não passava de um velho cujo as rugas traçavam um mapa de uma vida dedicada a coroa. 

Estando em sua posição, era quase difícil viver. Jon tinha sua mente em movimento a todo instante, sempre pensava, sempre tinha de estar um passo à frente de todos. Os ratos estavam por toda parte. Não havia ninguém desprovido de sua desconfiança, o Pequeno Conselho, Mindinho, a Aranha,  a Rainha… mas tinha que excluir alguns nomes de sua lista, cuja lealdade ainda tinha algum valor para eles, homens como Stannis e Barristan. Em momentos tão perigosos como aquele, o velho senhor do vale se pegava pensando em Eddard Stark, seu outro protegido, tão amado quanto Robert. Aqueles meninos foram a alegria do Vale de Arryn, até o Rei Louco pedir suas cabeças como punição pela injusta acusação de traição por parte do pai e irmão de Ned. 

Dos três, Eddard com certeza fora abençoado, talvez os velhos deuses do norte tivessem mais misericórdia do que os novos trazidos pelos Ândalos. Com certeza vivia em paz em Winterfell, rodeado por suas crianças e sua bela esposa, a senhora Catelyn e não podia se esquecer da sombra de seu famoso bastardo, a mancha na honra do Lorde de Winterfell e que também carregava seu nome. Ele esfregou os olhos na tentativa de espantar o sono que o acometia. Céus… ele apenas lia e relia papéis, tomava decisões e aguentava as dores de se sentar no Trono de Ferro na ausência de Robert… como ele queria estar em seu Ninho da Águia. Não havia céu mais bonito em Westeros do que aquele assistido da magnífica vista do Vale. 

Mesmo deitado, Jon trabalhava até bem tarde da madrugada, o chá que Lysa, sua esposa, havia preparado há muito tinha acabado, mas que o manteve desperto durante a noite. Sob a luz trêmula de uma vela, estudava os relatórios dos informantes de Varys e debruçava-se sob os livros de contas de Mindinho, até que as chamas se desfocassem e seus olhos, já não tão aguçados, começassem a doer. Assim que pegou o relatório de Pycelle a respeito do estado de Robert, seu cérebro foi reavivado e por um instante Jon teve foco novamente. Ele estava lá na visita, seu nome escrito no pergaminho confirmava aquela memória. Também havia sido o dia em que Delilah descobrira que a doença do rei era causada por um envenenamento. Para seu infortúnio, o rosto do escudeiro que deu o leite de papoula para o rei não passava de um borrão. 

Jon ergueu os olhos dos papéis quando Noah Royce pediu para entrar, a Mão do Rei permitiu sua passagem com a voz rouca. 

— Senhor, a irmã silenciosa já está em seus aposentos. 

Jon Arryn o encarou brevemente e com um gesto de mão pediu que o menino se aproximasse. 

— Reconhece este nome, filho ? — Perguntou, os olhos estreitos forçando-se a enxergar alguma coisa. 

Noah se inclinou para o pergaminho, seus olhos mais vigorosos e vívidos da juventude passeou pelo nome da Rainha, do Duende e da própria Mão, até um cujo a face para ele pudesse ser lembrada. 

— Eu o conheço! — Exclamou. — Rick… não tem berço nobre, nós o chamamos de Ponta Cega. 

— Que belo apelido, hum… — Respondeu, havia um tom de reprovação, Noah sorriu sem graça. 

— Ele luta muito mal, é por isso… — Sua face adquiriu um semblante pensativo. — Faz um tempo que não o vejo.

— Faz é… — Jon Arryn bocejou. — Desculpe, filho, mas o que veio fazer aqui ? 

Noah Royce vacilou, arregalando os olhos em inocência. 

— A irmã silenciosa… tinha me pedido para avisar quando estivesse na Torre.

A face de Jon se expandiu, surpreso por não ter prestado atenção nas palavras do rapaz. Meus dias estão tão longos assim ? 

— Ah sim… vamos, me ajude a levantar. 

Esforçou-se para ficar de pé, apoiando-se na coluna da cama, Noah o ajudou a vestir a manta e o esperou enquanto lavava o rosto com um pouco de água morna tirada da bacia que estava em uma mesinha próxima a janela.

Naquela altura o lugar mais seguro da Fortaleza Vermelha para Jon agir, e ainda assim desconfiado, era a Torre da Mão. Noah e Jon desciam a escada em caracol, indo em direção a ala onde alguns de seus criados dormiam. Durante o trajeto, o rapaz contava com a voz baixa sobre os acontecimentos do dia. Seu relato a respeito da visita de Cersei ao leito de Robert o fez estremecer. Gentilmente o menino bateu na porta de Delilah, ambos esperaram um bom tempo quando a moça, envolta de seu véu e as roupas de sempre, contudo vestidas às pressas, abriu a porta. 

— Cersei esteve lá ?! — Exclamou Jon Arryn quando enfim entrou, Delilah parecia confusa, mas confirmou a história de Noah com a cabeça. 

O velho homem suspirou profundamente, estava tenso e era claro que o cansaço estava pesado demais para seu velho corpo. 

— Ela está desconfiando. — Concluiu. — Já deu a Robert o antídoto ? 

Delilah mais uma vez afirmou com firmeza. O homem naquele instante tinha assumido um semblante mais sério, pensativo sobre os próximos passos que deveria tomar. 

— Terei que ficar uns dias sem visitá-lo, Delilah. — Comentou ele. — Todos sabem que amo Robert como filho, mas isso não pode camuflar suspeitas… 

Ele vira o medo relampejar em seus olhos e imediatamente com um gesto de sua mão, pediu para que o garoto que o acompanhara chegasse mais perto. 

— Este é Noah, sobrinho de Nestor Royce a quem confiei o Vale.  — Contou com a voz baixa, segredando. — Eu mesmo o escolhi como escudeiro de Robert, ele nunca gostou do garoto Lannister que Cersei queria para ocupar o cargo, Lancel como o chamam. 

— Milady, faço o que for preciso para proteger o rei. — Assegurou Noah, os olhos brilhavam com todo o anseio da vitória tão presente nos garotos verdes. 

Ele sorriu para Delilah, a qual não retribuiu com nenhuma afeição. Jon Arryn sempre defendeu a ideia de que Robert deveria receber um tratamento alternativo, o que Pycelle sempre deixara claro que tal coisa não era necessária. E se soubessem que Robert estava tendo uma certa melhora, ainda que pequena, então o agente que o envenanara poderia agir novamente, com mais cautela e indubitavelmente mais mortal. 

— Por enquanto precisamos ser mais cuidadosos. Robert vai melhorar e com isso toda a sua impulsividade retornará junto… — Ele ponderou por um momento no temperamento do rei. — Se ele descobrir nossa intervenção, os riscos são altos para todos nós. 

— Como manteremos isso em segredo ? — Perguntou Noah, Jon Arryn pousou a mão enrugada em seu ombro. 

— O máximo que conseguirmos, Robert sempre agiu na própria lei. Terei de impor a ele a minha. 

Jon, vendo a confiança nos olhos de Noah, pareceu relaxar um pouco. Mas ainda havia algo mais, e virou-se novamente para Delilah, os olhos cheios de uma certeza que ele sabia ser crucial.

— Cersei é esperta, sei muito bem disso. É como uma verdadeira leoa, fareja fraquezas, principalmente quando se trata de seus filhos. — Ele fez uma pausa. — Qualquer deslize pode trazer consequências diferentes para cada um… 

Jon começou a tossir deliberadamente, sua garganta ficou vermelha. Ele apontou para uma jarra de água e Noah prontamente serviu uma taça generosa. Jon bebeu tudo em um único gole. Ele tossiu em reação e pediu que enchesse novamente a taça. 

— Aconteça o que acontecer… — A voz saia ferida, como se o pobre Jon tivesse engolido mil espinhos. — Mantenha-se discreta. E lembre-se: ao menor sinal de que algo está errado, nós cessamos. Nada vale a sua segurança. 

Noah tinha os olhos atentos com uma leve expressão de dúvida. 

— E se… milorde… — começou ele, medindo as palavras. — Se a rainha vier a confrontar o rei diretamente ? 

— Então, garoto, caberá a você distraí-lo, mantê-lo afastado de qualquer confusão, mesmo que temporária. — Seus olhos foram até a irmã silenciosa novamente. — E a você, Delilah, caberá ocultar nossa intervenção com o máximo de cautela. A sobrevivência de Robert depende de nossa habilidade de caminhar na sombra…

Delilah confirmou com um aceno. 

— Agora, precisamos fazer a rainha perder o interesse em você. — Disse para o escudeiro. 

— É difícil… Ela... pede muito, meu senhor. Sempre me cerca com questionamentos, sorrisos e logo ela explode em raiva, e quase sempre me chama para assuntos que não dizem respeito ao meu dever. — Sua voz saiu em um tom de tensão contida. — Tenho receio de que, se afastá-la completamente, ela desconfie mais ainda.

— Então faça tudo o que ela lhe mandar e diga o que ela quer ouvir. Mantenha-se alheio, finja-se de tolo se puder, não se enrede demais em seus jogos. Se mantivermos assim, temos uma chance até que Robert retorne a seu posto.

Delilah observava tudo em silêncio. Jon tinha uma grande preocupação com aquela criança, afinal era sobrinho do segundo homem mais poderoso do Vale, mesmo que ele fosse descoberto seu nome o salvaria. 

— Acima de tudo, lembrem-se de que o silêncio também é uma resposta. 

Ele bebeu o líquido e acenou para Delilah. 

— Vamos Noah, a noite é uma criança que já envelhece, você tem de me ajudar com uma coisa. 

Antes que Jon Arryn pudesse alcançar a porta, Delilah se adiantou e correu para a mesa pegando papel e caneta. Fez um desenho, mas a tinta da pena manchou parte da folha, fazendo-a deslizar a mão para a parte limpa. A ponta da pena correu frenética sobre o papel, moldando o desenho da coroa do Alto Septão, pontudos cristais que bebiam a luz do sol, reluzentes como estrelas. Ao lado desenhou a coroa da rainha. A voz misteriosa a tinha mencionado, não ? De qualquer forma, sua Alta Santidade e a Coroa estavam interligadas de alguma maneira. Virando-se, entregou para Jon.

O homem a olhou sem entender, Delilah deu um passo à frente, os olhos fixos nos dele, cheios de determinação. Com um gesto rápido, ela apontou para a coroa do Alto Septão e depois para a Coroa Real, entrelaçando os dedos para indicar a ligação entre eles.

Jon Arryn ficou tenso encarando o desenho. 

— Sabe de mais alguma coisa ? — Ela negou com a cabeça. 

Ele suspirou, naquele momento parecia tão pesado, temeu que seus ossos fossem partir-se ali mesmo. 

— Obrigado, Delilah, durma um pouco… Que os sete a protejam, menina. 

Quando se retiraram do quarto, Jon Arryn deu instruções detalhadas do que Noah deveria fazer. 

— Voltarei para meus aposentos, preciso que informe a Sor Barristan que eu convoco para uma audiência particular. 

Noah assentiu prontamente.

— Serei rápido, milorde. 

Noah se retirou a passos rápidos, como uma toupeira que rasteja por debaixo da terra. O menino era uma bagunça de cabelos espessos e castanhos, olhos de um tom profundo de ébano e uma protuberante cara de cavalo. Não era um rapaz de arrancar suspiros das donzelas daquela região quente e pouco interessadas em se tornarem a dama do filho de um segundo filho e morfarem numa terra montanhosa. Ninguém o notava, e para aquela missão perigosa a qual Jon Arryn o confiava, era a sua principal vantagem.

Jon Arryn retornou para o quarto, o céu por detrás da janela já tinha as primeiras cores da aurora. Pobre homem, ansiava por algumas horas de sono antes de mais um de seus fatídicos dias iniciar. Insistindo em sua vigília, pegou novamente o último relatório de Pycelle a respeito do quadro de Robert, a qual concluía que o rei estava em seus últimos momentos de vida. Mal tinha começado a ler quando Barristan chegou. Esforçando-se para permitir sua entrada, a Mão do Rei pôs-se em pé e cumprimentou o ousado e mais famoso cavaleiro de Westeros. 

— A que devo a honra, milorde ? — Barristan perguntou. 

Jon entregou o pedaço de pergaminho e não esperou o cavaleiro ler para lhe explicar a situação. 

— Este é o último relatório de Pycelle. — Começou, voltando a se sentar. Urrou cansado quando se acomodou. — Eu estava presente nessa última visita, como pode ver ele mesmo escreveu meu nome… 

Os olhos de Barristan percorriam a caligrafia do Grande Meistre, enquanto os ouvidos estavam atentos às palavras de Jon. 

— Lembro-me que havia um escudeiro que o acompanhava dando a Robert uma boa dose de leite de papoula, mas havia sobrado uma pequena quantidade, Delilah… 

— Quem é essa ? — Interrompeu o cavaleiro, a língua de Jon vacilou. 

— É nossa principal aliada no momento, Sor… 

— Ela falou seu nome ? 

— Escreveu, Sor, escreveu… não quebrou o juramento. 

Barristan enrolou o pergaminho e ergueu uma sobrancelha, seu silêncio foi o indicativo para que Jon continuasse. 

— Havia veneno naquele copo. Ela comprovou isso. 

— E o senhor suspeita de Pycelle ?

— Quase… não tenho um culpado certo, mas acredito que o escudeiro que o acompanhava é uma pista para chegar em alguma coisa. O chamam de Rick, Ponta Cega. Parece que não era bom com espadas. 

Barristan assentiu com a cabeça. 

— Quero que você vá atrás desse rapaz. Ele pode ter algumas respostas. 

Barristan ficou em silêncio por um instante, os olhos baixos, pensativo. Por fim, ergueu o olhar, decidido.

— Nunca pensei que chegaríamos a isso, milorde. — Sua voz estava grave, quase amarga. — Mas, meu juramento é com o rei e se isso ajudar a salvá-lo, eu o farei sem hesitar. 

Ele repousou o pergaminho na mesinha de Jon Arryn junto de vários outros. 

— Encontrarei esse escudeiro, Lorde Arryn.  

Barristan deu um último aceno e se virou em direção a porta. Mas antes de sair, seus passos vacilaram. Havia um peso em seus ombros que não podia ignorar, como se carregasse uma responsabilidade que ultrapassava o mero cumprimento do dever. 

— Ela está salvando o rei, mas os deuses... — Sua voz saiu como um murmúrio, um certo remorso enfeitava seu tom, quase palpável. — Eles não deixam que interferências passem despercebidas. 

Jon se recostou, o olhar sério, mas sereno. 

— Nosso deus possui sete faces. Sem dúvidas a Mãe e a Donzela rogam por sua segurança. 

Barristan assentiu, embora sem convicção completa. 

— Mas o Estranho, aquele que ela serve, tem sua própria justiça. E não costuma ter a mesma complacência das mulheres. 

O cavaleiro trocou um último olhar com Jon, algo não dito, mas compreendido entre os dois, antes de desaparecer no corredor, deixando atrás de si o silêncio preenchido pelo canto dos pássaros que anunciavam a alvorada. A Mão do Rei estava arriscando muito colocando uma irmã silenciosa no meio de tudo isso, um jogo onde ela não passava de um simples peão. Delilah era uma figura frágil em meio ao tumulto brutal da corte, onde todos tinham algum tipo de poder para se proteger. Uma teia fina, onde alianças vinham e iam, mudando como o vento que espreitava a cada curva. O mais leve deslize não comprometeria apenas a segurança do rei, mas a própria vida dela. Uma sensação azeda de culpa, ainda que fosse justificada, pesava em sua consciência enquanto encarava o vazio deixado pelo cavaleiro, ciente que cada uma de suas decisões, implicaria na vida de cada um que estivesse envolvido. 

Após a visita de Jon Arryn, não demorou para que amanhecesse e Delilah caminhasse até a Torre do Rei. Sua face estava mais pálida que o habitual, e com certeza bolsas negras enfeitavam a parte inferior dos olhos, resultado da noite que mal dormira. Depois de longos dias em coma e alguns outros perdidos em memórias distantes e prazeres libidinosos antiquados, Delilah percebeu que preferia o rei desacordado.  Ainda que seu corpo já não estivesse entorpecido do Véu Púrpura e já conseguisse ter noção de espaço, aquele Robert não era o mesmo que habitava no seio das histórias. Não via em suas palavras vis e anseios libertinos o tão aclamado Demônio do Tridente, ou a coragem que outrora nele habitava quando participou da Batalha dos Sinos. Mas havia algo diferente no olhar dele quando direcionava-se a ela, receio ? Não saberia dizer com certeza, mas parecia que sua presença não só o incomodava, e sim perturbava. Ousava pensar que parecia que a temesse. Talvez ele não acreditasse em fantasmas até agora. 

Ele não a deixava  trabalhar e mesmo que parecesse fraco, estava agitado. Quando Delilah chegava perto para aplicar algum unguento em suas feridas ele se afastava, recusando seu toque. 

— Não preciso disso. — Comentou bruscamente. — Pode me trazer uma tacinha de vinho ou uma caneca de rum agora ? 

Profundos sulcos enfeitaram a testa de Delilah, sua própria expressão dizia que obviamente aquele pedido seria negado por um bom tempo. Ela apontou para a chaleira, o único vinho que teria.

— Quero que um meistre venha me examinar. — Disse autoritário, longa pausa, nenhuma resposta. 

Ele era tão resmungão que Delilah não conseguiu evitar revirar os olhos. Como dizer que os meistres já haviam desistido da vida dele ? Na verdade, todos o haviam abandonado, menos Jon Arryn e ela, que caiu naquela teia de aranha pelo acaso. Robert a encarava com os olhos semicerrados, como se a desafiasse a obedecê-lo. Ele bufou irritado batendo o punho na cama com mais força do que ela esperava. O rei ainda tinha algo de sua velha força, mesmo que a doença tivesse devorado grande parte dela.

— Quero um meistre agora! — repetiu, a voz saia áspera. — Não preciso dos seus truques, mulher. Preciso de alguém que saiba o que está fazendo.

Delilah não se moveu imediatamente, deixando que as palavras dele pairassem no ar por um instante. Ela pensou no Véu Púrpura, o líquido roxo quase no final do frasco, brilhando sutilmente à luz. Era a única coisa que poderia ajudá-lo agora, e ela sabia disso. Ele, no entanto, não fazia ideia do que estava rejeitando.

Delilah movimentou-se até a chaleira, calma e decidida. Despejou o líquido e segurou o copo com uma firmeza fora do normal. Não podia deixar suas mãos tremerem. Não agora. O ar da desconfiança não deixava a face de Robert, os olhos não desviavam dela em nenhum segundo. 

Ela estendeu o copo para ele, sem tocar sua pele. O rei recuou ligeiro. 

— O que é isso ? Mais uma de suas porções? 

Delilah esfregou a área da garganta, um gesto sutil e preciso. Ele precisava entender que aquilo não era uma simples “porção”. Era sua última chance. 

— O que… está tentando dizer ? — Balbuciou, a confusão misturando com a irritação. — Quer que eu beba isso ? 

Na verdade, ela quis dizer que faria bem para sua garganta depois de tantas luas tossindo, mas poderia ser aquilo também. Seus dedos ainda seguravam o recipiente de forma inabalável. A decisão estava nas mãos dele. 

— Se eu beber isso, me dará ao menos um copo de rum ? — Delilah negou e ele grunhiu com raiva. —Deixe eu te contar uma coisa, mulher. Quando fui ferido na batalha dos sinos fui levado para um esconderijo, onde eu permaneceria até que conseguíssemos uma brecha contra Jon Connington. Mas meus companheiros do norte chegaram antes do previsto e eu ainda estava debilitado. Sabe o que eu fiz ? 

Um breve silêncio se estabeleceu entre os dois. 

— Fodi uma puta e tomei a merda de um corno de cerveja e me juntei a eles. Vencemos naquele dia e não é essa doença que vai me matar agora. 

Ele empurrou as cobertas para longe e impulsionou o corpo para frente na intenção de se levantar, mas um urro de dor o fez recuar, segurando a coxa, cuja uma sangrenta ferida abria-se, negra como as águas do Olho de Deus. Devia estar me agradecendo ao invés de falar suas baboseiras estúpidas. Pensou, ajudando-o a voltar à posição anterior. O rei aceitou seu gesto ainda com a dor estampada na face e a encarou brevemente, antes de seus profundos olhos azuis vagarem sob a própria miséria que era seu corpo, ferido e aberto como uma carcaça, um festim para os vermes.

— Olhe para isso… — Disse, a lucidez finalmente surgindo em sua mente. — Esse monte de carne pútrida. Eu esmagava exércitos com meu martelo de guerra… 

Um pesado suspiro esvaziou o ar do peito. Em sua lamúria tentou cerrar os punhos, como se quisesse lutar contra a fraqueza que o abatia, mas logo desistiu. O brilho momentâneo de raiva em seus olhos se apagou, dando lugar a uma expressão amargurada.

— Deuses eu era forte. 

Delilah gostaria de dizer que aquela era a chance para voltar a ser o homem que havia sido, contudo o rei revirou os olhos, como se a idiotice o tivesse tomado novamente. Delilah relaxou os ombros. Queria pular em cima dele e obrigá-lo a tomar o antídoto que tanto custou para ser preparado. Contudo, existia uma guerra que ela não poderia vencer,e essa era a guerra das palavras. Irritada,  a mulher pôs o copo na mesa do lado da cama e virou de costas, indo em direção à porta. 

— Droga… — O ouviu resmungar. — Se é pra morrer, que seja rápido. 

Delilah parou e se virou. Robert bebeu tudo numa rapidez impressionante, estalando língua, a expressão amarrada. A quantidade que havia tomado havia sido maior que a primeira, pois o efeito logo o abateu. 

— Nossa, isso é forte… mas é como se o peso de uma montanha tivesse sido tirado de meus ombros. 

A cabeça afundou no travesseiro, os olhos lutando para se manterem abertos. Delilah suspirou cansada. Andando novamente até ele. 

— Você... acha que pode me salvar? — Robert murmurou, sem abrir os olhos, sua voz rouca e distante.

Delilah parou. Ela não sabia como responder à pergunta. Salvar? Não havia salvação para ele se não cooperasse. A melhor coisa que ela poderia fazer era prolongar o inevitável. Ela hesitou, olhando para o rei, cuja vida pendia por um fio, e se perguntou se o que fazia era de fato a escolha certa.

Mas não disse nada. Ela nunca dizia. 

Com um movimento sutil, tocou o pingente de estrela em seu pescoço, uma memória sagrada do que era e do peso de seu juramento. Mas agora, cada passo era um sussurro contra os ecos do Estranho. Ela não sabia se salvaria o rei, se prolongaria seu sofrimento ou se apenas seria o instrumento de algo maior. Ainda assim seguiria em frente, tão fiel à sua dúvida quanto ao voto que um dia fizera.

💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖. 𐂂༉ Mais um capítulo postado ! Finalmente Robert entrou de fato para a narrativa e estou muito ansiosa para as cenas desses dois. No começo vão ser poucas palavras nas cenas deles, mas conforme for avançando o foco vai crescer bastante.

💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖. 𐂂༉  Espero que tenham gostado, não esqueçam de votar e comentar!

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