
💀 𓄹 ࣪˖⁰¹| 𝑶𝑺 𝑴𝑼𝑹𝑴𝑼́𝑹𝑰𝑶𝑺 𝑵𝑶 𝑳𝑬𝑰𝑻𝑶 𝑫𝑶 𝑹𝑬𝑰
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𝑶 𝑻𝑬𝑴𝑷𝑶 𝑷𝑨𝑺𝑺𝑶𝑼 𝑪𝑶𝑴𝑶 𝑫𝑰𝑨𝑺 𝑫𝑬 𝑼𝑴 𝑶𝑼𝑻𝑶𝑵𝑶 𝑺𝑶𝑴𝑩𝑹𝑰𝑶. Delilah manteve-se na tarefa imposta pela rainha e ficava no quarto do rei por longo tempo. Apesar da monotonia, ela às vezes agradecia por manter suas vestes limpas e livre do sangue e cheiro funesto. Enquanto estava quase dormindo na cadeira ao lado da cama de Robert, batidas na porta a fizeram piscar rapidamente, o silêncio era tão profundo que o levitar de uma pena poderia ser escutada. Levantou com a voz de Barristan Selmy chamando-a. Ela abriu a porta, deparando-se com um meistre, um garoto o acompanhava, trazendo nas mãos uma bandeja com um copo. O líquido era branco como a neve que caia no norte, Delilah logo soube que se tratava de Leite de Papoula. Ambos entraram fazendo uma pequena reverência em respeito ao que ela representava e caminharam até o rei, o jovem deixou o objeto trazido na cabeceira da cama, pegando apenas o copo. O meistre analisou com cuidado as feições do homem, as pupilas dos olhos, o interior da boca e os ferimentos.
Delilah apenas observava, quieta como se fizesse parte da mobília do ambiente. Havia um cheiro que permeava o ar, não era o odor comum de ervas medicinais ou o cheiro metálico de sangue. Era sutil, mas inquietante. A testa afundou-se em profundos sulcos de desconfiança, ela já havia sentido algo semelhante, mas a memória lhe escapava como a areia que escorre dos dedos e apesar disso manteve sua posição. Agiria apenas se a morte enfim o buscasse. O Meistre pediu o copo com um gesto e encostou a taça nos lábios secos e rachados do rei e o espesso líquido branco adentrou seu organismo com a promessa de aliviar seus demônios. Quando terminou, os dois fizeram outra mesura a Delilah e caminharam em direção a porta, batendo na madeira até que Sor Barristan abrisse e lhe dessem passagem.
Ainda desconfiada, Delilah respirou fundo... tudo estava nas normalidades. Ela então percebeu que o comandante da guarda real havia adentrado o cômodo, observando Robert Baratheon com uma carranca séria. Se bem que os mais velhos têm sempre as mesmas expressões... severos para tudo. Pensou. Ela sorriu com o pensamento, até seus olhos voltarem para uma modesta bandeja de comida trazida por ele. Não sabia que tanto tempo já havia passado. Ele a deixou sob uma cômoda que tinha logo atrás da porta e o cheiro do capão e do pão de centeio invadiu as narinas da moça, enchendo a boca d'água. Seus olhos azuis foram do prato para o velho homem. Delilah achou que ele iria sair, mas ao contrário, ele se aproximou do leito do rei.
Encostando a espada no batente da cama, Barristan Selmy suspirou.
- Eu vi o príncipe Rhaegar Targaryen crescer, ele se tornou um espadachim páreo até mesmo para Sor Arthur Dayne. Para nós era o melhor cavaleiro do reino.
Ele pausou a fala, em sua face marcada pela velhice, Delilah pôde contemplar a nostalgia dos pensamentos longínquos de guerra.
- No Tridente o único conflito que interessava era o duelo entre Rhaegar e Robert. Mas Robert era tão alto quanto o Montanha, já o viu ?
Delilah negou com a cabeça, Barristan deixou um riso cansado escapar.
- A força do martelo de guerra de Robert foi superior às habilidades rápidas do príncipe dragão. Eu estava ferido...quase cego de exaustão, mas eu o vi caindo e os rubis brilhando como se fossem o próprio sangue. E aqui está quem ganhou, o demônio do tridente abatido por uma doença...
A última palavra saiu com escárnio. Os olhos de Delilah piscaram dele para observar o rei, as cenas se moldando em sua cabeça, vívidas, como se ela pudesse estar lá. Certamente suas companheiras tiveram um árduo trabalho na coleta dos cadáveres. Que os sete a protegessem, não suportaria atravessar um campo de mortos, o cheiro certamente a mataria. Delilah agonizou por dentro, a mão repuxando o tecido cinza em seu pescoço. Talvez sua face tenha evidenciado isso. Seus olhos retornaram para Selmy, quando ele tomou novamente a espada em sua mão.
- Bem, sem dúvidas não estou aqui apenas para contar histórias menina, sou um homem velho e pessoas velhas gostam de falar. Peço que me perdoe. - Sua risada saiu baixa. - A Mão do Rei mandou um aviso dizendo que virá visitar a vossa graça pela tarde.
Antes de sair ele apontou para a comida.
- É melhor que se alimente antes que ele chegue.
Quando enfim sozinha com seu companheiro moribundo a respirar com dificuldade, Delilah pensou no que o membro da guarda real poderia sentir servindo tantos reis e não ter podido cumprir sua palavra morrendo por eles. Primeiro, Aerys, o rei imerso na própria loucura, como poderia salvar um homem de si mesmo ? Certamente os reis insanos não eram salvos por espadas, eles mesmos decretavam o próprio fim. Junto dele vinha o príncipe Rhaegar, o homem que se tornara tanto um mistério quanto uma lenda, mas cujo os caprichos levaram a sua ruína nas águas do Tridente. E agora, Robert. O último dos reis a quem jurara lealdade. O Usurpador, cuja ferocidade em batalha contrastava com o peso que agora o esmagava, preso entre a vida e a morte. Não fora vencido por espadas, mas dá fraqueza de seu próprio corpo.
Delilah já tinha visto muitas vezes a morte diante de si, não como essas a qual eram exceções, homens provenientes de linhagens impecáveis, nomes que enfeitavam as notas de canções durante os séculos que a dinastia Targaryen governou e naquela que o sucedia. Não... em sua memória estampava aqueles que não teriam suas histórias contadas, o povo comum, a qual os conflitos que aconteciam no seio das grandes casas eram distantes como as estrelas. Nada sabiam sobre as conspirações e traições no coração do poder, e tampouco lhes importavam. A regra era clara como água, se houvesse comida, então este rei era bom. Mas naquele momento viviam entre reis mortos. Homens que já não governavam para o povo, mas que sucumbiam ao peso de suas vis vontades. Quanto mais pensava, mais sua cabeça doía, Delilah sentia a morte rondando suas almas miseráveis como uma sombra que não dissipava, e a verdadeira tragédia não estava em seus nomes imortais, mas nas vidas que seriam esquecidas em suas quedas.
Pela trilionésima vez no dia, a tosse de Robert Baratheon desviou a atenção de Delilah do livro que lia. Vendo que era uma crise séria, levantou-se rapidamente e encheu uma taça de água. Colocou uma mão sobre o queixo e com a outra encostou o aço em seus lábios que rapidamente se abriram deixando o líquido entrar. O homem bebeu com avidez e Delilah teve de forçar a retirada para não engasgar. A cabeça dele afundou no travesseiro de penas, enquanto a irmã silenciosa depositava a taça de volta na bandeja, provocando um pequeno ruído. Ela o observou por alguns minutos enquanto ainda dormia, o peito subindo e descendo como se tivesse encontrado uma paz momentânea da dor que deveria estar enfrentando nos confins secretos de sua mente.
Já estava quase escurecendo quando o tilintar das cotas de malhas junto de seus passos a alertaram rapidamente. A irmã silenciosa de prontidão ajustou a postura de frente para a entrada do quarto. A rainha foi a primeira a entrar, com seus passos elegantes fazendo esvoaçar o vestido preto com detalhes dourados. Uma segunda pessoa entrou, tinha a aparência de ser mais velho que Sor Barristan, mas era um homem distinto. Não parecia um meistre, pois suas vestes ostentavam um nobre azul profundo. Delilah buscou em sua mente o símbolo cozido em seu gibão, porém antes que pudesse enfim se lembrar seus os olhos focaram em algo mais relevante: o broche dourado de Mão do Rei. Pycelle veio em seguida e o rosto de Delilah encheu ainda mais em curiosidade com a figura pequena que vinha a sua frente, o Duende de Rochedo Casterly, Tyrion Lannister em pessoa.
- Se era Robert que queria ver, aí está... - A voz de Cersei saiu abafada, pois cobria do queixo até a ponta do nariz com um pano. Olhando para Delilah, as sobrancelhas loiras uniram-se. - Como aguenta o cheiro ?
Delilah comprimiu os lábios. Não tenho escolha de ir e vir.
Tyrion cambaleou até o lado direito da cama, tendo uma visão melhor de Robert.
- Sua dor deve ser profunda, minha irmã. - Disse com uma ironia sempre uma camada abaixo da superfície de suas palavras. - Mas não tanto quanto a do nosso rei. Veja como luta contra a morte, talvez tentando vencê-la numa última caçada.
Cersei, de pé ao lado da cama, lançou-lhe um olhar gelado, os olhos verdes faiscando em um misto de desprezo e a vontade de sair dali.
- O que quer Tyrion ? - Respondeu, a voz firme, mas com uma tensão clara em cada palavra. - Não é hora para suas piadas de bêbado.
Tyrion virou-se para ela, a face consternada pelas palavras da rainha.
- Eu ? Piadas ? Nunca! Apenas uma observação do estado das coisas.
Os olhos de Cersei Lannister se estreitaram. Pycelle que até então estava imóvel, tossiu, chamando a atenção de todos.
- Lorde Tyrion, não se pode ter tantas pessoas nesta sala. O rei precisa de silêncio e descanso.
Os olhos desiguais do Duende pousaram no Grande Meistre, despontando um tipo de veneno particular a ele.
- Ah! O velho Pycelle, senti falta de seus conselhos inúteis. Diga-me, o que faremos quando Robert acordar ?
- Se é que vai acordar... - Deixou escapar a rainha, abaixando a cabeça em seguida, o pano que cobria a face escondia qualquer captura de expressão, mas ela fungou.
- A verdade é que estamos fazendo o possível, mas... as chances de recuperação são pequenas... Muito pequenas. Estamos fazendo o possível para mantê-lo estável.
Continuou Pycelle, ao seu lado a Mão pigarreou.
- Você deveria dizer que estamos correndo contra o tempo - Disse pela primeira vez dando o ar de sua voz numa mescla de preocupação e a firmeza de sua posição. Ele ergueu a cabeça a Pycelle - Não acha que uma outra opinião não poderia ajudar ? Um tratamento alternativo ?
- Sim, porque manter estável alguém à beira da morte é exatamente o que esperamos de nossos mais qualificados meistres. - Disse Tyrion com a ironia despontando em cada palavra.
Cersei revirou os olhos e virou-se para o homem de azul.
- Você fala como se houvesse algo a mais a ser feito, Jon. Se o Grande Meistre não conseguiu resolver a situação, não acredito que outro irá conseguir. - Respondeu com cautela. - Se a sua sabedoria nos prover uma solução, tenho certeza de que nos falaria.
- Se houver alguém com mais conhecimento ou recursos para ajudar, é nossa obrigação buscá-lo. Estamos aqui pelo rei.
Cersei inclinou o rosto, jogando o peso do corpo para o outro pé.
- Parece-me que está insinuando que há algo mais em jogo.
Antes que Jon pudesse responder, Tyrion antecipou-se, afastando-se da cama do rei.
- Bem, parece que a única coisa em jogo aqui é a paciência de todos nós.
- Estamos fazendo tudo o que podemos, Lorde Arryn. - Interveio Pycelle.
- Espero que sim, meistre. Se há algo que o rei não pode mais perder, é tempo nessa cama. O reino precisa de seu governante.
Cersei bufou, impaciente.
- O que não podemos é perder tempo com especulações vazias e nos preparar para o futuro do reino.
- Nunca pensei que diria isso, mas concordo com você, irmã. - Um sorriso surgiu na face do anão, como se estivesse se divertindo com aquilo. - Não vamos discutir sobre o testamento do rei em seu leito, não enquanto ainda luta pela vida.
O coração de Delilah batia pesadamente. Se todos estivessem compartilhando do mesmo silêncio mórbido que o dela, seria capaz de escutar o pulsamento. Assistir a cena de longe, sem poder intervir, era sufocante. A menção de que Robert poderia sobreviver trazia emoções conflituosas. Parte dela, a bondade que ainda prendia a sua humanidade, desejava que ele sobrevivesse... mas a outra, quebrada no instante em que vestiu o cinza, uma parte que ela mal ousava reconhecer, estava indiferente. O homem à sua frente era o mesmo que, em seus devaneios sombrios, ela via como um símbolo de tudo que havia dado errado. Ainda assim, ser forçada a testemunhar sua possível morte de tão perto a fazia se sentir... pequena, impotente, como uma sombra que ninguém notava.
Pycelle apontou para um escudeiro aproximar-se do rei, outro copo de papoula. O jovem deu ao rei de beber e depositou o copo ao lado.
- O rei está nas mãos dos deuses... - Disse com pesar. - É melhor sairmos, para não deixá-lo sufocado com tantas pessoas.
Mais uma vez, Delilah notou algo estranho no ar.
- Antes de ir dormir, dê a ele o que sobrou. - Informou o Grande Meistre em direção a Delilah que assentiu com a cabeça.
Quando o rapaz se afastou, Cersei ergueu o rosto, agora endurecido.
- Claro. - Comentou Tyrion. - Que os deuses decidam então.
Tyrion deu uma última olhada no corpo de Robert antes de se virar em direção a porta. Cersei descobriu o rosto, permanecendo por mais um tempo, os olhos fixos no rei. Era difícil moldar uma opinião sobre o que acontecia na mente da rainha dos sete reinos, era como se a face fosse uma máscara de compostura. Ela suspirou e se afastou da cama a passos firmes, sumindo ao lado do Duende. Pycelle tentou alcançá-los.
Jon Arryn fora o último a sair, mas seus olhos voltaram discretamente para Delilah que não abandonara o posto uma vez sequer, observando tudo em silêncio. Ela logo soube que o lorde do Vale de Arryn desconfiava de alguma coisa ali, algo que escapava a concepção dos outros. A tensão no quarto parecia mais pesada e o peso das palavras deles pareceu enchê-la ainda mais. Jon Arryn nada mais disse e saiu.
Delilah esperou até que tivesse a certeza que estava tudo como antes da chegada deles, um silêncio mortal. Com passos cautelosos, ela se aproximou da cama,contornando-a, seus calçados ressoavam sob o chão de pedra. Ela analisou as feições doloridas de Robert, o pomo de Adão remexendo-se avidamente na garganta era testemunha de toda a sua agonia. A mulher cruzou as mãos e apertou uma contra a outra quando inclinou o corpo para perto dele. Seu nariz estava perto da abertura dos lábios dele e apenas uma lufada do cheiro característico da papoula invadiu as narinas. Mas num movimento brusco da cabeça, Robert se agitou, assustando a irmã silenciosa que se afastou rapidamente batendo na mesinha que ficava ao lado e quase derrubara a bandeja e a jarra d'água. A queda foi impedida por ela ao virar-se num reflexo absurdo.
Ela olhou para a porta, temendo que o comandante da guarda real adentrasse, como ele não o fez, Delilah ajeitou os objetos e notou o leite de papoula que pingava de sua mão, conseguiu salvar parte do conteúdo do copo e por um instante sua atenção foi dele para Robert Baratheon. Sentia um alerta fumegar em suas entranhas, quase como se pudesse lhe contar o que deveria fazer. Naquela altura, já não poderia ignorar, o cheiro estava mais espesso, indo além do aroma adocicado da papoula. Ah! se fosse somente isso... aquela fragrância parecia cutucar uma memória distante. A mulher, a passos decididos contornou a cama, os olhos fixos nos vasos com plantas de tamanho médio. Ela deu uma última olhada para o interior do copo, decidindo entre o instinto e a razão. Num impulso, despejou o conteúdo na terra, observando enquanto ele se misturava no solo.
O ar parecia mais pesado, o quarto mais silencioso e a única coisa que soou no olho de sua mente fora a própria voz embebida de desconfiança.
A noite chega, e agora começa a minha vigia.
Delilah caiu no sono um pouco antes da hora do lobo, dormindo na cadeira desconfortável de madeira. Despertou com os raios tímidos do sol atravessando as cortinas como finas agulhas de fogo dourado. Na pele o toque era gentil, mas feria os olhos, obrigando-a a se levantar. Demorou um tempo para que seus pensamentos se organizassem, trazendo aos poucos as recordações do dia anterior. Ela se aproximou de Robert, ainda no mesmo estado a qual havia encontrado pela primeira vez. Seus olhos ávidos por achar algo anormal logo pousaram no copo caído, e então ela lembrou do que havia feito. Depressa se aproximou do vaso e então, todas as suas suspeitas foram sancionadas... CLINC... o barulho do lado de fora a obrigou a fazer um círculo, escondendo as plantas atrás de si com a saia cinzenta. Céus esse homem deve ter sido muito amado para receber tantas visitas. Pensou irritada.
Esperou pela presença familiar da rainha, o Duende, Pycelle, qualquer um deles... mas foi surpreendida por Jon Arryn.
- Desculpe ter vindo tão cedo... queria ter um momento a sós com Robert ontem, mas aqueles abutres dos Lannister vieram como se fosse uma corrida para ganhar carne. A quanto tempo está aqui ? - Perguntou, encarando-a brevemente até seu olhar pousar na cadeira onde Delilah dormia.
- Claro que não se importariam com seu bem-estar... - Disse com o desapontamento estampado na face.
A voz da Mão do Rei, saia cansada, envelhecida por causa dos anos. Devagar ele se aproximou da cama, sentando no colchão em seguida.
- Providenciarei um lugar apropriado para seu descanso. Não precisa vigiá-lo como uma águia, querida. Este homem - Ele balançou o dedo indicador na direção de Robert, com certeza. - Bem sei que não morrerá, é teimoso demais até mesmo para o Estranho.
Um tempo de silêncio se alastrou. Delilah não seria aquela a quebrá-lo. Jon ergueu a cabeça até ela, tinha um olhar calculado, observador até demais. Ele franziu levemente a testa e inclinou a cabeça como quem contasse um segredo.
- Não precisa esconder, irmã. Nessa corte, todos guardam segredos... mas poucos sabem mantê-los. O que você teme que eu veja ?
Delilah prendeu o ar. Ele estava certo sobre os segredos, todos tinham, ela também tinha os seus. Mas uma coisa que garantia sua sobrevivência naquele complexo ninho de aranhas, era manter sua desconfiança para com todos eles. Delilah não se moveu. Jon Arryn desviou o olhar para o rei.
- Cuidei de Robert a tanto tempo que não duvidaria se me dissessem que era meu filho, ele e Ned também. - A cabeça se moveu para ambos os lados, lembranças que ainda afloravam. - Percebi que estavam crescidos quando Robert teve sua primeira vitória em Vila Gaivota e matou lorde Marq Grafton. Passei minha vida zelando pela vida desses rapazes... e agora bem mais que isso, zelo pela vida do rei. Enquanto eu viver, cumprirei com esse dever. Agora, se sabe de algo, filha... contribua para minha obrigação.
Delilah inclinou o rosto para o lado, avaliando Jon Arryn com o mesmo olhar que usava quando cuidava dos moribundos. Foram palavras bonitas, disfarçadas com um tom de um homem que havia visto mais do que lhe era permitido, e ainda assim, não soavam vazias. Palavras bem escolhidas, meu senhor. Pensou, abaixando os olhos por um instante.
Jon Arryn se levantou com dificuldade e andou até ela.
- Você não precisa quebrar seu juramento e falar. Mas Robert está morrendo... e a verdade se esconde. Se encontrou algo, por favor, mostre-me. Só assim poderei agir, antes que seja tarde demais.
Delilah sentia o corpo todo tensionado. Havia muito mais em Jon Arryn do que ele deixava ver. Sua voz tinha algo que tornava difícil sua resistência. Talvez a urgência que ele lutava para manter em suas palavras, ou o fato de que ele demonstrava saber mais do que deveria. Veja por si só, não é muito, mas é o suficiente para dizer que algo aqui está muito errado.
Finalmente ela cedeu e deu um passo para o lado, revelando as folhas enegrecidas, retorcidas e sem vida. O rosto de Jon Arryn se expandiu.
- Lepra, eles disseram... - Jon voltou-se para o filho de criação e tocou-lhe a face, Robert reagiu, como se os dedos ossudos perfurassem a pele. - Acredito que todos se referem a você como irmã, mas é certo de que tem um nome. Como se chama ?
Delilah umedeceu os lábios, não ousando proferir em voz alta. Ela lembrou que atrás de si tinha uma mesa, com penas e papéis em cima. Ela pegou a pena do tinteiro e escreveu seu nome. Quando entregou o papel, Jon fez uma expressão curiosa.
- É uma caligrafia muito elegante. Delilah... é curioso, o nome me lembra "deleite"... Em tempos tão sombrios como estes, um pouco de alívio e conforto é o que mais precisamos.
Ainda que pudesse imaginar, ouvir seu nome ser proferido depois de tanto tempo lhe soou estranho. Às vezes, ela mesma escrevia em pedaços de papéis em seu quarto no Septo de Baelor para não esquecer, e que o Estranho a perdoasse, chegava a sussurrar sozinha para não se sentir ela própria um fantasma. Mas naquele momento, ela guardou a sensação de susto para si, uma outra voz a pronunciar... O significado não tem nada a ver, e certamente não trago nenhum alívio ou conforto, mas foi uma boa comparação.
- Escute Delilah, fomos obrigados a confiar um no outro. - Disse olhando-a com seriedade. - Perdoe-me por envolver você nisso, mas os Meistres já não são de confiança.
A testa de Delilah se contorceu em dúvida.
- Preciso que encontre uma cura para Robert.
Como se eu fosse o próprio Estranho para poupar alguém! Jon Arryn só podia estar louco! Ele notou a negação através da carranca da mulher.
- Sei que isso é pedir demais... salvar uma vida quando deveria preparar o corpo para a saída da alma... Talvez tenha que ir contra seu juramento, mas prometo-lhe que nada de mal irá te ocorrer. - Ela se afastou, andando para perto da saída do quarto. - Tudo irá permanecer como está, estão tão convencidos de que Robert está no fim da vida que não virão para cá. Mas temo pelos ratos, traiçoeiros e espertos.
Delilah não estava convencida.
- Robert nunca foi um bom governante, se tem alguém que sabe o peso dos Sete Reinos, esse alguém sou eu. Mas se ele morrer agora, tudo será jogado ao caos, Joffrey...
Seja qual fosse o final daquela frase, a Mão do Rei as assassinou.
- O garoto não tem idade para governar, e os Lannister o fariam em seu lugar. Preciso de alguém que esteja fora de tudo isso, alguém que esteja livre de suspeitas.
Ele estava vermelho, esquecendo de respirar entre as palavras. Delilah sentia o peso aumentar sobre seus ombros, mas junto a ele, um estranho senso de propósito que não sentia desde... desde que tinha deixado tudo para trás. Delilah levantou a mão para que ele parasse de falar. Os olhos pousaram em Robert Baratheon agonizando em suas dores. Delilah, apesar de ser uma irmã silenciosa, sempre que estava ao seu alcance tentava salvar na mesma intensidade que preparava os defuntos, para ela era uma forma de lembrar que ainda tinha controle sobre si mesma. Ela chegou perto do leito do rei e com extremo cuidado avaliou as feridas. Algumas estavam vermelhas, ainda frescas, o que era bom, indicavam que ainda tinha chances.
- Vou deixá-la com seus próprios pensamentos, para que tome sua decisão. Pense bem filha, talvez o Estranho não o queira agora.
Delilah assistiu Jon Arryn deixar o quarto, sozinha com os sussurros de sua mente. Ela permaneceu ao lado de Robert, com os olhos fixos em cada marca e feridas abertas ao longo da parte superior do corpo. Enquanto isso, seus pensamentos vagavam em labirintos de juramentos, palavras que caminhavam em uma corda bamba prestes a se romper devido às escolhas que jamais tivera intenção de fazer. O Estranho parecia observá-la de algum lugar distante, órbitas vazias esperando com paciência a decisão que ela faria. Naquele momento, acompanhada do cheiro da morte e de um homem que outrora fora tão poderoso, Delilah sentiu as mãos pesarem com a possibilidade de ser a única a ter poder sobre aquele destino.
💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖ 𐂂 ༉ Oi gente, primeiramente queria me desculpar pela demora em trazer o capítulo, preferi planejar um pouco pelo menos o primeiro ato da fic e o capítulo um sempre sofria alterações a medida que avançava, mas enfim ele saiu, espero que tenham gostado.
💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖ 𐂂 ༉ Queria desde agora combinar as postagens, fiz em uma antiga fic minha publicações em forma quinzenal, o que dá um intervalo de duas semanas para as postagens dos capítulos. Assim ficaria dois capítulos por mês. Gosto desse tipo de cronograma porque dá tempo de eu escrever e ajeitar tudo certinho, também não quero deixar longos períodos com ela parada.
💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖ 𐂂 ༉ Foi um capítulo focado muito em diálogos. Por causa da função da Delilah e do que ela precisa fazer, fico bastante limitada ao cenário, mas sinto que conseguir dar uma diversificada pra não ficar tão monótono, ainda mais que ela não fala né skksks. Tentei trazer a essência dos diálogos que o Martin escreve nos livros, bem como manter fiel a personalidade dos personagens. Confesso que tinha esquecido completamente do Jon Arryn já que ele morre no início da história original, mas graças a Deus eu lembrei e estou eu mesma moldando a personalidade dele já que não se sabe muito do homem.
💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖ 𐂂 ༉ Enfim, comentem se gostaram deixem o voto de vocês e nos vemos no próximo que capítulo que vai dar uma chacoalhada pra fazer a história avançar.
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