💀 𓄹 ࣪˖⁰⁴| 𝑨𝑺 𝑫𝑬𝑺𝑪𝑶𝑵𝑭𝑰𝑨𝑵𝑪̧𝑨𝑺 𝑫𝑨 𝑹𝑨𝑰𝑵𝑯𝑨
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𝑫𝑬𝑺𝑫𝑬 𝑸𝑼𝑬 𝑹𝑶𝑩𝑬𝑹𝑻 𝑯𝑨𝑽𝑰𝑨 𝑨𝑫𝑶𝑬𝑪𝑰𝑫𝑶, 𝑶𝑺
corredores da Torre do Rei estavam vazios, com o movimento de criados controlado ao máximo para evitar que rumores a respeito do rei corressem como erva daninha. Jaime apenas escutava o som de suas botas sob o chão de pedra, conversando consigo mesmo, imerso nos próprios pensamentos. A doença de Robert o acometera de forma gradual, silenciosa e mortal. Começou com uma tosse incansável, corroendo a garganta como o tempo corrói o ferro. Jaime estava presente no dia em que Robert perdera o equilíbrio e caira em seus braços. Antes de apagar ele sorriu em sua direção, o tom convencido como de costume.
— Se me matar, o caço até no inferno. — Estava visivelmente fraco, mas ainda assim havia a habitual ironia em sua voz, mas o regicida cumprira com seu juramento e o levou até o meistre para que os cuidados pudessem dar início.
Jaime vivia sob o peso daquela mácula,o fantasma de Aerys ainda pairava sobre sua consciência, uma cicatriz que o tempo não conseguia apagar e todos faziam questão de que sua famosa alcunha jamais fosse esquecida. O próprio Robert deixará isso claro, anos atrás, quando ele ainda era um jovem cavaleiro.
— Não torne disso um hábito. — Dissera no festim de sua coroação, embriagado como sempre era encontrado. — Ao contrário do Aerys fraco e vulnerável eu seria um adversário muito mais implacável para você, rapaz.
E agora, ali estava ele, o rei que sempre prometeu ser forte, dobrou seu joelho para a própria fraqueza, caindo em seus braços, rindo como se a morte fosse apenas mais uma piada. Jaime sorriu. Carregar a culpa de um rei morto era sua sombra. Um fardo que o acompanhava como uma rachadura invisível. Contudo, Robert não via a real gravidade por trás de suas ações. Ninguém via. O cavaleiro branco crescera com Tywin Lannister sussurrando sua principal lição: Senhores e Senhoras nasciam e pereciam, mas era o nome da família que se perpetuava. Nem mesmo sua honra se comparava ao peso daquele nome. Um cavaleiro existia para proteger e se sacrificar, servir sempre alguém acima deles. Mas antes de ser um cavaleiro, Jaime era um Lannister… e um Lannister existia para conquistar e tomar aquilo que lhe era devido.
Parou de frente a porta do monarca dos Sete Reinos, pronto para a vigília imposta por ele mesmo. O tempo passou devagar, mas isso não era problema para alguém que já estava tão acostumado naquela função. Ao longe, passos suaves chamaram sua atenção, intrigado, Jaime olhou para uma pequena janela no final do corredor. O sol surgia timidamente no horizonte. Observou novamente na direção contrária, e a irmã silenciosa aparecera, sinistra em suas vestes cinzentas. Ela se movia com uma graça imperceptível, como se flutuasse pelas paredes de pedra, sugando qualquer luz que viesse à sua frente. O rosto era pálido, os olhos azuis poderiam ser uma misericórdia dos deuses para tamanha obscuridade. Era esguia, de corpo pequeno, mas havia uma firmeza em sua postura. As roupas simples escondiam a maior parte de suas feições, mas Jaime percebia que havia algo perturbadoramente intrigante naquela quietude.
Ela se aproximou melancólica e respirou fundo quando os olhos se ergueram até ele.
— Bom dia, irmã! — Disse num tom despreocupado, mas seus olhos eram duros.
A mulher não respondeu, mantendo-se fiel ao seu voto de silêncio, mas Jaime não era tolo. Ele podia perceber sua tensão. Ele deu passagem para que ela adentrasse o quarto e permaneceu do lado de fora.
O Lannister sabia mais ou menos a hora por conta da luz do sol, até ali, tudo parecia monótono, parado como a água de um lago. Seus dedos enluvados brincavam com o cabo da espada embainhada. De súbito, ou talvez fosse fruto de sua imaginação, Jaime escutou um barulho vindo de dentro do quarto e irrompeu a porta quase desesperado para encontrar qualquer coisa. Contudo, tudo o que viu era um rei quase morto e a sombra da morte esperando como um fantasma, céus… se o Estranho tivesse alguma face, Jaime se perguntava se seria tão pálida quanto o da sua esposa, tão morbidamente parada que parecia ser feita de mármore envolta de uma espessa neblina.
— Aconteceu alguma coisa ? —Perguntou. As sobrancelhas cheias da mulher cinzenta uniram-se, com um movimento sutil da cabeça, negou.
Jaime observou o interior, os olhos astutos como de um caçador. Era um cômodo espaçoso, carregando toda a pompa de um monarca, contudo impregnado com o cheiro da morte, uma aura sinistra que fizeram os pêlos da nuca arrepiarem. No centro, Robert repousava em uma cama imponente. Em cada extremidade havia uma fina coluna de madeira esculpida, cada uma levando a um teto elevado, onde cortinas de linho pesado caíam suavemente. Pesadas cortinas num tom escuro de vinho se amontoavam de cada lado da janela na parede à direita. A luz batia levemente na cor, transmitindo-a para dentro, como se o sangue flutuasse no ar. Havia braseiros para espantar o frio a noite, uma mesa de escrever com penas e um frasco de tinta, uma banheira há muito não usada, um jarro de água com um conjunto de taças de prata condizente. Não havia nada suspeito e tudo estava perfeitamente em seu lugar. Contudo, a visão era opaca, como se os dias de bebedeira e as incontáveis mulheres que entravam naquele quarto— A qual o rei fazia questão de que acontecesse sempre em seu turno — tivessem sido substituídos por noites de silêncio e murmúrios dos finados.
Jaime abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Sor Barristan Selmy entrou na sala com a autoridade calma que sempre carregava. Seus olhos velhos, mas vigilantes pousaram nele, e um ligeiro desconforto pareceu pairar no ar.
— Sor Jaime, por que está aqui? — perguntou Barristan, mantendo o tom de voz firme, mas educado. — Não há necessidade de fazer o turno. Vou vigiar o rei. Você pode se retirar.
Jaime ajeitou a postura ao se virar para seu comandante, transmitindo respeito.
— A rainha me ordenou… — Mentiu, seu olhar permanecendo fixo em Barristan.
— Se me lembro bem, a rainha queria que fizesse guarda para Joffrey.
Jaime iria retrucar, mas a porta rangeu levemente revelando um garoto vestido com lã grossa e casaco de couro. Jaime já o tinha visto diversas vezes, mas agora não lhe recordava quem de fato era. Ele parecia com pressa, mesmo assim, ele inclinou a cabeça na esperança de ver Robert em seu estado lamentável, antes de seus olhos pousarem em Jaime.
— Sor… — murmurou, hesitante. — A rainha… requisita sua presença.
Jaime abaixou a guarda e deu um pequeno sorriso.
— Parece que a vontade dela é soberana. — Disse, quase de brincadeira. — Com sua permissão, senhor.
Barristan assentiu com a cabeça, contudo, desconfiado.
— Concedida.
Jaime hesitou por um instante, mas saiu da sala, com o som de suas botas ecoando pelo chão de pedra. Logo notou que não estava sozinho, pois o rapaz o seguia.
— Quem é você mesmo ? — Perguntou parando subitamente.
— Sou Noah Royce, senhor. — Respondeu de imediato. — Sou escudeiro do rei.
Jaime parecia mais confuso.
— Treinei com o senhor no pátio de treinamento.
— Ah sim, agora as coisas fazem sentido. – Respondeu como se uma pequena agonia tivesse sido arrancada de sua mente.
Quando ele entrou na sala privativa de Cersei, Noah Royce o anunciou, a rainha por sua vez direcionou-lhe a raiva.
— Saia, garoto! — Disse abanando o dorso da mão violentamente.
Noah fez uma reverência demasiada exagerada e deixou a sala, fechando a porta atrás do regicida.
— Onde você estava ? — Perguntou a mulher furiosa. — Devia vir aqui assim que acordasse.
— Não é óbvio ? Fui atrás daquela coisa terrível. — Disse ele erguendo as sobrancelhas, rindo.
Cersei se aproximou dele agarrando o colarinho da armadura.
— A culpa é sua ! — Esbravejou. — Tem de se controlar. Não sou um brinquedo para você tocar quando lhe convier! E se ela nos visse ?
Jaime ergueu o queixo.
— Não creio que ela tenha visto alguma coisa. — Respondeu com um tom despreocupado, frente ao furor que queimava na irmã. — E além do mais, irmãs silenciosas tem a língua cortada, não é ?
Cersei se afastou, rindo incrédula.
— É um tolo se acreditar nisso. — Ela andou em círculos, as saias esvoaçando em torno das pernas, um tecido mais leve por conta do calor que fazia naquele dia. — E um voto de silêncio não vale nada perto de uma acusação como essa.
— E quem acreditaria ?
— Não se faça, Jaime. Os boatos correm, é algo muito sério para fazer alguém como ela quebrar o juramento. E além do mais tem Jon Arryn, com certeza aquele velho acreditaria… ele deu aposentos para ela na Torre da Mão.
Naquele instante sua raiva aumentou.
— Pensei que teria apoio de todos aqueles estúpidos, apenas por conseguir arrancar dinheiro de nosso pai. — A voz se arrastava na garganta, cheia de desprezo. — Mas aquele velho ama Robert mais que o próprio filho.
Jaime cruzou os braços, observando-a, refletindo em cada palavra dita. Cersei se sentou na cadeira diante de uma mesa de carvalho escuro. Os dedos dançaram nervosamente, expressando sua feição pensativa. O irmão se aproximou dela, tirando os fios loiros que cobriam seu pescoço.
— Não seria bom, Cersei? Se Robert morresse, você estaria livre de vez. Livre para fazer o que quiser... com quem quiser. — Ele sugeriu em seu ouvido, a voz mais baixa, quase íntima.
— Sim, seria… — Respondeu ela, num suspiro, um toque de amargura em sua confissão. — Mas justo agora, Joffrey… é novo demais.
Os olhos verdes piscaram freneticamente.
— A corte veria fraqueza nele. — Continuou — Especialmente agora, com o luto de Robert tão fresco. Se isso corresse, sobre nós… arruinaria a pretensão dele.
Ela fez uma pausa, sua mão apertando a borda da mesa com força suficiente para os nós dos dedos ficarem brancos. Jaime pousou a mão sobre eles, queria transmitir conforto, mas o verde dos olhos da rainha cintilou, ardente como fogo vivo.
— O que adianta um rei sem controle, Jaime ? — Cersei disse. — Eu não posso perder Westeros para aqueles que esperam qualquer sinal de fraqueza. Quando o momento certo chegar, Joffrey estará preparado. Até lá... Robert precisa ficar onde está. Mas isso não significa que não posso me preparar. E por isso tem que me dar certeza, ela nos viu ?
— Estava escuro demais, Cersei… e parecia ter acabado de chegar. — Respondeu ele. — É apenas mais uma devota à fé, cega para o que acontece ao redor. Mas para tranquilizá-la, posso ficar de vigia por um tempo nos aposentos de Robert.
Cersei negou com um movimento rápido de cabeça.
— Preciso de você perto de Joffrey… perto de mim! Deixe que outra pessoa faça o trabalho.
Quando Delilah vira Jaime Lannister vigiando a paz ou morte do rei, seu coração acelerou em batidas violentas, até temeu que fossem ouvidas. Sentiu a bile azedar o fundo da garganta, lembrando-se do que havia acontecido na noite anterior. O frasco de Véu Púrpura repousava em seu peito, escondidos pelas camadas grossas da roupa que usava, carregar aquilo apenas intensificava o medo de ser descoberta. Ainda na noite passada, Robert havia murmurado inúmeras frases sem sentido. Delilah se lembrou de Jon Arryn e sua crescente desconfiança a respeito da rainha, e isso com certeza envolvia os demais de sua família, não apenas aquele homem, mas também o Duende.
No entanto, a vela que tinha acendido para o Estranho talvez a tivesse dado alguma misericórdia. Jaime apenas a saudou, e lhe deu passagem para entrar. Robert dormia tal qual fazia quando ela o viu pela primeira vez, como se o que havia acontecido no dia anterior não passasse de um sonho. Ela tratou de limpar todo o quarto e as coisas que havia usado para tratar da doença do rei. Deixou a janela aberta também, para que a circulação do ar pudesse limpar o ambiente. Quando ela terminou de apagar suas evidências, tropeçou na própria saia e quase caiu. A porta se abriu a tempo dela ajeitar a postura, revelando a cara assustada de Jaime, os olhos passeando pelo local como quem buscava por um criminoso. Ele perguntou se algo havia acontecido, ao que a irmã silenciosa respondeu que não.
Delilah apenas percebeu que seus ombros estavam tensionados quando Jaime havia ido embora encontrar com a irmã gêmea. Sor Barristan a direcionou um olhar acolhedor, mas também que indicava que ela precisava ser mais cautelosa do que nunca. Terei de ser mesmo um fantasma.
Contudo, a parte mais difícil do dia, foi quando achou que estava na hora de dar uma outra dose de Véu Púrpura ao rei. A chaleira ainda repousava sob a lareira, ela serviu um copo e limpou o que pôde das cinzas. Nesse momento, novamente a porta havia sido aberta, ela virou esperando que fosse Jon Arryn, mas foi a rainha que a saudou. Daquela vez, Cersei estava vestindo vermelho, um cinto dourado perpassava a cintura, combinando com os cabelos loiros. Tinha uma face curiosa ao observar o quarto, seus olhos passearam pelo recinto até a chaleira e o copo na mão da irmã silenciosa. Delilah acompanhou o último movimento, fazendo o possível para esconder o nervosismo e o que fizera ali. Levou o copo aos lábios e bebeu uma quantidade mínima do líquido. Estava doce, mas deixava a sensação de algo refrescante na boca, efeito do anis.
— Deve ser difícil ficar aqui o tempo todo, não é? — Seus olhos estavam fixos no rei. Delilah não saberia dizer se referia a ela ou a ele. — Pode me servir um pouco ?
Disse dessa vez olhando para ela. Delilah assentiu com a cabeça e apanhou a chaleira, servindo a rainha.
Cersei se sentou no espaço vago da cama. Seus olhos acompanharam os detalhes da doença de Robert.
— É estranho vê-lo desse jeito… — Comentou. — Quando casei com ele, quando o vi pela primeira vez, não imaginei que o tempo o enfraqueceria assim. Na verdade, nunca imaginei que ele pudesse ser enfraquecido.
Delilah manteve os olhos atentos, enquanto a rainha tomava um gole da bebida. Cersei observava Robert, mas seu verdadeiro interesse parecia estar voltado para Delilah.
— E você, irmã? — Cersei continuou, os dedos passearam suaves pela testa de Robert, cujo os cachos negros despontavam timidamente. Os olhos verdes dela cintilaram. — Já viu algo assim antes? Algo tão... súbito?
Delilah abaixou o olhar, negando com a cabeça. Ela levou a chaleira de volta à lareira, evitando encarar sua face.
— Jon Arryn lhe deu aposentos, é verdade isso ? — Cersei ergueu uma sobrancelha. — Isso complica um pouco caso você tenha algo a me dizer…
Dessa vez Delilah a encarou, assentindo levemente. Sua face impassível, seus gestos eram cuidadosos, controlados.
— Todos estão preocupados com o que virá a seguir, irmã. — Continuou, quase distraída, mas com um tom de ameaça implícita. — Uma rainha, um príncipe, um reino... E cada um joga o seu próprio jogo. A pergunta é... em qual lado você está?
Cersei se levantou e aproximou-se dela, os olhos estreitos. Delilah sabia que a rainha esperava por uma reação, seu coração batia forte e instintivamente abriu a boca, mas se calou mais rápida que seus pensamentos, naquele momento, a ausência de palavras era sua maior arma. De repente, ela levou a mão ao colar simples que usava, um gesto deliberadamente lento antes de fazer um leve movimento com a mão, como quem pede paciência.
Cersei franziu as sobrancelhas, mas o gesto foi compreendido com um menear de cabeça e a rainha deu um passo para trás. Uma irmã silenciosa não seria tão imprudente a ponto de se envolver em algo que pudesse desagradar a corte ou à rainha. Era uma serva da fé, e sua postura submissa reforçava essa mensagem. Finalmente, ela colocou a taça sobre a mesa ao lado.
— Acho que você está apenas cumprindo seu papel... — ela disse lentamente. — Mas lembre-se, irmã silenciosa... mesmo o silêncio pode trair.
Delilah assentiu, seu rosto inalterado, transmitindo lealdade e disciplina. Robert começou a tossir e Delilah temeu. Cersei lançou um olhar para ele como se considerasse algo por um momento.
— Retire a barba dele, se puder, os cabelos também. Estão grandes demais até para o habitual.
E então saiu do quarto, suas saias vermelhas arrastando-se. Quando o som de seus passos finalmente desapareceram, Delilah permitiu-se um pequeno suspiro, relaxando os ombros por um breve instante.
— O quão… grr… generosa minha esposa é….
Robert Baratheon resmungava muito desde que aparentemente o Véu Púrpura começara a fazer efeito. Algumas palavras não passavam de chiados finos, sempre sem sentido, os olhos às vezes ficavam entreabertos, mas nunca focavam e então ele os fechava novamente. Sentada na cadeira, Delilah lia um livro de lendas e histórias a respeito do mundo conhecido de Westeros, quando as palavras de Robert começaram a se formar de forma mais legível.
Delilah ficou parada, observando o corpo suado e frágil do rei. Agora, não parecia mais o homem temível que lhe contaram. O rosto estava voltado para o teto como se buscasse algo que nunca encontraria.
— Lutem, seus covardes! Eu mesmo… eu mesmo vou esmagar… mas tragam o vinho antes… Sete infernos!
Algumas chegavam a ser até engraçadas.
— Só ouro e pernas abertas… é disso que vivem, não? Eu… eu só queria… esquecer a maldita coroa…
Ela desviou os olhos, sentindo a náusea subir. Nunca havia visto alguém tão poderoso reduzir-se a memórias tão vis. Havia uma tristeza profunda, um desespero nas palavras, mas também algo que a enojava. As mesmas mulheres que ele falava com tanto desejo e desdém, seriam aquelas que o tratariam com a mesma indiferença, buscando apenas ouro e prazer passageiro.
Em determinado momento ela encheu o copo com vinho dos sonhos, uma bebida mais leve que o leite de papoula para que pudesse dormir.
— Onde estão elas ? Todas querem me servir… preciso me juntar a batalha.
Dissera quando a mulher se aproximou. Quando Delilah encostou o copo nos lábios rachados, Robert Baratheon abriu os olhos e pareceu finalmente enxergá-la.
— Quem é você ? Morte ? — Perguntou ainda bêbado da própria doença.
Às vezes, mas não hoje. Respondeu em sua mente, Delilah deu a ele de beber e se afastou. Até que o remédio fizesse efeito, Robert manteve o olhar fixo nela. Quando ele enfim se perdeu na terra dos sonhos, Delilah estava exausta, sentindo dores por todo o corpo. Suspirando ela saiu do quarto, indo em direção a Torre da Mão, já era tarde, e tudo estava morbidamente silencioso.
Delilah caminhou lentamente até a porta, seus passos eram como o bater de asas de uma coruja. O peso da responsabilidade ainda pendia sobre seus ombros, mas havia algo de tranquilizador no fato de que, por ora, Robert Baratheon estava descansando. O frágil equilíbrio entre a vida e a morte permanecia intacto — uma vitória temporária, mas uma vitória, ainda assim.
O Estranho viria, cedo ou tarde, mas até lá, ela faria o que estivesse ao seu alcance.
Ela abriu a porta, permitindo que a luz do corredor invadisse o quarto escurecido. Delilah sabia que, assim que saísse, Cersei ou algum outro membro da corte poderia vir até ali. A rainha desconfiava dela, e aquilo a colocava em perigo. Uma vez que Robert estivesse mais lúcido, Cersei certamente faria perguntas — perguntas que Delilah não podia responder. Ao menos, não sem levantar suspeitas.
Enquanto passava pelo corredor vazio, sentiu a mente fervilhando com as possibilidades. Se Robert se recuperasse mais, como ela esperava, ele poderia querer confrontar os meistres. Exigir respostas sobre o tratamento. Delilah tinha que estar preparada, tanto para proteger o segredo do Véu Púrpura quanto para lidar com as pressões crescentes dentro da Fortaleza Vermelha.
Mais à frente, ela percebeu uma figura se aproximando. Era Sor Meryn Trant, o guarda da rainha. Ele sempre parecia estar nos lugares mais inconvenientes, os olhos atentos e a postura severa. Delilah manteve sua expressão neutra, ciente de que ele a estava observando de perto.
— A rainha pediu que eu vigiasse o rei — disse ele, com um leve aceno de cabeça em direção ao quarto. — Como ele está?
Delilah ergueu o queixo ligeiramente e fez um gesto simples com as mãos, indicando que o rei estava dormindo. Meryn a estudou por um momento, os olhos apertados em suspeita.
— Melhor assim — resmungou ele. — Não gosto de vê-lo naquela condição, gritava muito no começo.
Ela concordou com um movimento leve da cabeça e começou a se afastar, mas podia sentir os olhos dele ainda fixos em suas costas. O perigo estava em todos os cantos da Fortaleza de Maegor, e agora ela sabia que estava mais envolvida nisso do que jamais imaginara.
Ao chegar em seus aposentos nos domínios da Torre da Mão, Delilah fechou a porta suavemente e permitiu que um suspiro escapasse. Sabia que tinha pouco tempo para refletir. A conspiração era maior do que ela, e qualquer passo em falso poderia ser fatal.
Enquanto removia o véu que cobria seu rosto, Delilah pensava no próximo movimento. Cersei e os outros não poderiam descobrir a verdadeira natureza do tratamento que estava administrando. A dúvida permanecia: quanto tempo ainda teria até que fosse confrontada diretamente?
Com o pensamento fixo na fragilidade de sua situação, ela se sentou à beira de sua cama, com os dedos ainda tocando o pingente no pescoço. A noite seria longa, e o fim da batalha de Robert estava longe de ser decidido.
💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖. 𐂂༉ Mais um capítulo postado, e iniciamos o segundo ato. Finalmente Robert acordou pra vida, mas tá meio grogue ainda o bixinho, mas no próximo ele vai tá que tá, ein! Gostaria de dizer que esse ato já está finalizado ( no off), mas estou passando um pente fino pelos capítulos, quero acrescentar algumas cenas, aprofundá-lo o máximo que conseguir. Postei o capítulo 4 porque ele está bem de boas, os eventos aqui estão mais calmos, mas eu quero FOGO VIVOOOO!!!
💀 𓄹 ࣪˖ 🜲˖. 𐂂༉ Espero que tenham gostado, não esqueça de votar e dizer se estão gostando. Parem de ser fantasmas, além de me incentivar a trazer capítulos mais rápidos vocês me deixam felizinha. Bye, bye 👋
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