𝐍𝐚𝐝𝐚 𝐞́ 𝐩𝐨𝐫 acaso᭄⁰³
Jogos de provocações sempre foram o meu forte. Aprendi a sobreviver em um mundo onde meu corpo era o centro das atenções. Não cheguei aqui vivendo só do meu talento. Acredite, desembarcar em uma cidade sem amigos ou família é um desafio colossal, e não foi diferente para mim.
Mas agora, diante de Seokjin, me pego perguntando: teria sido diferente se eu tivesse aceitado seu amor? Talvez. Contudo, eram as mágoas que carregava que falavam por mim, e não permitiria que ele me ferisse novamente. Tomados pelo desejo, deixamos a pista de dança e entramos no banheiro da boate. Seus beijos e toques reacenderam uma chama que eu pensava estar extinta. Durante todos esses anos, percebi, nunca senti com ninguém o que os toques dele me faziam sentir.
- Pensei que nunca mais o veria - ele sussurrou ao meu ouvido, enquanto suas mãos exploravam meu corpo com saudade. - Mas preciso saber: por que desapareceu?
- Não me faça perguntas, hyung. Apenas... me beije - murmurei contra seus lábios, deixando o desejo me dominar. Empurrei-o gentilmente para sentar no vaso sanitário e me acomodei em seu colo. Precisava dele mais do que jamais admitiria.
- Não - Seokjin segurou meu rosto com as duas mãos, interrompendo o beijo. Seu olhar fixou-se ao meu, carregado de intensidade. - Quero que me diga por que você sumiu mesmo depois de eu ter dito o quanto te amava.
- Você não pode simplesmente me foder sem me cobrar nada? - minha voz saiu baixa, mas cortante, mantendo o contato visual.
- Quero a verdade, Yoongi. Mesmo que doa, mesmo que me machuque, eu mereço uma explicação.
Sabendo exatamente onde essa conversa nos levaria, saí do colo dele, abri a porta da cabine e caminhei até a pia. Lavei o rosto, sentindo os olhos dele queimarem em minhas costas. Quando ergui a cabeça, vi seu reflexo no espelho, parado atrás de mim. Ele não desistiria sem ouvir o que tanto queria.
Virei-me, encarei-o e decidi que, se não podia corresponder ao amor dele, destruiria qualquer chance antes que crescesse ainda mais.
- Não sei por que insiste em um motivo. Lá no fundo, eu sempre soube que você sentia algo por mim. Dava para perceber no seu jeito de falar e até de agir quando me via com... - o nome de Hoseok ainda era difícil de dizer. - Enfim, você sabe de quem estou falando.
- Não foi isso que perguntei. Pensei que, ao saber que eu gostava de você, as coisas mudariam. Quando fizemos amor pela primeira vez, acreditei que você voltaria a ser o Yoongi de antes. Mas, quando acordei, você tinha sumido. Achei que fosse vergonha, mas não era. Quando fui te procurar, tudo que encontrei foi um bilhete e sua mãe desesperada. Não me venha dizer que foi por causa do Hoseok, porque isso não faz sentido.
Respirei fundo, sentindo o peso das lembranças em cada palavra que ele dizia.
- Quer a verdade? - perguntei com um sorriso amargo. Ele assentiu, aguardando. - Eu não sentia o mesmo. Por que me iludir com amor? Isso só nos torna fracos e dependentes.
- Você fugiu por medo de se tornar fraco? - ele sorriu, um sorriso cínico e quase cruel. Aproximou-se, apoiando as mãos na pia e deixando o rosto bem próximo ao meu. - Olha para você, Yoongi. A quem pretende enganar? Contos de fadas não existem. Acha que amar é viver em um mar de rosas? Seus pais se separaram porque são humanos imperfeitos. Mas transformar seu coração em gelo não impede que você sofra. Continue brincando de príncipe do gelo. Quem sabe, um dia, você aceita as consequências disso.
- Tem razão, hyung - sorri, um sorriso frio. - Contos de fadas não existem. Por isso mesmo, o caminho que escolhi não foi de rosas.
Saí de perto dele, passando pela porta sem olhar para trás. De volta à boate, cruzei a multidão e troquei um olhar com o cara com quem dançava antes. Bastou isso para ele me seguir até fora da boate.
Quando entrei no meu carro, vi Seokjin e Jackson saírem do local. Pareciam procurar algo ou alguém. Dei partida sem me importar.
A madrugada terminou como sempre: bebidas, drogas e sexo com alguém cuja face eu esqueceria pela manhã. Era o ciclo de uma vida miserável, uma rotina autoimposta para sufocar qualquer vestígio de sentimento.
E, se Seokjin soubesse... Se ele soubesse que transformei meu coração em pedra por puro medo... medo de sofrer, medo de admitir que a única vez em que realmente me entreguei foi em seus braços, talvez tudo fosse diferente.
Às vezes, pergunto-me: se existisse um manual para amar, seguiríamos as regras ou diríamos "foda-se" para tudo?
Os dias que se seguiram foram um borrão. Acordava tarde, com a cabeça latejando, e passava horas encarando o teto, tentando ignorar o vazio que insistia em me consumir. Sempre havia alguém novo na cama, mas nenhuma dessas pessoas permanecia por muito tempo. O ciclo era sempre o mesmo: prazer instantâneo seguido por uma culpa que eu não admitiria nem a mim mesmo.
Seokjin, no entanto, parecia decidido a bagunçar o pouco de estabilidade que eu fingia ter. Ele voltou. Não apenas para a cidade, mas para minha vida.
Era uma tarde cinzenta, e eu estava sentado em uma cafeteria qualquer, tentando me recuperar de mais uma noite regada a excessos. O cheiro de café forte misturado ao som abafado da chuva me trazia uma breve sensação de calma. Mas então ele entrou.
Vestia um casaco preto que parecia feito sob medida, destacando sua figura imponente. Seus olhos encontraram os meus quase instantaneamente. Não havia como evitar o confronto.
Ele se aproximou, deixando o casaco na cadeira antes de se sentar à minha frente.
- Não pensei que você frequentasse lugares como este - ele comentou, sua voz carregada de uma ironia sutil.
- E eu pensei que você tivesse me esquecido.
- Esquecer você, Yoongi? - ele riu baixinho, sem humor. - Até parece que isso é possível.
Meu coração bateu mais rápido, mas mantive a expressão indiferente.
- O que você quer, hyung? Se veio aqui para discutir, poupe o seu tempo.
- Não vim discutir. Quero respostas.
Suspirei, passando a mão pelos cabelos bagunçados.
- Não sei mais o que dizer além do que já falei.
- Então diga algo novo. Diga algo que faça sentido - ele rebateu, inclinando-se para frente. - Porque nada do que você faz combina com o que eu conhecia de você.
- Talvez você nunca tenha me conhecido de verdade.
Seokjin riu de novo, mas dessa vez havia algo amargo no som.
- Ah, conheci você, sim. Conheci o Yoongi que tocava piano durante horas, que falava sobre sonhos como se fossem palpáveis. O Yoongi que tinha medo de escuro, mas que se recusava a dormir com a luz acesa. Esse Yoongi sumiu, e eu quero saber por quê.
As palavras dele me atingiram como facas. Por um momento, quis gritar, jogar toda a dor e o rancor na cara dele, mas permaneci calado.
- As pessoas mudam, Seokjin. Não sei por que você está tão obcecado com o passado.
- Não é obsessão. É amor.
Aquela palavra pairou entre nós, pesada e inescapável.
- Amor? - repeti, com uma risada seca. - Você não sabe o que é isso.
- E você sabe? - ele rebateu, sua voz firme, mas não raivosa. - Porque tudo que vejo é alguém fugindo. Fuga atrás de fuga, Yoongi. Eu só quero entender.
Fiquei em silêncio, encarando a xícara de café que esfriava à minha frente. Talvez ele tivesse razão. Talvez eu estivesse fugindo. Mas admitir isso seria abrir uma ferida que nunca cicatrizou.
- Está perdendo seu tempo, hyung - murmurei, levantando-me. - Vai viver sua vida e me deixe viver a minha.
Ele se levantou também, segurando meu braço antes que eu pudesse sair.
- Se viver é isso que você chama de enfiar-se em festas e camas aleatórias, então você está apenas sobrevivendo, Yoongi.
Aquelas palavras ficaram ecoando na minha mente enquanto eu me afastava, saindo para a chuva fria. Ele sempre teve o dom de me despir emocionalmente com poucas palavras, e isso me aterrorizava.
Enquanto caminhava pelas ruas molhadas, a dor no peito parecia mais intensa do que nunca. E, naquele momento, percebi que fugir de Seokjin era o mesmo que fugir de mim mesmo.
No dia seguinte, acordei por volta das onze da manhã com uma dor de cabeça desgraçada. A campainha tocava incessantemente, e, claro, xinguei até a décima geração do filho da puta que ousava me acordar naquele horário.
- Finalmente, bela adormecida - disse Kim Namjoon, entrando de uma vez no meu apartamento, sem sequer esperar convite.
Afundei o rosto no travesseiro, tentando ignorar sua presença.
- Está fazendo o quê aqui a essa hora? - murmurei, os olhos ainda fechados, torcendo para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo.
- Sinto muito, alteza, mas dessa vez não dá pra esperar. Sei que você gosta dessa sua vida de vagabundo drogado que leva - ele sorriu, um sorriso irritantemente convencido, e virou-se para mim, cruzando os braços. - Mas acho que consegui um empresário de verdade que pode investir na sua carreira de rapper.
Levantei a cabeça, surpreso, encarando Namjoon com olhos semi-abertos.
- Sério?
- Sério. Então, por favor, tome um banho e troque de roupa o mais rápido que puder - ele respondeu, apressado.
Eu abri a boca para retrucar, mas Namjoon levantou a mão, me interrompendo antes que qualquer palavra saísse.
- Nem comece, Yoongi. Sei exatamente o que vai dizer, então economize o fôlego. Pode deixar que coloco o indivíduo para fora enquanto você se arruma. Agora, anda logo, encontraremos o cara em uma hora.
Suspirei, ainda deitado, tentando digerir o que ele havia dito. Namjoon era o tipo de pessoa que acreditava em mim quando nem eu mesmo acreditava. Mesmo assim, a ideia de levantar e encarar alguém que talvez pudesse mudar minha vida parecia assustadoramente real.
- Anda logo! - ele insistiu, batendo palmas como se eu fosse algum tipo de animal de estimação treinado.
Revirei os olhos e me arrastei para fora da cama, indo em direção ao banheiro.
- Se esse cara for só mais um idiota com promessas vazias, a culpa é sua - gritei de dentro do banheiro.
- Só confie em mim por uma vez na vida, Yoongi! - ele respondeu, com a voz carregada de determinação.
Enquanto a água fria escorria pelo meu rosto, comecei a me perguntar se aquele era o começo de algo novo ou apenas mais uma tentativa frustrada de preencher o vazio. Uma hora. Eu tinha apenas uma hora para tentar parecer alguém que ainda tinha algo a oferecer ao mundo.
Quando já estávamos no carro, paramos no sinal fechado. Eu tomei um gole do café que Namjoon havia comprado antes de sairmos do apartamento. Meu estado era lamentável: dor de cabeça, ressaca e um humor tão azedo que dava vontade de morder alguém. E, para piorar, estava indo ao encontro de alguém que poderia, de fato, investir no que eu sabia fazer de melhor.
- Melhora essa cara, Yoon, ou o cara desiste assim que olhar para ela - provocou Namjoon, os olhos fixos no semáforo, mas com aquele sorrisinho de canto que só ele sabia dar.
Franzi o cenho e o encarei com o máximo de desprezo que consegui reunir. Quem esse projeto de conselheiro de carreira pensa que é para falar comigo assim?
- Vai tomar no cú, Namjoon! - retruquei, seco, enquanto ele gargalhava e acelerava o carro.
- Eu tento, mas você dá muito trabalho, cara. Fica difícil cuidar da minha vida particular quando tenho que te procurar no dia seguinte em cada motel de Seul.
Dessa vez, foi impossível segurar o riso.
Quase vinte minutos depois, estacionamos em frente a um restaurante elegante. Descemos do carro, e Namjoon entrou com aquela confiança irritante. Eu o segui, tentando não parecer tão deslocado quanto me sentia. Assim que demos o nome de Namjoon, o garçom nos guiou até uma mesa onde alguém já nos esperava.
Quando chegamos, eu paralisei. Não sabia se ria nervosamente ou se dava meia-volta e fugia dali. O mundo parecia brincar comigo.
- Desculpe o atraso, senhor Kim. Meu amigo teve um imprevisto ontem à noite depois de cantar em uma boate - explicou Namjoon, apertando a mão de Kim Seokjin.
Seokjin sorriu descaradamente, desviando o olhar para mim.
- Tenho certeza de que ele deu o melhor de si - comentou ele, com um tom tão sarcástico que eu podia sentir o veneno.
Segurei o impulso de revirar os olhos. Eu não sabia quem xingar primeiro: o mentiroso do Namjoon ou o dissimulado do Seokjin.
- Bom, deixe-me apresentar vocês - continuou Namjoon, com aquele sorriso de mediador de paz. - Este é Min Yoongi, de quem falei tanto. E esse é Kim Seokjin.
Seokjin estendeu a mão.
- Muito prazer, Min Yoongi.
Demorei alguns segundos para retribuir o cumprimento. Observei cada detalhe do seu rosto, aquele sorriso de lado tão típico dele. O sangue subiu, mas antes que eu pudesse ignorá-lo, Namjoon me deu um empurrão discreto no ombro.
- Anda logo, Yoon - murmurou, impaciente.
Bufei, revirei os olhos e apertei a mão de Seokjin com força desnecessária.
- Satisfações, senhor Kim - disse, irônico.
Depois disso, nos sentamos e fizemos os pedidos. Enquanto os dois Kim conversavam sobre mim, minha mente estava a quilômetros de distância. Tentava entender por que Namjoon me colocou nessa situação, e, mais ainda, por que Seokjin estava agindo como se nada tivesse acontecido.
Então, Namjoon se levantou.
- Vou ao banheiro. Não estraguem nada enquanto eu estiver fora.
E me deixou ali. Sozinho. Com ele.
Seokjin entrelaçou os dedos e apoiou o queixo nas mãos, sorrindo com um ar desafiador.
- Ou os assuntos de trabalho te deixam entediado, ou o showzinho particular de ontem sugou toda a sua energia.
Eu o encarei com frieza.
- Você sabia desde ontem, não sabia? Qual é a do teatrinho? Desfaz o circo porque o palhaço está indo embora.
Levantei, mas Seokjin foi mais rápido.
- Qual é, Yoongi. Se eu tivesse dito que te conhecia, você aceitaria o contrato?
- Não! E, agora, com toda essa palhaçada, menos ainda.
Seokjin suspirou, cruzando os braços.
- Seja maduro pelo menos uma vez na vida, Yoongi. Pare de agir com base nesse orgulho. Estou aqui pelo seu talento. O que tivemos no passado, ou até mesmo os beijos de ontem, não têm nada a ver com isso. Eu conheço seu potencial. Sei que você pode crescer muito como cantor.
Ele parou por alguns segundos, deixando o silêncio pesar entre nós. Depois sorriu de lado, arqueando a sobrancelha.
- Ou será que você tem medo de todo esse gelo derreter perto de mim?
Eu não aguentei. Ri alto, tão alto que até mesmo Namjoon se surpreendeu ao voltar para a mesa.
- Olha só! Vejo que estão se dando bem. Isso é um milagre. Ele quase não ri para ninguém - disse Namjoon, sentando-se. - O que foi tão engraçado?
Eu apenas balancei a cabeça, ainda rindo, enquanto Seokjin sorria enigmático, como sempre. Que inferno de dia.
- Acredita que somos da mesma cidade natal? - respondeu Seokjin, a surpresa estampada no rosto. - Ele apenas ficou surpreso com a coincidência, não foi, Min?
- Nossa, que mundo pequeno... mas então... tenho algumas gravações do Yoongi no carro, gostaria de ficar com elas? - Namjoon continuava com seu sorriso fácil, mas a pressão estava ali, subentendida.
- Seria ótimo, assim o resto da equipe pode avaliar também.
Meu olhar ia de um para o outro. Seokjin continuava com aquele sorriso enigmático, como se não me conhecesse, enquanto Namjoon parecia uma máquina de mentiras sobre uma responsabilidade que eu nem sabia que tinha. Levantei e pedi licença aos dois, fui na direção do banheiro. Assim que entrei, respirei fundo e peguei um cigarro da carteira no bolso. A fumaça me acalmava, mas não me tirava da cabeça o quanto eu odiava aquela situação.
Demorei mais de vinte minutos ali, praticamente esqueci onde estava. Sorri, imaginando o quanto aqueles "ricos metidos" torceriam o nariz se soubessem o cheiro de cigarro no ar. Caminhei até a pia, lavei as mãos e joguei água no rosto, mas ao levantar a cabeça, levei um susto. Seokjin estava ali, parado, me observando com um olhar que eu conhecia bem.
- Seu amigo já te espera no carro. Assinamos os contratos. A partir de hoje, sua carreira será gerenciada pela gravadora Stars Kim - ele sorriu, um sorriso que não me deixava confortável.
- Que seja! - rolei os olhos e passei por ele, tentando manter o controle.
- Não revire os olhos para mim, Yoongi, gostando ou não, eu sou seu hyung. - A voz dele ficou mais firme, como se fosse um aviso.
- Vai se foder, Seokjin!
Antes que eu pudesse sair do banheiro, ele me agarrou, puxando meu braço e me forçando contra seu corpo. A tensão era palpável. Seus olhos estavam carregados de algo que eu não conseguia definir.
- Quantas vezes eu te disse para não me desafiar? - A voz dele estava baixa, controlada, mas a força com que segurava meus braços dizia o contrário.
- E quantas vezes já falei que você não me põe medo? - Respondi, a raiva queimando dentro de mim, os dentes cerrados.
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Uma semana se passou desde aquela reunião ridícula. Agora, eu estava sendo patrocinado pela gravadora de Seokjin. A surpresa foi perceber que a Stars Kim era uma gravadora de peso. E quem estava radiante com isso? Kim Namjoon.
- Acorda, Yoongi, já quase uma hora da tarde - disse Namjoon, arrancando os lençóis de cima de mim.
- Juro que te jogo pela janela se me acordar assim de novo - resmunguei, a cara fechada, enquanto ele sorria e abria as cortinas com um entusiasmo irritante.
- Que bom que levantou, me poupou o trabalho de te jogar água na cara. A propósito, você tem uma sessão de fotos às duas e meia. Eu preciso estar no estúdio antes para conferir tudo, e seu assessor estará aqui em vinte minutos, então me poupe de ter que te acordar todos os dias.
Eu só ouvi "Que bom que acordou", o resto foi um monólogo. Tentei não deixar minha raiva matinal transparecer. Sorri para ele e fui em direção ao banheiro, em modo automático.
Quarenta minutos depois, saí do banheiro, vestido com um moletom preto simples. Quando cheguei na cozinha, me deparei com um rapaz de cabelo loiro, bochechas cheias e feições fofas. Ele estava sentado enquanto Namjoon lhe servia café. Ao me ver, Namjoon abriu aquele sorriso largo, mostrando as covinhas.
- Finalmente - disse, levantando-se. O loiro também se levantou.
- Esse é Park Jimin, e esse é Min Yoongi - Namjoon fez as apresentações.
- Satisfações, senhor Min - Jimin se curvou, a voz doce.
- Igualmente - respondi, sem emoção. - Podemos ir? Ou você vai continuar galanteando o garoto? - cerrei os olhos para Namjoon, que riu baixinho, claramente satisfeito.
O loiro corou, e isso só aumentou sua fofura. Revirei os olhos e saí em direção à porta.
Durante o trajeto até o estúdio, Jimin me dava detalhes sobre os compromissos, desde a sessão de fotos até as mudanças na minha agenda. Eu mal estava processando tudo. Chegamos ao estúdio e, quando vi o local, percebi que seria mais cansativo do que eu imaginava. Trocas de roupa, mudanças de cenário... isso durou mais de três horas.
Eu não tinha nem começado minha carreira e já estava exausto. Será que seria sempre assim? Sorri para mim mesmo e neguei com a cabeça. Claro que não seria. No final da última sessão, aproveitei a distração de Namjoon, que parecia estar sendo encantado por Jimin, e voltei ao camarim para me livrar da tensão. Peguei o saquinho do bolso e inalei a substância, deixando que a adrenalina tomasse conta de mim.
- Você sabe que isso vai te matar, não sabe? - Uma voz me fez abrir os olhos. Era Seokjin, com seu tom de repreensão.
- Foi a vida que eu escolhi - respondi com tranquilidade. - E posso parar a qualquer momento.
- Isso é o que todo viciado diz. - Ele cruzou os braços, seus olhos fixos nos meus. - Sempre dizem que podem parar, mas não têm força para largar.
Eu não pude evitar o sorriso que escapou. Levantei a cabeça e arrumei o cabelo, mantendo o olhar firme nele.
- Disso você entende bem, não é, hyung? Você não conseguiu se livrar do seu vício, mesmo depois de dez anos. - Me aproximei dele, desafiador. - Fugiu da primeira vez, mas voltou porque queria mais. - Passei a língua pelos lábios enquanto minhas mãos subiam pelos seus braços até seus ombros.
- Eu deveria ter superado você depois que foi embora sem dar explicações - a voz de Seokjin estava carregada de mágoa, mas ele não se afastou. Segurou minha cintura com força, a proximidade de nossos corpos crescente. - Mas você... você é a droga perfeita, feita especialmente para mim. - Ele deslizou as mãos para minha bunda, apertando contra seu corpo, e eu não fiz questão de impedir.
- Deixa eu resolver isso para você? - perguntei em um tom baixo, olhando-o nos olhos, enquanto sentia seu corpo reagir ao meu toque.
O momento ficou tenso, nossas respirações entrecortadas enquanto os corpos se aproximavam ainda mais. Quando nossos lábios se encontraram, o beijo foi desesperado, como se estivéssemos tentando recuperar o tempo perdido. Mas entre a necessidade e o desejo, havia algo mais. A saudade, a dor e a intensidade do que já havia sido.
- Eu não te quero só por um momento, Yoongi - Seokjin sussurrou, mordendo meus lábios.
- Me eternize a cada momento - respondi baixinho.
O desejo se acendeu novamente, e em um movimento rápido, ele me colocou sobre um móvel. Seu corpo se movia contra o meu de maneira lenta, mas inegavelmente intensa. Eu não conseguia segurar os gemidos. A tensão estava no ar. E então, como um pesadelo, alguém bateu na porta.
- Yoongi, você está aí? - A porta se abriu, e lá estava Kim Namjoon, parado, olhando para nós.
Seokjin rapidamente se afastou de mim, mas o constrangimento era inevitável. Eu olhei para Namjoon, tendo que decidir entre rir ou dar uma cadeira na cara dele.
- É... fico contente por você estar se adaptando bem - Seokjin disse rapidamente, ajeitando a roupa e saindo mais rápido do que eu poderia imaginar.
- Devo fingir que não estavam se pegando? - Namjoon me perguntou, arqueando uma sobrancelha, e eu não pude evitar o riso que escapou.
- Além de quebrar as coisas, você tem o talento de aparecer na hora errada, Nam. - Eu me levantei, indo até o espelho arrumar o cabelo.
- Olha só, eu posso ser amigo, irmão, protetor e até advogado do diabo, mas bola de cristal eu não tenho, não. - Namjoon caminhou até o meio do camarim, me olhando com um sorriso irônico. - Da próxima vez que for foder com o produtor musical, me manda uma mensagem, e eu te garanto que nem apareço aqui.
- Terminamos a agenda hoje? - Perguntei, com um biquinho de tédio, e vi Namjoon negar com a cabeça.
- Ainda temos umas coisinhas, mas - olhou o relógio - até às nove você está liberado.
- Tudo isso ainda? - Suspirando, soltei o ar pela boca. - Preciso me divertir, viver.
- Em outras palavras, se drogar. Você precisa dar uma aliviada nisso, Yoon. Vive mais drogado do que sóbrio.
- Sim, senhor general - brinquei, fazendo cara séria e batendo continência para ele, o que fez Namjoon rir e me xingar.
- Me conta, achei que ia estar se divertindo com o loirinho gato. Está perdendo o jeito grandão? - Arqueei uma sobrancelha.
- Claro que não, mas quero fazer valer a pena pelo menos uma vez. Quem sabe o Jimin não é o cara certo.
- Tão rápido? - Sorri, pegando minhas coisas. - Mas uma coisa não impede a outra, né? Sexo faz parte dessa baboseira de amor. - Enfatizei a última palavra com um desgosto fingido.
- Eu sei, eu sei, mas não quero transar no primeiro encontro.
- Desde quando? A gente transou no primeiro encontro.
- Yoongi, você é o próprio demônio na terra, arrastando a humanidade para o inferno. - Ele fez cara de indignado, mas logo riu.
- Ficaria ofendido se não fosse verdade!
- O Jimin é um verdadeiro anjo. Tem que ser com calma.
Apesar de todo o desprezo que tentei demonstrar pelo romantismo do Namjoon, uma parte de mim estava feliz por ele. Namjoon, apesar das loucuras, se tornou alguém em quem eu confiava. E, honestamente, se tinha alguém que eu queria ver se dando bem, era ele.
- Ohh, que bonitinho. Prometo que levarei o melhor presente quando casarem - Fiquei de frente para ele. - Vamos logo mostrar a música aos chefões? Quero aproveitar minha noite antes de me tornar um rap fodão. - Pisquei o olho para Namjoon, sorrindo. Peguei sua mão e saímos juntos do camarim.
Sinceramente, não faço ideia do que o futuro nos reserva, mas como sempre, todas minhas ações têm um motivo. Não fiz boas escolhas, mas sei que muita água vai rolar por baixo dessa ponte.
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