002. Declaração
Eu estava aflita. Era o dia que eu tinha finalmente tomado "vergonha na cara" e decidido me declarar para a Andyer. Depois de vários anos a amando e fazendo de tudo para esconder dela os meus reais sentimentos, eu tinha decidido que daquele dia não passaria. Como Castiel, o meu melhor amigo, me disse uma vez, cedo ou tarde eu teria que assumir ou ela acabaria descobrindo.
Eu me levantei cedo. Tomei café, tomei um banho, escovei os dentes, fiz um babyliss no cabelo para ficar com algumas ondas, fiz um delineado, passei um rímel, blush e um gloss e vesti um vestido curto vermelho. Era um vestido que ela havia me dado no meu último aniversário. Não era o tipo de roupa que eu costumava usar, mas Andyer me disse que o meu corpo era bonito demais para ser tão escondido com peças largas. Me fez prometer que usaria o vestido de fenda e decotado em uma ocasião especial, apenas para testar. Se eu não gostasse, não precisaria usá-lo mais.
Bom, eu aceitei. Primeiro, que não custava nada tentar. Segundo, que eu já estava decidida a um tempo a dar uma mudada no meu guarda-roupa, já que ele estava muito desatualizado. Terceiro, porque se ela dizendo que o meu corpo era bonito, eu não tinha que ter dúvidas que realmente era. Eu confiava de olhos fechados nas palavras da Andyer.
E convenhamos que me declarar para ela era uma ocasião especial, não? Eu não conseguia pensar em um momento mais apropriado para usar aquele vestido. Seria se eu fosse convidada para algum casamento ou festa de quinze anos antes, mas não fui (e mesmo se fosse, eu acho que ainda assim usaria uma das minhas roupas velhas do que aquele presente). E, apesar de estar tão arrumada, eu ainda assim calcei botas de borracha. As minhas eram pretas e tinham glitter.
Fui até o estábulo do meu cavalo prepará-lo para a nossa saída. Por mais que a fazenda aonde Andyer morava não fosse muito longe da minha, também não era relativamente perto. Tinha morro para subir e a terra estava molhada, porque choveu na noite anterior. Sem contar que ir cavalgando me pouparia de suar e o meu perfume sair ou a minha maquiagem derreter.
— Bom dia, meu Rei! — Quando cheguei, Rei pareceu animado em me ver. Ele relinchou em resposta ao meu cumprimento. — Você quer ir comigo dar uma voltinha?
O meu mangalarga preto tinha a mania de me seguir pelo caleiro à medida que eu ia pegando as coisas para montar a sua cela. Naquele dia ele me cheirou no ombro, perto do pescoço. E eu amava quando ele fazia isso, mas naquele dia ele não podia. Então eu me afastei.
— Desculpa, Rei. Hoje você não pode tirar o meu perfume.
Isso o fez me olhar curioso. Sabe, eu tinha um cavalo fofoqueiro e que entendia o que eu dizia, eu acho.
— Eu vou me declarar para a Andyer! Tenho que estar bonita e arrumada.
Ele relinchou de novo, dessa vez mais alto do que antes. Ficou eufórico. Tão eufórico que foi difícil o controlar depois para conseguir montar a sua cela. Eu lhe dei algumas cenouras antes de sairmos.
Foram uns vinte minutos cavalgando até chegar na casa dela. Eu levei o Rei até perto de uma árvore para o amarrar, e quando terminei de fechar o portão da única cerca de madeira e arame que protegia a sua casa após adentrar no quintal, pude escutar a porta da varanda da frente sendo aberta.
— Lara? — Ainda antes de me virar, escutei uma doce voz chamando pelo meu nome. Era ela. Na hora eu estremeci, e confesso que repensei se era uma boa ideia ter ido até lá. Vai que ela não sentisse o mesmo por mim e eu fizesse papel de idiota?
— Oi — a minha resposta foi seca, mas eu não queria que fosse. Respirei fundo, forjei um sorriso que tentasse não demonstrar toda a minha ansiedade e me virei para ela.
Andyer ainda estava de camisola, usando pantufas e parada na varanda de entrada e me fitando com certa curiosidade. Conhecendo ela, devia estar acordada a um tempo, mas só devia ter levantado da cama porque escutou o barulho dos cascos do Rei. Quando meu olhar cruzou com o seu, ela abriu um sorriso radiante, destrancou a varanda e veio correndo na minha direção. Envolveu os seus braços ao redor da minha nuca e tal ato — simples, para duas amigas — me fez ficar mais tímida do que eu já estava.
— Você veio tomar café da manhã comigo e com o meu irmão?
A garota aproveitou que o seu rosto estava perto o suficiente do meu ouvido para cochichar tal frase. A sua voz aveludada acompanhada do meu nervosismo natural me fez sentir um arrepio, porém era um arrepio positivo.
Aquela mulher me tinha na palma das suas mãos.
E ela nem tinha feito nada demais para isso. Eu apenas me encantei por ela e pelos seus mínimos detalhes.
Eu poderia abraçá-la de volta, mas não o fiz. Ao contrário disso, segurei em seus ombros e a afastei de mim, balançando a cabeça negativamente. Acho que o meu gesto a confundiu, porque ela abriu a boca para falar — ou talvez perguntar — algo, porém eu fui um pouco mais esperta e certeira (e imprudente) ao dizer, sem pensar:
— Eu vim me declarar para você.
Pude perceber que surgiu uma interrogação na sua cabeça através da face confusa que ela me lançou segundos depois.
— Se declarar? — E a sua pergunta me confirmou o que deduzi. — Se declarar pelo o quê?
Não tinha como mais "dar pra trás". Se antes eu estava pensando em amarelar, agora eu não tinha como fazê-lo.
Porém, pensando por outro lado, só se vive uma vez, certo? E se eu não tentasse, ela poderia muito bem aparecer namorando outra pessoa e eu acabar ficando machucada. Nessa hora constatei que o Castiel estava certo: ela tinha que saber dos meus sentimentos. Talvez fosse menos doloroso ganhar um "não" do que ver a Andyer entrar em um outro relacionamento sem eu ao menos não ter tentado dizê-la que a amava antes.
Esse pensamento me deu coragem, de uma certa forma. Nisso eu respirei fundo, passei a segurar nas suas mãos e encarei cada cantinho da sua face — principalmente os seus lábios — antes de voltar o meu olhar ao seu. Depois de calma, nem precisei pensar no que dizer — as palavras simplesmente saíram da minha boca:
— Eu te amo, Andyer. Desde quando éramos garotinhas, eu te amo. Eu sempre te amei. Por um tempo tentei me enganar, repetindo para mim mesma que não era certo, mas… Não dá mais. O que eu sinto por você vai além do seu sexo e além do meu sexo. De todas as pessoas que eu já conheci na minha vida, eu tenho certeza que nenhuma delas chega sequer aos seus pés. Eu nunca senti por ninguém o que sinto por você — involuntariamente, apertei um pouco as suas mãos e o movimento me foi devolvido. Ela me encarava fixamente, sem esboçar uma reação. Decidi continuar. — É um sentimento bom, sabe? Um sentimento que só cresce a cada vez que penso em você. E é um sentimento muito bom! Se não for amor, eu sinceramente não sei o que possa ser.
Eu terminei a minha fala e ela não me respondeu nada. Apenas me ficou fitando, com os lábios um pouquinho separados e a expressão parecendo de puro espanto. Tanto que fez o meu coração acelerar e, por um minuto, eu pensei que havia acabado de destruir a amizade mais fiel que eu provavelmente teria em toda a minha vida. E tal pensamento me fez ficar aflita, mais uma vez.
— Você… Não vai falar nada? — Eu não queria ter feito tal pergunta, mas não queria ficar lá parada fazendo papel de trouxa. — Sabe, se você não sente o mesmo por mim, só me diz para te esquecer. Assim eu acho que irei tomar um choque de realidade e me pôr no meu devido lugar…
Ela continuou me encarando por alguns segundos, incrédula. E eu fiquei nervosa e ansiosa. A sua reação me parecia negativa.
Mas eu me enganei. Quando pareceu despertar do "transe" que a prendia, ela se aproximou repentinamente e selou os nossos lábios.
A princípio eu me senti assustada com o seu ato, isso porque fui pega desprevenida. Cheguei até a pensar que era algum tipo de brincadeira, mas quando percebi que ela queria abrir passagem para um beijo intenso, eu cedi. Soltei as suas mãos e envolvi a sua cintura, a puxando para mais perto de mim. Ela retribuiu envolvendo os braços ao redor da minha nuca.
Aquele foi o melhor beijo que eu já provei em toda a minha vida. Nós estávamos tão envolvidas que eu nem percebi que o ar me faltava. O beijo dela era tão doce, tão quente e tão sedutor que me manteve entretida até o último segundo.
Quando ela se afastou, eu devo ter feito uma cara de quem estava implorando por mais porque ela riu e colocou o indicador direito sobre os meus lábios para me impedir de a beijar mais uma vez quando me aproximei.
— O sentimento é recíproco, Lara — ouvir isso partindo da sua linda voz fez com que eu me sentisse verdadeiramente nas nuvens. — Eu também te amo.
Eu não pude acreditar no que estava ouvindo. Por um tempo achei que realmente estivesse sonhando, até tocar o seu rosto e ter noção de que não, tudo aquilo era real.
Então eu a beijei novamente, na mesma intensidade que a forma anterior. Mais uma vez foi ela quem nos separou. Os seus lindos olhos verdes encontraram os meus da forma mais pura que eu jamais havia visto na vida.
— Lara — ela sussurrou. — Se estamos tão apaixonadas, isso quer dizer que somos namoradas agora?
— Depende. Você quer ser a minha namorada?
Ao ouvir a minha pergunta, ela sorriu para mim. Balançou a cabeça em sinal afirmativo e selou os nossos lábios mais uma vez.
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1678 palavras.
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