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O dormitório feminino da Lufa-Lufa era um local agradável, quente, porém sem ser abafado, com paredes revestidas de madeira cor de mel extremamente polida, um cômodo ovalado com seis camas devido uma aluna a mais, Lena, que veio transferida de Castelo Bruxo no terceiro ano daquela turma. Havia um tapete fofo no chão, de lã amarela clara e branca, e uma lareira de pedra sempre acesa nos dias frios. Uma escrivaninha ficava entre a lareira e a porta para o pequeno banheiro que as seis garotas dividiam, e seis camas de madeira ficavam encostadas nas paredes, cada qual separada por uma mesa de cabeceira de cada lado, essas com estantes de tijolinhos recobertos de madeira, para os livros escolares ou facultativos dos estudantes, as camas cobertas com dóceis e colchas de retalhos, com grande quantidade de almofadas, e janelas pequenas e redondas cobertas com cortinas amarelas e pretas, para cobrir a luz, com pequenos espaços almofadados onde as estudantes podia sentar-se à luz do sol matinal.
Naquele início de noite, o quarto estava cheio, com todas as seis donas arrumando seus pertences que ficariam lá durante todo o ano. O baú de roupas de Scarlett havia sido deixado ao lado do imenso baú de Lia, e Pompom, o gatinho de cara alaranjada e achatada da garota, era penteado por Lia, vestida com roupão e pantufas, os cabelos molhados saltando em cachos como faziam quando secavam úmidos. Scarlett já fazia a nova monitora da Lufa-Lufa, Ariel, bufar, pois as roupas que outrora vestia já estavam jogadas no chão, onde ela deixou após tirar. Lizzie e Mary ajudavam Lena a pregar as fotos que tinham juntas em alguma combinação bonita nas paredes. Scarlett saiu do banheiro enrolada na toalha, jogando a mesma em cima da cama para o desgosto das amigas, procurando o pijama, que ela vestiu rapidamente, antes de pegar o distintivo de capitã do time e cuidadosamente colocar na mesinha. Rapidamente se virou para as colegas, mostrando algo no qual havia trabalhado desde que recebeu o distintivo novo.
— O que pelo Inferno deveria ser isso, Scar? — Lia perguntou, soltando o filhote em cima do baú para se debruçar sobre o esquema cheio de setas, no formato de um campo de quadribol. Uma legenda desorganizada estava logo ao lado, simbolizando que cor era cada jogador. Lia era apanhadora da equipe havia anos, seu porte pequeno, porém não muito, a permitindo ser rápida e boa em desviar de balaços, enquanto Lizzie era batedora e Lena e Mary, apesar de não jogarem no time, eram muito conhecedoras do esporte.
— Estratégias para esse ano. Quero que seja uma nova era para a equipe da Lufa-Lufa. Venho pensando nisso desde que recebi o distintivo, embora eu provavelmente fosse apresentar para o Calleb, já que pensei que ele seria o novo capitão. — Ela sorriu para a amiga, enquanto Ariel se aproximava com a menção do nome do colega mais velho. Era a única das colegas de quarto que não era vidrada completamente no quadribol, porém gostava de torcer pelas amigas.
— Mal chegou e já está planejando o horário de reserva da quadra para amanhã? Só aviso que o Potter já deve estar colocando a Evans de cabelos em pé para reservar a quadra. Vi ele enchendo o saco dela hoje a caminho do vagão dos monitores, pobre garota... — Sentou-se na cama, olhando o Mapa confusa. — Eu não consigo entender esse jogo, e por favor, não comece a explicar novamente. — Ela disse ao ver a carinha de Scarlett, que se desfez em um biquinho, fazendo as amigas rirem. Era assim a relação delas, e elas apenas esperavam que se mantivesse assim para sempre.
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— Boa noite, Nick! — James cumprimentou o fantasma de sua torre ao entrar tropeçando nas escadas para entrar em seu quarto, sem ver a assombração balançando a cabeça solta em uma risada que acabou por solta-la do colarinho alto, fazendo uma garotinha gritar, enquanto ele a ajeitava, com uma sombra de sorriso, dizendo.
— Boa noite, James! — O fantasma riu, enquanto James encarava o quarto que já parecia um campo de Guerra, no mesmo esquema que era desde seu primeiro mês de aulas em seu primeiro ano, cinco anos antes. E agora, cinco anos depois, continuava a mesmíssima coisa, com Remus surtando por Sirius já ter derramado todo o baú de roupas no chão procurando por algo, já praguejando de pé em sua cama enquanto separava sua cama das demais com um lençol para não "ser obrigado a ver a porqueira do Sirius", deixando o quarto parecendo uma área hospitalar com pacientes em quarentena. Peter estava deitado na cama com os pés na cabeceira, pensando se pregava fotos ali ou se deixava quieto pois ficaria com preguiça de terminar a organização pela metade. Chris já estava sem camisa deitado na cama, fazendo algum dever de casa que deixou para fazer no último momento, e Kim Shacklebolt já dormia, a cabeça embaixo de um travesseiro para abafar a cantoria escandalosa de Sirius no banheiro, e por dois segundos James encarou os amigos pensando no quão malditamente sortudo ele era de ter aquela família com ele.
— O CAPITÃO CHEGOU! — Foi o berro de Peter, tentando dar uma cambalhota para sair da cama por pura preguiça de sair de um jeito normal. Peter era comentarista de quadribol desde que James entrou para o time, no terceiro ano – no segundo sua mãe escreveu para professora Minerva não o autorizar entrar no segundo a menos que ele se esforçasse para passar em astronomia, materiazinha completamente inútil que segundo ele apenas lhe roubava horas de sono, mas que ele se esforçou para entrar no time nos testes de setembro de 1973. Peter era normalmente tímido e quieto, mas apenas até os jogos chegarem. Era torcedor fiel da Grifinória, com direito a todas as cafonices de torcedor. — Eu já recebi o calendário desse ano, o primeiro jogo que interessa, ou seja, do nosso time, é contra a Lufa-Lufa, vamos ganhar, obviamente. O time da Sonserina era forte, mas vão ter que refazer os testes, já que o Burke se formou e eles precisam de um apanhador. Corvinal é bem forte mas tem o mesmo time há anos, então já conhecemos as estratégias. — James riu, soltando a gravata e jogando na cama, para um suspiro de desespero e exasperação de Remus, que já havia terminado de se isolar a parte dos colegas e começou a catar as roupas de Sirius no chão no momento em que o Black saía do banheiro, já vestido com o pijama, para a preocupação de James.
Sirius nunca dormia de pijama, muito menos em uma noite quente como aquela.
As luzes já haviam sido desligadas, Peter já roncava alto e Chris e Kim dormiam quietos, e Remus não era visto pelos colegas graças aos lençóis, mas já deveria estar no décimo quinto sono, quando James escapuliu para o lado da cama de Sirius, sabendo que o amigo ainda não estava dormindo. Encarou-o com as sobrancelhas levantadas, perguntando.
— O que fizeram dessa vez, Si? — Sirius se virou na cama, erguendo rapidamente a blusa para que James visse um hematoma na região da barriga, em um tom feio de amarelo esverdeado sinalizando que já existia havia alguns dias.
— Eu... Eu caí da cama, James. — As sobrancelhas de James continuaram arqueadas, antes de Sirius gaguejar. — Foi Bellatrix, mas paciência... Não é como se eu tivesse que aguentar ela constantemente. — A voz de Sirius era quase doente, como se ele estivesse farto de tudo aquilo, e mais de uma vez, James se apiedou daquela situação, sabendo que de tudo que podia oferecer, o mais inútil era a pena.
— Você sempre pode ir para minha casa. Mamãe e papai te receberiam, você sabe disso. — Sirius sorriu de lado, empurrando a cabeça de James e ambos rindo em silencio, sem humor, um amargo sentimento de derrota na boca.
— Deita e dorme, James. Por agora, não tem nada que dê para fazer. Estamos em Hogwarts, e não é como se algo de ruim fosse acontecer em Hogwarts.
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Lia soltou um palavrão baixo quando Scarlett a cutucou suavemente na bochecha na primeira manhã de sábado após o retorno das aulas, escondendo os cabelos cor de ébano brilhante debaixo da colcha, resmungando algo sobre acordar cedo e o diabo, voltando a dormir, e Scarlett sussurrou, tentando acorda-la de um jeito suave, mesmo sendo difícil.
— Talizinha, vamos levantar? Reservei o campo para os testes, e preciso de toda a equipe lá... — Ela choramingou, cobrindo o rosto e puxando os pés para dentro da colcha, e a ruiva revirou os olhos, finalmente apelando, abrindo a gaveta da mesinha de Lia, impecavelmente organizada entre alguns chocolates para o consumo dela e papeis de embrulho, para os que venderia, junto de algumas folhas de preços perfeitamente organizadas em uma pasta. Havia um post-it solitário lembrando que Remus estava devendo dois chocolates e um bolo de leite em pó, e ela sorriu. Acima de tudo, Lia era comerciante. Pegou um dos papéis dourados e brancos e amassou um, sorrindo sarcasticamente ao ver Lia voar da cama para fechar a gaveta, bufando, os pés parando em cima das pantufas e amarrando o roupão. Com papelinhos presos nas pontas dos cabelos, ela realmente parecia uma tia brava.
— Eu vou tomar banho e me vestir, e que Deus tenha misericórdia do seu couro se eu for a primeira a chegar no vestiário e não tiver café, entendeu? — Ela deu uma risada alta ao se virar para levantar Lizzie, que foi muito mais fácil do que levantar, estranhando um pouco a ausência de Mary e Helena em suas camas, mas pensando que provavelmente elas já estariam na biblioteca, e sorriu de leve ao ver que as tranças de Ariel estavam espalhadas sobre a escrivaninha, e não sua cama. O quinto ano já cobrava de todas, cada qual em um nível. Scarlett queria ser jogadora enquanto seu corpo lhe permitisse, mas não poderia ser uma para sempre, visto que seu corpo começaria a cobrar o preço da vida de atleta cedo ou tarde, e precisaria parar de levar balaços no nariz em algum momento. Pensava que depois de seus anos nos holofotes, um emprego no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos seria de bom tamanho, e, portanto, precisava de N.O.M.s e N.I.E.M.s consideráveis.
Ela já estava com uniforme, e o rabo de cavalo que havia prendido balançava por trás de seu rosto, alguns fios já escapulindo do penteado, diferente dos de Lia, que por incrível, sempre ficavam impecáveis mesmo depois das mais duras partidas, provavelmente por genética boa. O cabelo de David Martin sempre havia sido loiro e belo, como ouro batido, porém o de sua mãe já era mais rebelde, porém normalmente bem preso e por isso, controlado. Por não ter tido uma mãe na infância, ela pensava com frequência, ela não sabia prender o cabelo direito. Seu pai sempre havia sido uma tragédia em ajuda-la com isso.
Scarlett entrou no dormitório masculino do sexto ano, notando que nenhum dos garotos estava acordado, antes de ir em direção a cama de Calleb e acender um lumus na ponta de sua varinha, iluminando o rosto do ruivo até ele abrir os olhos, puxando as colchas para cima pelo susto.
— Scar... que horas são? — Ele procurou um relógio, antes da garota informar, irritada.
— Eu avisei ontem, Cal. Agora é o teste para a equipe de quadribol, e todos vão fazer. Anda, anda, anda. Passa no dormitório do quinto ano e acorda o Rick, eu tenho medo do que ele vai falar se for acordado com uma garota sussurrando. — Ela saiu, deixando a luz ligada para garantir que ele não voltaria a dormir, e desceu correndo as escadas, sabendo que ou pegava o café para deixar no vestiário, ou Lia realmente teria a sua cabeça pendurada em cima da lareira.
Sorriu para alguns colegas que tomavam café, embora fosse muito cedo. Uma garota morena da Corvinal tinha o nariz enterrado em um livro, e ela evitou cruzar olhares com o pior grupo da Sonserina, Claire Fairchild, juntamente de Ian Shafiq e alguns outros puro-sangues, mas sorriu ao ver Jace Rosier tomando seu café sozinho. Concentrou-se em transformar um prato em uma cesta, sorrindo para o resultado embora a cesta ainda fosse da mesma cor do prato, mas paciência. Ao menos havia virado uma cesta. Enfiou uma chaleira de leite e uma de café, além de um prato com umas torradas cobertas por um guardanapo, pegando manteiga e uma faca e saindo em disparada para o campo.
O campo de quadribol realmente era como o ambiente natural de Scarlett, com as torres e a arquibancada e o campo, as balizas posicionadas, três em cada canto do campo, uma visão linda, realmente. A vassoura que trazia era uma Nimbus 1001, uma das melhores vassouras da época, e que nunca havia lhe deixado na mão até então, e ela nem pretendia que deixasse. Correu para deixar o café no vestiário da Lufa-Lufa, antes de dar um impulso com os pés, deixando o chão em um milésimo de segundo. O ar frio da manhã saudou-a como um velho amigo, e a sensação de dar voltas no campo com a vassoura era a mesma de sempre, porém especial à sua maneira. Tinha quinze anos, e jurava que conquistaria o mundo.
Ela sorriu ao ver o time chegar ao campo, descendo já completamente descabelada, com um sorriso radiante no rosto. Lia ainda parecia resmungar sobre o sono perdido, porém Scarlett a conhecia o suficiente para saber que ela se divertia ali. Calleb parecia com sono, olheiras claras por baixo de seus olhos, e Rickard sorria de lado, ao lado do irmão gêmeo, fazendo com que ela apenas os diferenciasse pelo uniforme que Rick vestia e Adam não. Lizzie tinha um brilho de determinação no olhar, e Scarlett suspirou. Aquele seria o time aquele ano.
— Então, eu trouxe café! — E esqueci os copos, ela se lembrou.
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