CAPÍTULO 22 - O HOMEM DO CAPUZ
Estávamos de frente para o semblante envergonhado de Alex e Victória, ambos parecendo ladrões pegos no flagra. Com um sorriso tímido, Alex tentou se explicar:
- Bom, é que Victória estava se sentindo entediada enclausurada naquela casa, então decidimos vir aqui para ver como estão as coisas.
Victória, no mesmo instante, pareceu forçar um sorriso tentando concordar com a explicação de Alex, algo que não me pareceu muito convincente. Afinal, por que eles estavam agindo de forma tão estranha?
- Essa ideia foi sua mesmo? - Simon perguntou, olhando desconfiadamente para ela. - ou foi do Alex? - Ele questionou mais uma vez, surpreendendo os dois, enquanto eu apenas erguia minha sobrancelha intrigada.
- O quê? Não é nada disso. Por que eu iria querer ficar perto de vocês?
- Isso foi uma pergunta? - Simon perguntou.
- Não, uma afirmação. - Alex respondeu.
A partir desse momento, senti um clima tenso entre eles. Alex estava incomodado e Simon parecia estar confrontando o irmão apenas com o olhar, algo muito estranho, já que Simon sempre se demonstrou passivo em relação a Alex e ele bem indiferente em relação ao irmão mais velho. Mas por que agora eles estavam se alfinetando?
Eu sempre quis entender Alex, e ainda quero, mas agora, também tenho o desejo de poder saber o que se passa na mente de Simon.
Após se manterem como cão e gato, Victória logo deu uma ideia, a fim de quebrar o gelo, de irmos até o supermercado e comprarmos alguns ingredientes para fazer um belo jantar. Concordamos e seguimos em silêncio para o centro de Solvang, enquanto Simon permanecia com um semblante irritado, como se a chegada dos dois tivesse o atrapalhado; ou seja, ele não poderia ficar a sós comigo.
Eu me vi indiferente durante todo o percurso, talvez estivesse um tanto fria essa semana, e às vezes eu mesma não me conhecia e me perguntava se eu estava realmente bem comigo mesma? E se essas questões ao meu redor estariam me afetando tanto assim? Afinal, eu sentia falta e ser empática o suficiente para ser curiosa sobre a vida de Alex.
Ao chegarmos no supermercado, paramos o carro no estacionamento, e descemos rapidamente dele, aponto de que Simon dissesse:
- Podem ir. Preciso resolver alguns assuntos particulares.
Surpresa, olhei para ele e disse pela primeira vez:
- Posso ir com você? Se não for incômodo, é claro.
Simon esboçou um pequeno sorriso, enquanto Alex torcia o semblante pela primeira vez, como se tivesse comido algo e não gostado.
- Sinto muito, mas é algo que tenho que resolver sozinho. - Simon respondeu.
- Tudo bem, eu entendo. - Dei um leve sorriso, ao mesmo tempo, curiosa a respeito desses assuntos particulares, pois Simon não era um homem que parecia ter segredos e muito menos uma vida longe de sua residência e do hospital. Então, essa sua atitude é bastante questionadora...
De repente, a lembrança daquela pasta cheia de informações minhas veio à minha cabeça. E pensei, o que mais de estranho Simon poderia esconder? Afinal, por que ele me parece tão bom, mas eu não consigo confiar nele?
Entramos no estabelecimento deixando Simon do lado de fora. Victória alcançou um carrinho de compras e seguiu pela primeira vez sem me alfinetar ou dizer uma afronta sequer a mim, algo que achei estranho. Afinal, por que todos estavam tão diferentes de como costumavam ser?
Continuei seguindo Victória, que ia na frente, e Alex, que caminhava ao meu lado, enquanto observava os alimentos nas prateleiras. No entanto, ele chamou minha atenção. Olhei para o rosto de Alex e não percebi o quanto ele estava bonito... quer dizer, parecendo um jovem normal...
Seu cabelo estava em um belo formato, que deixava o seu rosto ainda mais delicado, seus olhos estavam mais vivos do que o comum, seus lábios estavam rosados, e aquele casaco e capuz preto que ele usava haviam sumido. Sua roupa foi substituída por um moletom laranja, calça jeans e um par de tênis brancos que eu não havia percebido. Por que sua roupa estava tão alegre? Por que ele decidiu mudar logo agora?
Eu queria perguntar, mas uma tensão dentro de mim roubou minha voz e ascendeu meu orgulho para que eu não perguntasse. Entretanto, Alex decidiu se manifestar:
- Você está bem, Amy?
Quando ele pronunciou meu nome, meu coração palpitou, talvez, contente ao ouvir novamente ele chamar meu nome com sua voz séria e melancólica de sempre.
- Estou. - Respondi, logo voltando ao imenso silêncio entre nós.
- Que bom. - Ele disse.
Alex parecia a todo instante querer falar algo comigo, no entanto, ele parecia hesitar como se estivesse tenso com a situação. Enquanto eu permanecia apenas em silêncio, sem ao menos demonstrar nenhuma reação ou atitude quanto a isso.
Enquanto caminhávamos pelos corredores do supermercado, o clima entre nós estava tenso e silencioso. Cada um parecia perdido em seus próprios pensamentos, tentando decifrar os acontecimentos recentes e as atitudes estranhas dos outros.
Eu me sentia desconfortável com o silêncio, então decidi quebrá-lo:
- Então, o que vocês acham que vamos preparar para o jantar?
Victória pareceu animada ao pensar no que poderíamos fazer, e Alex finalmente quebrou seu semblante sério com um sorriso leve.
- Bom, podemos fazer uma massa fresca com molho de tomate caseiro. O que acham? - sugeriu Alex.
- Parece ótimo. - Victória concordou, enquanto eu também concordava com a cabeça.
Juntos, começamos a percorrer os corredores, selecionando os ingredientes necessários para nossa refeição. Durante o processo, a tensão entre nós diminuiu gradualmente, substituída por uma atmosfera mais leve, embora não estivéssemos trocando palavras. Victoria parecia extremamente animada, como se não fosse a mesma pessoa que vivia me azucrinando, e simplesmente não parecia se importar com a presença constante de Alex ao meu lado.
Quando chegamos na seção de frutas, cada um seguiu para um lado oposto, para que as compras terminassem o mais rápido possível. Escolhendo os tomates, eu olhei para a vitrine do supermercado e, então, avistei o estacionamento. No entanto, entre os carros, vi Simon saindo acompanhado de um homem desconhecido com um capuz. Apertei os olhos, tentando entender o que aquela cena significava.
Simon estava agindo de modo estranho, misterioso e duvidoso, algo que precisava ser analisado. Além disso, não fazia sentido, especialmente considerando que ele era um médico respeitado. O que estaria levando ele a agir dessa forma?
Intrigada, olhei ao redor para ver se Alex e Victoria estavam por perto, mas felizmente não estavam. Aproveitei a oportunidade para seguir Simon e seu acompanhante. Com cuidado, caminhei em direção à porta do estabelecimento e deixei o local, indo na direção em que eles haviam seguido.
Segui pela avenida principal, observando a multidão em busca dos dois. Avistei Simon a cerca de quarenta passos de distância e me aproximei dele. Vi que ele parou em um café próximo e se sentou em uma mesa ao ar livre. Sorrateiramente, me escondi atrás de um carro estacionado em frente à cafeteria. Não conseguia ouvi-los muito bem, mas pude captar algumas palavras-chave: "informações", "Alex", "assassinato" e "Amy".
Meu coração começou a bater mais rápido. O que Simon estava escondendo? E por que ele estava discutindo sobre mim e Alex com um estranho?
Com cautela, espreitei pela lateral do carro e vi que Simon estava sério e cauteloso, algo incomum para ele. Também percebi que as pessoas que passavam por perto me olhavam, provavelmente se perguntando o que uma menina estava fazendo sentada atrás de um carro. Fingi não perceber e continuei minha investigação. Quando o acompanhante de Simon se virou, não consegui ver seu rosto, mas sua postura me fez congelar; ele se parecia com o homem que invadiu minha casa!
Assustada, comecei a me mover para sair dali, mas antes que pudesse levantar, uma mão puxou meu braço. Soltei um grito abafado, que foi interrompido quando percebi que era Alex. Um alívio tomou conta de mim.
- Fique quieta! Eles podem nos ouvir. - Alex disse.
- Como você sabia que eu estava aqui? - Sussurrei, minha respiração acelerada.
- Não importa agora. Vamos sair daqui.
Alex segurou minha mão e nos afastamos, mantendo-nos agachados até estarmos fora de vista.
Após alcançarmos uma boa distância, eu parei exausta, colocando as mãos nos joelhos, tentando sugar todo o ar que tivesse ao meu redor. Mas sem muita opção, peguei meu inalador no bolso e o suguei com felicidade. Após isso, finalmente olhei ao redor e percebi que estávamos no Parque Nacional de Solvang. Aquele parque era conhecido por ser o lugar onde todos os casais que o visitavam se separavam em uma ou duas semanas. Eu não sabia se era real, mas muitos diziam que a guardiã do parque não acreditava no amor e por isso separava todos os que se declaravam ou demonstravam afeto ali. Como se não bastasse, Alex parecia realmente também pensar o mesmo.
- Você acredita na lenda da guardiã desse parque?
- Não sei... Mas, por que eu não acreditaria?
- Bom, eu acho que nós criamos nossa própria felicidade e escolhemos nosso futuro. A crença pode muito bem ajudar a moldá-lo, mas não significa que a decisão final não será nossa.
- Bem, eu acredito que na verdade, essa ideia de que escolhemos algo é apenas uma ilusão. Eu acho que tudo que acontece conosco são apenas as consequências que sofremos desde o início. Se eu nasci foi consequência de algo e se eu amei foi porque um dia encontrei aquela pessoa. Sabe, há certas coisas que não escolhemos passar, então nem tudo é uma escolha.
- Eu acho que é. Porque você pode amar alguém, mas quem vai te forçar a ficar com ela, a protegê-la e principalmente se forçar a esquecê-la.
- É... pode ser que você tenha razão. - Admiti.
- Certo, mas agora, voltando ao contexto de nossa vinda para cá, o que foi que você viu?
Eu suspirei, nervosa e, ao mesmo tempo, confusa e disse, - Eu não consegui ouvir muito bem, mas sabia que eles estavam falando sobre nós... E também, o homem que está conversando com o Simon parece ser o mesmo que invadiu minha casa.
Alex continuou me encarando como se aquilo não fosse uma surpresa para ele. Eu me senti intrigada com sua reação, mas ainda assim continuei aguardando suas palavras.
- Eu já sabia. - ele afirmou, parecendo irritado.
- Como? - Perguntei.
- Eu já sabia que meu irmão estava armando... - Ele respondeu.
- Armando? Mas o quê?
Alex suspirou e me olhou novamente, com seus olhos sinceros e melancólicos de sempre, e disse:
- Eu não posso te dizer agora, mas em breve você saberá a verdade. - ele afirmou, - Eu e Victória estamos cuidando de você, então não se preocupe.
- Que verdade, Alex? O que está acontecendo? - Questionei.
- Não se preocupe, Amy. Eu e Victória vamos dar um fim a isso, só confie em nós. - ele pediu, -Eu sei que você está confusa e quer todas as respostas para suas perguntas, mas a verdade não depende apenas de mim. Então, fique longe de Simon, não tente fazer o que eu acho que você está fazendo.
- E o que você acha que estou fazendo? - Perguntei.
- Eu sei o quanto você é curiosa, e sei que você só está próxima de Simon porque deseja saber o que ele esconde e principalmente para tentar me esquecer...
- Alex, você acertou a primeira coisa, mas a segunda... Eu não sou uma garota de rodeios, e muito menos iria me envolver romanticamente com Simon. - Afirmei, - Para que você fique sabendo, ele tentou me beijar e se declarou para mim, mas eu disse que, apesar de tudo que venho sofrendo, meu coração é só seu. - Declarei com convicção, - Então, acho um insulto você dizer que estou usando Simon para te esquecer, porque não é verdade. Estou apenas tentando descobrir o que ele esconde.
Alex parecia um pouco envergonhado e evitou me olhar, como se soubesse que havia errado em suas suposições. E mesmo que eu já tivesse me explicado, uma vontade maior de entender o motivo de sua preocupação exalou no meu coração, me influenciando a fazer uma pergunta:
- Eu não entendo, o que te fez pensar que eu poderia gostar do Simon?
Alex olhou para o chão por um momento, antes de finalmente encontrar coragem para me encarar novamente. Seus olhos transmitiam uma mistura de tristeza e carinho.
- Amy, o Simon pode ser para muitas pessoas um príncipe encantado, e até mesmo para você... Eu tinha medo que com as palavras doces dele, ele pudesse te conquistar, eu posso até não te conhecer muito bem, mas sei o quanto você sempre quis se sentir importante, e o meu irmão poderia querer se aproveitar da sua ingenuidade. - Ele disse, - E por isso repito, eu sei que o que vou dizer pode ser difícil de aceitar, mas o Simon... Ele não é quem parece ser. E o fato de ele estar se aproximando de você dessa forma, bom, isso me deixa preocupado.
Meu coração começou a bater mais rápido, e uma sensação de apreensão tomou conta de mim. Eu sabia que Alex não diria aquilo sem ter motivos válidos.
- O que você quer dizer com "ele não é quem parece ser"? - Perguntei, tentando encaixar as peças que estavam separadas na minha mente.
Alex suspirou profundamente antes de responder.
- Simon... ele não é apenas um médico respeitado. Há mais coisas acontecendo, coisas que eu não posso explicar agora, mas que envolvem segredos antigos, segredos que podem colocar você em perigo.
Um calafrio percorreu minha espinha enquanto absorvia as palavras de Alex. Era difícil acreditar que o homem que conheci como um médico gentil e atencioso pudesse estar envolvido em algo tão sinistro.
- Por que você nunca me contou isso antes? - Perguntei, com o semblante carregado de confusão.
Alex olhou para o chão, parecendo pesaroso.
- Eu queria te proteger, Amy. E, para fazer isso, eu precisava me certificar de que tinha todas as informações necessárias antes de colocar você em perigo, além disso, eu nunca tive certeza até agora... Eu sei que parece egoísta, mas... eu não posso perdê-la.
Suas palavras me atingiram em cheio, e eu percebi que, apesar de todas as incertezas e segredos, Alex ainda se importava comigo.
- Eu... Eu entendo, Alex. Mas... agora que eu sei, o que eu posso fazer para acabar com isso?
- Nada, não por enquanto. Eu e a Victória temos um plano, só temos que colocá-lo em prática. Mas já vou adiantando, que não posso contar nada sobre ele. É necessário que quanto meos pessoas saibam melhor.
- É claro, mas por favor... Apenas, não me deixe no escuro sobre isso. Eu mereço saber o quanto a minha vida está em perigo...
Aflita, eu abaixei a cabeça, incapaz de conter as lágrimas que fluíam livremente agora, numa mistura de medo e alívio inundando meu ser. No entanto, Alex não hesitou em me oferecer seu apoio. Seus braços envolveram-me com gentileza, e eu senti seu calor me preenchendo em um abraço forte. Não devolvi o gesto imediatamente, apenas permiti que minhas lágrimas encontrassem um refúgio em seu moletom.
O silêncio entre nós foi preenchido apenas pelo som de minha respiração entrecortada e pelos batimentos acelerados de meu coração. A presença reconfortante dele ao meu lado era como um lembrete de que eu não precisava enfrentar meus medos sozinha, de que havia alguém disposto a enfrentar os desafios juntamente comigo.
E, naquele abraço, encontrei um momento de paz, um breve instante em que pude deixar de lado as preocupações e simplesmente aceitar o conforto oferecido por alguém que se importava. A solidão que havia me assombrado por tanto tempo parecia dissipar-se na presença de Alex, e por um momento, senti-me verdadeiramente amada por ele...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro