Ando apressadamente pelas lotadas ruas de Nova York na intenção de não chegar atrasada na empresa da Senhora Clarke, havia conseguido um estágio remunerado na editora dela, não é nada que me rendece um salário exuberante, mas era o que tinha no momento. Trabalho lá há dois meses como analisadora de obras, estou no meu último ano de faculdade de Literatura.

- Bom dia, Dona Martina! - Digo assim que entro na recepção da empresa.

- Bom dia, Senhorita Soares - Penso em repreende-lá por como me chamou, mas acabo deixando lá.
Pego o elevador, e em minutos depois já estou na minha sala esperando Krystian trazer a remessa de obras dessa semana.

- Bom dia, futura Senhora Beauchamp! - o chinês adentra minha sala sem bater como de costume, e não deixo de rir do apelido posto pelo meu amigo.

- Bom dia, Krys. Então, o que tem pra mim hoje? - ele põem a pilha de manuscritos na minha mesa.

- Essa semana vai ser mais de boa, apenas quatro, maioria do gênero romance. Vai ser molesinha pra você gata. - De um tempo pra cá vem chegando poucos manuscritos pra nossa editora, e eu já havia notado que a qualquer momento poderiamos entrar em uma crise.

- Eu queria é viesse mais Krys. Sinceramente estou com medo da gente afundar, aquela editora nova vem ganhando alguns clientes nossos, e você sabe onde exatamente a crise dessa empresa vai afetar.

- Pois é, acho que a Senhora Clarke poderia ser mais aberta a novos clientes, até mesmo os que acabaram de entrar no ramo da escrita, mas você que ela é cabeça dura, pelo menos continua a ser boa chefe. - assinto e ele inspira forte - Bom, vou te deixar trabalhar, nos vemos na hora do almoço.

Pego o primeiro manuscrito dá pilha e começo a ler, mas minha cabeça acaba pensando em como as coisas vão ficar apertadas se a empresa entrar em crise, eu e Josh havíamos acabado de nos mudar pra o nosso apartamento, namoravamos á seis anos e decidimos dar esse passo a mais, estávamos alugando um loft que ficava perto da nossa faculdade e do centro, até que no mês passado o loiro me surpreendeu com o pedido de casamento. Foi tão simples, mas tão perfeito. Estávamos andando na Times Squar num final de noite, tínhamos acabado de sair de um jantar com nossos amigos, dividiamos o fone de ouvido que passava diversas músicas que adoravamos, caminhávamos cantarolando e dançando as músicas, até que começou a tocar uma que não conhecia muito bem, mas Josh começou a cantá-la acompanhando a voz que reconheci ser a do Bruno Mars.

- "It's a beautiful night, we're looking for something dumb to do, hey baby! I thing i wanna marry you!" - ele tira o fone do meu ouvido e continua - Eu não acho, eu tenho certeza! Any, Casa comigo? - Fiquei em choque por alguns segundos e lágrimas quentes desciam dos meus olhos.

- SIM, SIM, SIM! - Pulei em seu pescoço e o abracei como se fosse o último dia dele na terra, quando nos soltamos ele coloca um delicado anel em meu dedo e eu pego outro objeto circular que havia na caixinha, que só fui notar depois, e coloquei em seu dedo. Demos um beijo apaixonado e nos separamos entre selinhos e risos, um casal de idosos que estavam próximos a gente e viu tudo nos parabenizou e agrecemos. Tiramos uma foto e publicamos a no dia seguinte com a legenda: "É, parece que vamos nos casar!", desde então começamos a ver as coisas para nossa pequena cerimônia, já que nossas condições nos privam de algo maior, porém estamos mais do que satisfeitos.
Saio dos meus devaneios e recomeço a leitura na primeira página, sou interrompida por duas batidas na porta quando faltava apenas um capítulo para mim acabar de ler o manuscrito, que não havia gostado muito.

- Pode entrar - falo em bom tom pra que a pessoa que está atrás da porta possa escutar.

- Desculpa incomoda-la Senhorita Soares, mas a Chefe quer todos na sala de apresentações agora. - Dona Martina fala quando abre apenas uma parte da porta.

- Certo, Já subirei pra lá. - Ela assente com um pequeno sorriso no rosto. Me levanto ajeitando a blusa e calsa que usava, acompanhadas por uma sandália de salto não muito alta.

Me direcionei para o elevador encontrando Krys, Sina, Sabina e Nour no caminho, fofocavamos sobre o que será que a Senhora Savannah falaria conosco. Pegamos cadeiras que ficavam em uma das filas do meio, o lugar era um pequeno plenário usado pra avisos da empresa, apresentações de novas obras lançadas por nossa editora e etc. Todos ficaram calados quando viram Savannah subir no palco a nossa frente.

- Bom dia a todos, peço perdão por ter tirado vocês dos seus momentos de trabalho, mas esse é um aviso muito importante, então tinha que ser dado o mais rápido o possível. Então, conversando com os gerentes econômicos da empresa ontem tive a terrível notícia de que entramos em um pequeno estado de crise, e com isso teremos que fazer uma baixa nos salários da empresa temporariamente, estamos tentando agir o mais rápido possível para que a economia da nossa empresa volte ao normal. Espero que todos entendam a situação pela qual estamos passando e peço desculpas por ter que fazer isso com vocês, mas prometo que assim que voltamos ao normal arranjarei um jeito de melhorar a economia e assim repor a perda do salário de vocês. - Fico em choque, meu Deus, isso vai fazer muita coisa ir mal, as contas lá de casa, meu casamento, que droga. Começo a suar frio e sentir tudo girar, se já não estivesse sentada teria caído no chão. A última coisa que vejo é Nour me olhar com a cara espantada.

[...]

Acordo em um lugar muito iluminado e reconheço ser um leito de hospital.

- Amor? - vejo o loiro se aproximar de mim preocupado.

- O que aconteceu? - pergunto meio desorientada.

- Acho que você teve uma queda de pressão, meu bem. Krys e Nour te trouxeram pra cá desacordada. Any você disse pra mim que comeria alguma coisa no trabalho, porque se não chegaria atrasada. - Ele falou a última parte num tom sério.

- Desculpa, eu acabei esquecendo. Não vai acontecer de novo, eu prometo. - ele assente e me dá um selinho. Continuo lá tomando o soro e esperando os exames feitos pelo médico. A cortina do meu leito é aberta alguns minutos depois e o médico que aparentava ter na faixa de seus cinquenta anos entra com uma prancheta na mão.

- Senhorita Soares? - assinto com a cabeça - E você? É algum parente dela? - pergunta a Josh.

- Sou o noivo dela. Josh, Josh Beauchamp.

- Ah ótimo, assim a notícia já vai para os dois. Então Any, não há nada de erra com você. Você teve uma leve queda de pressão, precisa se alimentar melhor, e seu desmaio ocorreu também por a senhorita estar grávida. Meus parabéns aos papais.

GRÁVIDA!?