Capítulo 5 : Bem me Quer
Após percorrer o trajeto todo em silêncio, cheguei ao conjunto habitacional.
No entanto, havia uma ambulância no lado de fora, e muitas pessoas rodeando aquele espaço. O que me preocupou! Eu tentei, encontrar senhora Elen, no meio daquela multidão, mas nada...
Até que eu consegui passar, e ver o que acontecera.
E aquela cena, foi uma das piores para mim.
Senhora Elen, estava em cima de uma maca, enquanto os paramédicos cobriam o seu rosto, indicando que a mesma estava morta, e nesse exato momento, eu me desesperei!
DEI UM GRITO ALTO E DESESPERADOR!
OS MEUS OLHOS JÁ ESTAVAM COBERTOS POR LÁGRIMAS, SENTINDO UM APERTO PROFUNDO NO PEITO! UMA ANGÚSTIA E UMA TRISTEZA INCOMPARÁVEL E INCAPAZ DE SER DITA!
Acheguei-me lentamente a ela, descobri os seus olhos, e chorei, segurando suas mãos fortemente.
Até que um dos paramédicos disse:
- Vocês são próximas, certo? - Balancei a cabeça que sim.
- Bom, esta senhora teve um enfarto fulminante às 18:53 da noite, e só fomos informados pela vizinhança as 19:05, levando a portadora a óbito no dia 20 maio as 19:15 da noite.
- Sinto muito.
Aquelas últimas palavras foram o pior para mim...
Senhora Elen, estava morta.
Se eu tivesse ficado em casa, nada disso teria acontecido. Se eu estivesse dito NÃO ao Aiden, talvez ela ainda estivesse viva... E tudo porque eu tentei algo com ele, que no final, não resultou em nada.
Após tudo aquilo, nos fomos encaminhadas até o necrotério, eles a vestiram, colocaram rosas ao seu lado, para assim nos prepararmos para o enterro na manhã seguinte.
Eles me levaram de volta para casa, para que eu descansasse, mas eu queria ficar apenas ao lado de senhora Elen, para me despedir e agradecer por tudo que ela já fez por mim.
A casa, estava vazia e silenciosa, e eu nunca imaginei que por um momento eu me sentiria sozinha dentro de uma casa que foi sempre alegre desde os meus 15 anos.
O relógio marcava 00:21, quando me deitei ainda pensativa, eu não tive forças para comer e nem mesmo tomar um banho, mas eu queria apenas chorar, e perguntar o ¨Por quê?¨, afinal, eu estava de luto...
Após uma noite desconfortante e mal dormida, eu me levantei, vesti um vestido preto e uma sapatilha da mesma cor, e saí, indo em direção ao cemitério.
O tempo estava ruim, e a chuva caía rapidamente, enquanto todos ao redor do caixão vestiam-se de preto e seguravam um guarda-chuva da mesma cor.
Prantos e lágrimas, eram ouvidos naquele dia, e eu, juntamente de todos também chorava, os filhos de senhora Elen, pela primeira vez em muito tempo visitavam a mãe, somente após a sua partida. O que simplesmente irritava o meu coração, afinal, eu não sou tão de ferro assim...
Eu me guardei para não dizer nada a ambos os 2, e apenas fiquei ali, observando cada passo do enterro, o louvor entoado, as belas palavras ditas, e a mesma mentira do padre "Agora, ela virou uma estrelinha no céu."
Se isso, serviu de conforto, eu sinto muito, mas não funcionou...
Após o término da cerimônia, o caixão foi enterrado, e todos foram embora, até os seus filhos (Já que tinham que trabalhar), e eu, fui a única que fiquei ali, olhando apenas para terra molhada e o céu que chorava.
- Obrigada por tudo... Senhora Elen...
Dito isso, eu fui embora, retornando para casa, que agora não seria mais minha, já que a imobiliária tomou total posse, graças ao testamento da senhora Elen, que a família não encontrou.
Eu não sabia para onde ir, não tinha casa, dinheiro e nem ao menos família, e a minha única solução seria tentar encontrar um emprego que me aceitasse, e que principalmente me desse um lugar para dormir, mesmo que fosse um depósito.
Com isso, eu arrumei as minhas malas, enquanto a imobiliária empacotava todos os móveis e objetos da senhora Elen, que pertenciam agora aos ingratos de seus filhos.
Com pesar, eu me retirei daquele lugar, e chamei um táxi, para me levar até o centro de Northwest.
Eu buscava por várias vagas de emprego, mas tudo que eles me diziam era NÃO! Que não queriam uma paraplégica como eu, como seu funcionário...
Então, minhas opções estavam se esgotando... E a minha última tentativa foi visitar o Cesário.
Entrei pelas portas daquele restaurante elegante, timidamente empurrei minha cadeira de rodas para o canto daquele lugar, afinal, eu não gostaria de passar vergonha naquele lugar tão chique, na frente de pessoas tão importantes, além disso, as minhas vestes não estavam apropriadas para ocasião.
Relutantemente, eu fui até um funcionário, e perguntei:
- Com licença, me perdoe interromper o seu trabalho.
- Mas, você poderia me dizer se há vagas de emprego?
- Há, sim, mas nada que se encaixe a senhorita.
- Sinto muito.
- Não sinta. Obrigado mesmo assim.
Dito isso, eu me virei e comecei a ir embora, quando percebi em uma mesa ao fundo.
E nela estava assentado Aiden e um senhor um pouco mais velho, eles comiam em silêncio, sem mostrar nenhuma reação ou algo do tipo.
Eu não queria que ele me visse, então para não chamar a atenção, eu saí de fininho...
Assim que alcancei a porta, algo repousou em meu ombro e puxou-me para frente.
- Onde você estava? - Perguntou Aiden, em um tom firme de preocupação.
- Eu estava em casa...
- Não minta. Sei que você não estava lá, como eu mesmo não te encontrei quando fui visitá-la esta manhã.
- Onde você esteve?
- Procurando um emprego.
- Emprego? Mas por quê?
- A senhora Elen faleceu, a imobiliária tomou a casa, e agora estou sem para onde ir. - Afirmei com os olhos lacrimejando.
Ele tocou o meu rosto, e com seus dedos leves disse:
- Venha comigo. - Ele direcionou a minha cadeira rodas até a entrada do restaurante.
Depois disso ele me encarou, esquivou-se até mim, conforme a minha altura, e abraçou-me, acariciando a minha cabeça.
- Sinto muito pela sua perda, amor.
Sua última palavra aqueceu o meu coração... Ele estava me chamando de Amor, eu nunca imaginei que ele chamaria assim. Será que isso é um sinal de que ele realmente ama-me?
Eu o abracei com carinho, amor e satisfação, afinal, ele era o único que havia me consolado...
O único que se importava...
O calor de seu corpo, era presente juntamente ao meu, e eu me sentia acolhida e totalmente nas nuvens.
- Vamos para casa. - Afirmou ele, saindo do abraço.
- Casa? Mas eu não tenho casa?
- Mas eu tenho. Você me acompanharia?
Sorri.
- Mas, você não mora com ninguém... Não seria ruim, quer dizer, não ficaria apertado.
- Fique tranquila, há um quarto exclusivamente para você.
- E eu também não irei me exceder, mesmo desejando-na.
- Entendi... - Disse, com as bochechas avermelhadas.
- Vamos?
- Tudo bem.
- E Aiden, muito obrigada, se não fosse por você eu estaria perdida.
- Sem problemas, afinal, eu realizo isso pela pessoa que eu gosto.
Sorrimos.
Eu também aceito pela pessoa que gosto...
Mas, será que ficar com você não seria nada complexo? Não seria nada que poderia dar dor de cabeça no futuro? Afinal, ele disse-me que tem transtorno de personalidade... O que significa que ele não é totalmente são.
No entanto, ele foi o único que se apaixonou por mim, mesmo eu estando em cima de uma cadeira de rodas... Então, porque não juntar os dois problemas de cada um, e torná-lo um só, para podermos lutar com eles juntos!
Acho que isso, seria o melhor a se fazer...
- Saara!
- Sim?
- Onde você está com a cabeça?
- Estou falando sozinho a mais de 1 minuto.
- Estava pensando no quê?
Encarou-me com seus lindos olhos azuis.
- Em nada, sinto muito.
- Tudo bem. Vamos, meu carro está logo ali na frente.
- Mas, você não estava jantando com um senhor?
- Não há problema, ele pode voltar aos seus afazeres sozinhos. - Afirmou ele friamente.
- Entendo.
Nós entramos no carro, e Aiden me auxiliou a entrar com mais facilidade. Em seguida, partimos pela estrada. Após alguns minutos, chegamos a um bairro chique e pouco movimentado, subindo um morro alto que se assemelhava a uma colina. Ali, encontrávamos um dos bairros mais caros de Northwest, onde a altura de sua residência era diretamente proporcional à sua riqueza. Surpreendentemente, a mansão de Aiden era a mais alta e luxuosa, como se dominasse todas as outras, tornando-a o sol (Luís XIV) e as demais, a nobreza.
Rapidamente, nos deparamos com a bela e, ao mesmo tempo, estranha residência dos Frankfurt. Os portões se abriram, permitindo nossa entrada em um lugar amplo e antigo, com um gramado ressecado. Era uma mansão que mais se assemelhava a um castelo do Drácula, com sua aura antiga, clássica e talvez até um pouco sombria.
Assim que o carro parou, uma ansiedade tomou conta de mim, afinal, eu moraria na casa de Aiden Frankfurt.
E por um momento, eu pude esquecer-me da morte da senhora Elen, e me concentrar em mais um dia tentando sobreviver.
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