Capítulo 17 : Memórias de um Garoto
As Lembranças de Aiden
7 de maio de 2004
Os trovões daquela noite rugiam sobre o céu, seus raios iluminavam cada canto do meu quarto escuro, e os barulhos se tornavam mais altos a cada minuto que se passava...
Eu estava sozinho em meu quarto, encolhido no edredom quente da minha cama, com os pés de fora de aquecimento. Com medo, eu me segurava para não derramar nenhuma gota de lágrimas, afinal, como eu me tornaria um homem se estivesse chorando?
No entanto, o meu coração pedia desesperadamente o abraço da minha mãe, o seu aconchego e o seu cheiro delicioso de tinta... Seu macacão velho, manchado e coberto por várias camadas de tinta seca e petrificada, seu cabelo liso mais rebelde e seus olhos azuis.
Naquele tempo, eu costumava ser muito apegado a ela, tanto que eu não conseguia dormir sem o seu beijo e o carinho na cabeça, mas no final, eu sempre acordava durante a noite e corria para o seu quarto, a fim de que ela me protegesse do escuro.
Quando eu fazia isso, geralmente o meu pai não estava, graças ao seu trabalho exaustivo na empresa. Pois quando o meu pai estava, eu lutava para pregar os olhos e não ir correndo para a minha mãe.
Apesar de eu ser um bebê chorão, com 10 anos, eu já tinha uma personalidade muito forte, já me defendia e sabia dizer não sempre que necessário, mas ainda assim tinha medo do escuro.
E quando a minha mãe não estava, Joanna, era única que conseguia me deixar um pouco longe dela, e se ambas não estivessem, logo me sentia extremamente solitário...
Nessa noite, como em todas as outras, minha mãe me colocou para dormir e disse pela primeira vez.
- Tente dormir esta noite sem mim.
Entretanto, a sua voz soou como uma despedida... E um vazio surgiu em meu peito, e aquele sentimento caloroso desapareceu.
Ela me deu um abraço demorado, um beijo e um leve sorriso de felicidade, e disse:
- Você é a melhor coisa que já me aconteceu.
- A mamãe vai sempre te amar, meu filho.
No momento, eu não havia entendido muito bem, mas aquelas palavras serviram de consolo, pois seria a última vez que eu veria a minha mãe...
Assustado com a tempestade, eu resolvi ir atrás da minha mamãe, como sempre desci as escadas devagar para não chamar a atenção do meu pai e consequentemente não levar uma bronca, já que eu imaginava que ele estaria em casa.
Coloquei os pés descalços sobre a madeira rangendo do andar de baixo e prossegui para o ateliê da minha mãe, só que ele estava vazio e com várias tintas derramadas sobre o chão.
Eu segui as manchas de tinta deixadas em rastro pela casa, e rapidamente cheguei ao banheiro, onde encontrei minha mãe estirada no chão, ela não estava machucada, ou muito menos sangrando, mas pálida...
Gritei o seu nome desesperado, correndo em sua direção, tentando acordá-la, mesmo estando gelada.
- Mamãe! O que houve? A senhora está bem?
- Mãe!
Sem saber o que fazer, eu comecei a gritar pelo meu pai, em busca de ajuda!
- Papai! Papai! - Comecei a gritar por ele, tentando chacoalhar a minha mãe com força.
No entanto, aparentemente ele não estava em casa.
Eu não tinha noção de onde podia se ouvir a pulsação do corpo, mas toquei o seu pulso e vi que não era possível sentir nada...
Então entrei em desespero e de repente senhor Harrigan e Joanna apareceram:
- O que houve, pequeno mestre? - Perguntou Senhor Harrigan, se abaixando até o corpo de minha mãe.
- Eu não sei, quando cheguei, a mamãe já estava caída no chão!
- Senhor Harrigan, ela está sem pulso! O que fazemos? - Questionei com os olhos cheios de água.
- Fique tranquilo, meu pequeno, nós iremos chamar a ambulância.
Dito isso, Joanna correu ao telefone e discou o número da emergência.
E após uns cinco minutos, eles chegaram, recolheram o corpo de minha mãe e partiram para o hospital, juntamente comigo, senhor Harrigan e Joanna logo atrás no carro.
Minha respiração estava pesada a caminho de lá, meus pensamentos estavam os mais preocupados, meus olhos estavam repletos de lágrimas e o meu coração chorava ao pensar que posso perder a minha mãe... E tudo aquilo me machucava...
Eu queria tanto que o meu pai estivesse comigo, me dando forças e me abraçando, mas no final, eu estava sozinho, sem ninguém e nem uma pessoa para me consolar...
Eu tentei ligar diversas vezes para o meu pai, mas o seu celular dava apenas desligado... E no momento em que eu mais precisava dele, no instante que minha mãe mais precisava de seu apoio...
No hospital, Senhor Harrigan me abraçou, enquanto minha mãe era encaminhada para emergência, gotas de lágrima caíam dos meus olhos enquanto eu gritava:
- Salvem a minha mãe! Salvem... A minha mãe! Por favor! Ela não pode morrer... - Chorava até soluçar.
E sem perceber, Joanna também me abraçou e acariciou a minha cabeça.
- Vai ficar tudo bem, ficará tudo bem, não se preocupe meu pequeno...
- A mamãe vai ficar boa...
- Mas ela estava gelada... A minha mãe...
- Me promete que ela vai ficar bem! Me promete Joanna...
A mesma ficou em silêncio e apenas me abraçou mais forte, enquanto eu chorava ainda mais em seus ombros.
E digo que sempre serei grato ao Sr. Harrigan e a Joanna por estarem naquela noite empenhando um papel que não era deles, ambos estavam cuidando de mim, me consolando, enquanto eu não fazia ideia de onde o meu pai "estava"...
Os minutos se passavam e quando eu menos pude esperar, o médico retornou com a notícia...
- Sinto muito...
- A senhora Celine Frankfurt teve um enfarto fulminante às 20:15 da noite e faleceu na mesma hora.
Eu era uma criança, mas aquela notícia abalou totalmente a minha mente! E por um breve instante, eu fiquei em choque!
Comecei a tremer, passando a não enxergar nada mais do que a minha própria fúria!
As imagens da minha mãe caída no chão começaram a me atormentar! E me sentindo totalmente alterado, eu comecei a suar frio, bater as mãos na minha cabeça e a cerrar os dentes, enquanto Joanna me chacoalhava preocupada, gritando disparadamente o meu nome!
E em um piscar de olhos, eu estava socando a parede, derrubando as cadeiras, gritando, chorando, rolando no chão e batendo os pés no chão, e se não fosse pelo senhor Harrigan me segurando, eu poderia até mesmo ter me machucado.
Com isso eu me acalmei...
E no final, as cadeiras estavam no chão, e as pessoas me olhavam assustadas.
Fiquei com vergonha de tudo aquilo e pensei, eu fiz isso?
Joanna me abraçou mais uma vez, e o médico, assustado, disse que eu deveria buscar um psicólogo e que eles deveriam me levar para casa.
Implorei para que eles me deixassem vê-la, mas o médico negou, preocupado com a minha reação, e disse que informaria aos familiares a mensagem de óbito.
E sem nenhuma opção, nós fomos embora, enquanto eu ainda me derramava.
Senhor Harrigan dirigia o carro, enquanto eu chorava no assento de trás, pensando que nunca mais veria a minha mãe, que nunca mais ela me abraçaria e nunca mais me colocaria para dormir...
Tapei o meu rosto e a minha boca e chorei até não aguentar mais soluçar... E o meu medo do escuro só aumentou mais...
Sem esperar, senhor Harrigan parou na estrada perto de uma lanchonete e disse:
- Pequeno mestre, gostaria de comer alguma coisa? O senhor deve estar faminto.
- Como posso estar com fome depois que a minha mamãe morreu.
- Isso é verdade. Me desculpe, senhor.
- Tudo bem... Mas você poderia comprar para mim um hot dog doce?
- Hot dog doce, senhor?
- Sim. A minha mãe costumava fazer toda noite para mim, assim posso me sentir próximo dela... Mesmo que ela não esteja aqui.
Joanna após as minhas palavras parecia estar emocionada, tanto que segurou minha mão.
- Vamos todos nós, é bom que assim você se distrai.
- O que a sua mãe gostava de fazer além de arte?
- Casinha de Waffles... Montanha de macarrão e piscina de bolinha.
- Então vamos lá, certo.
Eu sorri desanimado, e acompanhei Joanna e Senhor Harrigan de mãos dadas até a lanchonete.
Era um ambiente para crianças, cheio de guloseimas, música, e mesas e cadeiras coloridas.
Nós nos sentamos em um canto, enquanto eu ainda parecia abatido, tentando esquecer tudo aquilo que estava acontecendo comigo...
Joanna e Senhor Harrigan foram até o balcão em busca do hot dog doce, como eu havia pedido, enquanto eu os aguardava.
Minhas pernas mal alcançavam o chão, algo que naturalmente sempre me distraía, no entanto, eu não parava de pensar na minha mãe até que aquela cena tirou a minha atenção!
Vi o meu papai (como eu sempre o chamava) e sorri pela primeira vez após receber aquela notícia terrível! Mas antes que eu pudesse gritá-lo, o meu sorriso se fechou...
Ele estava assentado em uma mesa, com uma mulher talvez da mesma idade da minha mãe e uma criança pequena de talvez uns 3 anos de idade...
(Aquela pessoa era Aleev e sua mãe.)
E no mesmo instante, eu gelei, e meus olhos derramaram lágrimas...
Pensei o que o meu pai, estaria fazendo com eles?
E a minha mãe? Sua esposa!
Ela morreu e você nem mesmo sabe disso! E por que você não atendeu as minhas ligações, por que desligou o celular?
Apertei os punhos sobre as mãos. E saí do meu lugar, indo em direção ao meu pai.
Eu mal me aproximei, e fiquei ali apenas observando com lágrimas no rosto e pensando...
Por que o meu pai está fazendo isso?
Por que ele não está juntamente comigo, mas com eles?
Porque ele está sorrindo assim sendo que a minha mãe morreu!
Eles sorriam e brincavam com o pequeno, até que a criança sorriu para mim ao me ver.
Eu não tive coragem de chamar o meu pai, ainda mais de pai.
Quando ele se virou e me viu...
Seu sorriso sumiu no mesmo instante, e um semblante de preocupação veio em seu rosto. Ele se levantou e caminhou até mim:
- Aiden...
Ele tentou me tocar, mas eu me afastei com lágrimas nos olhos.
E logo Joanna e Senhor Harrigan chegaram, eles viram o meu pai com a mulher e o menino.
Eles apenas se cumprimentaram de cabeça, enquanto meu pai os encarava envergonhado.
- Conversamos em casa, meu filho.
- Não existe mais casa para mim, eu não tenho para quem voltar...
Triste e com raiva do meu pai, eu saí da loja e corri para o carro. E comecei a chutar todos os bancos de acento a minha volta, minha mente estava distante, batendo com as mãos constantemente em minha cabeça!
Eu chutava tudo aquilo, gritando, como se fossem surtos de raiva, enquanto Joanna e Senhor Harrigan conversavam com o meu pai ainda no local, talvez levando a morte de minha mãe ao seu conhecimento...
O rosto do meu pai, pareceu abalado do vidro do carro, mas aquilo não me convenceu.
E logo ambos retornaram para o carro, e me levaram para casa, enquanto eu ainda chorava.
- Sinto muito Aidan. - Essas foram as últimas palavras de Joanna, até eu dormir.
Chegando em casa, senhor Harrigan me carregou até o meu quarto.
No entanto, eu acordei e agarrei a barra da saia de Joanna.
- Fique aqui comigo, Joanna, por favor... Não me deixe sozinho...
- Tudo bem, eu ficarei com o senhor.
Ela me abraçou, e eu deitei a cabeça no seu colo chorando, enquanto ela acariciava a minha cabeça.
Sinto a sua falta mãe... Pensei.
Por que você partiu? Questionei.
E por que o meu pai me abandonou? Perguntei.
Agora, o meu mundo estava escuro de novo... E a única luz, havia desaparecido.
Até que, ela entrou na minha vida...
Saara Thomas, obrigado.
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