➤ 𝖢𝗁𝖺𝗉𝗍𝖾𝗋 𝖲𝖾𝗏𝖾𝗇
Meus lábios comprimiram-se em uma linha fina enquanto eu mantinha os olhos na bebida amarelada que girava dentro do copo. Apertei a mandíbula e deixei um cotovelo apoiado sobre o balcão do bar onde Jimin e eu havíamos marcado de nos encontrar para conversar.
— Talvez eu esteja errado — dei de ombros e terminei de beber o restante de whisky que tinha no copo — Acho que sou um pouco obcecado.
Jimin deu uma risadinha e girou no banco, ficando de frente para mim.
— Você se casou com ela quatro meses depois de conhecê-la — ele continua rindo — Ainda tem alguma dúvida de que é obcecado?
— Eu me preocupo com ela — não justifica todos os meus atos, mas uma parcela dentro de mim ainda gosta de acreditar que sim — Ela tem se afastado de mim, não me deixa participar de seus banhos e reclama quando eu a pego por trás. É como se...ela sentisse alergia de mim.
— Poupe-me dos detalhes — Jimin geme com desgosto — Talvez ela esteja se sentindo um pouco assutada — ele murmura, dando um último gole na sua bebida antes de deixar o copo no balcão.
— Assustada? — comigo? — Por que ela estaria assustada?
— Bem, vamos dizer que você não é o cara mais convencional do mundo — sem parar de falar, ele faz um sinal para o barman trazer mais uma bebida — Ela pode estar assustada com toda essa intensidade.
— Eu a amo, Jimin — eu tento me justificar.
— Ninguém tem dúvidas disso, nem mesmo ela — o barman deixa o copo sobre o balcão e Jimin é rápido em pegá-lo — Dê um tempo a ela, vocês acabaram de se casar, ela ainda deve estar processando a ideia de que casou com um milionário marrento — ele diz a última palavra com humor, me fazendo empurrá-lo de leve — Sem contar...
Jimin fica em silêncio, olhando para própria bebida e fazendo suspense.
— Sem contar o quê?
— Bem, Nic — ele ergue os olhos para mim de novo — Ele é criança. Não vai demorar muito tempo até ele associar. "Papai se casou com uma mulher, e agora moramos juntos, o que isso significa?".
Aperto os olhos por um instante.
— O que quer dizer?
— Estou dizendo que um dia esse garoto vai ver Lisa como uma figura materna — ele bebe um pouco antes de continuar, me dando tempo para digerir suas palavras — Vocês já conversaram sobre isso? Sobre ter filhos?
— Não — minha resposta vem imediatamente.
— E você acha que Lisa está pronta para ser mãe de um garotinho de seis anos?
Eu fico em silêncio. Lalisa e eu nunca falamos sobre ter filhos porque até então isso nunca esteve nos nossos planos, eu nem sequer sei se ela quer ter filhos comigo. Quanto a ela e Nic, o vínculo entre os dois só tem crescido durante os últimos quatro meses, quase sempre estão juntos desenhando, andando de patins ou vendo desenhos juntos.
Sorrio involuntariamente e ligo o celular, vendo a foto dos dois na minha tela de bloqueio.
— Desde quando você virou um terapeuta quando se trata de mulheres? — eu me volto para Jimin, vendo-o abaixar a cabeça com um sorrisinho.
— Na verdade, eu achava que sabia muito — seu sorriso presunçoso murcha para um sorriso de tristeza — Mas já faz um tempo que eu percebi que não.
Faço silêncio por um tempo, pensando se devo perguntar.
— Roseanne, não é?
Ele balança a cabeça de leve.
— Nunca pensei que uma mulher fosse mexer tanto comigo.
Eu sorrio, em compaixão por ele. Foi a mesma coisa que eu pensei quando conheci ela.
— E por que vocês não conversam e resolvem essas divergências de uma vez?
— Ela gosta de me provocar — ele suspira, derrotado — Beija outros homens na minha frente na intenção de mostrar que está bem sem mim, ou para me deixar louco de raiva, não sei... não sei o que se passa naquela cabecinha perversa.
— Bom, espero que algum de vocês tome a iniciativa logo, o drama entre vocês está enlouquecendo Lalisa, e portanto, me enlouquecendo.
Ele ri.
— Ainda acho que vou precisar beber o oceano atlântico inteiro de canudinho para conquistar essa mulher.
— Você faria isso?
Ele olha para mim, e seu olhar entrega tudo.
Park Jimin está encrencado também.
•••
Entro em casa tentando fazer o mínimo de barulho possível, como todas as luzes estão apagadas, imagino que Maggie já tenha ido embora e que todos estejam dormindo.
Subo pelas escadas e vou até o quarto de Nic, me surpreendendo ao ver a porta aberta e uma pequena luz vinda de dentro do quarto. Minha vista se acostuma com a penumbra e eu vejo Lalisa terminando de colocar Nic para dormir, ela puxa a cordinha do abajur e deixa o quarto numa escuridão quase total.
Então olha para mim, ficando ereta.
— Onde você estava? — ela sussurra vindo até mim, seu tom variando entre preocupação e repreensão.
— Eu sai com Jimin para conversar e perdi a noção do tempo, desculpe.
— Você bebeu?
— Um pouquinho.
Eu desço a mão por seu braço, e mesmo no escuro, sinto como ela se arrepia sob meu toque e se sente afetada. Seguro a sua mão, entrelaçando nossos dedos.
— Vamos para o quarto.
Lalisa fecha a porta do quarto de Nic num clique silencioso antes de seguirmos para o nosso quarto a poucos passos dali.
Passando pela porta da suíte ainda de mãos dadas com ela, desato a gravata com a mão livre e a deixo sobre meus ombros.
— Você vem? — eu sinalizo para o banheiro.
Ela segue meu olhar e por fim balança a cabeça negativamente, soltando minha mão e se afastando em direção a cama. Seguro um suspiro decepcionado e vou para o banheiro sozinho.
Deixo minhas roupas caírem e se acumularem no chão. Ligo a ducha na pressão máxima e deixo um pouco de água morna escorrer por meu rosto antes de me molhar por inteiro.
Apoio as mãos no azulejo do box e abaixo a cabeça enquanto penso sobre o que Jimin me disse. Pensar que Lalisa talvez esteja se sentindo assustada com toda nossa intensidade me entristece. Pensar na possibilidade de que ela não consiga entender que já passamos tempo demais separados me entristece.
Não consigo pensar um segundo da minha vida sem ela.
A falta do seu toque me perturba, e eu tento não pensar que esse é o fim do mundo, mas merda, nos casamos a uma semana.
Talvez eu seja muito obcecado por ela. Pelo toque dela. Pelo cheiro dela. Talvez eu esteja em abstinência.
Acho que preciso me tratar.
Existe alguma reabilitação para maridos carentes?
Prendo a respiração quando sinto algo molhado apoiar-se entre minhas omoplatas e uma respiração quente e descompassada atingir minha pele. Viro-me lentamente, tendo tempo para observar seu rosto com cuidado antes que sua bochecha fique contra meu peito.
Suas mãos de dedos magros e longos ficam entre nós, sobre minha barriga, descansando ali. As minhas param nas suas costas, meus dedos brincando em movimentos oscilatórios em sua pele molhada.
Seus lábios pousam no meu ombro, numa carícia singela. Eu suspiro, com alívio. Alívio por sua pele querer se encontrar com a minha. Meu coração palpita em velocidades perigosas demais e todo nervo da minha derme se contorce num formigamento inabalável.
Ela levanta seu rosto para mim, quieta. Água escorre por seu rosto e corpo, e por um momento eu sinto inveja, gostaria de poder tocar cada centímetro dela assim como a água faz.
Ela põe fim a minha angústia latente e rompe com qualquer linha de raciocínio que eu tenha quando me beija, devagar.
Acho que acabo de descobrir como um vulcão se sente.
____________________________________________
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro