➤ 𝖢𝗁𝖺𝗉𝗍𝖾𝗋 𝖭𝗂𝗇𝖾
Balanço os pés involuntariamente, esperando ouvir minha voz ser chamada. Marquei uma consulta com a doutora Norcross depois de tanto tempo sem dar as caras em uma clínica, e já sei que vou receber um belo sermão assim que ela descobrir que estou aqui pelo mesmo motivo das outras duas mulheres que me acompanham na sala de espera.
Estou grávida.
Claro, ainda não é tão óbvio, mas logo vai ser, e eu estarei tão enorme quanto essas mulheres.
— Quantas semanas? — uma delas pergunta para a outra, que sorri e acaricia a barriga como se fosse o seu bem mais precioso.
— Trinta e duas. Estou acabada.
Trinta e duas semanas?
Tento fazer um cálculo mental, mas desisto.
— Oh, sim. — a outra concorda, se inclinando na cadeira — Estou com vinte e sete semanas, já nem consigo mais ver meus pés inchados.
Por que elas estão sorrindo? Isso deveria ser um pesadelo! Imagine não poder ver seus próprios pés? Imagine não conseguir se...
— Senhora Jeon? — a secretária entra na sala e me chama antes que eu possa continuar com a minha tortura mental.
Ela me guia para a sala da doutora Norcross, que se levanta da sua mesa e vem me cumprimentar assim que passo pela porta.
— Lalisa, querida! — ela me beija no rosto
— A última vez que nos vimos foi quando você precisou repor seus anticoncepcionais. O que foi há muito tempo.
A doutora Norcross é provavelmente uma das melhores pessoas que eu conheço, cinquenta e poucos anos, cabelos loiros bem arrumados e olhos de um azul vivido impressionante. Para uma mulher de meia idade, ela me deixa no chinelo.
— É bom vê-la também, doutora. — respondo nervosa enquanto me sento na ponta da cadeira — Aqui está quente, não é?
Norcross me olha, confusa.
— Na verdade, estamos com uma sensação térmica de dez graus. — ela dá a volta na mesa, genuinamente apreensiva. — Está tudo bem, Lalisa?
Sinto meu queixo começar a tremer, e sei que não posso me conter mais.
— Estou grávida! — disparo — Sei que a senhora vai me dar uma bronca. Eu nunca deixei de tomar as pílulas, não sei o que aconteceu, então, por favor, não faça eu me sentir ainda mais tola do que eu sou.
— Oh, Lalisa. — ela se vira e pega alguns lenços. — Aqui. Pegue.
Eu choro como um bebê na frente de Norcross, mas eu imagino que ela já esteja acostumada com situações como essa.
— Você fez algum teste?
— Sim. Eu fiz um teste. Não. Cinco. — eu limpo a última lágrima — Todos deram positivo.
— Você parou de usar o anticoncepcional em algum momento?
— Não. Eu nunca deixei de tomar.
— Fez uso de algum outro medicamento nos últimos meses?
Eu penso um pouco, tentando me lembrar.
— Ansiolíticos, mas foi apenas por algumas semanas.
— Ansiolíticos diminuem a eficácia dos anticoncepcional. Você não deveria se automedicar — a doutora Norcross se levanta, muito séria, pega um saquinho plástico em um dos armários e entrega para mim — É um teste. Use o banheiro.
Faço o que ela me pede, querendo acabar logo com isso. Dez minutos depois ela está na minha frente, digitando algo no teclado de seu computador antes de pegar uma folha na impressora, olhando brevemente antes de entregá-la para mim.
— Positivo. — ela diz, simplesmente. Eu sabia que esse era o resultado, mas ouvir isso dela torna tudo mais real. — Onze semanas, eu acredito. Precisamos fazer uma ultrassonografia para saber.
Eu fico ereta na cadeira.
— Não sei se estou pronta para isso.
— Precisa estar, Lalisa. — ela parece querer colocar um pouco de bom senso na minha cabeça — Pelo seu bem e pelo bem do bebê.
Eu abaixo os olhos para o teste. Aperto os olhos, dobro o papel e o enfio na minha bolsa.
— Obrigada. — murmuro, sem saber o que lhe dizer e me levantando.
— Cuide-se, querida. — ela suspira, guiando-me para fora da sala — Você sabe onde me encontrar.
•••
Quando passo pela porta da frente, sou recebida por um silêncio total, mas a medida que avanço e subo as escadas, começo a ouvir risadas vindas do quarto de Nic.
Bato na porta de leve e espero uma resposta antes de entrar.
Quando entro, vejo dois rapazinhos jogando videogame — ou melhor, três. Porque Jungkook está entre os dois, rindo apertando os botões do controle fortemente.
— Jungkook? — eu falo, surpresa por vê-lo ali tão cedo.
Ele tira os olhos da tevê de imediato, assim como seus toques persistentes no controle param.
— Pai! Você perdeu! — Nic diz, mas acho que Jungkook não o escutou, porque ele já está se levantando e vindo até mim.
— Anjo. — ele me olha com tanta ternura que eu me sinto ainda mais pequena e frágil. Suas mãos sobem por meus braços numa carícia delicada e ele se abaixa um pouco, cobrindo meus lábios com os seus num contato singelo e demorado.
— Ew. — eu escuto Nic resmungar — Eles fazem essas coisas o tempo todo.
— Minhas mães também. — o amigo dele ri.
— O que você está fazendo aqui? — eu pergunto para Jungkook assim ele afasta os lábios dos meus.
— Da última vez que verifiquei, essa era minha casa também. — ele dá de ombros.
— É que você tem chegado tarde.
— Adiantei algumas coisas e trouxe um pouco de trabalho para casa. — ele explica — Passei por aqui e vi os meninos jogando. Não consegui resistir.
Seu comentário me arranca um sorriso. Eu me inclino para o lado e aceno para o amigo de Nic.
— Você deve ser o George.
O garotinho de pele negra pula do sofá e estende a mão para mim, sorridente.
— É um prazer, senhora Jeon.
— Só Lalisa. — eu sorrio, apertando a mão dele de volta — Bem, eu vou deixar os homens se divertirem. Vocês já comeram?
— Sim. A Maggie fez lanches. — Nic diz, enfiando metade de um lanche na boca enquanto tem os olhos vidrados no seu jogo.
— Ótimo. Vou estar no meu quarto.
Eu saio do quarto e Jungkook me segue para fora.
— Não gostou de me ver? — ele me pergunta enquanto continua a me seguir pelo corredor.
Eu paro diante da porta do nosso quarto antes de girar a maçaneta e entrar. Mordo os lábios nervosamente antes de lhe responder:
— É claro que eu gostei. Só não esperava te ver aqui agora porque você estava ocupado com o trabalho nos últimos dias.
— E por isso que eu achei que você ficaria feliz em me ver. — ele fala atrás de mim
— Parece que agora que somos casados, você quer se afastar de mim, como se isso te sufocasse.
Eu me viro para ele, franzindo o cenho.
— Eu não me casei com você por simplesmente casar.
— Então pare de agir como fosse. Droga. — ele solta suspiro exasperado — Tudo que eu quero é estar com você. Eu quero você, e eu quero que você me queira.
— É claro que eu quero você — termino a frase ouvindo a campainha anunciando que alguém chegou. É o momento perfeito — Preciso atender a porta.
— Maggie pode fazer isso — Jungkook me para, barrando-me com o braço — Me beija.
— Eu preciso atender a porta. — eu empurro sua mão para longe do meu ventre e passo por ele, sem a intenção de olhar para trás, porque sei o que vou encontrar.
Desço as escadas rapidamente, chegando a tempo antes que Maggie abra a porta.
— Eu atendo, Maggie. Pode chamar os meninos?
— Claro. — ela confirma e se afasta.
Abro a porta, me deparando com uma mulher de cabelos lisos e curtos, ela abre um sorriso e estende a mão.
— Olá, eu sou a Susan, mãe do George. — Susan tem um sotaque britânico, limpo e forte, mas de uma forma muito agradável.
Aperto sua mão de volta e sorrio também, nem parece que a menos de um minuto eu estava a ponto de discutir com meu marido.
— Sou Lisa. Nossa governanta foi chamar os meninos. — eu me apresento — Seu filho é uma graça.
— Espero que ele não tenha dado problemas. Nessa idade, os garotos ultrapassam os limites quando se trata de aprontar.
— É, eu sei bem. — eu rio com ela.
— Mãe? — George passa por mim antes de ir até sua mãe. Nic o segue, parando ao meu lado.
— Oh, então você deve ser o famoso Nic. É um prazer te conhecer
— O prazer é meu, senhora Hunt.
Eu sorrio involuntariamente.
Que orgulho do meu garotinho!
— Ah, seu filho é uma graça! — Susan me olha, mas eu não tenho uma reação — Vamos, George? Diga tchau para o seu amigo.
— Tchau, Nic!
— Tchau. — Nic responde baixinho.
Quando os dois já estão fora de nossa vista, eu abaixo o olhar, encontrando Nic fazendo um bico, parecendo pensativo.
— Lisa, — ele olha para mim com seus olhos grandes e escuros — você quer que eu te chame de mamãe?
Eu fico em silêncio por uns bons segundos, sem saber o que lhe responder.
— Você pode me chamar do que quiser, querido.
Nic assente devagar, dando as costas e voltando para dentro.
— Vamos entrar, mãe Lisa.
Eu travo de novo por alguns instantes, depois sorrio feito uma idiota sem me dar conta, obedecendo o pedido de Nic.
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