𝟎𝟐𝟑
Filipa Nielson, 23.10.2018
Viajámos para a Holanda mesmo em cima da hora, mas, por sorte, correu tudo bem com a chegada.
Ainda assim, o jogo não tinha sido dos melhores... perder para o Ajax era sempre complicado, mas tudo piorava quando estávamos na terceira ronda da Liga dos Campeões.
Não sabia ao certo como agir agora. O que era suposto dizer ou fazer? Aparecia simplesmente à frente dos jogadores com um sorriso e dizia: "Temos de treinar mais!"?
Era esse o suposto?
Estava no quarto do hotel há mais de uma hora. O jogo já devia ter acabado há umas duas horas, e combinámos reunir-nos lá em baixo para podermos conviver um pouco e não levar a derrota como algo que marcasse todo o nosso futuro.
Mas, honestamente, não queria reunir-me.
Sentia-me culpada de certa forma. Já que dizem que faço parte da equipa, acho normal levar as derrotas muito a peito.
Contudo isto tinha colocado até o Félix um pouco de parte. Não quero fazer grande pressão só por nos termos beijado umas poucas vezes, mas também não o queria afastar, obviamente. Só sentia que precisava de algum tempo para colocar as ideias no sítio e poder adaptar-me a tudo isto de novo.
Entretanto, ouvi batidas na porta do quarto. Saí dos pensamentos confusos que estava a ter e apressei-me a voltar a vestir a camisola do Benfica que tinha deixado em cima da cama, já que tencionava ir tomar banho.
– Tu não vens? – Ouvi logo a voz do João assim que abri a porta. – Estás chateada? O que se passa?
– Félix... – Sorri, com a atrapalhação dele em tentar perceber o que se passava comigo. – Primeiro, não, não vou lá abaixo. Segundo, não estou chateada. Desculpa por andar meio desaparecida, mas não se passa nada comigo. Estou ótima, talvez um pouco confusa e a tentar adaptar-me a tudo isto, mas estou bem.
Ele pareceu mais aliviado ao ouvir tudo aquilo. A sua postura descontraiu por completo, e ele deu alguns passos até mim para poder beijar a minha testa.
- Falei com o teu irmão há pouco. Ele estava com a Laura e com a Sara. – Abraçou-me de forma necessitada enquanto falava. – O Hugo também ia lá ter, segundo o que a Laura disse.
– Se ela disse, está dito. Afinal, a mãe do grupo é ela.
– Disseste-lhe algo? – Perguntou, separando-se do abraço, enquanto eu caminhava para dentro do quarto, acompanhada por ele.
– Sobre? – Questionei, sentando-me na cama. Félix puxou uma cadeira para se sentar à minha frente.
– Nós... o beijo, a conversa e, depois, sobre nos termos beijado de novo.
– Ela é minha melhor amiga, mas não precisa de saber tudo o que acontece na minha vida. Não no momento nem na semana a seguir. – Sorri, embora soubesse que estava a esconder pessimamente bem a mentira de Laura. – E tu? Contaste a alguém?
– Não contei, mas acredita que o Pizzi e o Rafa não vão demorar muito a descobrir. Têm andado em cima de mim que nem cães para saberem se temos algo... – Encostou-se na cadeira consideravelmente cara. – Mas não lhes vou contar nada por respeito a ti.
O telemóvel de Félix começou a tocar. Ele tirou-o do bolso e mostrou-me o nome "Rafa" no ecrã. Atendeu e colocou em alta voz para que eu pudesse ouvir.
– Puto, estás onde? Não disseste que ias só buscar o casaco? – Perguntou Rafa do outro lado da linha.
– Tive um contratempo. Dá-me mais meia hora, comecem a comer que eu já vou para baixo. – Olhou diretamente para mim enquanto falava.
– Estás com a Filipa? O Mister está a perguntar por ela.
– Por acaso, não estou com ela, mas posso mandar-lhe mensagem, se for preciso...
– O telemóvel dela está desligado. O Mister já tentou ligar-lhe.
Fiz alguns gestos para Félix perguntar ao Rafa se era algo importante ou grave.
– É algo grave? Aconteceu alguma coisa?
– Puto, o que se passa? Estás a tentar despachar-me ou quê? Se vires a Filipa, diz-lhe para ligar ao Mister. E vê se paras de enrolar e vens logo para baixo!
Tapei a boca com a mão para não rir com o que Rafa tinha acabado de dizer, enquanto João desligava a chamada com um suspiro.
– Pronto... agora vão começar a chatear-me ainda mais. – Ele olhou para mim, com uma expressão mais séria. – Vais mesmo ficar aqui?
– Já disse que não quero ir. – Cruzei os braços, tentando mostrar firmeza.
– Não vais estar sozinha a noite toda. Além disso, se não apareceres, eles vão continuar a ligar. O Mister perguntou por ti, isso é sinal de que te querem lá. – Sentou-se ao meu lado na cama, segurando a minha mão. – Eu vou contigo. Se não gostares, subimos juntos, prometo.
Fiquei a encará-lo por alguns segundos. Ele estava realmente empenhado em convencer-me, e a ideia de ele estar ao meu lado durante o resto da noite pareceu menos má do que enfrentar o resto da equipa sozinha.
– Está bem... mas só fico um pouco. – Suspirei, levantando-me da cama.
– Assim é que se fala. – Sorriu, levantando-se também.
Descemos juntos até ao restaurante do hotel, onde a maioria dos jogadores já estava reunida. Assim que entrámos, Rafa ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado por estarmos juntos.
– Olha quem decidiu aparecer. E olha só quem a convenceu. – Rafa cruzou os braços, lançando um olhar desconfiado ao João, que apenas riu.
– Relaxa, Rafa. Fui buscá-la, como amigo.
– Pois, pois... – murmurou ele, antes de se afastar para cumprimentar outro jogador.
Senti o peso do olhar dele sobre nós, mas decidi ignorar. Por enquanto, bastava-me saber que tinha o João ao meu lado.
Continua...
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