𝟎𝟐𝟐
Filipa Nielson, 19.10.2018
Após a vitória de ontem acabei por já não falar com o João, sei que tinha dito que falariamos, mas eles estavam animados com a vitória e eu sinceramente só queria mesmo era descansar.
Tinha pensado imenso no que tinha acontecido no dia anterior, beijar o Félix não estava lá muito dentro dos meus planos á 2 meses atrás, ainda assim tem tudo acontecido de maneira tão rápida e inesperada entre nós que eu realmente não sei o que me deu ontem.
- Estás com cara de quem não dormiu nada, miúda. - O meu tio colocou o seu braço sobre os meus ombros, saindo da posição habitual de treinador para entrar na de tio preocupado.
E a realidade era essa, eu não tinha realmente dormido nada.
Tudo isto com o João estava a deixar-me confusa, eu estava apenas ali a estagiar e ele está ali para fazer o trabalho dele, não podemos misturar as coisas e fingir que nada aconteceu.
- Infelizmente tive uma noite passada em branco... - Dei um leve sorriso, olhando para baixo. - O facto de Diego não se calar sobre ir para o Barcelona B está a dar comigo em doida, não sei mesmo como lidar com a situação. - Menti, e internamente só rezei para o meu tio não o perceber.
No momento o facto de Diego querer ir para Barcelona era o menor dos meus problemas, contando toda a situação entre eu e Félix.
- Não te preocupes muito com isso, no almoço de domingo eu falo com ele para ver o que anda na cabeça desse menino... - Sacudiu de leve os meus ombros para me aliviar. - Agora temos de ir andando, os rapazes estão a chegar.
Concordei, vendo o mais velho sair de perto de mim e indo cumprimentar os jogadores que já ali se encontravam, sorri para alguns deles quando eles me viram, mas rapidamente os meus pensamentos foram tomados pelo facto de ter de ver João.
Afinal ainda não tinhamos falado, o clima sem dúvida estaria um pouco estranho.
Caminhei pelo relvado até perto de alguns outros jogadores que esperavam que o treino começasse, baixei a minha cabeça e desejei que o meu olhar não se cruzasse com o do João quando ele chegasse.
Poderia dizer que estava confusa, sem saber o que sentir ou pensar.
- Os exames do Félix e o desempenho que ele demonstrou no último jogo levam me á conclusão que a lesão dele já esteja totalmente tratada. - O meu tio juntou-se a mim para me informar. - Ainda assim preciso que fiques de olho nele no treino, qualquer sinal de fracasso avisa-me.
- Sim, ficarei... - Sorri
Era incrível como só era colocada em situações constrangedoras como estás quando o que mais queria era resolver e meter em pratos limpos tudo o que aconteceu na noite anterior.
- MISTER!? - Rúben Dias chamou. - Pode chegar aqui 2 segundos?
Bruno Lage afastou se de mim e foi para perto de um grupinho recém formado onde estava Rúben Dias que logo iniciou uma conversa animada com o treinador.
Suspirei, olhando para o pequeno caderno cor de laranja pastel que estava nas minhas mãos, mas logo levantei o meu olhar assim que ouvi as familiares risadas e palhaçadas do trio maravilha de Félix, Pizzi e Jota.
- Confiamos em ti, miúdo! - Pizzi deu um pequeno calduço em Félix que sorriu, afastando-se deles dois e caminhando na minha direção.
- Filipa... - Parou á minha frente, com uma distância razoável de mim para quem estava á volta pensar que estávamos apenas a tratar de assuntos casuais. - Sobre ontem..
- Desculpa ter ido embora sem dizer nada, mas acho melhor falarmos sobre no final do treino, não quero que o meu tio principalmente note algo.
- Sim, como preferires. - Mexeu no seu cabelo, visivelmente nervoso.
- E sobre a tua lesão... - Adiantei antes do moreno virar costas. - Se sentires fraqueza ou desconforto em algum momento peço que pares e venhas falar comigo, ainda estou encarregue da tua situação.
- Sempre as ordens, mini mister! - Respondeu com um sorriso. - Ficas aqui pelo relvado? Ou vais para as arquibancadas?
- Não sei... o que preferes? - Perguntei de forma desafiadora.
- Ter-te aqui, assim mesmo longe, estás perto.
- Félix! Treinar! - Bruno Lage chamou, fazendo o moreno dar um sorrisinho como quem diz "tenho de ir".
**
Caminhei ao lado do meu tio para fora do relvado enquanto ele me explicava como funcionariam os próximos treinos, as técnicas que começariamos a por em prática e o facto de termos de começar a usar também o ginásio interior para quando o tempo começasse a ficar mais frio.
Escutei atentamente, mas a nossa conversa foi interrompida com uma voz cansada que soou atrás de nós.
- Mister, Filipa... - Viramos nos ambos para trás para encarar Félix que tinha as suas bochechas vermelhas do treino. - Eu precisava de falar com a Filipa sobre a minha lesão, é o momento adequado ou é preferível ser noutra altura?
- Não, de modo algum. Estava também mesmo a acabar de explicar a Filipa tudo o que ela precisa de saber, se precisarem de alguma coisa sabem onde me encontrar. - Bruno Lage sorriu, saindo então em direção ao túnel deixando nos finalmente sozinhos.
- Não precisas realmente de falar sobre a tua lesão, pois não?
- Não propriamente... mas precisava de uma desculpa para poder ser visto sozinho contigo sem levantar suspeitas. - Respondeu sorrindo.
Sorri com a sua fala, pensando que talvez o ter beijado não tivesse arruinado as coisas entre nós.
- Eu realmente não sei ao certo o que te dizer em relação ao que aconteceu...
Ele olhou para mim com um ar confuso, entenderia o lado dele se quisesse fingir que nada aconteceu entre nós, afinal ele estava numa boa altura na sua carreira, não precisava de distrações.
- Filipa... - Murmurou, aproximando-se de mim. - Não precisas de dizer nada em relação a isso, apenas quero exclarecer o que sentes para saber como devemos agir daqui para a frente.
- Eu honestamente não sei, está tudo tão confuso... - Neguei olhando para baixo, para a relva. - Eu gosto de quando estou contigo, e acho que deu para perceber o quanto gostei do que aconteceu ontem, só não quero estar a dar nenhum passo em falso e muito menos quero ser algum tipo de distração.
Ele suspirou, batendo repetidamente com a parte da frente sua chuteira direita contra a relva, como se tentasse encontrar as melhores palavras para falar.
- Eu... - Olhou para cima, e depois novamente para mim. - Isto é complicado, tanto para ti como para mim, mas eu gosto do que nós temos. Parece que temos uma ligação que flui com naturalidade, não quero arruinar isso.
Concordei com ele, afinal era a verdade, a amizade que tinhamos ou o que lhe queiram chamar era genuína e natural, seria mau arruinar isso.
- E é claro que quero focar nos jogos, na minha carreira, mas sei lá, tudo parece mais simples quando estás por perto. - Explicou, a voz a falhar um pouco mais que o normal. - Sabes bem que não serias uma distração, nunca foste até aqui, pelo contrário, foste a pessoa que muita das vezes me motivou e me apoiou quando mais ninguém o fez.
Não tive palavras para responder ao que tinha acabado de ouvir, por isso apenas abraçei o garoto que retribuio, quase me esmagando nos seus braços.
Algo dentro de mim dizia que tudo correria bem, que faríamos bem um para o outro, que estaríamos ali para nos apoiar. Por outro lado, algo me dizia que aquilo era errado, que não o deveríamos fazer, eu poderia arruinar toda a minha carreira assim como ele a dele.
João separou gentilmente o meu corpo do seu, colocando uma das suas mãos na minha bochecha e puxando me para um beijo.
Tive receio ao início de sermos apanhados e de tudo ser em vão, mas ao mesmo tempo que o medo percorria pelo meu corpo a adrenalina também.
As minhas mãos foram até á nuca do moreno, puxando alguns dos seus cabelos entre os meus dedos, fazendo-o sorrir entre o beijo que a esta altura estava bem mais intenso e necessitado do que inicialmente.
Toda esta nova sensação dava-me a volta ao estômago, mas eu acho que poderia dizer isso de uma maneira positiva e não negativa.
- Uhm... João... - Tentei afastar-me do moreno que me mantinha bem segura nos seus braços. - Ainda somos apanhados...
Félix afastou-se levemente de mim, encarando-me como se não ouvesse amanhã, os seus lábios levemente inchados e os cabelos despenteados faziam no parecer ainda mais bonito.
- Sim, tens razão... - Murmurou, mas pareceu que nem ele acreditou no que dizia já que juntou novamente os nossos lábios fazendo me rir.
Enquanto ainda ria, João começou a dar beijinhos pelo meu rosto numa forma de brincadeira o que causou que eu começasse a rir ainda mais e a tentar afastá-lo de mim para que ele parasse.
- JOÃO! - Ouvimos uma voz a chamar já perto da entrada do túnel, empurrei o moreno para longe do meu corpo e recompus-me. - Então? Estamos todos á tua espera! - Seferovic apareceu dizendo.
- Pois! Sim, claro! - Ele colocou a sua mão na nuca, um ato claro de nervosismo. - Estava mesmo a terminar!
- Sim! Estávamos apenas a conversar sobre a lesão dele... os relatórios chegaram! - Mostrei algumas folhas que tinha perdidas no caderno, esperando que Seferovic acreditasse.
O mais velho não fez questões e apenas disse a Félix para não se demorar ao que ambos concordámos.
- Se não fosse pelo teu jogo de ataque de beijos! - Bati com as folhas no ombro do moreno que riu. - É bom que ele não tenha dado por nada! Que merda!
- O que foi? - Perguntou confuso.
- Cala-te! - Aproximei-me novamente dele, segurando no seu maxilar para limpar os vestígios de batom que existiam no seu rosto. - Se alguém sabe disto estamos tramados!
- O que ninguém sabe, ninguém estraga. A minha boca é apenas tua, princesa. - Sorri da forma super "encantadora" com que ele tentou dizer aquilo, claramente não funcionou.
- Precisas de treinar melhor essas coisas todas fuleiras que vocês homens dizem, aposto que arranjas melhores!
- Por ti, arranjo tudo.
- Claro! - Revirei os meus olhos. - Agora vai, antes que Seferovic ou algum outro aqui venha novamente! - Dei um beijo na bochecha do moreno, certificando me de que não deixava vestígios de batom.
- Falamos depois? - Deu um beijo na minha testa em forma de despedida.
- Vou pensar no teu caso...
- Pensa com carinho então. - Afastou se de mim, caminhando até ao túnel, a cabeça baixa mas com um sorrisinho notório nos lábios.
Continua...
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