010. Paula Rasec
Ainda bem que Giovanna estava atrás de Paula, senão esta teria caído no chão e sabe-se lá o quão feio poderia ter se machucado.
Com a ajuda da banda, a irmã do tecladista foi colocada deitada sobre o sofá. Júlio não saiu de perto dela nem um segundo. Enquanto as outras pessoas circulavam para lá e para cá buscando coisas que pudessem ajudar a acordar a moça, Raquel teve que ficar abanando o rapaz porque ele estava a ponto de ter um piripaque de preocupação.
Até que Paula acordou, meio grogue. Assim que a viu abrindo os olhos, a policial afastou os membros da banda de perto dela e se abaixou para que somente o seu rosto ocupasse o campo de visão.
— Você está bem?
Paula encarou os olhos negros da garota por alguns segundos. No momento em que abriu a boca para pronunciar algo, foi cortada por uma fala mais rápida:
— Diz que sim, por favor!
Um tom de voz choroso preencheu o ambiente. Era Júlio. E, claro, ao escutar a voz do seu irmão, a mulher se levantou de uma vez do sofá.
Seu olhar se tornou aflito, surpreso e assustado ao notar a presença da banda ali. Ela ficou visivelmente sem fala, e por dentro não queria acreditar que estava vivenciando algo real.
O seu olhar caiu especificamente sobre o Júlio. Para ela, aquele moço era um impostor se passando por seu irmão, e aquela brincadeirinha era totalmente sem graça! Porém a semelhança entre eles era tanta que até os seus neurônios estavam ficando confusos se ela estava sonhando ou acordada.
O moço de cabelo vermelho também ficou atordoado: ele tentava conter as lágrimas que queriam cair, soluçando. Mesmo que tivesse visto a irmã à relativamente pouco tempo, o reencontro também era um mix de sentimentos para ele.
Um silêncio profundo reinou naquele ambiente. Ninguém ousava falar um "a" que pudesse quebrar o contato visual dos irmãos — e, também, ninguém sabia ao certo o que falar. Até que Paula balançou a cabeça de um lado para o outro. Piscou os olhos várias vezes e ainda passou as duas mãos no rosto antes de voltar a fitar o tecladista.
— Eu… Não estou sonhando?
A sua pergunta despertou a atenção de todos. A moça estava começando a ficar pálida quando a policial se aproximou dela e colocou uma mão sobre o ombro alheio.
— Não está — falou.
Paula ainda estava desacreditada quando essa frase lhe foi dirigida, e Giovanna percebeu isso. Então, para cessar a indecisão da mulher e ela não sair correndo dali gritando que estava ficando louca, a policial segurou na sua mão e a guiou até de frente para o seu irmão. Quando próximos o suficiente, a morena colocou a mão da Rasec sobre a bochecha do tecladista, e esta não quebrou o toque assim que a policial se afastou.
Ambos os irmãos choraram com o reencontro. A princípio eram lágrimas tímidas, porém no momento em que se abraçaram, o choro tornou-se alto.
Ficaram vários minutos grudados um no outro. Quando sentiu a necessidade de se afastar para o encarar na face novamente, ela falou:
— Como isso é possível?
— Eu não sei — havia muita emoção na resposta dele. — Só Deus sabe.
Paula segurou o rosto do seu irmão entre as mãos e lhe depositou um beijo na testa.
— Foi um milagre — disse. — E você não vai mais viajar de novo.
Mesmo que dissesse em um tom brincalhão, ela sabia que havia um pouco de receio na sua fala — e, se fosse por si, ele não iria mais mesmo. Mas aí se lembrou que, além do irmão, outras pessoas incríveis e que ela sentia muita falta também estavam presentes ali. Foi então que, ainda sem se desgrudar de Júlio, olhou para o restante da banda e pronunciou:
— Nenhum de vocês vai mais. Eu não vou deixar!
A sua fala foi acompanhada de muita comoção. A Rasec não conseguiu conter as lágrimas e toda a banda não conseguiu ficar sem abraçá-la de uma vez.
— Eu fiz café, espero que você goste — mesmo sem saber se a resposta seria positiva ou negativa, Raquel entregou uma xícara para Paula e já foi a servindo pelo bule.
— Eu adoro, mas não precisa colocar muito — a mulher fez um sinal de que já estava boa a quantidade e depois sorriu para a morena. — Obrigada, querida.
— A gente não recebe nada? — Tal pergunta foi deferida por Samuel. Raquel lhe lançou um olhar reprovador.
— A visita aqui é só a Paula, vocês são de casa já — respondeu, cortante, porém em um tom um pouco brincalhão.
O Reoli caçula foi vaiado pelo restante da banda, e imediatamente as suas bochechas ficaram rosadas de vergonha. Para disfarçar, ele ousou se levantar e ir até a cozinha se servir sozinho, porém foi alvo de mais piadas ainda com tal atitude. Ele estava ficando realmente muito envergonhado com a situação quando Raquel percebeu o seu desconforto e lançou um olhar reprovador para os demais meninos, sendo o suficiente para fazê-los cessar. Em seguida ela foi até a cozinha ajudá-lo a se servir.
— Você não gosta nem um pouco de mim, não é? — Embora o tom triste da voz dele, a pergunta foi irônica.
— Não gosto tanto que até vim aqui fazer lanchinho pra você — e ela respondeu na mesma intensidade. — Eu sou peculiar.
— Acha que eu já não percebi?
— Gostando de você, o meu gosto fica muito óbvio, né?
Ela deu um tapa fraco no braço dele, mais em tom brincalhão. Sentada do outro lado do balcão da cozinha americana daquele apartamento, Giovanna prestava atenção na conversa da prima e do baixista enquanto fitava ansiosamente o seu celular. O restante das pessoas estavam na sala, que se encontrava atrás de onde Giovanna estava, e também podiam acompanhar a troca de farpas de brincadeira que rolava na cozinha.
— Vocês dois estão bem próximos, não? — A policial pronunciou, sem tirar os olhos do seu celular.
— E quem é você para falar alguma coisa? — Mesmo que não quisesse soar grosseira, a fala de Raquel surpreendeu até mesmo o Samuel.
— Isso foi uma farpa, senhorita Raquel? — A policial estava acostumada com algumas provocações da prima, então nem sequer esboçou uma reação negativa diante da fala dela.
— Foi um sacode — e ela respondeu com indiferença.
— Porém tenho que concordar com a Raquel — Samuel se meteu no meio do assunto. — Pelo menos a gente não é comprometido.
A sua frase não despertou só a atenção de Raquel, como a de Giovanna, Dinho, Paula e todas as outras que estavam presentes naquele apartamento. Todo mundo encarou o Reoli caçula com uma expressão de espanto.
— O que você quis dizer com isso? — Raquel perguntou ao baixista.
— Você não sabe que a Giovanna e o Dinho possuem namoradas e estão muito próximos? Pelo menos a gente não namora, não tem como dar briga.
Dinho cerrou os pulsos e Giovanna que estava ao seu lado percebeu e segurou em uma de suas mãos.
— Não vai brigar, né? — Ela quase sussurrou para o vocalista. — Se acalma!
— Você tem noção do que está dizendo? — Entretanto ele ignorou a policial e subiu o tom de voz com Samuel.
— E você, tem noção de que a Valéria não vai gostar dessa amizade de vocês? — O baixista se mantinha calmo, e isso irritou ainda mais o vocalista.
Dinho estava pronto para partir pra uma briga e já ia avançar para cima dele quando a policial entrou no meio para o impedir. Giovanna era tão forte que conseguiu o conter apenas colocando uma mão sobre o seu peito e lhe lançando um olhar reprovador. Quando ela fez um sinal indicando que era para ele voltar para a sala e se sentar, o rapaz nem sequer questionou antes de obedecê-la.
A cabeça da policial já estava explodindo de preocupação, e um problema a mais não a ajudaria em nada. Cindy até agora não havia lhe dado notícia se havia conseguido entregar os dois que ela levara para as suas famílias, nem sequer atendia as ligações ou respondia as mensagens de Giovanna, e isso a estava deixando preocupada com a segurança da asiática.
Percebendo que aquela situação estava ficando um pouco chata, Paula decidiu intervir. Mesmo que não estivesse entendendo completamente o que estava acontecendo, ela tinha para si que reencontrar o seu irmão era magnífico demais, o suficiente para que ajudar a separar uma possível briga estragasse o momento. Ela não queria estar por perto para ver isso, pelo menos. Mesmo que adorasse Dinho e Samuel, eles não poderiam estragar o seu reencontro com o Júlio.
— Eu acho que está na hora de irmos embora — a Rasec disse enquanto segurava a mão do irmão. — Os nossos pais vão ficar muito felizes em te rever!
— Ir embora? — Júlio ficou surpreso. — Eu vou voltar pra casa?
— E por que não voltaria? — Giovanna interviu. — Todos vocês vão voltar para as suas respectivas casas. A menos que você esteja gostando tanto de morar comigo que queira que eu te adote.
O tecladista sorriu caloroso para ela.
— Não seria uma má ideia se eu não estivesse tão a fim de voltar pra casa — falou. — Mas antes que eu saia, você tem que me prometer que a gente vai continuar se vendo. Você é muito gente boa e eu não quero perder contato.
— E o que te faz pensar que eu me afastaria, Júlio Rasec? — Ela cruzou os braços na frente do peito.
— Ah, sei lá… É que a gente só se conhece porque você é policial, se não estiver investigando mais o nosso caso não tem porque continuar mantendo contato.
— Pois eu acredito que vamos continuar nos vendo com bastante frequência, fofo — ela esboçou um sorriso ladino. — Aliás, acho que todos os dias vou ir tomar café da tarde no seu apartamento, não é, Paula?
— É sim — a mulher sorriu para a policial enquanto o seu irmão arregalava os olhos na direção das duas.
— Quer dizer que agora a gente mora no Cecap? — Depois de uns segundos que pareceram uma eternidade, Júlio compreendeu o que a frase de Giovanna queria dizer. A sua pergunta era mais como uma afirmação e havia muito entusiamo no seu tom. — A gente mora no Cecap!
Sem entender bem o motivo de tanta alegria, Giovanna e Raquel ficaram ao fundo rindo e se contagiando com a euforia da banda diante dessa notícia. A comemoração não demorou muito tempo, mas foi o suficiente para que o quinteto começasse a planejar coisas que queriam fazer no Parque Cecap dali em diante. E depois disso, Giovanna, Júlio e Paula puderam sair em direção ao apartamento dos Rasec.
A policial optou por não entrar no prédio em que eles moravam. Em uma breve conversa na portaria de entrada, Giovanna explicou que ela não queria atrapalhar o momento de reencontro que os pais de Júlio estavam prestes a ter, até porque, para eles, a presença dela seria insignificante. O importante era que Júlio agora estava de volta com a sua família. Giovanna já poderia marcar essa tarefa como concluída na sua agenda.
No momento em que ela saiu para a calçada de entrada do lugar e se pôs a ir caminhando de volta para o seu apartamento, ela sentiu o seu celular vibrando no bolso traseiro do short. Antes de pegá-lo, olhou em volta para se certificar de que estava sozinha na rua e não corria nenhum perigo.
Assim que desbloqueou a tela, uma notificação do Instagram apareceu. Não era uma notificação qualquer, aliás, era uma mensagem. Uma mensagem que Giovanna esperava receber, mas que não imaginava que demoraria tanto a chegar. Na verdade, ela já tinha até se esquecido que tinha tentado entrar em contato com aquela pessoa, de tanto que ela demorou a responder.
Mas agora a policial tinha acabado de receber uma mensagem dela. Uma mensagem não, um áudio de quase um minuto. A morena ajustou o volume do seu celular antes de dar o play.
— Olá! Eu sou a Valéria, tudo bem? Me desculpe parecer grosseira, mas poderia me adiantar esse tal assunto importante que você quer tratar comigo?
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