01 - SHINING LAKE
CAPÍTULO UM
❛lago brilhante❜
── ⋆⋅☆⋅⋆ ──
𝙰𝚁𝙺𝙰𝙳𝙸𝙰
23 𝚍𝚒𝚊𝚜 𝚊𝚙𝚘́𝚜 𝚊 𝚍𝚎𝚛𝚛𝚘𝚝𝚊
𝚍𝚎 𝙼𝚘𝚞𝚗𝚝 𝚆𝚎𝚊𝚝𝚑𝚎𝚛
Arkadia era um nome bem melhor do que Acampamento Jaha.
Isso não tinha nada a ver com o seu ódio pelo cara, era só um nome estúpido de qualquer forma, ele entendia que era uma homenagem e tudo mais. Mas qual é, ele tava vivo, mesmo que ninguém tivesse notícias dele a quase 1 mês, ele devia estar dando seu nome em algum outro lugar do planeta. Talvez, ele tenha realmente achado a cidade da luz e lá tivesse uma rua com o nome dele. Honestamente, Bellamy pouco se importava. De qualquer forma, não fazia mais sentido o acampamento ter o nome dele, e além disso, Arkadia soava bem melhor.
Bem, se ele fosse ser realmente honesto, o nome do acampamento não era a única coisa que tinha perdido o sentido nas últimas semanas.
Faziam três semanas desde Mount Weather. Três semanas desde que ele e Clarke puxaram aquela alavanca e é três semanas desde que ela foi embora. Três semanas desde que Lexa os traiu e os deixou pra morrer, três semanas que eles mataram mais de 200 pessoas. Três semanas desde que Bellamy perdeu o sentido.
Por que era isso, não era? Não tinha mais sentido. Ele não era mais o líder, Octavia já sabia se proteger sozinha e não precisava mais dele. Então, o que lhe restava? Apenas atuar como um guarda e remoer sua frustração e raiva toda vez que via um terrestre em sua frente.
Mesmo que Lexa tivesse os deixado pra morrer, os ceifadores ainda foram mandados para Arkadia para serem curados, e Abby ainda fez a sua parte, curando a maior parte deles. Bellamy odiava isso. Quer dizer, não que ele fosse contra curar os ceifadores, é claro, ele sabia o quanto aquilo era horrível pelo que tinha visto de Lincoln. Eles não tinham culpa daquilo, mas os terrestres não tinham cumprido a parte deles, certo? Então por que eles tinham?
Esses foram os únicos terrestres que apareceram, Lexa não ousou dar as caras. Não que Bellamy achasse que ela faria, mas ele estava inseguro. Nenhum ato de guerra tinha sido feito, mas até quando? Lexa os traiu, o acordo tinha sido desfeito, o que isso significava para eles? Não havia uma paz garantida e isso o matava, mas o conselho insistia em agir como se não houvesse nada pra se preocupar.
Claro que agiam, eles mesmos tinham desistido dos 47 antes, se não fosse por Clarke armar um plano para negociar com os terrestres, eles provavelmente estariam a quilômetros de distância dali, e seus amigos estariam provavelmente todos mortos na montanha. Não que o conselho se importasse com a morte de 47 adolescentes criminosos, de qualquer maneira.
Mas Bellamy estava cansado. Cansado de fingir que não sentia vontade de explodir aquele lugar, cansado de fingir que não cogitava fugir a todo e qualquer minuto, cansado de fingir que estava bem depois de tudo o que aconteceu, o que ele definitivamente não estava.
Toda vez que ele fechava os olhos, ele via o rosto queimando de radiação de Maya; via os olhos sem vida do pai dela; via o rosto do filho de Lovejoy; centenas de pessoas, famílias, crianças, pessoas que foram contra o próprio povo para ajudá-los, todas mortas, porque ele as matou.
Clarke disse uma vez que ele não era um monstro, ela mentiu na cara dele.
Ele queria poder gritar com ela por isso, mas nem isso ele podia fazer, porque ela tinha ido embora, deixado ele sozinho para cuidar de todos, fugindo pra sei lá onde, querendo bancar o maldito mártir.
Bellamy a entendia, ele mesmo fugiria se pudesse, mas quando ela pediu pra ele ficar, ele fez, por ela, e porque sabia que os delinquentes precisavam dos dois, porque ela não pôde fazer o mesmo?
De qualquer forma, ficar remoendo isso não ia ajudar em nada, ele tinha que continuar fazendo o que Clarke pediu pra ele: Cuidar dos outros, isso é algo que ele podia fazer.
Ele criou uma rotina, cuidando das necessidades do acampamento, dos seus amigos, do conselho. Ele acalmava pesadelos, apartava e resolvia brigas, construía cabanas, passavas longas noites discutindo estratégias com Kane, ensinava os recrutas mais novos a atirar, caçava, patrulhava de guarda, procurava peças para Raven, ajudava Monty com algumas plantações sempre que podia e fingia não ver o ódio nos olhos de Jasper toda vez que eles se cruzavam. No geral, era muito o que fazer, mas ele gostava de manter a mente ocupada, assim ele tinha menos tempo pra pensar em sua desgraça.
Se ele pensasse demais, acabaria enlouquecendo.
Como agora, mesmo com os milhares de afazeres, hoje é o dia raro em que ele não tem nada pra fazer. A caça não era urgente, nem Raven nem Monty precisavam de ajuda e seu turno de patrulhamento tinha acabado, então ele não teve outra escolha a não ser se sentar no muro e esperar por algo aparecer.
Ele se contentava em olhar as crianças enquanto isso, não eram muitas, menos de uma dezena, a maioria não tinha muito mais que 11 anos. Eles gostavam de brincar na área livre por volta da tarde, e Bellamy gostava de observar. As crianças não tinham ideia do que tinha lá fora, os problemas políticos, a insegurança de serem atacados a qualquer momento, eles só se importavam em brincar, e Bellamy sentia paz nisso.
Enquanto observava, seu olhar se desviou por um momento para a fogueira que estava sendo montada, tinha virado uma tradição, pelo menos a cada dois dias, era feito uma grande fogueira e todos os arkianos ficavam ao redor dela durante a noite, conversando, bebendo, ou apenas aproveitando o calor do fogo.
Ele estava prestes a se levantar para oferecer ajuda, entretanto, quando seu olhar voltou para as crianças, ele notou algo diferente. Bellamy contou sete crianças brincando, mas agora, só tinham seis.
Tinha alguém faltando.
Ele se levantou de imediato, tentando pensar onde essa criança poderia ter ido. Ele não desviou os olhos por mais do que alguns segundos, então ela não devia ter ido longe, ele sabia que não tinha como alguém entrar no acampamento em plena luz do dia sem que ninguém visse, mas seu medo era maior do que sua lógica naquele momento.
Bellamy se sentia como no Dropship, com medo constante dos grounders atacarem a qualquer instante. Acontece que no Dropship ele era mais confiante, pois não tinha noção alguma dos danos que eles poderiam causar. Se aquela criança de alguma forma saísse dos muros de Arkadia, seria alvo fácil, ele precisava encontrá-la.
Ele procurou por todo o lado de fora até o limite dos muros, mas não encontrou criança alguma, então se dirigiu para dentro, atravessando a infinidade de corredores. O Blake estava quase entrando em pânico, seriamente cogitando chamar Abby e Kane, quando ouviu uma fungada.
Não era alta, era fina e abafada, como se a pessoa estivesse tentando esconder, ele ouviu um choramingo então, definitivamente uma criança.
Bellamy seguiu o som até o próximo corredor e então a encontrou, sentada no chão, abraçando os joelhos contra o peito. Ele não podia ver o rosto dela, mas não precisava de muito para saber que era ela que estava chorando.
Será que ela estava machucada? Fazia sentido, afinal, já que ela estava na porta da enfermaria. Mas por que ela não entrou então?
Ele se aproximou a passos lentos, tomando cuidado para não assustá-la, quando chegou perto o suficiente, ele se abaixou para ficar no nível dela, ela não se mexeu, continuava chorando, um choro contido, com fungadas ocasionais, como se ela não quisesse que ninguém a visse.
— Ei! — Bellamy chamou baixo, mas o suficiente para que ela ouvisse. Isso foi o suficiente para ela dar um pulo e levantar a cabeça, com os olhos arregalados. — Me desculpa, eu não quis assustar você.
Ele se lembrava de vê-la pelo acampamento, os cabelos castanhos avermelhados certamente a destacavam das outras crianças, ela também era uma das mais novas, devia ter uns 9 ou 10 anos. Mas normalmente ela estava alegre, feliz, rindo e brincando com as outras crianças. Nunca assim.
— Por que você 'tá aqui sozinha, 'tá tudo bem? — Bellamy perguntou suavemente.
A menina endireitou a postura, mas permaneceu abraçando os joelhos, sua feição se tornou séria, e ela ficou em silêncio por alguns segundos, mas não gritou ou tentou se afastar dele, o que ele considerava um bom sinal, ele sabia que adultos podiam assustar.
Ele decidiu se sentar ao lado dela, com as costas apoiadas na parede fria, mas ficando um pouco distante, os dois permaneceram em silêncio por alguns segundos, até a garotinha quebrá-lo.
— Perdi minha presilha. — Ela sussurrou, fazendo Bellamy encará-la, quase aliviado.
Ele sabia que crianças tinham reações exageradas, qualquer coisa era o fim do mundo, e ficou aliviado por ser apenas isso.
— Eu posso te ajudar a procurar, se você quiser. — Ele ofereceu, e ela soltou um bufo, Bellamy franziu o cenho. — Não é só isso, não é?
A garotinha olhou para parede antes de olhar para ele, seus olhos estavam vermelhos e pareciam claramente triste, ela deu uma leve fungada antes de responder.
— É que eu não consigo enxergar direito com esse olho. — Ela apontou para o olho esquerdo — A Doutora Griffin disse que vai melhorar, mas parece que não melhora nunca.
Bellamy suspirou, Abby e Kane já haviam comentado com ele várias vezes os problemas que a privação de oxigênio na arca tinha causado nas pessoas, desde danos nos músculos até problemas de coração. Algumas morreram por isso, outras tiveram danos graves e algumas apenas algumas sequelas leves. Ele desejou que essa garotinha fosse uma das que se recuperaria logo.
Mas ele entendeu a tristeza, ela não conseguia enxergar bem para procurar a presilha, isso obviamente deixaria alguém frustrado, principalmente uma criança. Ele tentou pensar em algo que a confortaria.
— Você sabia que Tiresias era cego?¹ — Ele soltou simplesmente, porque era a única coisa que ele conseguia pensar. A criança franziu o cenho.
— O vidente?
— Você conhece a história? — Bellamy perguntou com animação no tom, a garotinha corou imediatamente.
— Eu presto atenção nas histórias que você conta na fogueira. — Ela disse, parecendo envergonhada — Normalmente a Sra. Lucy não deixa eu sair de perto dela a noite pra me reunir com as outras crianças, mas meu ouvido ainda é bom.
Bellamy deixou escapar um sorriso lisonjeado. Começou com algo bobo, em uma das primeiras noites da fogueira, Monroe pediu para ele contar uma história, como fazia nos dias do módulo de transporte. Depois de muita insistência dela e dos outros, ele acabou cedendo, e as crianças passaram a amar as histórias dele, então se tornou algo que ele fazia quase sempre. Ele nunca tinha visto a garotinha entre elas, mas ficava feliz que ela estivesse ouvindo.
Antes que ele pudesse responder, a porta da enfermaria se abriu, revelando Abby Griffin, ela os viu assim que passou pela porta.
— Boa tarde, Bellamy. — Ela cumprimentou amigavelmente, eles ainda não tinham se visto hoje. Ele apenas acenou, então a mulher voltou os olhos para a garotinha — Ei, Reese. A Sra. Lucy passou aqui procurando por você. Ela disse que ia te esperar no refeitório.
A garotinha assentiu, se colocando de pé, Bellamy imediatamente imitou seu movimento. Ele esperava que ela fosse embora de imediato, mas então ela se virou para ele e sorriu.
— Tchau, contador de histórias! — Reese se despediu, fazendo com que o homem sorrisse.
— Tchau, Reese. — Ela sorriu levemente para ele, e então seguiu andando. Bellamy e Abby observaram enquanto ela fazia uma curva e sumia entre os corredores.
— Por que vocês estavam aqui? — Abby perguntou, obviamente, a Chanceler tinha que saber de tudo.
— Ela estava brincando com as outras crianças e então sumiu de repente. Eu só vim checar se ela estava bem. — A Doutora assentiu.
— É bom ver ela interagindo com as outras crianças. Lucy disse que ela tem andado bem distante de todos depois da morte do pai.
A informação pegou Bellamy totalmente desprevenido.
— O pai dela morreu? Como? — Ele sentiu uma súbita vontade de perguntar. Abby soltou um suspiro antes de responder.
— Ele foi voluntário no abate da arca. — Blake pode ver a faísca de tristeza nos olhos da mulher — Ele foi um dos primeiros, incentivou os outros.
A constatação atingiu Bellamy como um soco no estômago que o fez perder o ar. Ninguém falava sobre sobre o abate da arca, era quase um assunto proibido, mas Kane as vezes divagava sobre o assunto, parecendo culpado, mas Bellamy sabia que não era culpa dele.
Porque foi Bellamy que causou o abate, jogando o rádio de Raven no lago.
Não era uma matemática difícil de fazer: Um pai, vendo sua filha ficar cega pela falta de oxigênio, vendo a chance de ajudar, obviamente se sacrificaria pelo bem dela. Ele entendia, claro que entendia, mas isso não o fazia menos culpado.
Bellamy matou o pai daquela garotinha.
Ele pôde ouvir o eco de alguém chamando seu nome — certamente Abby — mas não respondeu. Sua visão estava turva, ele se sentiu tonto, seu estômago embrulhou e ele sentiu vontade de vomitar, ele piscou os olhos rapidamente, tentando se lembrar como respirar.
Ele precisava sair dali.
Bellamy pôde ouvir agora claramente o grito de Abby em suas costas enquanto ele cruzava o corredor, mas não importava, ele não podia continuar alí, fingindo que estava tudo bem, andando no meio de pessoas inocentes enquanto ele estava coberto de sangue de inocentes, famílias, crianças, pessoas de bem.
Então ele fugiu.
De Arkadia, dos seus amigos, da sua culpa, de tudo.
[•••]
Assassino.
Homicida.
Monstro.
Você matou pessoas inocentes.
Você matou crianças.
Você deixou aquela garotinha órfã.
Monstro.
Monstro.
Bellamy sentia sua garganta fechada, o ar não saia e nem entrava em seus pulmões, era como se eles estivesse preso em uma sala e as paredes se fechassem ao redor dele, sufocante e angustiante.
Ele nem percebeu que estava tinha saído do acampamento até já estar bem longe. Ouviu seu nome ser chamado algumas vezes, mas não conseguiu indentificar as vozes e sequer deu atenção a elas, ele só sabia que precisava de espaço, ficar sozinho o mais rápido antes que ele perdesse o controle.
Toda vez que ele perdia o controle, ele machucava alguém.
É o que monstros fazem, machucam as pessoas.
Ele fechou os punhos, apertando as unhas tão forte contra a sua palma que ele pode sentir sua pele rasgando. Sua respiração estava ofegante, seu coração acelerado, ele podia sentir gotas de suor descendo em sua testa. Ele rangeu os dentes e trancou o maxilar, sentindo seu corpo todo tremer.
Se não parasse agora, ia acabar desmaiando em algum lugar.
Foi o que ele fez, usando uma das mãos para se apoiar em uma árvore e a outra pra se apoiar nos joelhos, tentando voltar a respirar e se acalmar. Mas seus pensamentos continuavam frenéticos sem que ele pudesse controlar, os rostos que ele não reconhecia e que o atormentavam toda vez que ele dormia, surgindo na sua cabeça.
O garoto fechou os punhos novamente e, com o corpo fervoroso, socou a árvore em que se apoiava com a mão direita.
Você matou todas aquelas pessoas.
Ele socou a árvore mais uma vez.
Você jogou o rádio no lago; você puxou aquela alavanca.
Mais um soco, desta vez com a outra mão.
Mães, pais, crianças, pessoas com famílias, amigos, sonhos e metas. Todas destruídas por você.
Outro soco.
Octávia estava certa, tudo que dá errado é por culpa sua.
Mais um soco.
Clarke estava errada, você é sim um monstro.
Ele continuou a socar a árvore, uma vez após a outra, sem parar, seu sangue tão quente que ele sequer sentia a dor. E só parou depois de minutos, quando precisou respirar, e só então ele notou o sangue escorrendo pelos nós dos dedos. Bellamy soltou um suspiro frustrado, sentindo vontade de gritar, de dor, de raiva, mas se conteve.
Finalmente, ele se permitiu olhar ao redor então, estava no meio de uma floresta, as árvores altas deixavam isso óbvio, mas ela não era nada familiar para ele. O Blake bateu a mão no cós das calças e então constatou que não tinha trago nenhuma arma, ele se amaldiçoou mentalmente.
Ah, que ótimo. Você 'tá perdido em um lugar totalmente desconhecido, completamente desarmado e com terrestres possivelmente a espreita. Gênio! Você presta pra alguma coisa por acaso?
Ele bufou, aquilo não iria adiantar de nada. Ele precisava focar em suas prioridades, precisava voltar para o acampamento, talvez ele se lembrasse da direção de onde veio se forçasse a mente um pouco.
A ardência nos nós dos dedos o chamou a atenção, ele encarou a própria mão, vendo o inchaço e os cortes nela, com um monte de sujeira do que devia ser o casco da árvore, ok, cuidamos disso primeiro.
Bellamy olhou ao redor, avistando mais ao longe um lago, iria servir. Ele caminhou até lá, sem correr dessa vez, suas pernas já estavam cansadas. O objetivo era lavar as mãos, mas ele estava tão exausto — mentalmente e fisicamente — que apenas sentou em uma pedra, precisando urgentemente de uma pausa.
Ele se permitiu analisar o espaço. As árvores — incrivelmente verdes, muito mais vivas do que qualquer outra que ele já tenha visto — rodeavam o lago em um círculo quase perfeito, seus grandes galhos tampando quase todo o céu. Com grandes pedras nas extremidades, o lago em si era grande, não tão fundo, com a água tão cristalina e brilhante que Bellamy podia ver as algas e os peixes nadando claramente. Como um espelho, ela refletia o sol, quase se pondo completamente a essa altura, já deixando alguns pontos brilhantes no céu.
Estrelas sempre o lembravam dela.
A garota das estrelas, que ficou por horas na jaula ao lado da dele. Que conversou com ele, ajudou ele, em quem ele confiou, mesmo que seu tempo juntos não dê sequer um dia, ele ainda se lembrava das pequenas estrelas que desenhavam seu corpo.
Ele sentiu o sangue borbulhar de novo, ela o deixou também.
Irritado com a lembrança, ele pegou uma pedra qualquer e jogou com toda a força no lago, ela afundou imediatamente, jogando água para cima, mas não água transparente, a água simplesmente brilhava.
Bellamy piscou os olhos algumas vezes, tentando assimilar o que tinha acabado de ver, seria reflexo? Não, o sol estava muito baixo a essa altura, a lua estava não chegava a refletir o lago, e definitivamente nenhum dos dois era azul. Ele pegou uma pedra menor, a arremessando mais suavemente, ela quicou duas vezes antes de afundar, e toda vez que ela entrava em contato com a água, ela brilhava em azul.
Ele se levantou da pedra e se aproximou do lago, se ajoelhando na terra e colocando uma das mãos na água, de imediato, ele sentiu ardência do líquido gelado em contato com sua pele, mas estava muito mais impressionado com o fato de que toda a água ao redor de sua mão brilhava em azul, toda vez que ele se mexia.
Deslumbrado com aquilo, impulsivamente, ele começa a tirar as roupas, jaqueta, camisa e calça. Quando ele ficou só de cueca, pulou no lago. A água era tão clara que mesmo submerso, ele conseguia ver claramente tudo em baixo d'água; os cardumes, a terra, as algas, as pequenas pedras que ficavam no chão.
Ele emergiu rapidamente, balançando a cabeça para tirar a água dos cabelos e esfregando os olhos. Voltando a sua atenção para a água novamente, vendo que ela ainda brilhava em azul, dessa vez ainda mais brilhante, visto que o céu estava mais escuro.
O lago era raso o suficiente para que ele conseguisse ficar em pé e a água batesse em sua cintura, então, ele passou alguns minutos apenas admirando o brilho da água, conforme o sol descia totalmente e o céu ficava completamente escuro, a água ficava cada vez mais brilhante, os peixes também começaram a brilhar, e haviam também pequenos pontos de luz, como um verdadeiro retrato do céu.
Era lindo, Bellamy já tinha ouvido falar sobre borboletas e florestas brilhantes, mas nunca tinha visto nada assim antes. Sempre ocupado demais, lutando em guerras ou cuidando de seu povo, ele nunca tinha parado para analisar as pequenas belezas da terra.
Foi uma sensação mágica, como quando ele viu o sol pela primeira vez, ou quando sentiu a chuva no rosto pela primeira vez. Mesmo com todas as mazelas da terra, ainda haviam coisas bonitas, ainda havia esperança.
Ele estava totalmente deslumbrado com o brilho do lago, mas não deslumbrado o suficiente para deixar de ver a sombra entre as árvores. Bellamy congelou no lugar por alguns segundos.
Qual seriam as chances dele estar completamente louco? 90%?
Ele ficou completamente imóvel, esperando para ver o próximo movimento do que quer que fosse. Podia ser um animal ou uma pessoa; podia estar caçando ou apenas andando; podia dar meia volta e ir embora se achasse que não tinha ninguém alí ou então o mataria quando percebesse que ele estava totalmente indefeso. Ele não estava preparado pra nenhum dos dois.
Depois de alguns minutos, ele começou a cogitar realmente ter imaginado, mas então ele viu de novo, desta vez, era vulto passando entre às árvores.
Suas chances de estar louco reduziram para 60%.
Ele nadou rapidamente até a margem, e quando chegou, começou a se vestir rapidamente, analisando o ambiente em busca de qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a se defender de um ataque, haviam pedras e galhos, nada muito útil. Foi quando ele pegou a camisa para vesti-la, que a voz suave o fez congelar no lugar.
— Eu sinto muito.
Bellamy prendeu a respiração ao reconhecer a voz de imediato. Ainda com a camisa nas mãos, ele levantou a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os dela, a iluminação fraca do lago e da lua minguante no céu fazendo com que ele conseguisse enxerga-la o suficiente pra reconhecê-la
Impossível.
Ela parecia mais saudável do que dá última vez que a viu, as bochechas mais coradas, menos magra, até os olhos acinzentados dela pareciam brilhar mais. Ela tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo, uma mochila nas costas e as roupas eram cheias de panos e remendos, bem parecidas com a que os terrestres usavam. Mas a postura dela não era nada parecida com a deles, ela parecia mais hesitante do que ameaçadora.
— Eu não quis assustar você. — Ela continua, apertando as mãos, parecia nervosa.
Não era ela, não podia ser. Ela tinha ido embora, já fazia quase um mês, quais eram as chances? Não podia ser a...
— Garota das estrelas. — Ele sussurrou sem conseguir se conter. Essa era a forma que ele tinha a chamado na sua cabeça desde Mount Weather.
— É Lyra. — A garota disse baixo, e Bellamy sentiu o rosto corar por ela ter ouvido — Eu não te disse meu nome.
Ele continuava a encarando fixamente para ela por alguns segundos, apertando a camisa em suas mãos com força a ponto de rasga-la, seus olhos arregalados e a postura enrijecida. O garoto só voltou a realidade quando uma gota de água de seu cabelo encharcado caiu em seu rosto, ele piscou rapidamente antes de perguntar.
— O que você 'tá fazendo aqui? — Não era pra ter soado tão rude quanto soou, mas ele estava espantado demais para controlar seu tom. Não tinha como ela estar no mesmo lugar que ele por pura coincidência, quando nem mesmo ele sabia onde estava, a não ser que... — Você 'tava me seguindo?
Bellamy viu o rosto da garota se avermelhar de imediato enquanto ela desviava o olhar.
— Não! — Ela negou de imediato, mas fez uma pausa — Na verdade, sim. — Bellamy trancou o maxilar, finalmente se movendo para vestir a camisa — Olha, não é o que parece.
— Sério? — Ele arqueou uma sobrancelha de forma irônica, enquanto se movia para pegar sua jaqueta no chão.
— Escuta, eu não tinha a intenção de te seguir, é só que... — Lyra suspirou, parecendo frustrada — Eu não saio de casa desde Mount Weather, ok? Minha irmã tem ficado em cima de mim como um predador. E eu... Fiquei sabendo sobre o que a Heda fez com seu povo. — Ela hesitou em dizer a parte, e Bellamy supôs que ela entendia bem a gravidade daquilo — Eu... Você não saiu da minha cabeça desde que eu sai daquela jaula, e eu sequer tinha ideia se você estava vivo, então, eu quis verificar. Fui até seu povo nessa intenção, mas então eu te vi sair, você parecia mal, então eu vim atrás de você.
Ele suspirou, assimilando tudo o que ela disse, fazia certo sentido, sim, mas ele aprendeu da pior maneira que confiar em terrestres nunca acabava bem.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu. — Ela disse, com pesar na voz, pareceu sincero — Ninguém teve voz contra a Heda, e mesmo que eu quisesse, não teria como eu fazer nada... — Ela hesitou — Eu desmaiei no meio do caminho, fiquei apagada por horas.
Bellamy sentiu um repentino aperto no coração, o que era estúpido, já fazia um mês e ela estava aqui e bem, mas por algum motivo, a imagem daquela garota que fraquejou em seus braços, dizendo que estava com medo, completamente inconsciente por fraqueza pesou em seu coração.
— Sinto muito. — Ele murmurou baixo, ela apenas assentiu.
— Posso cuidar disso pra você. — Bellamy encarou uma das mãos machucadas que ela tinha apontado, dando de ombros.
— Não precisa, nem está doendo tanto.
Mentira, estava doendo para um caralho. Mas não havia muito o que ele pudesse fazer sobre isso, certamente suas mãos ficariam doloridas por alguns dias. Pelo menos agora as feridas agora estavam limpas depois que ele entrou no lago.
— Mas precisa enfaixar, pra que não entre nenhum tipo de sujeira ou infeccione. — Lyra disse calmamente — A não ser que você tenha quebrado algum osso, aí é mais grave.
Bellamy pensou por alguns segundos. Ela só queria olhar a mão dele, o que ela poderia fazer? Tirar uma faca furtivamente e cortar os dedos dele fora?
Esquece, ela podia.
De qualquer forma, por que ela se daria todo esse trabalho? Se o que ela tinha dito era verdade, ela só queria ajudar, que mal teria deixá-la fazer isso? Lyra deu um passo a frente, calmamente, como se pedisse permissão para se aproximar, ela tomou como uma resposta positiva quando ele não se moveu para se afastar ou afastá-la.
Ela ficou de frente para ele, pegando suas mãos com cuidado e as analisando calmamente. Bellamy ficou surpreso, primeiro pelo quão fria era a pele dela, mesmo em contato com a dele, que estava da mesma forma por causa da água gelada do lago, depois, pela forma e cuidadosa que ela o tocava, ele nunca tinha sido tocado assim.
— Pra sua sorte, garoto do céu, não quebrou nada. — Ela disse por fim, soltando suas mãos — Mas ainda precisa enfaixar.
A garota se afastou um pouco então, colocando sua mochila na pedra em que Bellamy estava sentado a anteriormente, a abrindo e pegando algumas faixas.
— Você tem sorte de não ter quebrado nenhum metacarpo². — Lyra disse enquanto enfaixava uma de suas mãos — Você podia ter perder o movimento da mão, ou ficar com ela deformada. Fora que isso podia te dar uma doença crônica no futuro.
Ele não conseguiu segurar uma risada, já que aquele era o tom médico e sério que Abby costumava usar com ele toda vez que ele ia parar na enfermaria — eram muito mais vezes do que seria saudável, mas paciência.
— Você sabe bastante, ein?
— Recebi treinamento de curandeira na aldeia em que eu morava. — Ela deu de ombros, levantando os olhos para encará-lo.
E então, ela deu um sorriso suave, que Bellamy não conseguiu evitar contribuir, e naquele momento simples, eles nunca imaginariam o que estaria por vir, ou o que passariam um do lado do outro.
Eles tinham começado algo grande.
4614 palavras
Momento Lunapédia:
1 - Tiresias é um famoso vidente da mitologia grega, conhecido por sua sabedoria e habilidades proféticas. Ele é uma figura central em várias lendas e histórias gregas, aparecendo em obras como a "Odisseia" de Homero e as tragédias de Sófocles.
2 - Metacarpos são ossos grossos da mão que conectam os dedos ao punho.
Bom, aqui estou eu, demorei um pouquinho mais do que deveria, mas não foi tanto então tá ótimo
Tenho algumas pra comentar sobre esse capítulo, primeiro: Fui assistir a 3ª temporada de novo pra escrever e até hoje eu não consigo entender O QUE ACONTECEU NOS 3 MESES DE SALTO NO TEMPO DE UMA TEMPORADA PRA OUTRA? A dinâmica de Arkadia; como ficou a relação deles com os terrestres depois da traição da Lexa; ficou tudo muito ambíguo, então eu dei uma viajada legal.
Segundo: Sem ódio a nenhum personagem, este é apenas o ponto de vista do Bellamy sobre a situação.
Terceiro: Pra quem não se lembra, Reese é uma personagem que aparece no episódio 1x05, e como vocês já devem ter deduzido por ela estar no cast, ela será uma personagem importante e recorrente.
Um ponto bobo: Essa cena do lago surgiu unicamente pela minha vontade de mais cenas bonitas sobre coisas na terra, espero que tenha ficado bom.
Estou muito feliz por FINALMENTE começar a escrever essa fanfic e espero que vocês gostem, beijinhos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro