01
Andando de um lado para o outro, Hermione se perguntava a quanto tempo Snape era um espião duplo. Bem, não era a única pergunta que ela tinha em mente, sendo várias outras que ela tinha certeza que se perguntasse a ele, a probabilidade dele tacar um livro em sua cabeça era grande.
Ela não conseguia entender, como Dumbledore podia deixá-los o odiar por tanto tempo, quando na verdade, o pobre homem só queria salvar Harry, e de brinde, ela e Rony estavam incluídos. Claro, ele os ajudava sem que eles soubessem, porém isso não anulava o fato de ele os tratar tão mal.
Snape continuava sendo o carrasco que sempre foi e tão delicado quanto um coice de mula, sem falar nos comentários ácidos e humilhantes que sempre fazia questão de proferir a qualquer um que cruzasse seu caminho, contudo, Hermione ainda o admirava como professor, e ela não contava para ninguém que as aulas dele eram suas favoritas, e mesmo assim ela não podia deixar de ter raiva daquele homem carrancudo que naquele momento, estava deitado em um dos quartos de hóspedes do Largo Grimmauld número 12, enquanto alguns membros da ordem, tentavam curar suas feridas de um ataque de stress do lorde das trevas.
Apesar de Severus Snape reclamar a cada segundo que tais cuidados não eram necessários, Dumbledore que estava em um canto dizia o contrário, e Hermione concordava com o silenciosamente, pois sabia que se abrisse a boca, Snape poderia a atacá-la de qualquer maneira.
Snape apareceu em frente a casa sabe Deus como. Ele estava sujo de sangue, sua perna parecia destrinchada, e olhando melhor de perto, mesmo com as poções mais fortes de seu estoque, era necessário que ele ficasse um bom tempo de recuperação. Ela admirava o quanto ele suportava a dor, seu estado era tão grave, que ela em seu lugar estaria desmaiada, mais lá estava ele, calmo e mais irritadiço do que o normal.
Sua língua coçava para perguntar que feitiço havia sido usado nele, afinal, ele estava muito machucado, o impressionantemente consciente, apesar da branquidão da sua pele denunciar o quanto ele deveria estar se sentindo mal de alguma maneira, mesmo que essa parte ele não ousasse demonstrar.
— Devemos deixá-lo descansar agora Severus, em alguns dias, logo ficará bom. — a voz calma de Dumbledore anunciou, fazendo o homem de cabelos negros bufar.
— Eu adoraria estar descansando há um tempo, se essa multidão não ficasse me observando como um peixe num aquário. — resmungou. — Precisava disso tudo? — dizia enquanto olhava feio para todos os membros da ordem, que logo quando ele chegou, o seguiram como os perfeitos curiosos que são.
— Não fale assim, Severus eles estavam te ajudando. — o velho diretor comentou.
— O único aqui a me ajudar foi Arthur e Molly, o resto... Bem, não preciso dizer muita coisa, não é? — zombou.
— Acho que isso não importa agora, só que você está bem e que descanse. — Molly cortou o assunto, logo espantando todos do quarto enquanto gritava. — Deixem o pobre homem descansar, saíam todos.
Hermione claramente foi a última a sair do quarto, tendo como imagem a carranca do homem em sua mente, que provavelmente deu graças aos céus por todos terem ido embora.
Naquela noite, uma breve discussão ocorreu na sala daquela casa.
— Não acho prudente que mandemos Severus para Hogwarts. — a voz preocupada de Minerva soava baixa, provavelmente com medo que o temível professor ouvisse.
— Concordo com Minerva. — foi a vez de Dumbledore. — Além das masmorras em minha humilde opinião não serem um lugar adequado para ele ficar naquele estado, não acho conveniente aparatar com ele no estado em que está.
Molly astuta como era, encurtou o diálogo que poderia se estender se dependesse de Dumbledore, então logo se pronunciou.
— Acha que ele deve ficar aqui? Com três adolescentes que suponho que ele deteste? — a matriarca perguntou. — Dúvido que ele aceitaria. — demonstrou ironia em sua voz.
— Creio que é a única opção.
— Você não está falando sério, está? — a voz irritada de Rony se fez presente. — E quem vai ficar de olho nele?
— Está é outra questão a ser tratada senhor Weasley. Como sabem, vocês três estão escondidos aqui até às aulas em Hogwarts voltarem, e como sabem também, não é apropriado que ninguém fique indo e vindo até aqui, por questões de segurança.
— Exceto quando se trata das reuniões da ordem. — o garoto ruivo resmungou, logo fazendo uma careta de dor quando Hermione que estava ao seu lado o cutucou.
— Desculpe Albus, mas se às crianças vão ter que ficar aqui com ele, elas vão ter que se encarregar por cuidar também? — Arthur questionou, aparentemente os mais interessados naquela conversa faziam parte do clã ruivo.
— Possivelmente! — o velho respondeu.
— Pobres crianças. Não existe outra maneira? Acho que se conversar com Pomfrey, ela iria disponibilizar um tempo para ver Severus.— Minerva tentou outra solução.
— Não acho que seria prudente outra pessoa se envolver. — Remus disse. — Pomfrey por mais esperta e leal que seja, não conseguiria compreender o fato de Snape trabalhar para a ordem, e para os comensais, mesmo que explicassemos toda a situação.
— Bem, só temos uma solução então. Senhorita Granger, posso falar em particular? — Dumbledore pediu, saindo da sala rumo aí escritório.
Hermione esfregava às mãos umas nas outras, não podia imaginar o que o velho diretor queria com ela, na verdade, ela esperava que ele fosse explicar sobre Snape estar do lado deles, ou o fato dele ficar na casa, ela realmente não sabia o que viria de Dumbledore, só que ele disesse alguma coisa que fizesse sua mente se tranquilizar com tantas perguntas.
Todo o momento ela resolveu ficar quieta, mais sua cabeça latejava com tantas perguntas. Desde quando Snape tem trabalhando para a ordem? Ele tem protegido Harry esse tempo todo? Ele realmente é do bem? Por que?
Eram tantas perguntas, que a fazia ficar zonza, e Dumbledore pareceu notar isso quando a olhou.
— Eu adoraria responder todas suas perguntas Hermione, porém me deixe falar primeiro. — ela apenas concordou. — É impossível resumir anos de história até este momento, então para encurtar um pouco, preciso contar que o professor Snape está do nosso lado há um bom tempo. Ele tem trabalhado para Voldemort, e para mim, como percebeu. Ele também tem protegido Harry desde que ele colocou os pés em Hogwarts, e sinto que isso é tudo que tenha que saber.
— Mais senhor.... — ela disse, encarando os olhos azuis brilhosos dele. — Eu não posso acreditar, quero dizer, todo esse tempo ele foi tão.....
— Rude, ignorante e completamente maldoso a chegar na beira da toxidade? Sim, creio que seja o charme dele. — sorriu. — Mais você não deve o culpar senhorita, trabalhar para Voldemort traz o pior de cada um, e acredito que não seria nada vantajoso para Severus ser gentil, não quando aparentemente os alunos da sonserina pendem para o mesmo caminho. Não seria bom que descobrissem que um comensal da morte anda adulando seus alunos, principalmente aqueles da grifinória.
Hermione digeriu todo aquele diálogo rapidamente, deixando de lado muitas perguntas que tinha, chegando a uma conclusão ela mesma, porém, como a boa samaritana que era, e sedenta por justiça, ou qualquer outra coisa que beirava a sensatez, ela respirou fundo, e perguntou.
— Por que ele nos deixou o odiar por todo esse tempo, quando na verdade estava apenas nos ajudando? — Dumbledore a olhou surpreso.
— Confesso que não imaginei que perguntaria isso. — sorriu gentil. — Sabe Hermione, eu nunca desacreditei que fosse uma boa pessoa. E sua atitude, só me faz ter certeza do quanto é boa. Porém, Severus nunca gostou do sentimento de pena, o que o faz ser duro a maior parte do tempo, então não faz diferença para ele se às pessoas o odeiam ou não. Faz parte dele.
— Sim, eu sei. Só quero dizer que poderíamos ter tratado ele melhor se soubéssemos o que ele tem feito esse tempo todo. — deu de ombros.
— Não se atormente mais minha menina, pelo menos não com isso. Creio que o favor que irei lhe pedir, dará muito mais dor de cabeça.
— Não entendo, o que seria?
— Gostaria que em particular conversasse com seus amigos e explicasse a situação, bem, que não se preocupem em desconfiar de Severus, e principalmente cuidar dele já que não podemos nos dar ao luxo de ficar vindo para cá e prejudicar a segurança de vocês e da casa.
— Eu, cuidar do professor Snape? Desculpe mas, duvido que ele gostaria de me ter por perto.
— Terá de gostar senhorita, terá de gostar. Poderia fazer isso por mim?
— Sim, mas ...... — antes que pudesse terminar, Dumbledore sorriu, agradecendo e saindo o mais rápido possível daquela sala, a deixando sem uma perspectiva de como seria lidar com um Severus Snape, ainda por cima machucado.
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Não foi fácil explicar para Harry e Rony o quão envolvido Snape estava na Ordem, nem o quanto ele os salvou por tanto tempo, sem ter nada em troca. Para os meninos, aquilo era difícil de acreditar, principalmente depois de todas as coisas horríveis que Snape já havia dito e feito para eles.
— Não me importa se ele tem nos protegido esse tempo todo, quero dizer, posso ser grato por isso, mas não anula tudo o que ele fez. Não é uma desculpa para a ignorância dele. — Rony se jogou no sofá com os braços cruzados, irritado por saber que no andar de cima, Severus Snape jazia deitado.
— Rony tem razão, o pior é saber que agora, vamos ter que ficar sabe-se lá quantos dias com ele aqui. — Harry bufou. — E quem vai cuidar dele? Porque eu não entro naquele quarto nem morto.
— Muito menos eu. — o ruivo resmungou.
— Dumbledore pediu que cuidassemos dele, e mesmo que não quiséssemos, jamais poderíamos deixá-lo lá. — a garota disse irritada.
— Dumbledore pediu que você cuidasse dele, não nós.
— Eu não acredito que estou ouvindo isso. — Hermione gritou. — Nas piores situações, eu sempre apoiei vocês dois idiotas, fiz coisas para vocês dois que se forem inteligentes, vão notar que nunca foi minha obrigação. Agora que eu preciso, os dois saem da reta? — bradou.
— Hermione..... Entenda que.....
— Não! Eu não entendo Harry! Eu tô cansada de fazer tudo sozinha, vocês acham que eu não preciso de ajuda, mais lamento dizer, às vezes eu preciso. Mais isso não importa mais, eu faço sem vocês, como sempre fiz.
Respirando profundamente, Hermione olhou o relógio na parede, percebendo que faziam horas desde que tudo começou, e que provavelmente, o novo visitante deveria estar irritado por ninguém ter aparecido e no mínimo ter lhe oferecido algo para comer.
Ela prometera a Dumbledore que cuidaria de Snape enquanto ele se recuperasse, e até aquele momento, ela sentiu que já estava falhando com ele.
Deixando os dois garotos quietos na sala, ela se retirou, subindo às escadas irritada, era nítido sua raiva nos passos pesados que ela dara, estava tão casada, que depois que aquela noite acabasse, a única coisa que gostaria de fazer era tomar um banho e se deitar.
Em frente a porta do quarto em que seu professor estava, ela pensou alguns segundos antes de bater e entrar, porém chamou um elfo antes, que logo apareceu com sua carranca habitual.
— O que a sangue ruim imunda deseja? — mesmo Monstro a tratando daquela forma, Hermione sorria para ele, às ofensas não a abalavam tanto quanto antes, e isso por si só já deixava o elfo cada vez mais zangado, porém ele nunca deixava seu deboche de lado.
— Pode trazer algo leve para o professor Snape comer?
Monstro não fez questão de responder Hermione, apenas estalou os dedos e sumiu, sobrando para ela entrar no quarto logo após bater.
Snape estava sentado, parecia olhar para o nada, e continuou assim depois que ela se aproximou, quieto e mais assustador que o normal.
— Desculpe a demora, estávamos resolvendo alguns assuntos e......
— Não me interessa o que faz ou deixa de fazer Granger. — resmungou. — Eu não pedi explicações.
— Bem, ah, só achei que .....
— Que deveria me explicar cada maldito passo que dá, só porque estou preso nessa maldita cama? Não, obrigado. Aliás, pode ir embora, não preciso de nenhuma babá como sei que Albus já tratou de arranjar.
— Mas o senhor está machucado, precisa de cuidados. — disse se aproximando mais, porém logo recuando quando ele a olhou diretamente.
— Eu sei me cuidar muito bem sozinho, sua grifinória irritante. Agora saia.
— Você precisa tomar seus remédios, e....
— Saia! Agora! — gritou, fazendo a pular e sumir rapidamente.
A porta bateu, fazendo Snape a encarar, e gemer de dor assim que tentou se mexer um pouco. Ele sabia que não tinha motivos para agir daquele jeito, mas estava tão irritado com a situação, que não conseguiu se controlar. Para ele, era o cúmulo ter de ser tratado por uma criança, principalmente uma que ele achava tão irritante quanto o próprio elfo doméstico Dobby.
A verdade, era que Snape estava mais do que cansado, porém sua mente não parava de trabalhar, o que vinha causando suas noites de insônias por semanas, por anos se fosse contar a quanto tempo ele estava envolvido naquele maldito jogo entre Voldemort e Dumbledore.
O pior, era saber que ele estava péssimo ao ponto de não poder se virar completamente sozinho, e com isso, ficar trancado em uma casa com três adolescentes idiotas, isso até às aulas voltarem, o que faltava mais um mês.
Um som bem conhecido por ele se fez presente no quarto, e olhando o elfo não tão mais ranzinza assim, percebeu que estava morrendo de fome assim que Monstro apareceu com uma tigela de sopa quente, e o aroma invadiu suas narinas.
— Obrigado! — clamou assim que o elfo colocou a tigela no criado mudo ao lado da cama.
— A vadia sangue ruim pediu que Monstro lhe trouxesse comida. — reclamou.
Severus o encarou seriamente, era de Hermione a quem o elfo se referia? Ele sabia da fidelidade do elfo com a família de sangue puro, e o quanto serviu bem os Black, porém ele esperava que aquela fase houvesse passado, porém foi nítido a aspereza e repulsa dele ao se referir a um nascido trouxa.
Aquelas palavras traziam um certo amargor em sua boca mesmo que não pronunciadas, lhe trazia na verdade, lembranças que odiava recordar, de algo que havia feito, que sabia que doía. Porém, quando ia pedir um favor ao elfo, ele já havia sumido.
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Hermione sabia que não seria fácil ter de ser a cuidadora temporária de Snape, muito menos que seria fácil ter uma conversa descente com ele, mesmo sendo a primeira vez tendo um contato um pouco maior.
Céus, ele tinha de ser tão arrogante? Quer dizer, como alguém aguentava ficar perto dele sendo daquela maneira? Por mais que Rony e Harry tivessem razão em algumas de suas falas, ela não podia deixar de lado em ajudar alguém, mesmo que fosse o temível morcego das masmorras. Ela só queria que eles tivessem bom senso, e com isso mostrassem ser pessoas melhores ao ajudá-lo, e claro, não ter que fazer tudo sozinha, já que enfrentar Snape provavelmente era pior do que enfrentar o próprio lorde das trevas.
Dumbledore poderia ter pedido para o homem ser mais simpático, porém ela não saberia se isso iria ajudar, ou apenas piorar às coisas, na verdade, ela não sabia muita coisa naquele momento, somente que no dia seguinte poderia ser pior.
Depois de tomar um banho e se deitar, a garota se lembrou que Snape apareceu todo sujo e machucado aquela noite, e que provavelmente ele iria adorar tomar um banho. Porém ela não podia arriscar e voltar até lá novamente, não quando naquele horário ele ja poderia estar dormindo. Ela decidiu que de manhã tentaria a sorte de falar com ele, e quem sabe sugerir um banho, mas até lá, tentaria descansar um pouco.
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