ARABELLA nunca foi do tipo de garota que se escondia das pessoas e de seus problemas, ela estava mais do que ninguém acostumada lutar contra o mundo. Já que crescer em Outer Banks significava ter que escolher um lado para estar: kooks ou pogues. E ela ao contrário do que todos pensavam, nunca foi uma kook fiel, como se encaixava pela situação financeira de sua família.

Ela adorava vagar pelos dois lados, e foi assim que ela conheceu e se apaixonou por JJ Maybank, o garoto de cabelos loiros e bagunçados, que mais parecia ser um mar em meio a uma tempestade. Ele era intenso, imprevisível, e impossível de ignorar. Mas, é como dizem, as tempestades sempre passam, e nem sempre traz consigo um dia ensolarado e um arco-íris no céu.

Pelo menos não no céu de Arabella, que naquela noite sentia a brisa quente contra o seu rosto, enquanto tentava disfarçar a sua inquietação. Mas, a forma como ela balançava incansavelmente suas pernas entregava que algo a incomodava. E JJ a conhecia bem demais para deixar aquele fato passar despercebido.

Até então os dois permaneciam em silêncio, enquanto observava algumas pequenas estrelas no céu. Eles sempre faziam aquilo, entretanto, o silêncio entre ambos daquela vez não era confortável, muito pelo contrário. Era como se tudo estivesse sendo dito naquele silêncio.

E mesmo que quisesse negar até o final, JJ sabia que sua namorada estava estranha nos últimos dias, o que o deixava ainda mais apreensivo sobre como aquele momento iria se desenrolar.

— Você tá diferente, Bella. — A voz de JJ quebrou o silêncio, e o tom de preocupação era totalmente perceptível. Ele se virou para ela, seus olhos azuis buscando o brilho de sempre dos olhos castanhos dela. — Parece que tá pensando em algo longe daqui. Longe de mim.

Arabella suspirou, sentindo um aperto no peito. Não era mentira. Havia semanas que ela se sentia presa em um ciclo que não sabia como quebrar. JJ era sua âncora, mas, de alguma forma ele parecia também estar puxando-a para baixo.

— Eu só... — Ela começou a dizer, mas as palavras morreram antes mesmo de conseguirem sair. E então, a mesma olhou para o horizonte, evitando olhar diretamente para os olhos dele. — Eu tô cansada, JJ. De tudo isso. Das brigas, das confusões. Parece que a gente tá sempre correndo atrás de algo que nunca vai dar certo.

— Isso não é verdade. — Ele rebateu, com uma certa frustração. — A gente sempre deu um jeito. Eu e você contra o mundo, lembra?

Arabella sorriu amargamente, sentindo as lágrimas queimarem em seus olhos. Ela lembrava. Lembrava de todos os momentos em que ele a fez sentir que nada poderia derrubá-los. Mas, agora, não era o suficiente. Ela precisava de algo mais estável, algo que não fosse só sobrevivência.

— Eu lembro, JJ. Mas eu não sei se ainda funciona. Eu amo você, mas amar não é o suficiente quando tudo parece estar desmoronando. — Ela soltou um longo suspiro assim que terminou de falar.

O Maybank se levantou, passando as mãos pelos cabelos enquanto andava de um lado para o outro na varanda de sua casa. E Arabella sentiu seu coração se partir ao ver a dor nos olhos dele, mas ela sabia que aquilo era necessário e que não poderia simplesmente ficar empurrando a história deles com a barriga.

— Então é isso? Você tá desistindo de mim? Da gente? — Ele perguntou assim que se virou para ela novamente.

— Eu não tô desistindo de você. Tô tentando não desistir de mim. — A Moreau se explicou, e agarrou fortemente os seus joelhos, na tentativa de afastar aquela tristeza que já passava a habitar seu corpo.

O silêncio voltou a se instalar, mas dessa vez era definitivo. JJ não tentou impedi-la quando ela se colocou de pé, se preparou para sair dali. Mas antes de ir embora, ela se virou para ele, segurando as lágrimas.

— Espero que um dia você me entenda. E que me perdoe. — Ela disse baixinho, sentindo o nó que já tinha se formado em sua garganta.

Ele não respondeu. Apenas ficou parado ali, olhando para o horizonte, enquanto Arabella se afastava, deixando para trás o garoto que ela um dia pensou ser seu porto seguro.

Naquela noite, ela sentiu que algo dentro dela havia mudado. Ela não sabia, porém, que estava apenas começando a trajetória para ter seu caminho cruzado com algo que a mesma não estava preparada, e que poderia facilmente fazer tudo que ela conhecia, de cabeça para baixo.

Arabella poderia até não saber, mas ela estava prestes a encontrar o seu doce veneno, aquele que do qual ela nunca se cansaria de provar.