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04 - WINDOW FRIEND

CAPÍTULO QUATRO
Amigo de janela

── ⋆⋅l⋅⋆ ──

— Eu avisei milhões de vezes que você precisava revisar aquela lata velha! — Pope reclamou, a frustração estampada no rosto enquanto os três seguiam pela calçada.

— A "lata velha" que te carrega pra cima e pra baixo quando você precisa, vale lembrar. — John B rebateu, indignado. — Mais respeito com a Twinkie.

— Você deu um nome pra tua kombi, cara. E ainda quer que a gente tenha respeito? — O Heyward retrucou, revirando os olhos.

O sol da tarde filtrava-se pelas folhas das árvores bem cuidadas que ladeavam as ruas do Figure 8, criando sombras perfeitas no chão. As casas imponentes, com seus jardins meticulosamente aparados e fachadas que brilhavam sob o céu limpo, mais pareciam cenários de revistas de design. Era um mundo que JJ sabia que não lhe pertencia — e nunca pertenceria.

O loiro caminhava um pouco atrás dos outros, tentando ignorar a sensação incômoda de estar fora de lugar. Ele detestava passar por ali, mas não havia escolha. A Twinkie tinha resolvido morrer no meio do caminho para a casa de Kiara, deixando-os na pior. O relógio não era seu aliado: aquele era o único dia da semana em que Kie podia escapar do restaurante dos pais. Se não chegassem logo na casa dela, ela ficaria presa lá até o dia seguinte.

— É sério, John B. — JJ finalmente se manifestou, chutando uma pedrinha que cruzou a calçada. — Você precisa de uma revisão de verdade nessa kombi antes que ela se dissolva em ferrugem no meio da estrada. De novo.

John B parou, virando-se para encarar o amigo.

— E você, JJ? Vai pagar por essa revisão? Porque da última vez que chequei, o fundo da nossa caixinha tá mais vazio que a sua geladeira.

— Ei! Minha geladeira tem personalidade, tá? E o nome dela é "Sobrevivência". — JJ sorriu, mas era fácil perceber que ele estava com a cabeça em outro lugar.

Pope, que andava um pouco à frente, suspirou.

— Podemos guardar o duelo de egos pra depois? Se a Kie ficar presa, quem vai ouvir a bronca dela somos nós. — JJ bufou, ajustando o boné na cabeça.

— Ela devia agradecer que a gente anda se arriscando em território inimigo pra salvar o dia. Esses riquinhos aqui olham pra gente como se a gente fosse alguma doença contagiosa.

— Isso se você parar de fazer cara de que vai roubar alguma coisa, JJ. — John B apontou para a expressão dele.

— Meu rosto é assim. Culpa da genética. — JJ levantou as mãos em um gesto de rendição.

Os três continuaram caminhando, cada um imerso em seus próprios pensamentos, até que JJ parou de repente, franzindo o cenho. Ele ergueu a mão, sinalizando silêncio.

— Vocês estão ouvindo isso? — perguntou, a cabeça inclinada para o lado como se tentasse captar melhor o som.

— Ouvindo o quê? — Pope perguntou, já impaciente.

Mas então John B também parou, prestando atenção. Um som suave e melodioso ecoava ao longe, um violão acompanhado de uma voz doce e rouca, carregada de emoção.

— É... música? — John B disse, tentando localizar a origem do som.

JJ inclinou a cabeça, seu olhar já começando a brilhar com aquele misto de curiosidade e travessura que o tornava imprevisível.

— Parece que alguém resolveu tocar uma serenata pra gente. — Ele deu um passo à frente, o sorriso se alargando. — Vamos investigar.

— JJ, a gente não tem tempo pra isso. — Pope tentou protestar, mas o loiro já estava atravessando a rua, em direção a uma das casas mais imponentes da vizinhança.

— Ele nunca ouve, né? — John B perguntou retoricamente enquanto seguia atrás de JJ.

Pope suspirou, mas, incapaz de deixar os dois sozinhos em uma área onde claramente não eram bem-vindos, foi atrás também. JJ foi caminhando entre as casas, o som ficando mais alto a cada passo, até que finalmente ele conseguiu escutar a letra da música.

We danced the night away, we drank too much
I held your hair back when
You were throwing up

JJ continuou caminhando, ignorando as reclamações de Pope e John B, que já estavam se afastando lentamente. Ele não sabia exatamente o que estava procurando, mas o som da música ainda o chamava, como uma força, um canto hipnótico que ele não conseguia ignorar. Ele cruzou a rua, evitando os olhares curiosos das poucas pessoas que passavam por ali, e seguiu pelo caminho de pedras do bairro. As casas eram grandes, com jardins imaculados e carros caros estacionados nas garagens - o tipo de lugar onde ele se sentia um intruso, mas isso não importava agora. O que importava era aquele som.

Then you smiled over your shoulder
For a minute, I was stone-cold sober
I pulled you closer to my chest

— Ei, cara, a gente tá perdendo tempo. — John B já estava mais distante, mas ainda dava para ouvir a voz dele. — Vamos logo.

JJ não respondeu. Ele estava completamente imerso no som, que parecia tão familiar e ao mesmo tempo distante. Ele avançou mais alguns passos, observando as fachadas dos imóveis enquanto tentava se concentrar na direção do violão. Era como se o som se misturasse com o vento, ganhando vida própria à medida que ele se aproximava.

— JJ! — Pope chamou, com um tom irritado. — Vai dar merda, você sabe disso, né?

Mas Maybank já estava prestes a dar a última virada na esquina. O som estava mais claro agora, e ele sentiu uma onda de reconhecimento. Ele sabia exatamente quem estava tocando, não importava o quanto tentasse negar.

JJ parou na frente da imponente casa, podendo ouvir a voz completamente clara agora. Ele correu para onde sabia que ficava o jardim lateral — foi por alí que ele entrou da última vez —, se escondendo atrás de alguns arbustos quando final a viu.

And you asked me to stay over
I said, "I already told ya
I think that you should get some rest"

Evie. Sentada no quintal da casa, o violão descansando sobre suas pernas cruzadas enquanto ela cantava com a cabeça baixa, completamente alheia à qualquer presença. O som batia em seus cabelos desbotados, deixando eles dourados, a voz soando como um canto suave de um pássaro, as notas altas encantando qualquer um.

— Cara, o que você tá... — JJ sequer olhou para Pope antes de tapar a boca dele com a mão e sussurrar um "shiu". Era um momento que ele não queria que ninguém se intrometesse.

Ele ficou parado, fixo como uma estátua, observando Evie de longe. O jeito como ela se entregava à música, com os olhos fechados e os dedos deslizando pelas cordas do violão, fazia com que a cena parecesse quase mágica. Ele não sabia o que era, mas algo naquela imagem o prendeu de uma forma que ele não conseguia explicar.

A garota parecia estar em outro mundo, como se nada mais existisse além dela e da música que fluía de suas mãos. JJ observava sem conseguir desviar o olhar, hipnotizado pela forma como ela parecia se perder na melodia, a voz rouca e doce preenchendo o espaço vazio ao redor. Ele podia sentir cada nota como se fosse um reflexo de algo que ele próprio sentia, mas nunca soubera como expressar.

I knew I loved you then
But you'd never know
'Cause I played it cool when I was scared of letting go

— Quem diria que a "Princesa perdida" tinha uma voz tão bonita. — John B disse atrás dele, mas ele mal ouviu, sua atenção totalmente focada na garota.

Evie terminou a última nota, deixando o silêncio preencher o espaço ao redor. Seus dedos ainda descansavam nas cordas do violão quando ela ergueu o rosto, o olhar distante fixo em algo que não estava ali. E JJ viu novamente, aqueles olhos solitários e perdidos que ela parecia carregar com frequência.

Ele se abaixou um pouco mais entre os arbustos, o coração batendo rápido. Parte de si queria sair dali, porque sentia que estava invadindo algo íntimo demais, mas outra parte não conseguia se afastar. Era como assistir a algo que ele sabia que não deveria, mas que não podia ignorar.

Evie fechou os olhos e respirou fundo, soltando o ar lentamente. Ela colocou o violão de lado e se deitou na grama, os braços estendidos ao lado do corpo, encarando o céu. A cena parecia tão tranquila que JJ quase se esqueceu de onde estava. Até que a voz de John B voltou a ecoar em seus ouvidos.

— A gente tá ficando aqui até quando? — Ele cruzou os braços, olhando de relance para Evie, que ainda parecia alheia à presença deles. — Não era pra salvar a Kie?

— Vai indo vocês. — JJ murmurou sem tirar os olhos de Evie.

— Tá brincando, né? — Pope rebateu. — Você que enfiou a gente nesse desvio. E, sinceramente, ela parece bem. Vamos logo.

John B deu um último olhar para JJ antes de suspirar e puxar Pope pelo braço.

— Deixa ele. — murmurou baixinho. — Ele volta quando der na telha. Como sempre.

— Ele acha que 'tá num filme? Sério, ficar olhando as pessoas assim é bizarro pra caralho. — Pope saiu resmungando, enquanto John B o arrastava.

JJ permaneceu onde estava, os olhos fixos em Evie. Ele se abaixou ainda mais entre os arbustos enquanto observava a garota, como se temesse que qualquer movimento pudesse quebrar a magia daquele momento. Evie continuava deitada na grama, o peito subindo e descendo em um ritmo tranquilo, os olhos perdidos no céu acima. Ela parecia tão desconectada do mundo ao seu redor que JJ sabia que podia sair dali sem que ela percebesse.

E foi exatamente o que fez.

Com um último olhar, JJ se afastou silenciosamente, os passos leves sobre a grama para não chamar atenção. Ele voltou para a rua e apressou o passo para alcançar os amigos, que já estavam quase no final do quarteirão. Não havia motivo para Evie saber que ele tinha estado ali. O momento era dela, e JJ preferia deixar assim.

Mas quando alcançou os meninos, ainda no meio do caminho. Ele não pôde evitar de pegar o celular e mandar uma mensagem para sua nova amiga cantora.

"Ei. 'Tá livre hoje a tarde?"

[•••]

Normalmente Evie gostava do próprio espaço. Ela era naturalmente antissocial, podia ficar horas trancada sozinha no próprio quarto sem reclamar. Então ser proibida de sair por conta da tornozeleira nem foi uma coisa tão dolorosa assim.

Mas hoje parecia diferente. O confinamento a incomodava mais do que o normal. Talvez fosse o silêncio opressor da casa, ou o fato de que Jenna estava fora e Benício trancado no escritório, ocupado demais com suas ligações. Ou talvez fosse porque JJ tinha a convidado pra sair, dar uma volta ou qualquer coisa assim, mas ela teve que negar, já que mesmo que ela quisesse — E merda, ela queria muito sair com ele —  não podia.

Evie sentia uma inquietação estranha, como se algo estivesse prestes a acontecer, mas nada acontecia. Apenas o som do relógio na parede marcando cada segundo que parecia durar uma eternidade.

Ela se jogou na cama, encarando o teto. Apolo, seu fiel cachorro, estava deitado ao lado, roncando levemente.

— Grande ajuda você me dá — resmungou, esticando o braço para coçar a cabeça dele. O cão abriu um olho preguiçoso, como se estivesse considerando se valia a pena prestar atenção nela, mas logo voltou a dormir.

Evie suspirou e pegou o celular. Rolou pelo feed de redes sociais, vendo as vidas perfeitas e editadas dos outros. Fotos de festas, viagens, momentos felizes em que ela claramente não estava incluída. O rosto de June apareceu em uma das fotos, sorrindo ao lado de Sofia e Sarah Cameron, rindo de algo que ela nunca saberia. Ela bufou, antes de jogar o celular longe. Sua irmã cada vez mais distante, com suas amigas perfeitas e sua vida perfeita não deviam a incomodar tanto quanto incomodava.

Foi então que Apolo levantou a cabeça de repente, as orelhas em alerta. Ele deu um latido curto, mas alto, que fez Evie se levantar num susto.

— O que foi agora? — perguntou, olhando em volta.

Uma batida na janela.

Evie deu um salto, seu coração disparando. Apolo ficou de pé num instante, o corpo tenso como se estivesse pronto para atacar. Quando ela finalmente olhou para o vidro, seu choque se transformou em incredulidade ao reconhecer a cabeleira loira familiar.

— 'Tá de sacanagem? — murmurou, levantando-se devagar. Caminhou até a janela e abriu-a de uma vez, encarando JJ com uma expressão metade exasperada, metade incrédula. — Sério, JJ? O que caralhos você 'tá fazendo aqui?

Ele estava sentado no parapeito como se fosse um banco de praça, o cigarro balançando preguiçosamente entre os dedos e aquele sorriso atrevido estampado no rosto.

— Ah, eu tava só dando uma volta pelo bairro. — Ele deu de ombros. — Então eu pensei "Que tal eu fazer uma visita para minha kook problemática favorita."

Evie revirou os olhos, embora uma pequena risada escapasse de seus lábios. Aquilo era tão JJ que chegava a ser engraçado.

— Você tem noção de que isso é invasão de propriedade, né?

— Só se você não me deixar entrar. Nesse caso, pode até ser exposição indecente, considerando que tô aqui pendurado pra todo mundo ver.

Ela bufou, sem esconder o olhar de exasperação. JJ parecia feito de alguma substância que não conhecia a palavra "limite". Ainda assim, algo naquilo a divertia — talvez porque fosse exatamente o tipo de coisa que ela própria faria, se não tivesse uma coleira.

— Tá legal, seu idiota, entra logo antes que alguém veja.

Ela o puxou pela manga da camisa, e JJ quase perdeu o equilíbrio. Ele tropeçou ao entrar, batendo a cabeça de leve na moldura da janela, o que arrancou uma gargalhada involuntária dela.

— Ótima recepção, como sempre — resmungou, massageando o topo da cabeça, mas com um brilho travesso nos olhos que mostrava que ele não estava nem um pouco arrependido.

— A gente não tinha combinado que você ia usar a porta de agora em diante? — Evie fechou a janela enquanto falava.

JJ riu, praticamente se jogando na cadeira giratória que tinha na escrivaninha de Evie, como se fosse o dono do lugar.

— Eu sou um cara de improviso, Evie. Você sabe disso. — Ele piscou para ela, dando uma ajeitada na camiseta, . — E, convenhamos, essa entrada tem seu charme.

Apolo olhou para ele, ainda desconfiado, mas quando JJ deu um assobio curto e estalou os dedos, o cachorro pareceu relaxar e se aproximou, abanando o rabo.

— E aí, cara! Gostou da entrada triunfal? — O cachorro se colocou sobre duas patas, apoiando as patas dianteiras no joelhos de JJ, que levou a mão para acariciar o pelo macio dele. Evie revirou os olhos.

— 'Tá bom então, "príncipe das janelas". — Ela estreitou os olhos para ele, pegando o cigarro de suas mãos antes que ele desse outra tragada. — Não aqui. Não com esse cheiro. — Apontou para o cão, que tinha saído de perto de JJ e que agora o encarava como se o julgasse silenciosamente. — E não na frente do Apolo.

JJ ergueu as mãos, como quem se rende, mas o sorriso em seu rosto só cresceu.

— Tá bom, tá bom. Você que manda.

JJ se colocou de pé, olhando ao redor do quarto, como se estivesse absorvendo o ambiente.

— Então, é assim que é a vida de uma rica rebelde presa em casa? Cama grande, cachorro gigante, e... — Ele se inclinou para pegar um dos frascos de remédio na mesinha de cabeceira. — ...pílulas que parecem saídas de um laboratório de filme de ficção científica.

— JJ! — Evie arrancou o frasco das mãos dele, o rosto ficando vermelho de raiva e constrangimento. — Dá pra parar de mexer nas minhas coisas?

— Relaxa, eu só tô curioso. — Ele se inclinou para trás novamente, como se estivesse imune à fúria dela. — Sabe como é, nunca tomei nada além de ibuprofeno.

Ela bufou, jogando o frasco de volta na mesa com mais força do que o necessário.

— Você é uma dor de cabeça — Ela respondeu. — Não pode, sei lá, fazer uma visita normal de vez em quando?

JJ deu uma risadinha, aquele tipo de riso que fazia Evie querer rir junto, mesmo quando estava irritada.

— Normal? — Ele fingiu pensar por um segundo, o rosto assumindo uma expressão exageradamente pensativa. — Nah, não combina comigo. Mas posso tentar, se você quiser.

Evie cruzou os braços, o olhar cético.

— De verdade, JJ. O que você quer?

Ele deu de ombros, ainda com aquele sorriso que parecia nunca sair do rosto.

— Só queria ver como você tava. — Sua voz ficou mais suave, quase sincera demais para o padrão habitual de JJ. — E, sei lá, achei que você podia querer companhia. Você recusou sair, então... improvisei.

Ela arqueou uma sobrancelha, o estudando por um momento. JJ podia ser o maior idiota do mundo, mas tinha algo nele que a desarmava, algo que fazia com que ela nunca conseguisse mandá-lo embora de verdade. Talvez fosse o jeito como ele conseguia ser tão infalivelmente despreocupado, mesmo quando tudo parecia estar desmoronando. Ou talvez fosse porque, por mais que ele escondesse bem, Evie achava que JJ entendia mais sobre solidão do que queria admitir.

— Não é como se eu não quisesse sair. — Evie bufou, se sentando na cama. — Mas esse trambolho aqui... — Deu duas batidinhas na tornozeleira com o dedo. — Não me deixa.

JJ seguiu o olhar dela para a tornozeleira e deu um assobio baixo, cruzando os braços enquanto se sentava novamente na cadeira.

— É, eu já tinha ouvido falar das joias da alta sociedade, mas essa aí tá de parabéns. Muito estilosa.

— Ha-ha. — Evie revirou os olhos, mas o canto de sua boca tremulou em um quase sorriso. — Fala isso de novo, e eu te coloco pra fora pela janela.

— Jura? — JJ arqueou as sobrancelhas com falsa surpresa. — Sabe que isso pode ser uma boa ideia. Eu pulo, faço uma pirueta no ar, aterrizo no gramado e vou embora com estilo.

— E quebra as duas pernas no processo.

— Detalhes. — Ele deu de ombros, inclinando-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos. — Mas, sério, Evie... Deve ser uma droga.

Ela ficou em silêncio por um momento, encarando o chão. Não gostava de falar sobre aquilo — a sensação de ser observada, restringida, a constante lembrança de que ela não era confiável o suficiente nem para sair de casa.

— É uma bosta, sim — admitiu, sua voz mais baixa. — É tipo... sei lá, um lembrete constante de que eu sou um desastre ambulante.

JJ balançou a cabeça, o sorriso usual dando lugar a uma expressão mais séria, mas ainda descontraída, o suficiente para não deixá-la desconfortável.

— Ninguém é perfeito, Evie. — Ele deu de ombros, apoiando-se no encosto da cadeira. — Quer dizer, olha pra mim. Sou o exemplo vivo de que dá pra ser um desastre e ainda assim... — Ele estendeu os braços dramaticamente. — Ser absolutamente incrível.

Ela soltou uma risada curta, mais verdadeira dessa vez.

— Nossa, quanta humildade.

JJ deu uma gargalhada falsa, colocando a mão no peito como se fosse profundamente ofendido.

— Não me diga que você não é fã da minha modestia. — Ele olhou para ela com um sorriso travesso. — Eu sou um exemplo de como sobreviver sendo um desastre ambulante, como você mesma disse. A única diferença é que não sou preso a joias de luxo, tipo... essa aí.

Evie cruzou os braços novamente, agora com uma expressão mais relaxada. A conversa estava ficando mais fácil, sem a tensão de antes. Ela ainda não sabia bem o que estava acontecendo ali, mas algo em JJ fazia com que ela se sentisse menos sozinha naquele momento, menos... presa.

JJ percebeu a mudança sutil no semblante de Evie. Talvez fosse o cansaço ou a frustração acumulada, mas parecia que algo tinha mudado ali, como se ela estivesse deixando uma brecha aberta para ele entrar. Ele apoiou os pés no chão, inclinando-se para a frente de forma casual.

— Então, já que não dá pra sair, que tal a gente improvisar aqui mesmo? — Ele apontou para o quarto dela, girando a cadeira levemente de um lado para o outro. — Podia ser, sei lá... um jogo? Um filme? Ou talvez a gente invente um plano pra roubar um banco. Você sabe, coisas normais.

Evie ergueu uma sobrancelha, desconfiada.

— Roubar um banco? Sério?

— Claro! — Ele bateu as mãos no apoio da cadeira, entusiasmado. — Você com a tornozeleira é a distração perfeita. Ninguém suspeitaria da garota que já tá na lista negra da polícia.

Ela balançou a cabeça, lutando para não rir.

— Você é completamente maluco.

— Obrigado, eu tento. — Ele piscou.

Apolo, que já havia desistido de se manter atento à conversa, se deitou no chão ao lado da cama, observando os dois com um olhar preguiçoso. JJ se inclinou, pegando uma caneta da mesa dela e começando a girá-la entre os dedos.

Evie observou JJ brincando com a caneta, um sorriso brincando em seus lábios. Ele parecia tão confortável ali, como se o quarto fosse dele. Ela balançou a cabeça e se jogou na cama de novo, mas dessa vez com menos peso no peito.

— Tá, gênio do crime, se a gente fosse roubar um banco, qual seria o plano?

JJ levantou os olhos para ela, um sorriso satisfeito crescendo em seu rosto.

— Fácil. Primeiro, a gente precisa de um time. Você seria a hacker, obviamente, porque... bom, você já é meio criminosa, né?

Evie revirou os olhos, mas não interrompeu.

— Eu seria o cara do improviso, claro. Sempre tenho um plano B. E o Apolo seria o músculo, aquele que intimida todo mundo só por estar ali. — Ele apontou para o cachorro, que olhou para os dois, balançando a cauda preguiçosamente.

— E qual é o plano principal? — Evie perguntou, fingindo interesse enquanto segurava o riso.

JJ abriu os braços dramaticamente.

— A gente entra disfarçado. Sei lá, de entregadores de pizza ou algo assim. Ninguém resiste a uma pizza.

Evie riu, finalmente se sentindo um pouco mais leve. JJ parecia ter esse efeito sobre ela — o caos que ele trazia acabava distraindo-a do caos dentro dela.

— Você já viu Onze Homens e um Segredo? — ela perguntou, o tom casual, mas um brilho curioso nos olhos.

JJ parou de girar a caneta e franziu a testa, confuso.

— Onze Homens e um Segredo? Isso é... o nome de uma banda?

Evie arregalou os olhos, incrédula, antes de cair na gargalhada.

— Meu Deus, JJ, você não tá falando sério.

— O que foi? Eu não sei o que é. — Ele ergueu as mãos, defensivo, mas um sorriso começou a se formar no canto dos lábios. — É tipo, sei lá, um daqueles filmes velhos que todo mundo finge que assistiu?

Evie cobriu o rosto com as mãos, ainda rindo.

— Não acredito que você nunca viu! É um dos maiores filmes de assalto de todos os tempos! George Clooney? Brad Pitt? Casinos?

JJ balançou a cabeça, ainda sem entender.

— Nada disso tá me ajudando. — Ele tombou a cabeça para o lado. — Me perdoe, senhorita, mas sou pobre, só assisto o que passa na TV aberta. — Evie soltou um suspiro exagerado.

— É genial. Você ia adorar. Eles têm um plano super elaborado pra roubar milhões, tipo, com disfarces, truques e uma equipe cheia de especialistas. É exatamente o tipo de coisa que você tenta fazer, só que eles fazem direito.

JJ estreitou os olhos para ela, fingindo estar ofendido.

— "Tenta fazer"? Vou te mostrar o dia que eu realmente fizer.

— Claro, JJ. — Evie deu um sorriso provocador. — Mas antes disso, a gente precisa assistir. É um clássico.

JJ colocou a mão no queixo, parecendo pensativo, então se levantou da cadeira e começou a andar pelo quarto, as mãos nos bolsos e aquele ar típico de quem está tramando algo. Ele olhou ao redor como se estivesse inspecionando cada canto e começou a pegar objetos aleatórios pelo quarto: um lençol jogado sobre a cama, um abajur da mesa, e até mesmo a tigela de ração do Apolo, que o olhou com desconfiança.

— JJ, o que você tá fazendo? — Evie perguntou, inclinando a cabeça.

— Tô salvando sua noite. — Ele ajustou o abajur para que a luz ficasse voltada para o teto e jogou o lençol sobre a cadeira giratória como se fosse um trono improvisado. — Nós vamos criar o cinema mais épico que essa casa já viu.

Evie estreitou os olhos, observando os movimentos dele com uma mistura de curiosidade e suspeita.

— Isso parece uma ideia horrível.

— Não, isso é uma ideia genial. — Ele pegou o controle remoto da TV e o apontou para o aparelho como se estivesse prestes a abrir um portal mágico. — Confia em mim, vai ser épico.

Ela bufou, mas uma pequena parte de si estava começando a se divertir.

— E se meu pai entrar aqui e ver isso? — perguntou, mais para implicar do que por preocupação real.

— Bom, se ele entrar, a gente o convida pra sessão. — JJ piscou, jogando o controle para ela. — Ou eu pulo pela janela. De novo.

Apolo, ainda deitado ao lado da cama, levantou a cabeça, observando a movimentação como se estivesse considerando se deveria se envolver. Quando JJ pegou um pacote de salgadinhos do canto da mesa, o cachorro finalmente decidiu que aquilo era interessante o suficiente para prestar atenção.

— Então, me conta mais sobre esse filme aí.

Evie se deitou novamente na cama, com um suspiro, ainda tentando processar a cena de JJ organizando um mini cinema improvisado no quarto dela. Era um caos organizado de alguma forma, e, apesar de toda a exasperação que isso causava, ela não conseguia deixar de sorrir.

— Onze Homens e Um Segredo. — Ela faz uma pausa dramática. — Então, tem esse cara, o George Clooney. Ele é tipo o cérebro da operação. — Evie continuou, gesticulando como se estivesse desenhando o plano no ar. — Acabou de sair da prisão e já 'tá tramando um assalto insano. Ele monta um time cheio de especialistas, cada um com uma função específica. É o plano perfeito.

JJ cruzou os braços, interessado, enquanto empurrava a cadeira para mais perto da cama.

— Beleza, então o Clooney é o chefe. E aí, quem mais tá no time?

— Tem o Brad Pitt, que é tipo o braço direito dele, sempre comendo alguma coisa. — Evie deu uma risadinha. — Tem o cara das acrobacias, o hacker, o trambiqueiro... todo mundo com uma função bem definida.

JJ bateu as mãos no apoio da cadeira, como se tivesse uma epifania.

— Viu? Era exatamente isso que eu tava falando! Cada um com sua função!

— Aham. — Evie estreitou os olhos para ele. — Só que eles não usam cachorros como músculo e nem entregadores de pizza como disfarce.

— Um detalhe técnico. — JJ deu de ombros. — Mas, sério, por que eles fazem isso? Só pelo dinheiro?

Evie hesitou, olhando para o teto por um momento antes de responder.

— Acho que é mais do que isso. É sobre provar que eles podem fazer algo grande, algo que ninguém mais conseguiria. É quase... pessoal.

JJ ficou em silêncio por um momento, os olhos azuis brilhando com algo que parecia ser mais do que mero interesse pelo filme. Ele finalmente sorriu, mas dessa vez de um jeito mais contido.

— Parece meu tipo de filme.

— Eu disse que você ia gostar. — Evie bateu palmas, entusiasmada enquanto se colocava de pé e caminhava até a porta do quarto. — Tem até uma versão mais recente, que na verdade se chama Oito Mulheres e um Segredo. Que eu gosto mais, mas pode ser só meu lado feminista falando.

— Oh doida! — JJ segurou ela pelo braço levemente quando ela tentou abrir a porta. — 'Tá indo pra onde?

— Toda boa sessão de cinema tem que ter comida. E me desculpa, mas esse salgadinho... — Apontou para o pacote na mão dele. — É muita humilhação.

— Assim você magoa meus sentimentos.

— Relaxa. Eu volto rapidinho, é só ficar aí e não fazer barulho e ninguém vai te pegar. — Ela disse, então saiu praticamente correndo

Evie desceu as escadas quase saltitante, fazia um bom tempo que ela não se sentia assim. Nunca fez programas simples como sentar com os amigos e ver um filme, nunca teve amigos o suficiente pra isso e June e os amigos dela preferiam festas e outras coisas kooks.

Ela se dirigiu até a cozinha, que estava vazia. Aliviada pois essa hora da noite, Beth já tinha ido embora. Evie foi até os armários, procurando os salgadinhos e outras guloseimas que ela se lembrava de ter comprado na última vez que foi ao mercado.

— Isso aí é larica? — Evie deu um pulo de susto quando escutou a voz atrás dela. Ela se virou, com a mão no peito e o coração disparado.

— Que susto, pai! — Ela exclamou.

Ele estava vestido casualmente, sem paletó, apenas a camisa social branca com as mangas erguidas até os cotovelos e uma gravata preta, com uma caneca fumegante nas mãos que sem dúvida era de café. — A única coisa que Benício bebia era café.

— Isso é um lanche da noite ou um estoque de guerra? — Benício olhou para ela com um leve sorriso, como se estivesse surpreso, mas sem questionar muito. Ele se apoiou na porta da cozinha, os olhos avaliando Evie com uma expressão enigmática.

Evie forçou um sorriso, tentando manter a calma enquanto continuava fuçando nos armários em busca de algo que realmente valesse a pena.

— Só uma coisinha pra, sabe, sair do tédio. — Ela deu de ombros. — Ver um filme, me empanturrar de açúcar.

— Tá bom então. — Seu pai deu um gole generoso do seu café. — Sabe quando a Jenna e sua irmã voltam?

— A June provavelmente fez a Jenna passar em algum lugar pra ela comprar alguma coisa. Mas daqui a pouco elas tão aí. — Evie pegou todos os pacotes que conseguia carregar, tendo que apoiar o queixo na pilha para não derrubar nada.

Benício a observou por um momento, parecendo ponderar algo, mas sem dizer nada. Ele deu um passo para o lado, permitindo que ela saísse da cozinha, e ela passou por ele, fazendo o possível para não esbarrar nos pacotes de salgadinhos.

— Não devia estar comendo isso à noite. — Ele falou de maneira casual, mas com um toque de preocupação disfarçada.

Evie se virou, com um sorriso de canto.

— 'Tá falando sério? Desde quando você se importa com o que eu como?

Benício deu de ombros, olhando para a caneca de café como se fosse a resposta que ele realmente queria dar, mas em vez disso, apenas resmungou.

— Sei lá, Evie, só... tenta não acabar com o estoque de comida de madrugada, ok? — Ela revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Não se preocupe, eu vou deixar algo pra você. Talvez.

Enquanto ela caminhava de volta para o quarto, os pacotes de guloseimas agora pesando nos braços, ela pensou na estranha troca de palavras que acabara de ter com Benício. Era o tipo de conversa que, no fundo, não significava nada, mas ao mesmo tempo, deixava um gosto amargo de desconforto. Ela nunca sabia como ele reagiria — entre a postura indiferente e os momentos de surpresa onde parecia se importar de verdade.

Quando voltou para o quarto, JJ estava encostado na parede, com uma expressão que sugeria que ele estava à beira de quebrar alguma regra da casa, mas estava claramente se divertindo com a situação. Apolo, agora empoleirado ao lado dele, olhou para os pacotes com um entusiasmo quase incontrolável.

— Uou! — JJ exclamou, enquanto ela praticamente jogava os pacotes em cima da cama.

— Privilégios de ser rica, meu bem! — Evie jogou o cabelo para o lado em um gesto teatral, enquanto pegava o controle e ligava a TV. — Então, meu querido amigo de janela, vamos começar a sessão.

5237 palavras.

Como vocês podem ver, perdi o controle, isso significa que há grandes chances de essa fanfic ter 6 atos ao invés de 5. (A intenção era que esses primeiros capítulos e os da primeira temporada fossem um ato só, mas acho que não vai rolar).

Esse capítulo não acontece absolutamente nada? Sim. Eu amei escrevê-lo? Com certeza. Então podem esperar por mais.

Me desculpem pelo cover do início não estar completo, é porque todos os covers da Maia que eu achei não tinham mais de um minuto (Mulher, o que você fez com teus covers????). De qualquer forma, foi só pra vocês terem uma noção de como é a música na voz dela, porque eu não poderia desperdiçar a Maia cantora, jamais.

Espero que vocês tenham gostado, não se esqueçam de votar e comentar, beijinhos.

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