Capítulo 29
Any Gabrielly 🦋
Solto um suspiro ao entrar em casa e fechar a porta, me encostando na mesma. Fecho os olhos momentaneamente, sentindo meu corpo e meu psicológico bem pesados. O dia que eu esperava que fosse bom, foi horrível, e o pior é que nem demonstrar que fiquei chateada por Noah eu consigo. Nem alguém pra falar sobre isso eu tenho.
— Oi! — Abro os olhos quando ouço Amber. Ergo o rosto, a vendo se apoiar na grade com uma mão para descer as escadas, e apoiar outra na parte de baixo da coluna. — Estava mesmo precisando de você.
Franzo a testa e faço uma careta de "nem vem, que não tem". Ah não ser que seja algum lance de grávida, como abaixar pra pegar alguma coisa ou sei lá.
— Pra quê? — Pergunto
— Só um minuto...
Amber solta uma risadinha enquanto desce as escadas. Ou tenta. Suspiro e subo até lá em cima, porque ela ainda está no quarto degrau. Seguro sua mão com firmeza, e Amber consegue descer melhor e mais rápido agora.
— Muito obrigada! — Ela diz, e não posso deixar de notar seu tom de surpresa na voz. — Venha cá.
Sorrindo toda animadinha, Amber passa pelo corredor estreito, em direção até a cozinha. Estamos sozinhas em casa, porque meu pai está em outra reunião de negócios.
— Eu sei que você e eu não nos damos muito bem. — Observa Amber
— Jura? Nem notei.
Ela ignora meu sarcasmo.
— Mas eu pensei que podíamos sentar um pouco, tomar um sorvete enquanto você me ajuda a decorar esse bolo.
Olho para o forno, que está aceso e assando o bolo que ela citou; o cheiro está gostoso. Depois olho de volta para Amber, que junta as mãos e cobre os lábios, tentando esconder um sorrisinho animado. Ela é fofa, admito, mas é impossível olhar para ela e não pensar em todo o sofrimento que fez minha mãe passar. Além disso, todo esse esforço para se dar bem comigo é só porque meu pai pediu.
— Não, obrigada. — Passo por ela e vou até a geladeira, onde pego uma garrafa de refrigerante de cereja – uma das várias do estoque que eu fiz meu pai comprar. — Boa noite.
Quando passo por Amber outra vez, ela suspira e é visível a expressão entristecida em seu rosto bonitinho e jovem. Eu paro por um segundo na porta, a observando dar as costas para mim e ir pegar o sorvete na geladeira. Imagino que deva se sentir meio solitária o dia inteiro aqui, com meu pai trabalhando quase sempre até tarde. Aposto que fica conversando com o bebê na barriga, porque não tem mais ninguém pra fazer isso durante o dia. E meu pai deu licença pra ela do trabalho, depois que a gravidez ficou meio "difícil" – já que ela é a porra da secretária dele –, então nem conversar com os colegas de trabalho ela conversa. Nunca vi Amber com nenhuma amiga, e as senhoras da vizinhança não gostam dela também.
Aaaaah, que droga.
Abro a garrafa de vidro usando a batente da porta, dando um gole antes de girar nos calcanhares, de volta para a cozinha.
— Tá bom, eu te ajudo a decorar esse bolo idiota.
Amber olha para mim, abrindo um sorriso largo e bonito. Na verdade, ela é bonita na maior parte do tempo, com longos e brilhantes cabelos castanhos escuros bem lisinhos. Seus olhos azuis são intensos e um pouco puxados para o verde, e se esticam para os lados levemente quando ela sorri, porque a mesma tem sangue nativo americano. Além de uma pele bem morena, puxada para o avermelhado, Amber não tem uma ruga ou linha de expressão no rosto; é uma bonequinha perfeita.
Largo minha mochila ao pé da cadeira e a garrafa de refrigerante em cima da mesa, onde me sento e pego uma colher. Amber me passa o pote de sorvete Ben & Jerry's, sabor de baunilha com pedaços de caramelo.
— Então, como foi a escola hoje? — Ela senta ao meu lado, apoiando os cotovelos na mesa e as mãos nas bochechas, se inclinando para frente o máximo que a barrigona permite.
Olho para ela e ergo uma sobrancelha.
— Normal. — Resmungo e levo uma colherada cheia de sorvete até a boca.
— Sério? Você parece meio tristinha. — Amber abre um meio sorrisinho. — Pode falar comigo se quiser, mas só se quiser.
Eu suspiro e me entupo mais de sorvete, olhando de relance para o forno; esse bolo não fica pronto nunca? Depois olho de volta para Amber, suspirando. Ela é a única pessoa com quem posso desabafar agora.
— Longa história… — Empurro o pote de sorvete de volta para Amber, e ela enfia na boca uma colherada enorme de sorvete. Eu bebo mais do meu refrigerante.
— Eu quero ouvir tudo. — Diz de boca cheia.
🍰
O bolo já saiu do forno tem uns dez minutos, e Amber e eu só começamos a decora-lo agora, porque antes estávamos esperando esfriar um pouco. Durante esse tempo, conto toda a história envolvendo Noah, Sofya e as participações maquiavélicas da Sabina, deixando de lado apenas os detalhes picantes. Quando termino, percebo que, falando tudo em voz alta para outra pessoa, eu estou praticamente vivendo um filme clichê da Netflix, com direito a cenas proibidas para menores de dezoito anos. Seria engraçado, se não irritante. Tenho que me lembrar de perguntar a Lara Jean como ela consegue passar por tanto clichê.
— Sua vida é mais movimentada que a minha, e eu estou grávida. — Amber chupa o glacê branco do dedo indicador, soltando uma risadinha em seguida.
Abro um sorrisinho de canto e dou de ombros.
— Gostava mais de quando eu era invisível e tediante. — Digo — Você não acharia estranho se um cara que te ignorou a vida inteira, de repente começa a se interessar por você?
— Um pouco. Mas não acho que o seu caso seja em vão; você mesma me disse que esse tal de Noah só não chegava em você, por causa da Sofya. — Ela olha para mim e, com um aceno da mão, me pede a espátula de plástico. Entrego a ela. — Ele só aproveitou esse trabalho meio clichê pra…pra se soltar por alguns dias, mas você libertou ele de vez com o beijo na festa de halloween.
Solto uma gargalhada pelo jeito que Amber encontra de resumir o que pensa, e ela ri junto comigo. Até que não é ruim conversar com ela.
— Tá, ok, ele me disse mais ou menos isso. — Dou de ombros e paro de falar por um momento, segurando com cuidado a outra parte do bolo de baunilha que cortamos ao meio. Bem devagar para não despedaçar, ponho esse pedaço em cima do outro, que agora está coberto por recheio de glacê e coco ralado. — Mas eu não consigo acreditar.
— Não, você acredita nele. — Amber aponta a espátula para mim e se encosta de lado no balcão, quase encostando a ponta da barriga em mim. — Você acredita no que ele te disse e ele também acredita nisso porque, bom, porque foi ele que disse, né?!
— Isso não faz sentindo…
Franzo a testa e me viro para pegar mais glacê na pia, tentando não demonstrar que o que a Amber disse faz sentido sim, eu só não quero concordar com ela.
— Faz sim. Os dois se querem, e acreditam um no outro, mas são muito orgulhosos.
— Não sou orgulhosa. — E a prova disso não se verdade, é eu estar negando, mesmo que por dentro eu esteja afirmando mil vezes. — Ele é que é orgulhoso demais para dizer que quer ficar comigo, ou sei lá, não consegue abandonar a vida onde tinha uma garota nova por noite.
Olho para Amber, que me encara intensamente sem abandonar o sorrisinho cínico no rosto. Logo eu desvio o olhar rapidamente, sentindo como se alguém estivesse vasculhando meu cérebro, atrás dos meus arquivos pessoais organizados por ordem alfabética. Não consigo abandonar a sensação de que estar aqui com ela, decorando bolo e comendo sorvete – que por sinal já acabou –, é estar traindo a minha mãe também. Eu deveria conversar era com ela sobre meus problemas, e não com a amante do meu pai, que agora é minha madrasta grávida.
Infelizmente, agora que comecei, não acho que seja uma boa ideia parar, porque está muito bom desabafar algumas coisas para outra pessoa e e ainda receber conselhos que prestem.
— Ele disse pra você que ainda quer ficar com você e outras garotas? — Amber ergue uma sobrancelha para mim e eu lhe entrego a vasilha com o restante do glacê. — Pelo o que eu sei…até onde me contou… não disse, não.
Uma coisa que eu odeio, é admitir que a Amber tem razão. Então eu fico quieta e abaixo o olhar de volta para o bolo.
— E por que ele tem que dizer que quer ficar com você? Por que não é ao contrário? — Ela continua — Nas histórias, a donzela sempre espera pelo príncipe encantado montado no cavalo branco; seja a princesa dele montada no cavalo branco. Inverta, porque se for para esperar pelos homens, morremos solteiras.
Ela me dá um empurrãozinho leve com o ombro e eu dou risada. Eu queria que fosse assim tão fácil, mas não é porque sempre fui muito orgulhosa, e não vou deixar Noah receber esse gostinho de eu ter me rendido primeiro; é ele ou eu. Me sinto Blair Waldorf – sem a parte de toda a riqueza só Upper East Side –, porque ela sempre se recusou a dizer o que deveria dizer ao Chuck Bass, e vise versa. Mas eu não quero um Chuck Bass, eu quero um Nate Archibald ou um Dan Humphrey; nenhuma garota deveria ter um Bass.
Eu suspiro enquanto ajudo Amber a passar glacê por cima do bolo todo, e ao mesmo tempo tento organizar meus pensamentos na cabeça, mas eu estou ainda mais confusa do que estava quanto tudo começou. Se houvesse uma palavra no mundo que pudesse me definir, seria "confusa", porque é assim que eu me sinto em 99,9% da minha vida. Noah Urrea só piora o caso ainda mais.
Aaaaargh, ele não sai da porra da minha cabeça.
— E o pior é que eu tenho uma queda por ele desde o oitavo ano. — Digo de repente — Como todas as garotas sempre tiveram, eu só nunca admiti.
— Owww, que bonitinho. — Amber faz biquinho e ri em seguida.
— Não, não é bonitinho. É irritante.
Sou obrigada a concordar com Noah, quando digo que não gosto da influência emocional que sinto por outras pessoas. É muito ruim quando isso acontece, porque você não consegue parar de pensar na pessoa.
— Uh, uh! — Amber para tudo o que está fazendo de repente, e antes que sequer eu entre em pânico achando que a bolsa estorou bem antes da hora, ela passa a mão na barriga e olha para mim com um sorriso enorme. — Ele tá chutando.
Eu arregalo os olhos, mesmo sabendo que é super normal o bebê chutar, e olho para a barriga. É tão estranho; a camiseta dela está levantanda, então posso ver a forma dos "chutes" do bebê direitinho. Parece um alien de MIB – Homens de Preto tentando sair.
Olho para o rosto de Amber, que parece quase iluminado por sentir o bebê chutando. Não entendo toda essa emoção que as mulheres grávidas sentem quando tem alguém chutando elas por dentro, também não entendo o chororó quando descobrem o sexo ou dão um nome ao bebê. É por não entender e nem querer entender, que criei uma lista mental dos motivos para não querer engravidar – isso inclui autodestruição do meu corpo e um possível ataque cardíaco durante o parto.
— Quer sentir? — Amber olha para mim, ainda sorrindo largo.
— Não. — Digo imediatamente, quase me sentindo mal por nem ter pensado. Mas não, eu não quero tocar a barriga de grávida da amante do meu pai.
Volto a me concentrar na decoração do bolo, porque agora a única coisa que me faz pensar em um futuro melhor, é comer ele.
all for us
opa! quem é vivo sempre aparece ;)
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