Capítulo 22
Any Gabrielly 🦋
O crepúsculo já caiu por toda a cidade, quando eu paro minha moto no estacionamento do Hospital Público de Bridgton. Eu tiro o capacete da cabeça e pulo para o piso de concreto rachado, sentindo o ventinho gelado ricochetear meu rabo de cavalo de um lado para o outro. Olho para o céu brevemente; vem chuva por aí. Abaixo as manhãs na minha blusa cinza, abraçando meu corpo enquanto corro para dentro do hospital, que também está frio por causa do ar-condicionado.
Antes de checar meu nome na recepção, mando uma mensagem para Josh. Foi loucura o chamá-lo para vir a uma consulta minha, mas acho que preciso da companhia de um amigo pra me distrair, mesmo em um hospital.
J: Eu já cheguei.
J: Tô aqui em cima com a sua mãe.
Sorrio e guardo o celular de volta na mochila. Depois de confirmar que eu sou eu com a recepcionista, eu pego o elevador até o andar de cardiologia. Como dito, Josh está na sala de espera conversando com minha mãe e eu dou de cara com ele assim que o elevador se abre.
- É incrível, ele consegue ser mais pontual do que a paciente. - Diz minha mãe assim que me vê. Eu reviro os olhos. - Não revire os olhos pra mim, mocinha.
- Desculpa se eu não quero ouvir um estranho perguntar se eu "já senti dor no peito durante minhas relações sexuais".
O último médico em que eu fui me perguntou isso, e eu senti vontade de enforcar ele com o estetoscópio. Era invasão de privacidade, além disso, me deixou com o rosto todo vermelho de vergonha; minha mãe estava sentada bem do meu lado.
- Ele só estava fazendo o trabalho dele, querida. - Suavemente, minha mãe passa a mão no meu rosto e no meu cabelo. - Você sabe que transar pode acelerar...
- Aaaah, eu não sei de nada. - Digo, um pouquinho alto demais, e tampo os ouvidos com as mãos. Minha mãe sorri e revira os olhos, apoiando a mão esquerda no quadril. - Não revire os olhos pra mim, mocinha.
- Diz isso de novo e você fica um mês de castigo. Espera aqui, que vou avisar ao doutor Castella que você chegou.
Ela deixa um beijo na minha testa e depois sai andando, me deixando sozinha com o Josh. Me sento ao lado dele no sofá branco do hospital.
- E ai, se divertindo com o hospital cheirando a antibiótico? - Lhe dou um empurrãozinho com o ombro e solto uma risada.
- Claro...já vi um cara chegando com um ataque cardíaco; me senti em um episódio de Grey's Anatomy.
Dou risada outra vez e Josh sorri, satisfeito por me ouvir soltar esse som com tanta frequência.
- Desculpa... não é uma saída entre amigos ideais, só queria alguém pra me distrair um pouco. - Admito, mas isso não parece o abalar.
- Tá tranquilo. Na verdade, é bom sair com você de novo. Já faz tanto tempo, né?
- É, faz. Daqui a gente pode ir no The Jhon's Roller, o que acha?
- Eu topo.
Ele levanta o punho e eu levanto o meu, encostando os dois em um cumprimento amigável.
- Any, vem. - Minha mãe volta para a sala de espera, me chamando com um aceno da mão. - Ele vai te atender agora.
- Deseje-me sorte.
Sorrio para Josh e depois me levanto, seguindo minha mãe pelo corredor.
- Any Gabrielly Soares, quanto tempo. - O doutor Castella sorri de forma amigável para mim e aperta minha mão, quando me sento de frente para a mesa dele. - Sua mãe me avisou dos imprevistos que a impediram de vir nas outras consultas.
Olho para a minha mãe, que está bem ao meu lado sorrindo de forma cínica. Sorrio de volta, e olho para o Castella.
- Sim, eu tô muito apertada com a escola. - Minto
- Então que bom que veio hoje. Muito bem, vamos ver...
Ele abre minha ficha na tela do computador e abaixa os óculos até a ponta do nariz, elevando um pouco o queixo para cima, para conseguir ler. Eu fico apreensiva onde estou sentada, revirando a todo momento minhas mãos em cima do colo, enquanto tento enxergar qualquer tipo de emoção nos olhos do médico. Mas ele nunca demonstram nada; estão sempre muito serenos.
- Humm...a última vez que você fez um exame, uma de suas artérias parecia estar dando um trabalhinho extra. - Ele diz, a voz grave e sonolenta invadindo meus ouvidos. - Você tem sentido dores, Any Gabrielly?
- Hã...não. - Apenas palpitações cardíacas exageradas quando vejo o Noah. - Eu tô bem.
- E dificuldade pra respirar? Alguma?
- Nada...
- Tem feito os exercícios aeróbicos?
Abro a boca para falar, mas minha mãe me interrompe.
- Essa daqui? Exercícios? - Ela ri e eu já sinto o rubor subir por minhas bochechas. - Doutor, ela não levanta o rabo do sofá nem pra lavar uma louça.
- Mãe! - Resmungo entredentes, enquanto escorrego pela cadeira macia.
- E a alimentação? Tem se alimentado direito?
E mais uma vez minha mãe fala...
- Se tortas de Oreo e Doritos fossem alimentações saudáveis...
- Você bebe, Any? - O doutor Castella tira o óculos do rosto e olha pra mim.
- Na verdade... - Começo
- ...beber ela não costuma, mas chegou bêbada em casa esses dias. - Mas minha mãe me interrompe. Suspiro e cubro meu rosto com a mão. - Ela só tem dezesseis ano, não devia beber assim, e nunca mais vai beber.
O médico olha para nós duas e suspira também. Aposto que eu sei o que ele está pensando: isso aqui vai demorar.
Mais tarde, a consulta finalmente chega ao fim. Como eu esperava, tive que ficar quase duas horas dentro dessa porcaria de hospital, porque o doutor Castella passou alguns exames de sangue pra mim e eu tive que os fazer na hora. Aparentemente, eu tô com um pouquinho de gordura nas minhas artérias, e se eu não começar a tomar os remédios do jeito certinho isso vai piorar e eu vou ter que fazer cirurgia para manter minhas artérias abertas, um negócio desses. Não prestei atenção, porque estava ocupada demais ouvindo minha mãe resmungar pra mim que sou muito irresponsável.
Pra ser sincera, fiquei sim com um pouco de medo, mas acho que isso não é nenhum problema tão grave assim. Nem dor eu tô sentindo.
- E ai, vamos? - Paro na frente de Josh, que está sentado no exato mesmo lugar, mexendo no celular. Ele levanta a cabeça para mim e sorri de canto.
- Beleza, 'vamo lá. Tchau senhora Soares, foi um prazer revê-la.
Josh acena para minha mãe, mas ela ainda está estressada comigo, então apenas abre um meio sorriso e depois volta a fazer seu trabalho de enfermeira. Eu apenas seguro a risada, empurrando Josh comigo até o elevador. Ele me pergunta como foi a consulta, e eu explico tudo para ele - pelo menos tudo o que eu entendi.
- Caralho, e se você tiver que fazer a cirurgia?
- Eu não vou precisar. - Reviro os olhos e saio do elevador quando a porta se abre no térreo. - Eu vou tomar os remédios, os coagulantes vão limpar as artérias e vai ficar tudo bem.
Sorrio para a recepcionista, que sorri de volta e me deseja uma boa noite.
- Se você tá dizendo, eu acredito.
Josh dá de ombros e eu afirmo com a cabeça, querendo mudar logo de assunto. Para a minha sorte, já chegamos no estacionamento, então eu lhe entrego o capacete extra da minha moto e monto nela junto com ele.
🦋
Fico arrepiada assim que entramos no The Jhon's Roller, porque aqui dentro está quentinho e agradável, enquanto lá fora está bem frio. Ainda mais depois de andar de moto, com todo aquele vento voando nas minhas pernas; talvez seja uma boa ideia começar a usar meia calça, porque está cada dia mais frio e o inverno é só daqui a um mês.
- Quer comer alguma coisa? - Josh pergunta
- Eu ia pedir batata frita, mas minha mãe vai me matar. - Digo e solto uma risadinha. - Pode ser um sanduíche natural e suco de laranja, por favor. Aqui, toma o dinheiro.
Puxo alguns restantes de notas que tenho na bolsa e entrego para Josh, que vai até a fila da lanchonete e me deixa sentada em uma mesa para dois. É legal sair com ele de novo, sério... Mas - sempre tem um "mas" - eu sinto falta de sair com a Sofya. Ela é engraçada, tagarela até quando estamos em cima da minha moto e eu gosto de fofocar sobre a vida dos outros com ela. É divertido.
Com o Josh eu dou risada, a gente fala sobre os velhos tempos e sobre os novos, gosto dele, só não é a mesma coisa. Não quero usar ele para passar o tempo, mas espero conseguir falar com a Sofya logo de uma vez.
Observando a vida jovem ao meu redor, meus olhos acabam sendo atraídos até o "buraco" na parede que fica escondido entre a porta do banheiro feminino, e a porta do zelador daqui. Além disso, tem uma coluna enorme na frente, então é o lugar perfeito caso alguém algum dia decida beijar o irmão gêmeo da melhor amiga. Ah, espera, eu fiz isso!
Se eu forçar um pouquinho, posso até enxergar nós dois naquele espacinho minúsculo, onde ele me pressionou contra a parede e me agarrou com tudo enquanto me beijava. Apoio a mão no queixo e o cotovelo na mesa, inclinando um pouco minha cabeça para trás, pra poder olhar melhor o espaço. Noah agarrou meu cabelo, o puxou para trás e me beijou; foi tão gostoso e tão quente. Já faz semanas, dias e, se eu levar em conta as horas, já faz muuuuitas horas que isso aconteceu. Mas eu ainda me lembro do gosto da boca dele; cereja. Ele sempre tem gosto de cereja.
Pensar nisso me faz sentir vontade de beija-lo outra vez, sugando seus lábios macios...sentindo-o respirar pesado...agarrando-o pelo corpo musculoso...até onde eu iria se ninguém tivesse aparecido naquela festa de halloween? Fecho os olhos e tento imaginar a cena - quero tirar a camiseta de Noah, sem parar de beija-lo para ouvi-lo gemer junto comigo, também quero que ele aperte minha coxa como fez outro dia, aqui no Jhon's, subindo até me tocar lá.
- Um sanduba natural e um suco de laranja, comi pedido. - Josh me assusta e eu abro os olhos, forçando um sorriso por ter sido pega desprevenida. Meu rosto e meu colo estão ardendo de calor, e agora eu só penso em uma coisa...
- Na verdade, acho que vou querer aquele refrigerante de cereja novo. Já volto, ok?
Ainda sorrindo, eu me levanto com meu copo de suco e volto até a lanchonete para tentar fazer uma troca. É loucura, mas preciso sentir de novo aquele gostinho de cereja; é o mais perto do gosto do Noah que eu vou chegar a partir de agora.
- Olha só quem o vento trouxe. - Sabina para do meu lado e eu suspiro pesado, mas não olho pra ela. - Tendo um bom dia, querida?
- Corta essa, Sabina; você conseguiu o que queria. - Digo
- Eu falei pra ficar fora do meu caminho, não falei? Agora eu estou consolando a pobre Sofy, que foi desiludida pelo próprio irmão e pela própria melhor amiga.
Olho para ela com o canto dos olhos, apertando com força o copo de vidro na minha mão.
- Você sabia?
- Não, mas agora eu sei. - Sabina sorri e alisa meu ombro com a mão, de forma proposital. - Aparentemente, é de família ter mal gosto por garotas.
Eu deveria ficar surpresa por Sabina insinuar que Noah também gosta de mim daquele jeito - gostar? Quantos anos eu tenho? 10? -, mas fiquei foi puta por ela estar usando a Sofya para vingança idiota e ainda zoar ela.
- Deixa a Sofya, ok? A culpa não é dela se o Noah enjoou de ser feito de cachorrinho, Sabian.
Irritada, ela franze as sobrancelhas e se afasta alguns passos.
- Você está brincando com fogo, Any Gabrielly
- Fogo? - A olho de cima abaixo. - Desde quando bruxas temem o fogo...querida?
Sabina revira os olhos, batendo o ombro no meu ao passar por mim, indo na direção da pista de patinação. Estou sorrindo, apesar dela ter vindo me pertubar, porque consegui deixa-la tecnicamente sem palavras. É boa a sensação.
Depois de trocar meu suco pelo refrigerante de cereja, eu volto para a mesa com Josh, que está quase terminando de comer o pedaço de bolo que pediu.
- Tá tudo bem? Vi que a Sabina foi pertubar você. - Ele diz
- Uhum, tudo ótimo. - Sorriso e me inclino para trás, encostada no banco enquanto sugo o refrigerante pelo canudinho vermelho.
- Você odiava cereja. - Josh sorri, apontando com o mindinho para meu copo. - O que deu em você?
Dou de ombros, lambendo os lábios quando termino esse gole.
- Agora é minha fruta favorita.
all for us
seguinte, pra essa fic tenho planos de acabar até o fim de janeiro no máximo. então por enquanto a média de capítulos por dia vai ser de 2. quando eu conseguir, aliás 🤡 sabe como é, o trabalho me deixa bem cansada mas farei de tudo pra continuar as postagens!
por favor, para me incentivar e ajudar, comentem e curtam bastante os capítulos. vale muito!!!
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