02
- Ei! - sussurrou Tristan atrás da minha cadeira, aquela voz arrastada e entediada que ele sempre usava quando queria me provocar. - Margot!
Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando me agarrar a qualquer grama de paciência que ainda restava em mim.
- Cala a merda da sua boca, Tristan - retruquei no mesmo tom baixo, entre dentes, sem me virar para olhá-lo. - Estou tentando prestar atenção na aula.
Não que eu estivesse entendendo alguma coisa. O professor falava sobre cálculos ou história, alguma coisa com números ou datas que já estavam começando a se misturar na minha cabeça, mas era a desculpa perfeita para não ter que lidar com ele.
- Mulheres não devem xingar, - ele provocou, a voz carregada daquele sarcasmo insuportável.
A vontade que eu tinha era de pegar a caneta na minha mão e cravá-la no pulso dele.
- Foda-se - respondi, porque eu sabia que não podia.
Ele riu baixinho. Baixinho o suficiente para não atrair a atenção do professor, mas alto o bastante para me irritar.
- Que linguajar, Margot! - sussurrou ele, ainda rindo, como se fosse uma piada particular. - Assim vai assustar os príncipes encantados por aí.
Revirei os olhos tão forte que por um segundo achei que iam ficar presos lá no fundo da cabeça. Não me dei o trabalho de olhar para ele.
- E quem disse que eu preciso de um príncipe? - respondi, sem desviar os olhos do meu caderno. Comecei a rabiscar alguma coisa, mesmo que nada fizesse sentido, só para parecer que estava ocupada.
Na verdade, eu só queria que ele calasse a boca e parasse de me distrair. Tristan Dugray tinha esse talento irritante de me arrancar dos meus próprios pensamentos e me jogar direto na arena, onde ele era sempre o adversário. Um adversário que sabia exatamente como me provocar.
- Então você admite. Você precisa de mim.
A voz dele era carregada de confiança. Daquela confiança que só ele conseguia ter, como se estivesse acostumado a ter o mundo nas mãos desde o momento que nasceu.
Revirei os olhos mais uma vez e, dessa vez, não resisti. Virei para encará-lo, pronta para acabar com aquilo. O professor continuava falando, a voz monótona preenchendo o fundo como uma música distante, mas parecia que o universo tinha nos colocado numa bolha onde só existiam nós dois.
- Tristan, você é mais fácil de substituir que a caneta que eu perdi semana passada.
Ele não riu dessa vez. Me encarou, os olhos azuis fixos nos meus como se quisesse me desafiar em silêncio. Por um segundo, achei que tinha ganhado. Uma pequena vitória, mas ainda assim vitória.
Só que Tristan Dugray nunca perdia.
- Eu sou a melhor caneta que você já vai ter, Margot. E você sabe disso.
A audácia dele. O maldito sorriso confiante no canto da boca que só servia para me tirar do sério. Antes que eu pudesse responder, soltando mais uma patada, uma voz firme cortou o silêncio:
- Srta. Margot, Sr. Dugray, os dois poderiam compartilhar com a turma o que é tão interessante aí atrás?
O chão poderia ter me engolido naquele momento que eu agradeceria. A sala ficou em silêncio. Todos os olhares se voltaram para nós, mas, é claro, Tristan agiu como se fosse a estrela de um show que ele mesmo tinha criado.
- Desculpe, professor - disse ele, virando-se para frente com aquele mesmo sorrisinho. - Só estava tentando convencer a Margot a ser um pouco mais... gentil.
- Gentil?! - deixei escapar, antes mesmo de pensar. Minha voz saiu mais alta do que deveria, mas, naquele ponto, eu não ligava mais.
- Silêncio os dois. Mais uma palavra e vocês estão fora da aula.
- Pode contar comigo - murmurei, baixinho, mais para mim do que para qualquer um. Tristan, no entanto, continuava com aquela expressão satisfeita, como se tivesse acabado de vencer mais uma rodada.
Voltei a encarar meu caderno, fingindo anotar qualquer coisa, mas eu sentia os olhos dele ainda em mim. Era como um calor incômodo na nuca, uma presença que eu não conseguia ignorar por mais que tentasse.
Quando o professor se virou para escrever no quadro, Tristan sussurrou mais uma vez:
- Vai dizer que o dia não fica mais divertido assim?
Eu o ignorei. Ou pelo menos tentei. Porque, por mais insuportável que ele fosse, o maldito tinha razão. O dia era mais divertido quando eu tinha um motivo para discutir com ele. Por mais que me recusasse a admitir isso até para mim mesma.
Eu odiava Tristan Dugray. E talvez, só talvez, eu odiasse ainda mais o fato de que ele sabia exatamente como me tirar do sério.
Antes que Tristan pudesse soltar mais alguma provocação, o som estridente do sino ecoou pela sala, salvando a minha paciência e, talvez, a vida dele.
- Finalmente - murmurei, fechando o caderno com força, o barulho ecoando no silêncio pós-aula.
Levantei da cadeira sem olhar para ele, jogando a mochila no ombro e indo direto para a porta. Eu podia ouvir o movimento de Tristan atrás de mim, com aquele jeito despreocupado e irritante, como se o tempo e as regras não se aplicassem a ele.
- Margot, espera! - chamou ele, o tom quase divertido, o que só me deixou mais irritada.
Ignorei. Continuei andando pelo corredor, desviando dos alunos que lotavam o espaço. A única coisa que eu queria era distância. Por que ele tem que estar sempre no meu pé?
Mas é claro que Tristan Dugray não sabia o que era desistir. Em segundos, ele estava ao meu lado, acompanhando meus passos.
- Qual é o problema? Está fugindo de mim? - perguntou ele, como se aquilo fosse uma brincadeira.
Parei de andar de repente, me virando para encará-lo. O corredor ao nosso redor parecia sumir, as vozes e risadas dos outros alunos se tornando um zumbido distante.
- Eu não fujo de você, Tristan. Só quero o básico: paz.
- Paz é superestimada.
Ele tinha aquele sorrisinho de sempre no rosto, o sorriso de quem sabe que me tira do sério. Não consegui me segurar.
- Sabe o que é superestimado? Você.
O sorriso dele diminuiu, mas só por um segundo. Tristan era rápido demais para deixar qualquer provocação realmente atingi-lo.
- Engraçado, Margot. Parece que, no fundo, você me adora.
- Adorar você? - soltei uma risada seca. - Eu preferia passar uma semana trancada com um bando de ratos do que dividir um minuto contigo.
Ele deu um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós, e abaixou a voz, como se fosse confidenciar algo.
- Cuidado com as metáforas, Margot. Dizem que os opostos se atraem... e, acredite, você não ia sobreviver sem mim.
Revirei os olhos tão forte que achei que ficariam presos. Antes que pudesse soltar mais uma resposta afiada, o diretor da escola passou por nós, olhando com desconfiança.
- Vocês dois, sigam andando. Sem aglomeração no corredor.
Tristan soltou um riso abafado e me seguiu quando voltei a andar, mais rápido dessa vez, tentando deixar ele para trás.
- Margot! - ele chamou de novo, ainda com aquele tom insolente.
- O que é agora, Tristan? - perguntei, girando nos calcanhares.
- Pensei que você quisesse companhia até o portão. Não precisa agradecer.
- Agradecer? O único agradecimento que você vai ganhar é se sumir da minha frente.
Ele colocou as mãos nos bolsos do blazer, como se a minha irritação o divertisse ainda mais.
- Um dia, Margot, você vai sentir falta disso.
- Desse inferno? Nunca.
Virei de costas e continuei andando, sem dar a ele mais um segundo da minha atenção. Desta vez, ele não me seguiu. Mas, mesmo assim, eu ainda podia sentir aquele maldito olhar de Tristan Dugray queimando nas minhas costas.
Por que ele consegue sempre entrar na minha cabeça?
Eu saí pelos portões da escola, o vento frio batendo no meu rosto, e respirei fundo. Tristan era insuportável. Irritante. O tipo de problema que eu não precisava na minha vida.
•••
O vento frio continuava cortando o meu rosto enquanto eu seguia em direção ao ponto de ônibus. Era o fim de mais um dia em Chilton, e tudo o que eu queria era voltar para Stars Hollow e esquecer que Tristan Dugray existia.
Mas, como se o universo gostasse de brincar com a minha paciência, eu ouvi o som familiar dos sapatos dele no chão, aproximando-se mais uma vez.
— Tristan, pelo amor de Deus — resmunguei, sem me virar. — O que você quer agora?
— Aparentemente, tirar você do sério é meu passatempo favorito — ele respondeu, parando ao meu lado. Seu tom de voz estava mais leve, quase casual, mas o sorriso provocador ainda pairava no rosto dele.
— Você precisa de um hobby novo — retruquei, cruzando os braços e finalmente encarando-o.
Ele deu de ombros, como se eu tivesse acabado de sugerir algo totalmente ridículo.
— Por que procurar outro quando esse é tão divertido?
Por um segundo, considerei apenas ignorá-lo. Talvez, se eu parasse de responder, ele simplesmente desistisse. Mas conhecendo Tristan como eu conhecia, ele era o tipo de pessoa que não sabia o que era "desistir".
— Isso não é divertido — resmunguei, começando a andar novamente. — Isso é tortura.
Ele riu, acompanhando meus passos sem esforço, como se aquela conversa fosse a coisa mais natural do mundo.
— Não se faça de vítima, Margot. Você adora essa troca.
— Ah, é? — parei novamente, girando nos calcanhares e apontando um dedo na direção dele. — Se eu adorasse, você seria o primeiro a saber, Tristan. E adivinha? Eu não adoro. Na verdade, eu mal suporto a sua existência.
Ele abriu um sorriso presunçoso, o tipo de sorriso que parecia um reflexo natural do rosto dele.
— Eu gosto do seu jeito de negar, Margot. É quase convincente.
Eu podia sentir minha paciência se esvaindo como água em um ralo entupido. Tristan Dugray tinha um talento especial para me levar ao meu limite com apenas meia dúzia de palavras.
— Um dia, Tristan, você vai perceber que o mundo não gira ao seu redor — respondi, firme.
Ele deu mais um passo à frente, diminuindo novamente o espaço entre nós. Meu coração acelerou — não de nervosismo ou vergonha, mas de pura raiva pelo fato de que ele achava que podia me enfrentar assim, com tanta confiança.
— O mundo não gira ao meu redor, Margot — ele disse, a voz mais baixa, quase gentil. — Mas parece que o seu gira.
Minha boca se abriu em choque, mas antes que eu pudesse soltar uma resposta, o som do ônibus parando ao nosso lado interrompeu o momento.
— Vá se ferrar, Tristan — soltei por fim, subindo os degraus do ônibus com tanta força que quase tropecei.
Ele não respondeu. Apenas ficou parado na calçada, me olhando com aquele mesmo sorriso satisfeito enquanto eu me afundava no assento mais distante que encontrei.
Quando o ônibus começou a se mover, não consegui evitar olhar para fora da janela. Tristan ainda estava lá, as mãos enfiadas nos bolsos do blazer, me observando como se estivesse planejando sua próxima jogada.
— Idiota — murmurei, mais para mim mesma.
Mas a verdade é que, por mais insuportável que Tristan Dugray fosse, eu sabia que aquele era só o começo. Porque de alguma forma — e eu odiava admitir isso até para mim mesma — ele estava certo. O meu mundo girava em torno dele mais do que eu queria aceitar.
E isso me irritava mais do que qualquer outra coisa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro