𝑻𝒘𝒆𝒏𝒕𝒚 𝑻𝒘𝒐
A moldura ao redor da foto era bonita, com curvas douradas que lembravam o fogo se agitando. Ter aquele tipo de pensamento fez a mente de Manjiro se expandir e encolher, mais rápido do que conseguisse assimilar. O barulho que fez ao abaixá-la contra a estante foi alto, tão alto que indicava que poderia ter quebrado o vidro.
Entretanto, a vontade de tirar a imagem da vista era maior do que danificar a única foto que tinha com o irmão. Não passava de um pedaço de papel com imagens gravadas nela, e teria queimado há muito tempo se Emma não tivesse insistido que ele mantivesse uma cópia.
— Não atendeu minhas ligações.
Olhou por cima do ombro, se afastando da lareira apagada e sem qualquer resquício de brasa ou madeira.
Kisaki tirou o paletó, o depositando sobre a poltrona com um domínio que Manjiro deixou passar simplesmente porque falar demais drenaria mais forças do que valeria a pena.
— Estou te incomodando?
— O que você quer? — retrucou calmo, dando a volta na sala e indo até os copos de vidro e o whisky do outro lado.
— Saber se meu pedido foi aceito.
Inclinou a cabeça, o vento que vinha das janelas abertas e esfriava seu corpo era bem-vindo, chegava até a apareciá-lo.
— Não. — respondeu, voltando até o sofá reclinável, apoiando as botas de cano longo na mesinha.
— Não? E posso saber o motivo? — insistiu, com uma coragem tão inabalável que Manjiro quase sorriu.
Kisaki não era idiota, sabia que se ele estava naquela casa era porque queria ficar sozinho.
Não era atoa que os seguranças foram despachados e o celular fora deixado na sala de entrada.
— Ouve uma... objeção, disseram que foi armado, e me pediram tempo. — resumiu, vendo como a feição dele saiu de tranquilo para entrar em um estado de quase aborrecimento.
— Imagino que tenha vindo de [Nome] Miyazaki. — ele duvidou que o próprio rosto tivesse deixado alguma coisa passar, mas Kisaki explicou mesmo assim. — Takemichi não se mostrou relutante a investigação.
— Anunciou isso sem minha permissão?
— A decisão já estava tomada, Mikey. — se aproximou, os sapatos sociais fazendo barulho no chão ao andar até ele. — me impressiona ela ter te convencido a mudar de ideia.
— Ninguém me convenceu a nada. — bebeu o whisky, se perguntando quantos mais daquele deveria beber para conseguir dormir.
Jogou a cabeça para trás, os cabelos esparramados no estofado estavam bagunçados e soltos, e ele não se daria ao trabalho de arrumá-los tão cedo.
Ainda sentia a mão de [Nome] emaranhada neles, puxando de uma forma extasiante e quase aterrorizante. A pressão fantasma de seu corpo pairava sobre ele.
— Uma investigação desse nível trás consequências com as quais não quero lidar.
— Você não precisaria, eu disse que te comunicaria apenas se eu achasse alguma coisa.
Estava acostumado a ter Sanzu afirmando suas suspeitas e as provando reais, as executando com uma satisfação um tanto contagiosa.
Mas Takemichi... fechou os olhos. [Nome] havia dito que ele o defendia, mas o fazia de quem? Das pessoas que sussurravam quando passava? Dela?
Imaginou que ela tinha atacado por instinto, pelo o que aconteceu com Sanzu no começo da noite. Mas e se [Nome] soubesse que era ele e por isso puxou a faca? E se pensasse que ele era tão impiedoso a ponto de ir pessoalmente matá-la?
Manjiro foi exposto ao medo de morrer incontáveis vezes durante os anos, conseguia saber quando alguém expressava ou tentava conter aquele sentimento irredutível.
Era diferente com ela. Não viu nenhuma gota de anseio em seus olhos, nenhuma expressão além de serenidade moldando seu rosto.
Apenas uma ousadia violenta, do tipo que via no espelho, qual parecia guardar promessas de fria retaliação.
[Nome] não sentia medo dele, mas não era afoita e imprudente.
Garota impressionantemente esperta.
— O que ela disse, exatamente? — Kisaki indagou.
— Pediu tempo para provar que Saiko a estava seguindo.
— Isso não faz o menor sentido. E se ela tiver feito isso para conseguir apagar qualquer indício de traição que a quinta divisão possa ter?
— Aonde quer chegar? — abriu os olhos, mandando para longe qualquer pensamento sobre as atitudes misteriosas de [Nome].
— Saiko tem contatos com pessoas que podem saber sobre quem quer te tirar do poder. — ele se pôs em sua frente, a feição tão séria quanto a voz. — acha que foi coincidência ele ter quase morrido na área de Takemichi?
— Vou julgar se suas informações são tão valiosas quanto diz ser quando as escutar, até lá, fale para ele acatar meus comandos. Não sou babá, se ele se machucar vai ser um problema inteiramente dele.
Lidar com traidores não era tão difícil quando sabia quem eram, contudo, era como um tiro no escuro arriscar toda uma divisão por um homem que havia visto uma vez.
Manjiro conseguia enxergar no olhar de Kisaki que a decisão que estava tomando era a mais racional possível.
Não faria nada mais que o necessário até Saiko se mostrar útil.
— Certo. — cedeu com um suspiro. — Sanzu está de acordo?
— Sim.
— E o que vai fazer sobre, novamente, Miyazaki ter quase matado um membro da Toman?
Kisaki geralmente era uma companhia que Manjiro gostava de manter por perto. Aquele momento parecia ser uma excessão.
— Ele agiu contra minhas ordens e disse que aceitava qualquer punição.
Ele arrumou a gravata borboleta, tentando controlar o próprio rosto ou talvez até mesmo a língua. Kisaki sabiamente não insistiu.
— Então não vou mais te importunar, Mikey.
Se foi, e Manjiro não conseguia dizer se fazia horas ou minutos da conversa que tivera com Kisaki, se aquele era o primeiro copo de bebida que segurava desde que se sentara ali ou ao menos que horas eram.
Não sabia, e não queria saber.
☾︎
As mãos não estavam se esquentando dentro dos bolsos de pelagem, e sentia as bochechas ficando cada vez mais frias a cada passo pelas calçadas sujas. Se arrependia de não ter pegado um casaco mais espesso.
O relógio no pulso mostrava que fazia trinta minutos desde que saira de casa, mas a caminhada matinal fazia parecer que gastara menos tempo indo até ali. Takemichi ainda estava dormindo quando saiu, então achou melhor deixar uma mensagem falando que iria sair e provavelmente demoraria.
Não iria esperar ele acordar, não queria gastar nenhum segundo a mais do dia que Manjiro ofereceu – eis o motivo de ter descansado apenas cinco horas.
Continuou subindo a rua reta, observando o galpão ficar cada vez maior ao se colocar naquela esquina.
A parede descascada até os tijolos de Saiko era visível daquele lugar, mas sua atenção estava nas marcas de pneu que ele fizera ao acelerar precipitadamente atrás dela.
[Nome] atravessou e seguiu pela direita, seguindo as marcas e descendo pela rua em que levara calmamente Saiko e seu acompanhante inesperado até lá.
Ela dirigia devagar antes de entrar na rua do galpão, isso era um fato, o carro atrás dela também, o que poderia significar que a moto seguia o mesmo padrão.
Os acompanhava devagar, e quando soube da movimentação repentina, acelerou.
Começou a procurar marcas de pneu no chão, qualquer indício que confirmasse sua teoria.
Estava se convencendo de que não seria tão fácil provar aquilo quando encontrou exatamente o que precisava. Tirou o celular do bolso, batendo uma foto do rastro deixado ali pelo motoqueiro.
— Bingo, [Nome].
Sorriu consigo mesma, voltando a calçada quase se sentindo renovada. Sua confiança se inflou com a certeza de que acabaria aquilo antes do que pensava, e teria a tarde inteira para adiantar os próprios assuntos.
O Aston Martin vermelho estacionou poucos metros a frente dela, o som da porta sendo fechada indicava que o dono não se importava muito em cuidar de bens caros.
— Está me vigiando, por acaso? — indagou, Manjiro arrumou o terno caban cinza escuro que estava aberto, mostrando a blusa de gola alta preta e o colar prateado enquanto a acompanhava rua abaixo.
— Era uma opção.
Olhou de canto, os cabelos dele estavam soltos, sem o habitual penteado que costumava usar, os fios se movendo com a brisa escondia a tatuagem que ela tinha visto na madrugada.
Ainda estava alerta, a última conversa que tiveram não fora das mais calorosas, entretanto, a excitação em imaginar qual reação ele teria quando [Nome] se mostrasse certa a abraçava.
— Então escolha um que saiba ser discreto, não vão descobrir nada se eu souber e propositalmente ficar na linha. — a brisa gelada bateu contra seu rosto, e ela pediu silenciosamente para que a previsão do tempo estivesse certa e esquentasse nos próximos dias. — se não está me seguindo, por que está aqui?
— Quero saber o que está te fazendo dar voltas pelo galpão.
— Então estava mesmo me vigiando. — cerrou os olhos em sua direção, tinha brincado sobre a possibilidade segundos antes, mas não ficaria nada contente em saber que ele a observava tão de perto.
— Eu estava apenas passando quando te vi. — deu de ombros.
[Nome] revirou os olhos, parando em frente a doceria pintada de rosa e azul, olhou uma única vez a pequena câmera antes de respirar fundo e entrar, sentindo as lágrimas se formarem em seus olhos.
O ar quente ali dentro foi recebido com um suspiro dela, soube que o Sano havia entrado quando o sino soou pela segunda vez.
A senhora atrás do balcão sorriu quando os viu, colocando os óculos suspensos por uma cordinha no rosto.
— Sejam bem-vindos, já sabem o que querem?
Olhou os doces através do vidro e sua boca salivou, tinha tantos tipos que quase se desviou do objetivo.
Suas mãos sairam dos bolsos, tremendo levemente, a senhora franziu a testa ao notar as lágrimas nos olhos dela.
— Desculpe, mas é a dona do estabelecimento? — a voz saira quase trêmula, a senhora levantou a tábua do balcão ao lado, passando as mãos no avental ao se colocar na frente de [Nome].
— Sou sim, aconteceu alguma coisa? — olhou Manjiro com certa raiva, e por pouco não cede ao desejo de confirmar qualquer suspeita dela.
— Aconteceu, minha irmã mais velha está desaparecida. — emendou depois da primeira palavra, sabendo que a senhora parecia prestes a fazer algo agressivo. — ela é inconsequente, sabe, acabou bebendo ontem e sumiu.
— Oh, e eu a conheço?
— Não, ela não é daqui, mas algumas pessoas disseram que a viram vindo para este bairro. Eu gostaria de ver se sua câmera pegou alguma coisa.
A senhora pegou sua mão com uma ternura que incomodou [Nome]. Afundou aquele sentimento dentro de si com força.
Sentir incômodos daquele tipo eram desnecessários.
Já contara mentiras piores por muito menos, além de que duvidava que ela ajudaria se soubesse que queria provar ao líder da maior organização criminosa do Japão – qual estava literalmente na sua frente – que [Nome] não tinha quase matado um de seus homens.
— Claro, venha por aqui.
Guiou os dois por uma pequena salinha atrás da vitrine, com alguns computadores ligados, o do meio mostrando a rua do lado de fora.
— Meu neto arrumou isso para mim depois que fomos assaltados. — suspirou procurando um caderno na prateleira, [Nome] respirou fundo ao ver a pequena janela fechada, a luz fraca naquele ambiente quase escuro. — mas sua irmã vai estar bem, pode ter certeza. Aqui é a senha, podem ficar a vontade.
Saiu deixando a porta aberta, [Nome] agradeceu, observando ela voltar a escrever em uma caderneta.
Empurrou a cadeira de rodinhas para o lado, ficando na frente do computador enquanto ele pedia uma senha para acessar as filmagens passadas.
Manjiro se encostou na mesa de metal enferrujada, observando a sala com um desinteresse palpável.
Voltou dois dias, parando quando o horário na tela dizia que eram oito da manhã, deixando que as imagens passassem mais devagar, até chagar de madrugada.
As três e cinquenta reconheceu o carro de Takemichi passar na tela, depois Saiko, e ficou esperando ver se a moto viera mesmo por aquela rota.
Com um minuto de diferença, a Yamaha mt passou, a imagem do motoqueiro voltando a mente dela, completamente coberto, sem placa e a viseira abaixada.
Quando ele sumiu, [Nome] voltou e pausou, passando a língua no lábio inferior enquanto Manjiro absorvia cada detalhe da imagem.
— Uma 09. — ele especificou, revirando os olhos ao ver a expressão dela.
— E a prova de que estou certa.
Sano não disse nada, apenas observou a tela com a estática ondulando o motoqueiro.
— Espero que esteja satisfeito, ou eu posso copiar as imagens para convencer Kisaki. — ele a olhou, como se estivesse ofendido.
— Ele não precisa ser convencido de nada, eu já vi. — pegou o celular, digitando enquanto ela tentava não espiar.
[Nome] gostaria, e muito, de estar lá quando dessem a notícia ao capitão de Saiko. Mas a expressão do loiro não mudou, parecia que ele já esperava aquilo, ou já soubesse o que ia acontecer.
— Certo... — a desconfiança ainda a incomodava, mas decidiu voltar as filmagens até aquele momento, vendo uma criança entrar na loja no mesmo instante que escutou o sino.
— Ainda não achamos esse homem, e Saiko nega qualquer envolvimento de outras pessoas.
— Apenas mais duas ruas levam até o galpão, eu vim por essa e, como mostra na filmagem, Saiko estava mesmo me seguindo. — tirou o celular do bolso, clicando na imagem das marcas de pneu que tirou. — essa foto é um pouco antes do cruzamento dessa rua com a área do acidente.
Ele olhou a foto por cinco segundos antes de voltar a olhar [Nome].
— Marcas de moto. — fez uma breve explicação do que suspeitava, não se deixando intimidar por sua figura séria a luz fraca. — isso não é coincidência.
Cruzou os braços, esperando que Manjiro dissesse alguma coisa, mas ele apenas a encarava. Havia deixado alguma coisa passar? Não tinha como ter forjado o que passava pela filmagem, era verídico.
— Parece que está inquieta. — o modo como desviou do assunto fez [Nome] revirar os olhos.
— Não fuja do assunto, acha que isso é coincidência?
— Não, não acho.
Um calor escondido dentro dela aqueceu seus pulmões ao respirar. Ela se endireitou e se afastou do computador, ansiando sair daquela pequena sala.
— Então isso está resolvido. — caminhou até estar pisando no piso florido, parando apenas ao estar em frente a senhora.
— Achou alguma coisa, querida? E seu namorado, aonde está? — indagou limpando as mãos em um avental, [Nome] encarou os recém pães de mel colocados atrás do vidro.
— Não somos namorados, e infelizmente não achei. — um olhar triste tomou o rosto por trás dos óculos. — mas não me deixa menos confiante.
Manjiro voltou arrumando corrente, quase como se o incomodasse. Ela viu a tatuagem de relance antes dele se colocar ao seu lado.
— A polícia não tem nenhuma pista?
— Ela está mais preocupada em brincar de gato e rato com a Toman do que em fazer o próprio trabalho. — viu a atenção que o Sano depositou em si pelo o reflexo da vitrine. — pode empacotar dois pães de chocolate, por favor?
— Ah, claro.
Ela foi rápida e pegou os mais recheados, [Nome] poderia esquecer da mentira que contara simplesmente em sentir seus aromas.
Pagou e saiu ao ressoar do sino, a imagem da senhora desejando boa sorte cravada na mente.
Aquela cena a lembrou de uma avó que nunca viu fora das pinturas e fotos, de uma avó que queria levá-la para conhecer o mundo.
— Não disse se está mesmo tudo resolvido. — se virou ao Sano.
— Você não me deixou falar nada.
— Teria falado se quisesse. — retrucou, o vento balançou seus cabelos loiros, e quis não ser tão curiosa a ponto de querer saber o que estava tatuado em seu pescoço.
Tatuagens de gangues eram bem específicas, ainda mais de líderes. Entretanto, daquele ângulo, ela não conseguia distinguir nada mais que riscos pretos.
De repente sentiu o pulso queimar, a vontade de tocá-lo forte e tão irritante que, se pudesse, arranharia a pele.
Deveria dormir mais, estava pensando em coisas desnecessárias com uma frequência desagradável.
— Diga a Takemichy que esse assunto acabou.
— Por que você mesmo não diz? — inclinou a cabeça.
— Não tenho tempo. — deu de ombros.
— Mas para me seguir tem, que irônico.
— Já disse, não estava te seguindo.
— Apesar disso, ainda está aqui. — sorriu de lado ao ver que ele ficou sem uma resposta pronta.
— Unicamente para ver se você conseguiria provar inocência.
— Não precisava vir atrás de mim para isso, eu te ligaria se achasse alguma coisa. — disse sem dar muita importância, voltando a comer o pão.
A cada segundo a brisa ficava mais fria, e ficar parada naquela calçada esperando congelar não era uma opção.
Como se lesse seus pensamentos, o celular de Manjiro tocou.
— Vou tomar menos o seu tempo se você educar melhor seus homens, Sano.
Cantarolou ao passar por ele, não se esforçando em acobertar o sorriso de ter o feito engolir a provocação que lançou a ela.
Não teve uma retórica por parte dele, contudo, momentos depois o Aston Martin passou ao seu lado, o estampido do motor uma resposta não dita.
☾︎
Seu período tinha vindo três horas depois. Apesar da cólica que sentia em intervalos de cinco minutos, ao menos explicava o por quê de suas emoções estarem mais afloradas ultimamente.
[Nome] pegou uma bala de menta da vasilha de vidro, deixando a embalagem junto com as outras várias sobre a mesa bagunçada, papéis jogados no chão e empilhados de qualquer forma, pastas misturadas. O papel de parede estava descascado.
Para um advogado tão renomado, aquele escritório estava decaído.
A porta fez um estalo que ela julgou não ser normal ao ser empurrada e aberta, revelando o homem com a barba por fazer e uma maleta pequena na mão.
— O qu– como entrou aqui?! — ele observou a forma como [Nome] estava sentada na cadeira atrás da escrivaninha, em como seus pés estavam descansando na mesa.
— Pela porta, senhor Kaito.
O advogado deixou cair a maleta no chão, analisando a fechadura a procura de algum sinal de arrombamento, e [Nome] quase se sentiu ofendida por ele achar que cometeria um erro daquele tipo.
— Olha, mocinha, isso é invasão de privacidade, saia agora ou vou chamar a polícia.
— Hum. — o olhou de cima a baixo, pegando outra bala, a janela de vidro atrás dela mostrava um bairro pouco reconhecido de Tokyo, mas ao longe, podia ver os enormes prédios da avenida. — sou uma cliente, deveria me tratar melhor.
— Não, é uma invasora! E tire os pés da minha mesa!
A força que ele fez ao bater as mãos na mesa balançou o vaso de flores, [Nome] abanou a mão tranquila, o mandando se sentar.
— Tenha mais postura, vim porque temos negócios a tratar.
— Que tipo de negócios? — Kaito olhou a moldura pendurada na parede de relance, ela riu baixo.
— Eu tirei a câmera escondida ali, o gravador de voz e — puxou a pistola da cintura, a girando na mão. — isso, está carregada, mas não é tão eficaz quando a deixa trancada na gaveta.
Enfim ele se jogou na cadeira a frente dela, a expressão de cansaço misturado com um ódio palpável.
— Quem te enviou?
— Ah não, sou apenas uma cliente. — um sorriso estampou o rosto de [Nome] ao se endireitar e se aproximar da mesa, descansando o queixo nas mãos.
— Por Deus, [Nome] Miyazaki... — Kaito alisou a barba nervoso, os olhos se arregalando devagar enquanto sua face ficava pálida. — você não morreu?
A jovem piscou uma vez, então duas e três. Esperava um insulto ou uma ameaça, mas saber que achava que ela havia morrido era uma novidade.
— Esqueça, o que está fazendo aqui? — deu de ombros, tentando esconder seu visível nervosismo.
— Fiquei sabendo que não trabalha mais para a família Kaede.
— Eu pareço alguém que trabalha para sua laia?
Se encostou na cadeira de rodinhas, analisando o casaco velho cobrindo o corpo outrora robusto. O velho a frente dela a lembrava mais um desempregado desesperado que um advogado.
— Não sei... Talvez você goste dessa vida mais modesta. — riu quando ele franziu a testa em irritação.
— Diga o que você quer.
— Voltei recentemente ao Japão e descobri que Hiroshi está usando minha herança, quero saber como.
Descascou outra bala enquanto Kaito a olhava ansioso, como se esperasse que [Nome] subitamente atirasse com a pistola que segurava.
— Não vai conseguir nada comigo, fui despachado há muito tempo.
— Fingir inocência não vai ajudar a sua situação.
— E qual é a minha situação?
— Bem, eu não estou com muita paciência no momento, então vai descobrir logo se não me responder claramente. — voltou a apoiar os pés na mesa, aquela posição estava ajudando com as dores e despertava a ira de Kaito.
Eram duas coisas agradáveis.
— A última vez que servi ao Kaede foi há anos... Quando a notícia que você tinha desaparecido surgiu. — suspirou, parecendo estar desconfortável. — ele estava... Esquisito, tinha muitos agentes judiciários na casa, muitas pessoas, mal tive tempo de perguntar o que estava acontecendo antes dele me demitir.
O incômodo que a atingiu foi quase nada comparado com os sentimentos guardados formando uma tempestade dente de si.
Então notaram que ela havia sumido. Apenas não ligaram.
Usar a desculpa de que [Nome] estava desaparecida — ou morta — poderia abrir um caminho para seu dinheiro, entretanto, não estava, e um único período de tempo não significava nada, não era? Quando a notícia de que estava viva se espalhou deveria ter congelado as ações de Hiroshi, mas não congelou.
— Você foi útil. — falou ao se levantar, pegando mais três balas e colocando no bolso do casaco. — talvez eu te contate novamente.
— Da próxima vez, marque um horário com a minha secretária, e não se sente na minha mesa de novo! — Kaito engrossou a voz, tentando passar uma autoridade que não tinha.
— Você não tem secretária. — sorriu de lado, se inclinando sobre a mesa com a pistola balançando em mãos.
— D-devolva minha arma.
— Olha, Kaito, ninguém sabe que eu vim aqui. — retirou as balas tranquilamente, brincando com elas na palma da mão. — e obviamente, não vou contar, então, se alguém descobrir sobre minha visita, minha lista de suspeitos vai ser resumida a... Você. — jogou a arma no seu peito, ela quicou e rolou no chão cinza. — entendido?
— S-sim, senhorita.
— Ótimo, aprendeu rápido.
Saiu diretamente para a rua com um sorriso sínico no rosto, enfiando as mãos e o cartucho nos bolsos, arrumando o cachecol ao redor do pescoço.
Mas o frio não estava passando, parecia estar impregnado em seus ossos, de um modo que ameaçava ser devastador.
Talvez o frio estivesse vindo do interior dela, e nenhum agasalho conseguiria esquentá-la.
☾︎
A facilidade que teve em acessar o sistema de segurança da IAK – Indústria Automobilística Kaede – foi tanta que [Nome] quase dormiu debaixo do lençol felpudo.
Quebrando outro pedaço de chocolate, ela clicou no teclado do notebook novo, observando os vários números passando na tela, ao lado da logo ridícula que consistia aquelas três siglas.
Tentou não fazer uma careta.
Mudar o nome da empresa tinha sido muita sacanagem.
A tela se dividiu em duas, sorrindo ao adentrar mais o servidor e ler informações deliciosas. Um carregamento grande havia chegado durante o dia em um dos muitos armazéns de [Nome], a maioria das formidáveis peças iriam ser despachadas logo cedo para uma empresa internacional de muita importância.
— Isso deve ter rendido muito dinheiro. — sussurrou com um sorriso malicioso.
Ao mesmo tempo que ficava maravilhada com a quantidade de dinheiro que poderia ter, se preocupou com o nível de segurança que os protegia. Com tantas falhas e com o tédio que ficou ao acessar, quem garantia que outras pessoas não entrariam também? Seria terrível se alguém com más intensões roubasse seu dinheiro.
Um certo grau de satisfação atingiu ela ao abrir outra página, observando todos os zeros que formavam aquela conta milionária.
O tanto de dinheiro que aquela única carga rendeu era maravilhosamente exorbitante, o que não explicava Hiroshi estar em crise.
Será que ele tinha se afundado tanto em dívidas que aqueles milhões não eram suficientes?
Deu de ombros, entretanto, guardando a informação no fundo da mente ao clicar em outra tecla. Então os números começaram a cair de uma forma avassaladora, enquanto o saldo nas outras contas subiam rapidamente.
Bebeu do chocolate quente que fizera, o gosto doce aguçando todos os seus sentidos. Mesmo se alguém notasse que o saldo bancário de uma das contas de Kaede estava caindo daquele modo, ninguém conseguiria parar a ação, muito menos descobrir quem fizera.
Okay, ela deveria dar algum crédito a Adrien, ele foi sua primeira vítima, e conseguiu o enganar durante um bom tempo. Foi pega seis meses depois.
Achou que ele fosse querer arrumar confusão, mas pelo contrário, ele riu alto, contando a [Nome] sobre como havia descoberto e falado como deveria fazer para evitar isso.
Porque estavam do mesmo lado.
Porque, segundo ele, era muito boa no que fazia.
Os sistemas de proteção instalados nos notebooks que havia comprado mais cedo eram de criação dele, modificadas por ela e com a única função de ocultar qualquer indício que [Nome] era a culpada.
Naquele momento, estava sendo bem útil, e o dinheiro continuava entrando em contas que pareciam aleatórias, mas eram todas dela.
Estava sendo fascinante.
Tudo aquilo era de [Nome], que mal fazia comer um pedaço do bolo antes da hora?
Calculou se esvaziar apenas aquela conta seria o suficiente para fazê-lo perder o final de semana tentando descobrir quem foi e, com isso, deixar Hayato em paz por mais tempo.
Porque ele não podia enviar a carga se todo o pagamento havia sumido, seria uma perda imensa, mas nada como ser mal visto pelos empresários internacionais.
Ela queria saber o que ele faria: enviaria as peças para esconder que foi roubado e ficar em bons lençóis, ou desfazer a venda, ficar com a carga e devolver todos os milhões?
De um jeito ou outro, perderia.
E pensar que em algum momento havia cogitado a ideia de reconciliação.
Certo, não foi com a ideia de ir embora e deixar uma boa imagem que acessou o computador de Hiroshi no mesmo dia em que chegou.
Mizuki ainda estava tentando aceitar o fato que a filha tinha voltado e [Nome] não impediu quando ela resolveu ir deitar para se acalmar.
Nem Hiroshi nem o irmão estavam presentes durante sua chegada, então nada a impediu de acessar os aparelhos.
Entrar não foi difícil, conseguiu rápido, até, antes mesmo de ir passar a noite com Naomi. Acabou que foi coisa demais para ela analisar na hora, então roubou algumas informações, deixando um vírus no computador que permitiria que [Nome] acessasse quando quisesse.
[Nome] não acreditava que tudo daria maravilhosamente certo apenas porque queria.
As coisas dariam certo se ela fizesse o trabalho direito.
Quando aquela conta bancária ficou zerada, ela entrou em outra, refazendo aquele processo que deixava seu sangue correr mais rápido em animação e excitação.
A época em que era negligente havia acabado.
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