Avisos:
Oii gente, quero começar agradecendo pelos 19k, às vezes eu olho e fico desacreditada, sério amo vcs.
E tbm quero pedir desculpas pelo atraso em postar cap novo, mas vai acontecer muita coisa ainda, e não quero me embolar com os acontecimentos - pq eu sou muito sonsa.
É isso amores, perdoem se tiver algum erro.
Boa leitura ♡
☾︎
— Pode ao menos prestar atenção? — [Nome] revirou os olhos, bebendo um gole grande do whisky recém colocado no copo.
— Sim, sim, e você dizia?
— É, o que eu dizia?
Tirou a atenção do líquido âmbar e encarou os olhos verdes de Adrien, qual estavam tediosos e tomados por um toque de infantilidade.
— Você ficou bem ruivo, melhor que preto.
Analisou, ele tocou uma das mechas recém pintadas e repicadas, esfregando entre os dedos como se fosse palha, depois os jogou para trás.
— Nada como meu cabelo natural, infelizmente — sorriu com certo deboche. Ela sabia como a autoestima dele era acima da média, então guardou o pensamento de que ele tinha, mesmo, ficado lindo com os cabelos alaranjados para si mesma.
— Ossos do ofício.
Dessa vez ele não reclamou enquanto ela bebia um pouco. Achou que alguma coisa séria tinha acontecido quando ele ligou e a chamou até um bar simples e sem muito movimento, contudo, assim que chegou, o encontrou vestindo calça e blazer pretos sobre uma blusa de gola alta azul escuro, todo cheio de sorrisos e um bom humor.
E o xingou por isso, deixando sua frustração à mostra, enquanto sentava ao lado dele na banqueta, pegando a garrafa cheia e se servindo dela.
— Talvez eu coloque um piercing, mas acho que por enquanto o cabelo está bom.
— Você já não tinha furado?
— Sim, mas eu não gostei — se mexeu ao lado dela, tirando um tablet da bolsa lateral sobre a bancada de madeira — Você também tinha, não era?
— Uhum — prestou atenção ao ver ele começar a tocar rápido na tela — Me chamou só para ver seu novo disfarce?
— Sim e não — Adrien enrugou levemente o nariz, abrindo e fechando pastas no dispositivo antes de arrumar a capinha e deixá-lo apoiado entre os dois, a tela pausada em um vídeo com fundo preto — Arata está morto, certo? Só que pelo o que eu me lembro, o homem francês não teve contato somente com ele.
— Adrien — alertou séria, sabendo exatamente aonde ele queria chegar e que não deveriam falar sobre aquilo em público.
— Me deixe terminar! Nossa, você está com um humor daqueles hoje — resmungou, [Nome] sussurrou um xingamento — Hidetaka Sato também estava, e como não podemos perguntar nada aos mortos...
O tom sugestivo dele a fez beber outro gole, o líquido clareando e limpando a mente.
— Olha, eu não cheguei a conhecer aquele cara, o francês, mas você sim e, se você o conhecia e ainda gravou o rosto dele, significa que ele é importante, não é?
Foi uma pergunta retórica, mas seu silêncio foi uma resposta. De fato, o homem estava entre o quinto ou o sexto nível. [Nome] o havia visto poucas vezes, mas todas elas em momentos tensos o suficiente para saber que ele não era pouca coisa.
— Não pode ser coincidência ele estar aqui e fazendo negócios com a Toman quando outros agentes estão se esgueirando pelas ruas, e não faça essa cara, porque sei que você já pensou nisso.
Disse com um sorriso de cúmplice, exibindo todos os dentes brancos.
— O que garante que aqueles eram os únicos? Podem ter outros deles por aqui, e não sabemos — [Nome] não demonstrou que tudo o que ele havia dito já tinha passado na cabeça dela, mas devolveu o sorriso.
— Você ainda está escondido, por que está preocupado com o que acontece no Japão?
— De todos os países que eu visitei, esse é o mais receptivo, gosto daqui — apoiou o cotovelo na bancada, parecendo despojado. — além de que não quero me ver no meio de algo entre a Toman e a França, não sem saber o que está acontecendo.
— Cauteloso — disse, bebendo outro gole.
— Você não teria se interessado em mim se eu não tivesse outras qualidades além da minha evidente beleza e senso de humor — riu, mas ela pensou no que ele estava dizendo, realmente considerando a possibilidade.
Adrien não sabia que Arata era subordinado de outra pessoa, o que significava que, se ele estivesse fazendo negócios com a França, as chances da Toman estar envolvida eram mínimas.
Claro, não era uma porcentagem nula, mas a balança pesava mais para o outro lado.
— Manjiro tinha um relacionamento complicado com Arata, do tipo "eu te uso mas não confio", mas não sei se é o mesmo com Hidetaka — aquilo foi o máximo que conseguiu dizer a ele sem expor muito.
— Bem, você tem ele do seu lado, não tem? O Invencível Mikey.
— E isso você supôs antes ou depois de pintar o cabelo? — devolveu o deboche, mas o sorriso dele vacilou.
— Ah, isso… eu achei uma coisa interessante nos arquivos da Toman — ela ignorou o fato dele estar entrando nos sistemas da gangue, falariam sobre aquilo depois — eles estão fazendo uma ficha sobre você, óbvio, nada novo, mas o que me chamou atenção foi a quantidade de detalhes.
[Nome] observou quando ele desviou o olhar para o tablet.
— Que tipo de ficha?
— Ainda não consegui distinguir os tipos, mas da primeira vez que entrei, li apenas informações básicas, depois vi que foi alterada, colocando coisas mais específicas e que não deveriam ter importância já que não tinha nada parecido nas outras… suas aulas de piano foram adicionadas recentemente, não sabia que tocava.
Ela cruzou as pernas, a saia branca subindo por suas coxas enquanto o salto prata batia no apoio de metal da banqueta.
— Não se preocupe, não achei nada importante — sabia o que ele queria dizer quando frisou a última palavra, mas deu de ombros.
— Não estou preocupada — Adrien riu, quase uma gargalhada.
— Eu estou foragido, docinho, não morto, fiquei sabendo das façanhas que fez com Mikey e, mesmo assim, não foi penalizada. Não acha estranho? Porque eu acho.
Manjiro tinha dito que Takemichi intercedeu por ela uma vez, mas qualquer um com cérebro sabia que o poder que o primo exercia na gangue tinha um limite.
Um que não seria ultrapassado se o Sano quisesse.
— Posso lidar com o humor de Manjiro — a face do mais novo ruivo se iluminou em animação.
— Sei que pode, por isso resolvi adiantar um lado para você — apontou para o tablet — eu me dei permissão para investigar sobre Hidetaka nos arquivos, e sabe o que eu achei?
Aquelas paradas dramáticas ainda acabariam com ela.
— Nada. A ficha dele foi totalmente apagada do sistema básico, mas eu continuei procurando e dei de cara com uma coluna de nomes — ele abriu uma página sobre o vídeo. — A foto dele está no vermelho, junto com Arata.
— Significa que ele morreu? — indagou, aquilo poderia explicar porque não o achou depois da morte do chefe, mas o francês negou com a cabeça.
— Eu achava que sim, até me deparar com isso.
Adrien clicou e deixou o vídeo rodar pela tela, não tinha som algum e era de um palco de teatro, as lâmpadas brancas iluminavam o clímax de uma peça dos tempos antigos.
A atuação acabou e algumas luzes foram acessas, as pessoas levantaram para bater palma enquanto os atores se curvaram em agradecimento.
— O que isso tem a ver com Hidetaka? — Adrien deu um zoom na última parte, até o camarote mais perto da câmera de segurança.
Os rostos não eram nítidos, contudo, também não eram indecifráveis. Reconheceu Sato primeiro, trocando uma maleta com um homem de terno branco vigiado por três seguranças mais afastados.
Todos japoneses, uma parte dela ficou aliviada por não ser mais agentes de Marcel, e da mesma forma que aquele alívio veio ele foi embora, deixando um amargor tão forte no estômago dela que o álcool se embolou no fundo da garganta.
A tatuagem de pássaro estava exposta no lado direito do rosto do homem de terno branco. Um contraste grande entre as linhas pretas das asas abertas por sua bochecha e a pele alva.
— [Nome]? — os sons voltaram a seus ouvidos, e de repente ela se lembrou que estava sentada com Adrien, as cores fortes da decoração do bar se misturando em sua frente causaram uma dor de cabeça tão forte que fez esforço para escondê-la.
— De quando é isso?
— De ontem. Hidetaka não está morto, apesar da Toman ter modificado a ficha como se estivesse.
As palavras desconexas francesas voltaram e causaram um desconforto nela.
A imagem do pássaro estagnada na mente.
Foi com esforço que levantou o olhar tranquilo para Adrien enquanto ele falava.
— Talvez seu primo saiba o porquê disso.
— Sabe onde ele está? — apontou para a tela.
— Não.
O sangue bombeou mais rápido em suas veias, sua mente enviava comandos por seu corpo, tentando fazer o oxigênio preso em seus pulmões circular.
Achou que fosse sentir repulsa quando se deparasse com aquele símbolo novamente, e não sabia se deveria ficar ou não feliz com o abismo de raiva inclemente e fria se instalando no fundo do peito.
[Nome] quis terminar de beber o whisky, quis levantar daquele banco e ir lavar o rosto no banheiro, mas não podia, não enquanto tentava ligar uma coisa na outra.
Seu rosto estava tão sereno que Adrien fez uma careta de desânimo.
— Por favor, não me diga que já sabia disso tudo.
— Não.
— Ah, é? Porque você não parece entusiasmada pelas novas informações, pelo contrário, parece que eu disse a coisa mais óbvia do mundo — desligou o tablet, o colocando de volta na bolsa — você não pode fazer esse tipo de coisa comigo, [Nome], eu sou sentimental.
Um meio riso escapou dela, o qual vinha misturado com uma alegria morta.
— Ah, eu esqueci o quanto você é sensível. — acabou com a bebida em grandes goles rapidamente, antes que ficasse quente — vou ver o que eu descubro.
— Certo, esse é o meu novo endereço.
Adrien empurrou um envelope sobre a bancada, ela o abriu e tirou o cartão que o entregara, um pedaço de papel com um endereço e um número novo de celular.
— Queria ter te levado lá, sabe, mas eu ainda não decorei — riu — Por enquanto, esse vai ser meu número, me procure se quiser saber alguma coisa, ou se descobrir.
— Não sei, acho mais fácil você me procurar, já que anda fazendo coisas que eu não mando ultimamente — suas palavras deveriam ter saído irônicas, se tivesse sobrado algum pingo de bom humor nela, mas não saiu, e Adrien ficou tenso.
— Eu sei que sai da linha, mas não vai acontecer de novo.
[Nome] tinha pensando uma vez, há muito tempo, que um dia eles poderiam ser amigos. Claro, aquilo foi antes da bomba explodir e ela se sentir tão perdida quanto uma agulha no palheiro.
Mas naquele momento, parecia ser uma realidade que não aconteceria nunca.
Ela não parecia ter o que era preciso para sustentar um vínculo sincero, fosse ou não amizade, sabia que as coisas funcionavam com Emma e Naomi porque elas não sabiam tudo. Não a conheciam e, se chegassem a conhecer, as coisas iriam se encerrar de uma forma dolorosa.
— Não é uma crítica — abanou com a mão, não tentaria sorrir, não sabia se conseguiria. — isso foi um significativo avanço.
Ele franziu as sobrancelhas apenas meio tom mais escuras que os cabelos, provavelmente estava pensando o quanto poderia brincar naquela situação, se ela estava irritada com sua recente captura ou se era confiante o suficiente para lembrar do sequestro e rir, como se tivesse sido uma piada de fim de noite.
— Comprei a moto, aliás — piscou um olho, voltando a exibir aquele sorriso ladino digno de suspiros. — se precisar de uma carona, basta me ligar.
— De super hacker inteligente e coletor de informações para meu motorista, que vida.
— Como você disse, ossos do ofício — respondeu em francês, rindo anasalado.
A jovem pegou a pasta e levantou, tirando o celular do bolso e o balançando devagar, aquele gesto significava que ele podia ligar se precisasse e substituia palavras de despedidas que ela com certeza não queria falar.
O vácuo preso no peito estava estagnando seus sentidos, fazendo todo o avanço que tivera nos últimos dias serem insignificantes comparados àquele sentimento fútil.
Desejou ter uma garrafa de água em mãos e beber até o incômodo ácido no estômago não existir mais.
O sol do lado de fora estava alto e quase ofuscou seus olhos, mas [Nome] estava tão focada em amenizar sua inquietação que não se importou com sua tranquilidade ameaçando ir embora.
Desceu a rua, agradecendo pela cólica ter amenizado, pelo frio do dia anterior ter sumido e estar usando uma saia com um body preto sem alças no lugar de um grosso casaco e calças. As pessoas ao redor pareciam estar indo para um dia ensolarado na piscina, elas riam e arrumavam as bolsas de praia nos ombros.
Apertou o celular nos dedos, respirando fundo e tentando silenciar as risadas tão familiares no fundo da consciência dela.
A pequena vibração a fez se assustar pela volta repentina à realidade, lendo o nome do irmão na tela. Forçou um sorriso no rosto, deixando sua voz tranquila enquanto atendia, espantando a ardência na garganta.
— Bom dia, querido.
— Muito bom dia — conseguia ver a feição animada dele na mente.
— O que aconteceu para você estar me ligando tão feliz às 08:00 da manhã?
— Vou chamar a Yoko para sair hoje — ela agradeceu pelo irmão não ver seu revirar de olhos.
— E a boa notícia?
— Não seja assim — resmungou, [Nome] riu baixo.
— Relaxa, estou brincando, boa sorte com ela, vai precisar… — sussurrou as últimas palavras, mas teve certeza que ele ouviu — você não deveria ir viajar com Hiroshi?
Indagou, cinismo em cada palavra enquanto o que queria mesmo perguntar era o que Hiroshi havia feito com sua terrível perda da noite anterior.
— Meu pai teve que sair antes do café da manhã, a viagem foi adiada por tempo indeterminado.
Pura satisfação tomou seu rosto, e [Nome] abraçou aquela sensação.
— Ele disse o motivo?
— Não, ele saiu antes que eu perguntasse, e mesmo se tivesse, ele não responderia.
— Hum — fez como se tivesse dado de ombros, mas foi uma informação inegavelmente boa — que pena.
— Ah, que pena nada — ela escutou o som de pratos e uma torneira aberta, ele provavelmente tinha acabado de tomar café da manhã — vim te dizer que vou fazer o que disse, arriscar o cinema, e se der merda, a culpa é sua.
— Eu disse o que o que me agradaria se eu fosse uma colegial.
— Até parece que você, que gostava de brincar escondida com os colares de ouro da mamãe, iria ficar satisfeita com uma caixa de bombons e um cinema sábado a noite.
— Qual o problema de gostar de doces e jóias? São duas coisas que eu acho um ótimo presente.
— Bombons são simples demais, e jóias são… muito chamativas para um primeiro encontro.
— Jóias nunca são chamativas demais — afirmou, como se estivesse ofendida.
— Certo, então jóias — falou, considerando a ideia.
Era muito fofo a forma como Hayato estava se esforçando para agradar Yoko, pensando em presentes e ficando receoso com sua reação caso a chamasse para sair.
Ele parecia estar tendo uma adolescência normal, e apenas aquilo valia todo o resto.
Fazia tudo valer a pena.
— Eu vou me preparar, tenho que sair e ver qual compro.
— Vou querer saber o que aconteceu depois.
Hayato murmurou um Okay, completamente disperso nos pensamentos. [Nome] desligou a chamada com um sorriso no rosto, mas qualquer um que visse saberia que ela não estava feliz.
☾︎
A primeira coisa que [Nome] notou ao entrar foram os dois seguranças parados na porta do escritório do primeiro andar.
Eles usavam óculos escuros e tinham todo aquele estereótipo de segurança mal encarado dos filmes. As mãos para trás e comunicadores nos ouvidos.
Poderia ter tentado localizar Sasumo e saber o que estava acontecendo, mas optou por poupar tempo e uma paciência que não tinha quando se aproximou deles.
— O que estão fazendo aqui? — indagou quase simpática, mas eles não se mexeram ou respiraram fora do padrão, apesar do homem da esquerda ter engolido em seco.
Antes que ela pudesse fazer alguma coisa, a porta dupla se abriu, e eles tiveram que se afastar para a pessoa passar. Ele possuía óculos de armação cinza, os cabelos bem arrumados estavam jogados para o lado e sua feição estava mais para entediado do que para tranquilo.
Ele a olhou dos pés à cabeça, suas sobrancelhas levantaram em reconhecimento.
— [Nome]? Estava me procurando? — seu primo surgiu atrás, usando um terno de listras combinando com a gravata verde. Sasumo era quase uma porta em comparação aos dois, e não precisava fazer esforço para observar.
Analisou a situação em segundos, sabendo que se tratava de uma reunião da Toman e que provavelmente não deveria estar ali.
— Não Take, só fiquei curiosa com esses simpáticos rapazes na sala — sorriu, o segurança da direita virou o rosto para longe dela.
— Não me impressiona seus subordinados falarem assim com você — o homem de óculos ralhou, [Nome] estava reconhecendo ele e o olhar irritadiço — você deveria mostrar o mínimo de respeito quando fala com seus superiores.
— E quem é você? — perguntou, Kisaki franziu a testa.
— Ainda não fomos devidamente apresentados — a olhou fixamente, de uma forma que poderia deixar qualquer um desconfortável.
— Ah, então eu não tenho que dar satisfação para alguém que sequer sei o nome — deu de ombros.
Kisaki suspirou, igual se faziam quando falavam com crianças respondonas, mas [Nome] já tinha deixado gente o suficiente irritada para saber quando alguém queria estapear-lá.
E era exatamente esse ar que Kisaki exalava.
Contudo, ele era muito bom em disfarçar, se ela não estivesse prestando tanta atenção nele, teria deixado passar.
Se irritava rápido, e escondia bem? Aquilo sim seria interessante.
— Vamos — Kisaki chamou os seguranças.
— Leve eles até a saída — Takemichi mandou com um sorriso brincalhão, Sasumo não falou nada enquanto escoltava os três para fora — cara, ele é tão irritante.
[Nome] relaxou os ombros, sentindo que o clima entre os dois não estava mais tão robótico, porque foi o que se instalou quando ela voltou do escritório de advocacia, se falaram de forma rápida, parecendo um diálogo forçado.
Aproveitou para falar sobre seu sucesso em desmentir Saiko, e ele ficou tão aliviado em saber que tudo tinha ficado bem que fez poucas perguntas sobre a interação do Sano, apesar de ter ficado visivelmente desconfiado com sua aproximação.
Também teve que usar todo o autocontrole que tinha para não perguntar sobre o que descobriu com Kaito.
Sentou no sofá, chutando os saltos para evitar pensar que talvez Takemichi sabia, talvez Mizuki tivesse ido pessoalmente contar a ele, apenas para ver sua reação.
— O que ele estava fazendo aqui? — perguntou assim que seu primo sentou ao seu lado.
— Eu tinha algumas coisas para resolver com ele, não recusei quando sugeriu vir aqui — suspirou cansado. — Saiko morreu.
Avisou, e [Nome] esqueceu dos outros assuntos enquanto processava a informação.
— Morreu? — ele tinha simplesmente morrido depois do trabalho que teve em provar a Manjiro que estava certa?
— É, Kisaki foi bem detalhista, não foi bonito — virou de lado, esperando que contasse como tinha acontecido, mas Hanagaki fez uma careta — não vai me fazer relembrar isso.
— Ah, qual é — revirou os olhos — por que ele morreu, então? Isso você pode dizer.
— Porque irritou Mikey — começou a jogar uma almofada para cima e para baixo, em claro nervosismo — isso foi ontem, e eu fiquei sabendo só agora! Eu deveria ter escutado sobre isso antes, ou pelo menos gostaria que outra pessoa viesse me contar.
Fez uma cara emburrada, abraçando a almofada no colo enquanto afundava o rosto nela.
— Já que esse assunto te deixa desconfortável, priminho, vamos falar de outra coisa — ele caiu na provocação, girando o rosto para olhá-la — onde está sua mãe?
Ele provavelmente esperava algo mais impactante — ou importante — porque sua face se suavizou.
— Ah, desde que eu consegui subir na vida, deixei que ela viajasse por aí.
Tocou disfarçando o ferimento coberto da facada, [Nome] percebeu que era um hábito que ele tinha pegado.
— Mas é bom, sabe, ela não estar aqui, é muito perigoso — sorriu pequeno, mas seu primo sempre foi muito ruim em esconder a tristeza.
— Faz muito tempo que ela foi?
— Uns anos, a última vez que conversamos ela estava na Bélgica.
Bélgica... Um país que ela nunca tinha ido. A relação que tinha com a tia era difícil, mas nada comparado com a de Takemichi e Mizuki. Elas nutriam um sentimento semelhante à amizade, mas nunca foram tão próximas.
— Que inveja, parece que eu sou o único da família que nunca saiu do Japão — disse, quase como uma acusação.
— Até aquele seu primo esquisito? — não conhecia muito bem a família por parte do pai dele, mas lembrava da feição estranha daquele menino. Ela nunca gostou da forma como ele a olhava.
— Ah, ele não conta.
— Bem, dependendo de para onde você quiser ir, melhor ficar aqui mesmo — foi um aviso velado, mas como ele nunca foi muito bom de ler nas entrelinhas, não percebeu.
— Fala isso porque já enjoou de viajar, experimenta ficar presa a um lugar sem saber quando vai sair.
— Posso fazer uma lista de lugares inesquecíveis para você visitar — desenhou um sorriso no rosto.
— Para de tirar uma com a minha cara!
— Estou falando sério, idiota — deu uma cotovelada de leve em seu braço.
— Hum, então… um lugar para lua de mel, talvez? — sugeriu com as bochechas avermelhadas.
— Para quem não lembrava de uma aliança, está muito preocupado com as partes boas — ele jogou uma almofada nas pernas expostas dela — Okay, posso providenciar um ótimo lugar para a sua noite de núpcias — riu levantando do sofá, se esquivando de outra almofada.
— Você é impossível!
— Impossivelmente legal, eu sei — mandou um beijinho, abanando a pasta entre os dedos.
Girou a chave na fechadura e empurrou a porta do quarto, fazendo uma careta ao ver a bagunça sobre a mesinha de cabeceira, os panos bagunçados e as garrafas vazias nos pés da cama. Parecia o quarto de uma universitária poucas horas antes de uma prova. O pensamento a fez rir, tecnicamente era uma universitária, mesmo que tivesse participado de poucas aulas.
Puxou a cortina sobre a janela fechada, apreciando o ar concentrado que planava ali dentro. Estava sendo um escritório provisório.
Depois de desviar o dinheiro de Hiroshi, [Nome] focou nos códigos franceses, não parando até ver o sol nascer através das janelas e de seu estômago emitir um barulho tão alto que a fez rir sozinha.
Sentando na ponta da cama, tirou uma sequência de cinco papéis da pequena gaveta, pegando e acendendo um baseado, sua ponta luminosa fez um rastro brilhante sobre escritas russas misturadas com alemão.
[Nome] achava a forma que escolheram de passar informações importantes por cartas e papéis interessante, em como eram inteligentes em evitar falar muito em ligações que poderiam ser grampeadas.
Ela sempre ficava de olho, interceptando uma ou outra até aprender tudo o que sabia sobre seus códigos.
Por isso não estava sendo uma tarefa impossível.
Mas se tratava de Marcel e seus joguinhos sem graça, então ser descuidada não era uma opção. Deveria decodificar e revisar, revisar novamente e tentar formar possíveis combinações para as palavras e lugares aleatórios.
Passou um dedo pela frase que havia empacado antes de receber a ligação de Adrien.
Elas eram as únicas que ainda não tinham uma tradução precisa, desde que as frases em italiano já estavam formadas e guardadas em folhas separadas. Apertou os olhos para as palavras, qual se referia a um... lugar afundado? Ou seria submerso?
Tragou a fumaça para o alto, apoiando uma mão para trás. Os homens da velha casa em Yokohama não eram, nem de longe, da alta patente, talvez estivessem no décimo segundo ou décimo terceiro nível, dois dos mais baixos e os que eram responsáveis por trabalhos quase inúteis.
Era no mínimo estranho terem tanta informação consigo.
Bateu a ponta do baseado no cinzeiro, pensando que talvez tivessem usado a mercadoria sem importância para não atrair atenção, desde que alguém dos três primeiros níveis não passariam despercebidos pelo Sano ou por qualquer um com o mínimo conhecimento sobre crimes globais.
Guardou os papéis na mesma gaveta, tirando a roupa enquanto amarrava o cabelo em um coque, sentindo as pálpebras pesadas pelo sono, deixando a água quente do chuveiro abraçar ela.
Tinha voltado ao costume de passar a noite acordada e cochilar durante o dia, mas seria terrível ficar atordoada na casa de Takemichi.
Não quando sabia que tipos como Sanzu podiam aparecer a qualquer momento.
Gemeu baixo ao lembrar dos lençóis sobre a cama, se imaginando rolando neles, sem conspirações tomando a mente, mas talvez tivesse um sonho ruim e retomasse a consciência procurando qualquer arma que estivesse por perto.
[Nome] já não sabia se era pior ficar acordada ou adormecer.
Precisaria de energia para os próximos dias, por isso colocou um curto babyDoll de renda e seda azul claro, se jogando na cama enquanto sentia o cheiro do hidratante nos braços.
Encarou o teto, notando que estava lidando com tudo melhor do que pensava.
A protuberância da pistola debaixo do travesseiro foi tão acolhedora que piscou com as lindas íris sonolentas, o rosto do Sano aparecendo em sua mente como um devaneio. A conversa que teve com Adrien fez surgir dúvidas, e ela pensou no motivo dele estar sendo tão receptivo.
Não fazia sentido a manter por perto sem estar visando outra coisa.
Pegou o celular, desbloqueando e indo até o histórico de chamadas, observando o número e todas as chamadas perdidas e dispensadas da última vez que ele havia ligado.
Um arrepio gélido correu pela espinha dela ao lembrar da tatuagem no pescoço de Manjiro, de como ela não sabia o que era. [Nome] suspirou irritada, deveria ter dado um jeito de ver melhor quando estavam se alfinetando no corredor.
Mas estava escuro, e não admitiria, mas se não tivesse ficado surpresa pela presença dele, a tatuagem não seria o primeiro lugar que iria verificar.
Passou uma mão pelos cabelos já soltos, desligando o celular e fechando os olhos. Não tinha desabado antes, e não o faria naquela altura do campeonato, não por simples lembranças ruins.
Não era mais uma criança apavorada.
Não era uma adolescente destruída se entalando com os próprios sentimentos.
Não importava se ainda sentia o peso daqueles acontecimentos montados em suas costas.
Podia aguentar.
— Eu caio se eu me permitir cair — sussurrou para si mesma, como se fosse algo sólido que pudesse agarrar.
Riu, mas se embolou com um bocejo, tapando os olhos com o antebraço depois de colocar o despertador para tocar em quatro horas.
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