𝑻𝒉𝒊𝒓𝒕𝒚 𝑶𝒏𝒆
O punho de Manjiro apertou ao redor da maçaneta, seu subconsciente ansiando por libertar seus sentimentos de alguma maneira, embora não conseguisse realizar tal feito no momento. Sua vontade era a de esclarecer o que queria e aplacar sua confusão e insatisfação.
Aquelas pequenas sensações estavam deixando o Sano indignado. Como poderia [Nome] influenciar seu humor a ponto de o fazer se sentir idiota no próprio corpo? Era ridículo a maneira que conseguia brincar com ele, mas com que finalidade? O que ganharia fingindo que coisas importantes não aconteceram? Que o encontro que tiveram, por mais antigo que fosse, não significava nada?
Tudo o que poderia querer jazia ali. Tinha a proteção da Toman sobre os ombros, com membros que estavam, nesse momento, trabalhando tanto para a conclusão dos planos da gangue e, consequentemente, para os dela também.
Planos esses até então ocultos.
Uma centelha de vergonha o atingiu, se sentindo desequilibrado por não saber o que fazer, desde que não poderia saciar o que o tentava, mas tampouco estava com disposição para as coisas que necessitavam dele.
Massageando a nuca, afastou tudo o que sentia e engoliu suas emoções, notando que Sanzu estava acompanhado de Kokonoi, embora os dois se abstivessem de começar a falar. Os pensamentos de Sanzu ficaram evidentes quando passou os olhos por seu corpo, procurando alguma falha em suas roupas ou marcas em seu pescoço, e essa inspeção o fez franzir as sobrancelhas.
Não seria ruim se ele estivesse certo.
— Problemas com o Tropical? — perguntou, tentando adiantar qualquer que fosse a questão, mas Hajime negou.
— A corporação Kaede distribuiu mais ações que o habitual nos últimos dias, e acho que seria bom para os negócios comprarmos uma parte.
O nome fez todos os esforços do Sano de não olhar para a maldita porta em suas costas e a mulher lá dentro serem inúteis. Seus pensamentos rondando em volta de uma Miyazaki em uma família com o sobrenome Kaede, sem motivo aparente. Sem um lado paterno registrado para lhe dar uma direção sobre essa diferença.
Piorou um pouco seu temperamento ser lembrado que as coisas que mais queria saber estavam sendo impossíveis.
Ele era Manjiro Sano, o impossível não deveria existir em seu vocabulário.
— Uma parte? Você geralmente quer comprar tudo.
— 50% das ações disponíveis no mercado já estão sendo negociadas por outra pessoa, poucos conseguiram comprar duas ou três e estou segurando a outra parte. Preciso de uma confirmação o quanto antes.
Ser avisado sobre assuntos empresariais era uma raridade. As finanças faziam parte da jurisdição de Kokonoi e as vezes de Inui, como mediador em alguns momentos formais.
— E não comprou ainda por quê? — sua resposta veio de Sanzu, que sorriu com certa ironia.
— Eles são muito seletivos quando se trata de novos acionistas, quase não liberam mais que duas vezes por ano. E agora estão distribuindo tantas ações? Eu acho suspeito, no mínimo.
— Desde quando você entende de negócios, Haruchiyo? — Hajime perguntou, parecendo irritado pelo obstáculo em sua nova aquisição.
— Desde nunca, mas entendo de charlatões, e o tipo desonesto é o que mais tem nesse meio aí — enquanto destilava suspeitas, tirou um baseado do bolso, acendendo com um aceno despreocupado — além de estarem cobrando um preço muito alto. Devem estar com problemas e, Kokonoi, se isso der merda, você vai ter que cobrir os gastos.
— Não sou idiota. Eu investiguei, não vou investir nosso capital em uma fraude. E estamos falando de uma multinacional renomada, temos muito o que ganhar.
Um suspiro de frustração ficou entalado na garganta do Sano diante daquele impasse que obviamente não queria fazer parte. Hajime não faria uma aposta se não tivesse plena certeza do sucesso, e através dele, os lucros estavam enchendo sua conta bancária, sendo uma parte essencial para a compra de novas armas e equipamentos. O tráfico ainda detinha poder nesse quesito, mas negócios do tipo empresarial dispensavam a preocupação da lavagem de dinheiro.
— Faça como achar melhor Kokonoi — o platinado sorriu com a conquista, não perdendo a expressão triunfante nem com a próxima fala de Manjiro — Mas qualquer problema, você que vai resolver.
— Garanto que não vai haver nenhum.
Sanzu passou uma mão nos cabelos quando ficaram apenas os dois. Ele não parecia ter se importado em perder naquele embate. Na verdade, estava mais tranquilo que antes, talvez vir tentar importuná-lo fosse o que quisesse desde o início.
— Você achou alguma coisa no apartamento de Kojirou? — indagou, começando a andar para o andar de baixo e indicando que Haruchiyo o acompanhasse.
— Reviraram tudo, e até agora, nada. Apenas alguns contratos antigos que firmou com Kaede, mas isso não é válido.
E nada que indicasse o porquê dele estar interessado em [Nome] no início de sua adolescência. Manjiro se sentia radiante com a notícia.
— Podemos tentar verificar as casas dos outros.
Se não encontraram nada com Kojirou, ele duvidou que conseguissem algo com o restante dos imprestáveis que compuseram aquela reunião sangrenta, contudo, ponderou em silêncio exterior — porque internamente, não tinha sossego. Estava prestes a ordenar que fizesse isso, apenas para não deixar nada escapar entre os dedos, mas seu aborrecimento duplicou ao ver a pessoa que estava na sala, a qual tinha Takemichy aparentemente estressado tentando mediar a situação.
Yuna não era do tipo paciente, e não iria obedecer ordens do Hanagaki, mesmo estando em sua casa.
— Puta merda — Sanzu reclamou, se afastando estrategicamente de Manjiro para se apoiar contra o sofá.
A Kobayashi jogou os cabelos pintados em loiro escuro para trás assim que viu o líder da Toman, já muito visível para dar meia volta, e sorriu radiantemente.
— O que você está fazendo aqui?
A pergunta veio antes que desse a ela a chance de beijá-lo como cumprimento, como gostava de fazer. Seu tom a pegou um pouco desprevenida, mas isso não a abateu, e nem impediu que se aproximasse mais.
— Fui te procurar no Tropical quando soube que estava reaberto, e não consegui falar com você.
Agora, de perto, notou que o vestido preto que cobria seu corpo foi um dos primeiros presentes que lhe deu, quando começou a afogar seus sentimentos pesarosos em um prazer passageiro que o deixava vazio pela manhã. Claro, ela não tinha culpa da insatisfação mundana do Sano, e as regalias que proporcionava a Kobayashi passaram a ser mais recorrentes.
Aquele colar com uma esmeralda também fora dada por ele, contudo, a cor prateada puxou Manjiro para longe, para uma cobra que enfeitava os cabelos macios de alguém que se pegou desejando.
Voltando a encará-la, considerou que Yuna escolheu os acessórios para obter alguma reação dele, ou para lembrá-lo de como era bom quando trocavam presentes sem nenhum compromisso além daquele que bagunçava lençóis.
— Devo perguntar por onde andou? Estava mais fácil eu falar com o presidente do que com você — os olhos verdes transbordavam falsa inocência.
— Estou ocupado.
Com um movimento dos ombros, demonstrou seu desinteresse ao dar mais um passo, dessa vez para longe dela, e para mais perto da saída para a sala de jantar, que agora abrigava Hanagaki e Takuya. Os dois estavam envolvidos em uma conversa baixa, como se deixassem o caos que era Yuna para outros resolverem.
— Faltou a reunião ontem, e eu não vejo o Japão em guerra para explicar isso — soando mais convicta, ela entrou em seu caminho — E agora não consegue reservar cinco minutos para sequer falar comigo?
Apesar de não ser incluída em nada que remetesse criminalmente os Kobayashi, Takeda fazia questão de deixá-la por dentro de algumas coisas. O encontro com os homens da velha guarda era importante, e parecia que todos iriam incomodá-lo por ter deixado uns sete ignorantes esperando sua presença.
Que todos eles se mordessem em silêncio.
— Se estivéssemos em guerra, você saberia.
— Assim como eu soube do seu showzinho ontem? Pelos noticiários? — um toque de mágoa tingiu seu rosto — quem estava atrás de você?
— Estou tentando descobrir nesse exato momento.
— É fácil pedir que façam isso em seu lugar — suspirando, a irritação transpareceu por entre seus rosto bem delineado.
Por um pequeno segundo, preocupação genuína e incomoda passou por toda a superfície da pele de Manjiro. Será essa a sensação que [Nome] desfrutava com suas investidas? Em tê-lo buscando sua presença, mesmo com motivos sinceros? Ah, não, a ideia foi descartada. Miyazaki poderia ser complicada, mas não odiaria olhar para um rosto tão bonito quanto o dele.
— Precisamos conversar, Mikey.
O som de seu apelido sendo chamado pelos lábios rosados da Kobayashi não o agradou.
Tantos o usavam como se não fosse nada, muitas vezes era a última coisa que ouvia de um homem condenado junto às súplicas antes da morte. Estava estampado em jornais e falado com temor. Manjiro Sano gostava disso, mas se pegou desejando ouvir seu nome, aquele que poucos tinham coragem de dizer, sendo pronunciado por uma língua afiada que prometia adrenalina com um piscar de olhos perigosos.
Ansiava pelo clamor intenso que descobriu ser viciante.
— Tudo o que tinha para falar, já foi dito.
Precisava dispensar Yuna, entretanto, o rosto inclinado de Takemichy para cima o fez saber imediatamente quem estava no topo das escadas, e mesmo assim, teve que virar-se.
[Nome] detinha da mesma expressão calma de sempre, encarando o primo sem dizer uma única palavra, mas a tensão estava sendo levantada como uma cortina naquele cômodo cheio de pessoas que tinham muito a falar. Takemichy era um deles. Parecia estar com todas as palavras do mundo na ponta da língua, mas ao invés de soltá-las, virou e saiu sem esperar mais um segundo.
Surpresa não abateu a Miyazaki, como se esperasse que fosse ignorada tão prontamente. A forma como foi praticamente expulso de seu quarto o fez pensar em como iriam iniciar um diálogo agora, mas o pensamento evaporou assim que Takuya se pronunciou, atraindo a atenção dela.
— [Nome], posso falar com você?
O pedido fez Manjiro olhar o membro da quinta divisão de cima a baixo. Ao menos a resposta não veio imediatamente, desde que ela demorou um pouco enquanto retribuía o olhar analítico de Yuna, depois passou para o Sano com a mesma falta de simpatia.
— Enquanto resolvem o “assunto importante”, espero que não se importem se eu começar a rever os detalhes com Mitsuya — o sorriso irônico foi dirigido a Sanzu. Uma devolutiva por a ter apressado mais cedo.
— Tenho certeza que ele e o simpático Yamamoto vão ser uma boa companhia para você — Haruchiyo tragou o baseado antes de rir suavemente — só não irrite Draken, ele já tem muitos motivos para querer matar alguém.
— Eu nunca faria isso.
Igualmente arrogante, [Nome] arrumou as mangas da camisa preta de ombros caídos, parecendo quase elegante demais para quem nem se preocupou em secar os cabelos completamente, e saiu ao lado de Takuya sem nenhuma objeção.
Sem brincadeiras ou recusas.
— Suponho que ela deva ser a nova integrante da Toman — cruzando os braços, Yuna despejou suas opiniões sem pudor algum — Quando soube desse acontecimento inédito, acreditei que fosse alguém mais importante. Quase apostei uma das minhas pulseiras favoritas com Yoko que seria a Kyo… Mas é a prima de um chefe de divisão. Takemichi deve ter lutado muito por essa dádiva.
— Cuidado com o que vai dizer — a naturalidade em seu tom foi impressionante, mas aquele traço de zombaria na Kobayashi fez seu queixo se erguer minimamente — Se ser parente de alguém fosse um requisito, você ou Kyo teriam sido as primeiras a ocupar um lugar nas reuniões. E como não foram, o motivo deve ser óbvio.
A expressão de Yuna foi perdendo vigor com a mensagem velada, mas se recusou a fazer qualquer coisa além de sorrir, umedecendo os lábios suavemente.
— Vou gostar de conhecê-la, então.
— Boa sorte — uma pequena nuvem de fumaça soprou na direção dela com a provocação de Haruchiyo.
— E o que você ainda está fazendo aqui?
— Ao contrário de você, sou requisitado, minha querida.
Uma careta de desagrado subiu pelo rosto dela, e se foi de raiva ou simplesmente embaraçamento por estar sendo chamada de dispensável, Manjiro não sabia dizer. Os dois sempre trocavam mais farpas do que poderia contar, e não se meteria.
Ignorando Sanzu, ela resolveu voltar sua dedicação a Manjiro.
— Fiquei sabendo que falou com meu pai.
Ah, se pudesse apenas empurrar todos os Kobayashi em uma gaveta e esquecer de suas existências lastimáveis, desde seu filho cínico até a pirralha prepotente que agia como se fosse dona do país, seria um alívio.
— Ele apenas foi me lembrar sobre o império majestoso construído por Murakami.
— Faz tempo que ele não toca nesse assunto. Da última vez, ouvi que foi ele quem presenteou Yoshiaki com aquela cicatriz horrenda.
O Sano se dignou a levantar uma sobrancelha, desconhecendo o fato de que fora Murakami a desfigurar o líder dos Nakamura. Mas também não era como se saísse bisbilhotando suas vidas para descobrir todos os segredos escondidos.
E deveriam ser muitos, dado ao legado que tinha. O próprio último líder da máfia japonesa estava se mostrando bastante impressionante recentemente, apesar de não estar vivo há tanto tempo.
— Sabe o por quê? — indagou, apenas pela sutil curiosidade em saber qual erro cometido por ele para ter sido marcado de tal humilhante forma.
— Não, nunca o vi se exibindo pelo prêmio. Antigamente, ficava grata por ele ter morrido antes que eu fosse grande o bastante para conhecê-lo — Yuna olhou as próprias unhas, parecendo mais séria que o normal — Dizem que não sabem se é pior um Murakami que vive e respira, ou um que o assombra mesmo após a morte.
— Yoshiaki não seria assombrado por um homem morto.
Ainda que soubesse como era conviver com a lembrança de pessoas que apreciava tanto, e que não estavam mais ali, ele desacreditava de tal ligação, fosse amor ou ódio, que pudesse ser cultivado dessa maneira e os perseguisse além da vida.
— Talvez seja esse o motivo dele ser um velho recluso — o movimento que Sanzu fez para apagar o restante de seu baseado no cinzeiro trouxe Manjiro de volta, o obrigando a arrumar a postura.
— Vou me certificar de perguntar da próxima vez que eu ver ele — como uma despedida, passou por Yuna, mas foi interrompido pela mão dela envolvendo seu braço, as unhas pintadas de vermelho afundando um pouco.
— Eu ainda não acabei.
— Não tem o que acabar, você já disse o que queria da última vez.
O Sano desejou que o orgulho da Kobayashi fosse maior que sua ambição, que a satisfação que sentia de tê-lo em seus braços. Não era difícil imaginá-la dispensando um homem que um dia gostou por simplesmente não elogiar sua beleza depois de ter se arrumado, mas apesar dela ter um lampejo de desprezo no rosto, a ideia de fingir que não o conhecia não parecia opção.
— Não imaginei que você fosse deixar nossa discussão tomar essa proporção.
— Sempre existiu uma linha no que a gente tinha — seu tom de desgosto combinou com o olhar dela, e soube que isso balançou o ego de Yuna — e o direito de falar sobre a minha família estava muito longe das suas mãos.
— Foi um momento de tensão, eu estava irritada e me deixei levar.
O modo como falou poderia ser descrito como quase amoroso, a vontade de convencê-lo parecia ser tanta, que por um breve momento ilusório, pareceu que realmente havia afeto ali.
Desde o início fora estabelecido que não haveria romance. Sem carinhos ou qualquer coisa que conseguisse confundi-los sobre o que realmente acontecia dentro de um quarto. Por mais que Yuna tivesse tocado todo seu corpo, não chegou nem perto de seu coração, e não conseguiria tal feito com alguns ronronares e pedidos sutis.
A consideração que sentia por ela deixou de existir assim que a ouviu duvidar dos motivos de Manjiro dentro da Tokyo Manji, indagando sobre coisas que não eram de seu interesse, chegando ao ponto de questionar a procedência da morte de Shinichiro. Praticamente zombando depois que o sangue começou a ferver em ambos.
Yuna não podia esperar que iria cavar tão fundo no passado dele e ficar sem consequência alguma.
Percebendo que não haveria rendição por parte do Sano, uma inspiração pesada a apanhou, a obrigando a ir embora, irritada e visivelmente decepcionada, com uma batida forte na porta de vidro.
— Eu vou querer saber o que ela fez? — Sanzu perguntou, mantendo-se cauteloso enquanto tirava outro baseado de seu bolso, o qual Manjiro prontamente o pegou, acendendo com o isqueiro preto que lhe foi oferecido.
— O que não deveria.
A questão era muito mais densa que simplesmente fazer algo. O levantamento das inquirições foram esquecidas por ele depois dos seus últimos dias, entretanto, agora revivido, o deixou inquieto.
Yuna não iria se inserir nesse assunto particular acidentalmente, e a chance de Takeda ter usado a filha para obter alguma resposta sobre o passado de Manjiro deixaria todas as relações profissionais que mantinham muito mais delicadas.
Coisas foram enterradas com Shinichiro, outras encobertas com a mesma terra que pastou sobre seu caixão, e não deixaria ninguém naquele ninho de serpentes ter algum poder sobre as coisas que amava.
O que detinha escondido assim ficaria, com apenas seu círculo pessoal ciente do que acontecia quando ele não era apenas o líder da Toman.
Sua respiração engatou um pouco ao tragar o baseado, segurando a fumaça o máximo que pôde. [Nome] sabia sobre as coisas que Yuna almejava e, aparentemente, não se importava com nenhuma delas.
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