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𝑻𝒉𝒊𝒓𝒕𝒆𝒆𝒏

Avisos:

Oii gente, como estão? espero que estejam bem, só vim avisar e também pedir perdão por ter invertido a quantidade de homens envolvidos no incidente do aeroporto no capítulo oito, lá eu coloquei que quatro tinham sido espancados, mas na verdade foram só dois.

Não acho que seja algo tão alarmante, mas como citei novamente achei melhor arrumar e pedir desculpas pelo erro.

É só isso, bebam água e boa leitura♡︎

                                     ☾︎

Nada tinha mudado, não que esperasse que as paredes tivessem perdido um pouco da cor ou que o clima estivesse mais melancólico, mas ver que as coisas continuavam iguais com ela ali ou não era reconfortante de uma forma diferente.

Saber que tudo permanecia bem deveria ser bom, aquela era uma das coisa que precisava fazer.

Então por que se sentia tão inquieta?

Fechando a porta atrás de si e espantando os pensamentos que se agrupavam na sua mente como nuvens, torceu o nariz ao ver uma das puxa-saco de Mizuki entrando com um buquê de flores azuis na sala, reduzindo o passo ao ver [Nome].

— Achei que a senhorita tivesse viajado de novo. — se virou ao vaso vazio no canto da sala, dando um toque de deboche a fala.

— Não sabia que se importava tanto com a minha vida. — deu de ombros, ela pareceu ter revirado os olhos.

— As informações apenas voam soltas nessa casa. — se virou com as mãos na frente do corpo, com um olhar superior demais para alguém que [Nome] sequer se importou em lembrar durante todo aquele tempo.

— Fofocar enquanto trabalha não é algo que deveria dizer com tanto orgulho. — ela continuava igualmente folgada, e agradeceu por não ter a visto no período que ficara ali.

— O senhor e a senhora Kaede não estão em casa, o senhor Hayato também não. — se apressou em dizer quando viu [Nome] se dirigir as escadas, mas ela não se virou para responder.

— Que bom que não estou procurando nenhum deles.

Nenhuma resposta veio, e mesmo que viesse não responderia, ela sempre fora irritante demais, fazendo caras e bocas quando uma ordem era dada ou uma reclamação feita, talvez pensasse que por [Nome] ser criança não sentia ou percebia a forma que era tratada.

Apenas ela deixava a insatisfação transparecer perto dela, mas na frente de Mizuki ou Hiroshi, abaixava a cabeça como todos os outros. O tratamento ruim que [Nome] recebia ia além de qualquer empregado.

Talvez tivesse se deixado afundar um pouco mais nas memórias antigas se aquele quarto não fosse tão estranho, como uma suíte de um hotel que só pagaria para passar a noite.

Nada nele passava a confiança que ela precisaria para dormir sem precisar guardar uma faca ou uma pistola debaixo do travesseiro.

Nenhuma das casas que morara, seja ela a que passou a infância ou aquela, sabia que nunca poderia chamar nenhuma delas de lar.

Eram apenas paredes ocas e tetos que pareciam baixos demais.

Sufocantes demais.

Foi de certa forma bom o desentendimento que tivera com Hiroshi, apesar de querer ir embora deixando uma boa impressão para trás, soube naquele almoço que não importaria que tipo de imagem tentasse passar, o que fizesse, eles escolheriam qual levariam como verdade.

A cama parecia igual a como deixou, bagunçada, e se procurasse bem, as montanhas de pano que juntou quando enfiou a mão debaixo da cabeça atrás da faca ainda estavam lá.

Mas não passou pela cama, [Nome] foi diretamente ao closet, tirando todas as coisas que havia deixado, na última vez que fora lá, não teve tempo o suficiente para levar tudo, então o mais importante foi realocado primeiro para a casa de Takemichi, o resto poderia esperar um pouco.

Bufou, não queria ter que carregar toda aquela tralha para cima e para baixo, mas sabendo que Mizuki reclamaria se visse que ainda tinha coisas dela lá, evitou uma ligação irritante.

Carregando as malas e bolsas para o meio do quarto, se segurou para não mandar tudo pelas escadas, poderia se desfazer delas, não? Já que não precisaria mais fingir ser uma adolescente comum para agradar os olhos deles.

Tirando o celular do bolso, ligou para o primeiro número de táxi que apareceu quando buscou pelos mais próximos, um alívio passou pelo seu corpo ao escutar que ele já estava a caminho.

Antes de guardá-lo e enfrentar aquele corredor mais as escadas com aquele peso desnecessário, o som saindo do aparelho acompanhou um leve vibrar, o número não estava salvo e ela não teve a mínima vontade de ver quem era, então deixou tocar, em breve desligariam.

E desligaram, mas um único segundo depois, ligaram de novo, quase não dando tempo para [Nome] arrumar a alça de uma bolsa de viagem pequena no ombro, então parou apenas para recomeçar mais uma vez.

Pegando o aparelho e o apertando com força de mais, se segurou para não quebrá-lo enquanto desligava a chamada.

Acabar com a paciência dela talvez fosse uma coisa boa para se fazer durante uma manhã como aquela, mas ela não tinha o suficiente para se desgastar.

Puxando a mala, não se preocupou em fechar a porta, mas ficou desacreditada quando o celular voltou a tocar, realmente tinham pessoas tão desocupadas daquele jeito, ou era uma situação importante ou só queriam fazê-la de idiota.

— Eu juro que vou dar um jeito de fazer você querer trocar de número seu maldito.

Disse, não deixando a falta de humor tão explícita na fala, a pessoa do outro lado pareceu perceber que ela iria desligar, pois a resposta veio mais rápido que o dedo dela na tecla.

Consegue fazer isso também? Você é mesmo uma caixinha de surpresas. — o típico riso veio em seguida, a deixando mais tentada em realizar o que acabara de dizer.

— Onde conseguiu meu número? — indagou, reduzindo um pouco os passos ao ver a porta branca fechada alguns metros a frente.

Não precisei fazer muito esforço para ter ele. — um pinel cantou do outro lado, sendo seguido de várias buzinas e xingamentos de pessoas diferentes. — Takemichy me disse onde você está, estou chegando aí.

Parou de andar devagar, em uma mistura forte de incredulidade e irritação, não tinha pedido para o primo manter segredo de aonde ia, afinal, não precisava, não imaginava que iam de encontro com ela ou que muito menos Take se lembrasse do endereço.

Seria apenas minutos que ficaria ausente.

Mordeu o lábio inferior até sentir os dentes cortando e puxando a primeira e fina pele, deveria ter mentido sobre sua localização, o Sano não precisaria pensar muito para descobrir que Hayato morava ali, e [Nome] não queria que ele soubesse.

— Por quê?

Quero falar com você. Manjiro logo emendou, antecipando a recusa dela. — Consegui estender essa conversa de ontem para hoje, mas é importante, precisa ser agora.

Deixando a mala arrastar no chão, [Nome] concordou com o rosto neutro, ela sequer piscou antes de escutar um "estou a caminho" e um cantar de pinel mais alto que o de antes, desligando logo em seguida.

Virando parcialmente para a porta que já havia passado, imaginou se o quarto de Hayato ainda permanecia bagunçado como sempre, se ainda chutava chinelos para longe da cama ou se já sabia ao menos como dobrar um lençol descentemente.

[Nome] sabia tão pouco sobre ele que chegava a ser ridículo se chamar de irmã, queria poder compensar todos os anos ausentes naquele mês.

Deveria ao menos tentar.

Mas não conseguiria nem com o dobro desse tempo.

Ter certeza que ao menos a última conversa que tivera com ele naquela noite não era a última a deixava mais relaxada, a última visão que queira ter dele não seria de uma feição chorosa e palavras de raiva, não queria que Hayato achasse que ela era uma mulher mimada que iria sair de casa por uma briga com os pais.

Daria um jeito de vê-lo antes, devia isso.

                                      ☾︎

Fechou o porta-malas do táxi, dando a volta até a frente e estendendo uma nota pela janela abaixada do motorista, não tinha nada de valor naquelas bolsas, se ela entregasse ou simplesmente sumisse com elas não fazia muita diferença.

— Você já sabe o endereço. — se afastou, vendo a mulher guardar a nota no bolso com um sorriso largo.

— Claro, senhorita. — ligou o motor.

Levando os olhos ao outro carro estacionado mais a frente, qual recebeu olhares da mulher que dirigia o táxi antes de ir embora, o Mustang GT preto acomodava as costas do Sano enquanto ele esperava, paciente demais para alguém que insistiu tanto em conversar.

Fora impossível não ver o carro quando saiu, com as bolsas e a mala, e por mais que tivesse o achado lindo, o peso não cedia e o táxi amarelado pareceu mais atrativo no momento.

Caminhando de volta até ele, se deixou ver mais de perto, percebendo a feição de divertimento de Manjiro. Não que admitiria, mas ele também não estava mal arrumado, parecia mais uma extensão bem vestida do carro, com o meio rabo de cavalo baixo quase solto e um sorriso que parecia fluir naturalmente.

Ele não se desencostou do carro, [Nome] se preparou para questioná-lo, mas a batida na porta vindo de mais perto chamou sua atenção, o veículo de Hiroshi estava estacionado mais longe, na frente da casa ao lado, e não pareceu nada contente por ter sua vaga roubada.

O olhar dela recaiu nos lábios meio franzidos dele, em como trocou a mão da maleta que segurava, deixando a direita livre, igual como fazia quando estava irritado demais para se conter.

[Nome] já havia tido demostrações demais de sua raiva para saber quando ele iria agir ou se acalmar, naquele momento parecia ser a segunda opção

Não era o estilo dele explodir do nada no meio da rua.

— Não esperava que fosse voltar. — arrumou o relógio enquanto olhava para ela. — Hayato me disse que estava indo, mas agora sei para onde, exatamente.

O tom que usou foi mais afiado e calculado do que irritado, se virando a Manjiro como se fosse um saco de lixo que havia sido deixado em sua calçada.

— Não se preocupe, eu já estou de saída. — devolveu no mesmo tom, talvez com um pouco mais de deboche, mas foi o suficiente para ter a atenção novamente, mesmo que talvez quisesse que Hiroshi usasse a palavra errada e acabasse por fazer o Sano revidar.

Não, nós vamos conversar. — a encarou do mesmo jeito que encarava antes, tão frio que poderia cortar a pele dela. — e você. Saia. — mandou, pela diferença de altura e a posição do loiro, não foi difícil olhá-lo de cima.

Apesar do esforço que faziam para não deixar o rosto de Manjiro ser uma celebridade em Tokyo, achava difícil Hiroshi não saber quem ele era, ou seu ego simplesmente não permitia que, quem quer que fosse, o olhasse como um cachorro que precisava ser adestrado.

Porque era aquele olhar que tomara as iris negras, o sorriso abandonara o rosto em algum momento que [Nome] não viu, e ele não se moveu.

— Preciso chamar meus seguranças para fazê-lo voltar a escutar?

O gesto que o loiro devolveu poderia indicar que iria se desencostar do carro, mas não o fez, apenas jogou um tornozelo por cima do outro, mantendo o olhar que [Nome] julgou ser o último que muitos viram.

— Só saio daqui se ela pedir. — a ironia balançou cada palavra que saiu dele.

Hiroshi se voltou a ela com uma sombrancelha arqueada, a raiva até então contida tentando sair.

O tipo de jogo que o Sano estava jogando, parado ali como se assistisse um espetáculo, era o tipo que ela gostava de começar, tomar um lugar e apreciar era bom, mas participar era melhor.

Ainda mais quando o ponto de atenção era Hiroshi.

Dando um passo a frente, levou os olhos a maleta, que era apertada com tanta força que os nós dos dedos estavam esbranquiçados, se impressionou por não ter quebrado a alça.

Um mínimo sorriso se abriu nos lábios dela, seria a última vez que iria ver ele, gostaria de falar algumas coisas.

— Cinco minutos, só. — a incredulidade tomou o rosto de Hiroshi, como se gritasse que ela não poderia ditar o tempo que a conversa que ele propôs iria durar.

Mas logo se desfez como corante em água, se tornando uma perfeita casualidade enquanto seguia em frente.

— Cinco minutos. — repetiu olhando Manjiro, que tinha os olhos cravados nas costas cobertas pelo terno do Kaede.

Não esperou resposta, apesar de saber que talvez não teria, poderia voltar e o Sano não estar mais ali.

Ela pedir tempo não significava que iria ganhar.

O porte alto de um dos seguranças da família se prontificou a alguma ordem que fora dada antes que Hiroshi retornasse o caminho.

— Volte. — mandou, parando em sua frente, ele revirou os olhos, fazendo uma careta logo em seguida.

A mesma careta que fizera uma vez antes de tentar trancá-la no quarto de ferramentas dos jardins da antiga mansão, não foi surpresa no outro dia que o quarto aparecesse com um buraco nas paredes e uma [Nome] totalmente descrente a cena.

Assim como não foi quando esse mesmo segurança caiu da janela do terceiro andar, ela se certificou de três membros dele ter quebrado.

— O senhor disse para retirar o lixo. — tentou desviar, ela tocou seu ombro.

— Que eu me lembre, não é assim que tratamos visitas. — então levou os olhos até o brutamontes, apertando a mão. — volte, agora.

O segurança se virou para a trás, esperando uma resposta do chefe, a atenção de Hiroshi saiu uma vez de [Nome] para ir até o loiro do outro lado do gramado verde, entrando na casa em seguida.

Sorriu ao ver o homem voltar com os dentes trincados, passando devagar pela porta que ele segurava, esperando para fechá-la.

— Que tipo de comportamento é esse? — indagou quando se encontraram sozinhos, deixando a maleta no sofá.

— Uma pena que não esteja satisfeito com meus modos. — piscou devagar, sua meiguice um contraste ao semblante dele.

— Não me importo que tenha assuntos inacabados com outras pessoas, mas o único compromisso que você deve honrar é o da sua família. E nem isso você está fazendo.

Se apoiando em uma perna, ouviu ele falar o discurso, naquele momento, Hiroshi era insignificante demais para dizer qualquer coisa que pudesse realmente afetá-la.

Você não está honrando o que prometeu no julgamento. — aquilo o atingiu com tanta força que refletiu em seu olhar, e um sorriso se abriu no rosto dela ao lembrar o quanto ele era sensível sobre o assunto. — as empresas estão falindo, e isso te deixa tão desesperado quanto deprimente.

Se aproximou lentamente enquanto falava, vendo como cada palavra fazia ele ter uma reação diferente, nenhuma delas refletindo a feição que Hiroshi fez quando o juiz dissera que nada iria para Mizuki.

Ele não ganharia nada.

— Sou eu que não estou honrando promessas? — o sorriso foi perdendo a força, deixando apenas o olhar sínico.

— Acha que falar coisas bonitas pode fazer uma pessoa mudar? Você não continua qualificada para liderar nenhuma delas.

Revirando os olhos, [Nome] pôde contemplar mais um pouco o medo nos olhos castanhos claros dele antes de se virar a porta de novo.

— Hiroshi, acha que um casamento pode fazer os seus anos de incompetência se apagarem? Você falhou com elas, com as minhas e com as suas.

Não tinha mais informações sobre as propriedades dele, se suas empresas estavam tão acabadas quanto as de [Nome], mas pelo seu desespero, pareciam estar no mesmo patamar.

Os dentes trincados quase chiaram, poucas vezes o vira expor o ódio assim, era uma ocasião rara, gostaria de aproveitar mais.

— Isso também é do seu interesse, não finja que não. — sua voz se elevou e uma veia se formou em sua testa quase perfeita. — você não as reinvindicou quando fez dezoito anos, posso fazer um contrato e nós dois vamos sair ganhando, só precisa aceitar o noivado.

— Você não achou que eu fosse deixar tudo para você de mão beijada, achou? Vou recuperar minhas empresas, por mais mal-acabadas que você as tenha deixado.

Segurou a maçaneta, encarando de lado, em uma outra época, uma outra situação, talvez estaria pedindo desculpas, mentindo e dizendo o quanto ficaria feliz em ajudar a restaurar a fortuna que ele e Mizuki ainda desperdiçavam.

A fortuna dela.

— Está enganada se pensa que vai conseguir, meus advogados estão agindo desde que você completou maioridade. — Hiroshi arrumou a postura, assumindo novamente a imagem de um empresário bem sucedido e um pai de família exemplar.

Era engraçado como ele passava de uma coisa a outra em segundos, poderia enganar qualquer um com sorrisos e algumas palavras, [Nome] aprendera um pouco com ele, mas era melhor em executá-los.

— Estou te dando uma chance, podemos salvar essa família de novo.

A salvação, algo que muitos buscavam nos mais variados lugares, revestidos de tantas coisas, qualquer uma delas poderia ser o refúgio de alguém.

Imaginar que o homem de cabelos pretos no meio da sala já foi o sinônimo de salvação de [Nome] era quase hilário.

Era pequena demais para distinguir se a gratidão e amor que sentia era, de fato, algo que brotou do coração dela ou que foi forçado a entrar lá por sua mãe.

Na maioria das vezes, a linha que dividia a salvação de alguém e sua destruição era tênue.

Olhando agora, ele não passava de um estranho que fez [Nome] amadurecer cedo demais.

— Vai deixar todo o trabalho de Ichiro ir para o lixo? Não sei quem está colocando essas idéias na sua cabeça, mas você não é assim.

A manipulação sentimental era a última e melhor das cartas que Kaede usava, e somente em últimos casos, quando se via diante de uma barreira que não podia passar com métodos simples.

Uma certa satisfação em saber que estava fazendo ele ir ao limite se mesclou a sensação de ter o coração sendo apertado pelas linhas daquelas seis letras, porém, não contava com o temperamento subindo.

Não deixaria Kaede macular o nome do avô como maculara o dela, como estava tentando macular o de Hayato.

— Ele sentiria vergonha de saber o que você fez com a empresa que era a vida dele.

A culpa voltou como uma avalanche de sensações, pesando nas costas dela como uma carga que não ia embora.

Não cedia, por mais que em alguns dias poderia parecer que ela não estava ali, o espectro sempre atrás de [Nome] não deixava seus pensamentos.

Nunca deixou.

— Se você não tivesse feito a cabeça dele, nada disso estaria acontecendo.

— Hiroshi, você não tem o direito de falar o nome dele, eu não ter vindo reinvindicar o que é meu não foi por sua causa.

A mão tremia na maçaneta da porta, e queria, do fundo do coração, que fosse de raiva.

— Saiba que eu não vou me esquecer de nada que você fez.

Bateu a porta depois de sair, respirando o ar que parecia fugir dela, entretanto,  parecia inspirar fumaça e doía nos pulmões como cacos de vidro, queimando a língua e fazendo arder os olhos.

Mesmo que tivesse sido uma traidora e deixado as memórias irem embora sem nem ao menos tentar segurá-las, se lembraria do som que as sirenas da ambulância fizeram, dos olhos verdes sem vida e de tudo o que sentiu.

Por mais egoísta que tivesse sendo, não deixaria Kaede levar mais nada.

Os olhos pouco vermelhos procuraram Manjiro do lado de fora, entretanto, ele não estava encostado no carro, e sim parado poucos metros da porta, passando a mão por um arbusto aparado enquanto olhava as roseiras.

— Está de mudança? — não imaginou que nada do que acontecera era importante o suficiente para ter um comentário, mas como tivera, ficou agradecida por ser apenas das malas.

— Esse é o assunto importante que quer falar? — cruzou os braços, apaziguando os pequenos tremores nas mãos e dissipando os pensamentos.

O Sano deixou as plantas de lado a medida que o rosto voltava a ser mais descontraído.

Andando de volta ao carro, [Nome] esperou as portas serem destravadas antes de abrí-las, os dedos ainda traindo a feição de calma dela.

— Infelizmente não vai ser tão divertido.

Apesar do que estava tentando deixar de sentir, se sentou com pouca cautela, lembrar a si mesma de quem estava ao seu lado a fazia focar no presente, nas coisas que ainda podia mudar.

Poderia usá-lo como uma âncora da realidade, ele não devia se importar.

O som das portas sendo travadas de novo alcançou os ouvidos dela a mesma medida que manobrava o carro, os olhos correram pelo lado de fora, franzindo as sombrancelhas ao notar as janelas fechadas.

Apoiando o cotovelo na porta do carro, esperou que ele começasse a dizer o que queria, mas as ruas se passavam através dos vidros fumês mais rápido a cada minuto.

O silêncio predominava mais o local que o aroma que vinha dos bancos, entrando pelo nariz dela quase como uma descarga elétrica contínua, saindo apenas para deixar mais um pouco dele entrar.

Cruzando as pernas, imaginou o barulho das motos e das vozes que estavam em movimento do lado de fora, do vento e do ar que corriam livres.

— Tem medo de mim?

O timbre calmo, porém sério, tirou a atenção de [Nome] do lado de fora, os olhos dele permaneciam na estrada, com apenas uma mão no volante.

Medo era uma das emoções mais interessantes que ela podia pensar, as coisas mais simples poderiam gerar um turbilhão de sentimentos em alguém, algo que pode tirar toda a razão e fazê-lo cogitar ações que não deveriam ser pensadas.

Todas as emoções eram daquele jeito, se por algum motivo, se tornassem mais do que se poderia aguentar, abria várias vinhas espinhosas que só seriam atravessadas se o sentimento fosse maior que a razão.

No entanto, o medo era o que mais chamava sua atenção, pensar que algo podia fazer uma pessoa ter tanta aversão a ponto de torná-la desprotegida e totalmente vulnerável, uma boneca com cordas de marionetes.

Muitas coisas davam medo em muitas pessoas, mas naquele momento, somente uma coisa fazia [Nome] olhar as próprias costas, e isso aquilo não era Manjiro.

— Saber que é temido deve surtir algum efeito em você. — apoiou uma mão na outra, sentindo a pele quente, o ar abafado subir pelas vias respiratórias de novo. — mas não.

Homens do calibre do Sano gostavam da reação que causavam nas pessoas, de se perguntar se o coração delas pulsavam mais rápido só porque ele a olhara diferente, de não saber qual poderia ser seu próximo passo.

O medo era mais fácil de ser cultivado do que o respeito.

— Estamos chegando? — perguntou quando a lateral da cabeça doeu, voltando o olhar ao céu ofuscado do lado de fora.

Quase sentiu o encômodo se esvaindo enquanto o barulho oco da janela sendo aberta cobriu sua visão com o verde da área arborizada que passavam, o ar limpando os pulmões dela.

Não sabia que a respiração estava frenética até o vento bater contra seu rosto e os fios de cabelo fora da trança baixa acariciarem o rosto dela.

Os músculos da boca relaxaram, as costas procuraram apoio no banco de couro ao mesmo tempo que olhou Manjiro de canto de olho.

— Depende da sua visão de longe. — a pressão do vento bagunçou as mechas do seu cabelo.

Um riso de lado surgiu assim que olhou a sombrancelha erguida dela.

— Não tenho conta de todas as pessoas que matariam para saber o que eu falo em uma conversa particular. — não passara despercebido a forma como sua voz se ondulara para dizer as duas últimas palavras, mas o Sano deu de ombros se voltando ao volante novamente. — e também gosto de ir a lugares bonitos.

As copas das árvores estavam ficando tão grossas e altas que quase cobriam todo o carro na estrada com sua sombra.

— Acha uma cova rasa no meio do nada bonito? — indagou, retornando ao nível habitual sarcasmo, sentindo profundamente, cada nova respiração acalmar a mente, o sangue.

— Para sua infelicidade, não é uma cova rasa.

                                       ☾︎

Todo o revestimento de dentro do elevador parecia ser feito de metal maciço e lustrado, refletindo imagens embaçadas de [Nome] a medida que subia até o último andar.

De todos os lugares que pensou, um edifício de luxo no meio daquela extensão de grama verde e árvores não era uma delas.

Quase não havia ninguém na recepção, e o modo como o manobrista se curvou ao ver Manjiro sair do Mustang indicava que não estava acostumado com a presença dele.

Por fora, parecia um dos prédios executivos que ladeavam toda a Tokyo, com vidros espelhados e um jardim tradicional com um lago de carpas que acompanhavam até as portas duplas no final da ponte.

Poucas pessoas faziam recepção, mas os muros com cercas elétricas grossas faziam o aviso de que não era qualquer um que entrava lá.

Ainda naquele momento, dentro do elevador com detalhes que pareciam forrados de puro prata, [Nome] podia ver os peixes coloridos que nadavam ficarem cada vez menores através das paredes de vidro.

Tentando focar lá enquanto os andares passavam.

O silêncio voava devagar entre eles desde a última conversa, nem mesmo uma respiração mais alta soava.

Quando o elevador parou, a primeiro coisa que notara fora os sons baixos de talheres e vozes contidas rodeadas por uma melodia calma.

Levou o olhar até o Sano, que já estava pisando no tapete vermelho que levava até onde um recepcionista segurava uma caderneta.

O seguindo, reparou tanto na reverência que o funcionário fizera enquanto eles passavam como o brilho do lustre centralizado no salão cheio de mesas redondas e pessoas diversas.

Um restaurante. Estavam em um restaurante no último andar, [Nome] duvidava que não havia outro lugar para terem uma conversa privada, mas quem imaginaria que em uma mesa escondida perto das janelas de um lugar repleto de pessoas, Manjiro ousaria diria algo com alguma relevância?

Se sentando a frente dele, olhou para as luzes presas no teto, nos desenhos dourados das paredes e em como se olhasse para o lado, veria todo o jardim e o vislumbre de Tokyo por entre as árvores e nuvens.

A vista era mesmo bonita.

— Imagino que concorde comigo agora. — disse com certa arrogância, antes que um garçom se aproximasse, o sorriso amarelo tomando o rosto dele enquanto cumprimentava e entregava a carta de vinhos. — traga o de sempre.

Devolveu a carta quase sem expressão, o garçom não esperou antes de abaixar a cabeça e voltar. Ele inclinou a cabeça ao ver a sombrancelha meia arqueada de [Nome].

— Achei que gostasse de vinho.

— Se seu gosto por vinhos oscilar como sua opinião por lugares bonitos, então não. — retrucou, realmente não se comparava o bar onde o conhecera com aquele restaurante.

O riso preencheu a mesa, e pareceu ser a única coisa a soar no ambiente.

— Que bom que tocou no assunto. — se encostou na cadeira, firmando o olhar.

Então, Manjiro queria falar sobre a perseguição que aconteceu no bar e que se transformou na briga na festa.

— Que assunto, exatamente.

A sensação de ser medida correu pelos braços desnudos dela, percebendo que ele a estudava com os olhos, as reações faciais e os movimentos que fazia com as mãos.

Como se quisesse saber o que [Nome] não dizia através de seus gestos.

Uma avaliação que se fazia quando se avaliava um oponente.

— Eu esperava que eles fossem demorar para começarem a falar, mas saber que mentiu na minha cara foi uma surpresa. — ainda falando, permaneceu buscando o que quer que estivesse procurando nela.

— Foi mais rápido do que eu esperava.

Piscou devagar, se virando ao garçom que voltava com um vinho rose em mãos e uma feição meio trêmula ao pedir licença e encher meia taça do comandante da Toman, lançando um olhar a [Nome] enquanto fazia o mesmo com ela.

Ele se afastou depois de colocar a garrafa transparente na mesa e dizer que poderia chamar se precisassem de alguma coisa.

Segurando a base da taça entre os dedos, a puxou mais para perto, ciente de que o loiro não mudou a direção do olhar.

— E agora me chama de lento. — riu, apoiando o queixo em uma das mãos. — estou começando a entender o nervosismo de Takemichy toda vez que vez que sabe que falei com você.

A estrada que aparecia a sua frente era perigosa e escura, mas não tinha sobrado muito o que perder, para Manjiro tirar dela.

— Entende agora, Sano? — girou a taça em mãos, se apoiando na cadeira. — mas não menti, apenas escondi alguns detalhes.

— Detalhes que não pretendia contar.

— Não. — quase sentiu vontade de rir. — mas eles mereceram...

— Disseram que foi muito convincente.

— Se já sabe o que aconteceu, o que quer falar? — indagou, vendo novamente a análise calada como uma serpente espreitando.

— Não tudo.

Uma parte dela se perguntou por quê ele não sabia tudo, mas talvez ele não pudesse mais saber por razões físicas.

E como se soubesse o que [Nome] pensava, sua expressão se tornou mais como o líder de uma gangue.

— Acho que já disse que não estava em um dia muito bom. — começou a falar, e Manjiro deu um gole na própria taça enquanto escutava.

Se fosse ser sincera — algo que não aconteceria — diria que passara as últimas semanas antes daquele acontecimento tendo dias que não poderiam ser chamado de agradáveis.

Mas ver três abutres voando acima dela, esperando um deslize para atacar, sentiu que poderia descontar aqueles dias ruins em algo que não fosse bebida barata e alguns socos que não acalmavam seu temperamento.

Onde muitos viam uma situação amedrontadora, [Nome] viu um objeto de diversão.

O calor do sol beijando seu rosto foi lembrado enquanto os momentos iam passando por sua cabeça.

Parada do lado de fora do aeroporto, com várias pessoas desviando o caminho dela e das bagagens ao redor, ela se deixou ver a paisagem enquanto segurava uma bolsa que atravessava seu peito.

Ao redor dos olhos que brilharam ao encarar o céu estavam roxos, talvez pelo soco que tomara quando estava com o álcool elevado no sangue ou pelas horas de viajem que não se permitiu dormir.

Talvez devesse ter sentido alguma coisa enquanto, três horas antes, mandava mensagem para Mizuki dizendo que estava voltando, mas mesmo naquele momento, em Tokyo, não conseguia dar totalmente as costas para Paris, para as coisas que precisava fazer antes de voltar.

Um mês era o suficiente, não importava se tinha decidido o tempo com uma pistola na cintura e um copo na mão.

Um mês com Hayato, com Takemichi. Conseguia fazer aquilo.

— Bom dia, mocinha! Precisa de táxi? — a abordagem veio de um homem alto e barbudo, com um sorriso falso e um terno alugado.

Atrás dele, dois outros homens pareciam matar o tempo, um lendo uma revista de carros e outro parecia jogar conversa fora pelo celular, todos de terno. Porém, quando a resposta não veio, olharam o homem barbudo por tempo o suficiente para que [Nome] soubesse o que acontecia.

Soltando a mala com uma expressão cansada e tímida, [Nome] deixou a irritação guardada se desenrolar aos poucos, até tomar seu corpo e se transformar em uma ansiedade crescente.

Tirou o guia que lhe foi dado por uma aeromoça, mordendo os lábios ao tentar ler o pequeno dicionário japonês ao lado dos pontos turísticos, onde abaixo ficava os significados em várias línguas.

Desculpe, eu estou a passeio, e realmente não entendo o que você fala. — os olhos dele pareceram brilhar ao escutar o que ela falava – mesmo que não entendesse – balançando a cabeça em seguida.

— Ei, vem cá. — chamou o homem que olhava a revista, que se aproximou com rapidez. — a guria não é daqui.

— De onde?

— Francesa. — o sorriso acolhedor não batia com a voz debochada.

Nós somos táxis, podemos te levar até sua casa, que tal? — ele era péssimo em francês, mas parecia a vontade, tentando passar segurança.

Claro! Eu ficaria perdida falando com um taxista que não soubesse minha língua! — riu o mais meiga que conseguiu, empurrando as malas para frente, eles se olharam com um sorriso crescendo no rosto.

Não tiveram problema algum em pegar as coisas e dizer que o carro estava um pouco mais afastado, dando a desculpa que aquela época chegava muitos turistas e as ruas ficavam lotadas.

E não foram nada discretos ao perguntar se ela tinha família em Tokyo, parecendo que acharam ouro ao ouvir a recusa dela.

Esses papéis que eles entregam são inúteis! Temos os melhores hotéis da cidade com o melhor preço, pontos turísticos e tudo o que quiser!

Pararam em um local vazio, o carro logo teve o porta-malas levantado e as malas colocadas dentro juntamente com as bolsas, [Nome] observou eles dizerem, em japonês, como as bolsas eram pesadas, que a francesa, embora fosse burra, tinha muito dinheiro e era bonita, iriam lucrar mais do que imaginavam.

Ah, eu tenho onde ficar. — abanou as mãos, e eles se olharam de novo.

Tudo bem! Aqui, pegue isso, a viagem deve ter sido cansativa. — entregou uma garrafa de água mineral, [Nome] observou a embalagem enquanto eles voltavam a guardar a bagagem, sorriram de novo quando ela bebeu dois goles.

Obrigada, estava precisando. — deslizou a tampinha na mão, olhando o céu até escutar o porta malas ser fechado e fazer as pernas bambearem. — acho que estou mais cansada do que pensava.

Se aproximou do carro, e antes de tocar a porta aberta, se abaixou, fugindo do aperto que iria de encontro com seu pescoço. Segurou o braço do homem barbudo, deslizando para trás, puxou seu pulso consigo.

O estalo do braço quebrando e do grito fez o outro homem se virar para trás, arregalando os olhos antes da água que [Nome] segurava voar até seu rosto.

Acabou sendo fácil acertar um chute de baixo para cima no homem que ainda gritava pelo braço deslocado, ele cambaleou par atrás e acertou uma caçamba de lixo cheia. O outro passou a mão pelo rosto, desacreditado no companheiro caído no lixo.

— Sua vadia imunda!

Antes que ele pudesse atacar, [Nome] pegou impulso com a porta ainda aberta do carro e fez a ponta da bota preta afundar em sua bochecha, sua cabeça quase bateu no motor do carro antes de acertar o chão.

— Cuidado com o carro, eu vou precisar dele.

Se voltou ao outro, despertando em meio a cascas de banana podres e embalagens meladas de lixo.

— Que cheiro ruim, fique aí. — outro chute em seu maxilar, e algo pareceu ter quebrado.

— Maldita, quem pensa que está enganando? — olhando por cima do ombro, viu ele limpar o nariz sangrando com a mão e se apoiar no carro para se levantar.

— Eu disse para tomar cuidado com o carro, meu chute te deixou surdo? — se aproximou de novo, um ataque pela direta que foi evitado.

Ele estava mais lento que antes, fazê-lo cair com uma rasteira foi fácil. O cara tossiu ao bater as costas no chão, pisou no seu pulso com força, chutando seu rosto para o outro lado outras duas vezes, ele ainda murmurava em meio ao sangue acumulado na boca.

Mas o sangue de [Nome] que parecia estar correndo mais rápido, mais quente, gostava de poucas coisas como da visão de homens como eles sangrando.

A emoção não existia ali apesar do sorriso que se abriu na face dela.

Abrindo a pequena bolsa que atravessava seu corpo, tirou duas luvas felpudas de lá, se abaixou e enfiou as mãos em seus bolsos, achando um celular simples, uma carteira com uma identidade falsa e dinheiro, ela pegou as notas e jogou o celular no chão, pisando nos cacos enquanto se dirigia ao outro, exibindo uma careta devido ao cheiro.

Fez o mesmo com ele, guardando o dinheiro nos bolsos e quebrando o celular, se retirando do monte de lixo com a chave do carro em mãos.

Fechando a porta aberta, segurou o homem caído pelos cabelos e o jogou junto ao outro em meio ao lixo fétido, não se importando em ter derrubado, sem querer, uma sacola preta sobre eles no processo.

Antes de entrar no carro, pegou a garrafa de água e a esvaziou no chão, a colocando no banco do passageiro. Achou uma faca no porta-luvas, algumas balas e cigarros ruins.

Ligou o carro e abaixou os vidros, o manobrando ao mesmo tempo que ligou o rádio.

— Deixei o carro em uma estrada deserta depois de usar.

Assim como ficou calado enquanto [Nome] contava, o Sano permaneceu após ela acabar. Sequer tocara na própria taça, diferente dela, que virava o último gole de uma vez.

— Viu? Não escondi nada importante. — puxou a garrafa rosa claro para perto, ele não parecia ter intenção de beber, e não a deixaria quase cheia para trás, não quando precisava de um pouco mais de álcool no sangue.

— Enganou e roubou o carro deles.

— Mas não fiquei para mim, só não disse onde coloquei depois. — o som do violino perdeu foco até se extinguir, e então recomeçou em uma melodia mais calma.

Esperou que Manjiro fosse fazer perguntas mais complexas, do tipo que teria que se esforçar para achar uma resposta coerente. Mas durante todo o tempo que falara, ele tentava ler seus movimentos descaradamente, novamente, procurando algo nas palavras dela que não estava explícito.

Devolvendo o mesmo olhar que recebia, se perguntou o que ele queria saber.

— Espancou eles sem nem saber quem eram, não pensou que poderiam ir atrás de você?

— Pensei, sim.

Um vislumbre de diversão pulsou no rosto de Manjiro antes de encarar a mesa com pano branco e limpo.

— Achou mais alguma coisa? Além dos celulares e do dinheiro que levou? — pareceu ter escolhido as palavras, não mostrando reação ao vê-la negar com a cabeça.

— Não. — poucos segundos se passaram antes que continuasse, estalando a língua.

— Draken confirmou que não foi você que matou Arata. — mesmo que ainda fossem atração para algumas pessoas ao redor, ele não mediu o tom de voz ao falar de assassinato. Os boatos que o líder da Gangue Manji era audacioso não eram apenas boatos. — teria feito se tivesse chance?

Estava mais que explícito que Arata era um dos espiões infiltrados na Toman, mas ainda assim, era importante para o Sano que fosse mantido vivo e pensando estar enganando eles, sua morte pode ter feito os outros infiltrados se alertarem e começado a agir com mais cautela.

A possibilidade que Manjiro disse no dia em que propôs encobrir tudo tinha grandes chances de ser verdade, se não havia sido ela, e nem eles, significava que o outro lado no jogo não estava feliz com a incompetência de Arata.

E se podiam matar ele por um deslize, poderiam fazer o mesmo com ela.

— Dependeria do meu humor. — piscou, bebendo em seguida.

— Sabe, pensei em uma coisa que você disse, [Nome]. — apoiou o cotovelo no braço da cadeira e a mão na bochecha. — "seria burrice matar ele depois de ameaçá-lo publicamente".

Não precisou pensar muito para confirmar que Draken era um fofoqueiro, conseguia vê-lo repetir aquelas palavras com as sombrancelhas franzidas de ódio dela pelo o deboche que usara.

— Por que Arata tentaria matar Takemichy na própria área que comandava?

Mentiria se dissesse que pensou sobre durante aquele tempo, outras coisas mereciam mais sua atenção do que um homem morto, e o tempo não parava de passar as ordens dela.

Mas o raciocínio dele estava certo, mesmo que o plano tivesse dado certo, ele ainda ficaria como principal suspeito.

Manipulação seria a resposta dela, a pessoa por trás de todos os agentes contra o Sano teria que ser, no mínimo, inteligente.

As coisas que deveriam ter prometido a Arata, as mentiras que contara e a influência sobre ele, que foi capaz de fazê-lo apostar o próprio pescoço.

As vezes, o desejo e a ambição eram tão poderosos quanto o medo.

— Algumas pessoas são burras. — deu de ombros.

— Alguém que conseguiu chegar onde Arata chegou, mesmo que fosse desejo meu, não seria tão burro. — devolveu o gesto, olhando em volta, [Nome] viu um garçom parado perto dos músicos, encarando os dois com uma atenção que não parecia ser de admiração.

— Mas não foi conquista dele, não é? Você sabia que ele não era confiável, manter ele lá foi desejo unicamente seu. — falou se voltando ao loiro, exatamente, se medidas fossem tomadas antes, Takemichi não teria quase morrido.

— Infelizmente, sua morte ser adiantada acabou bagunçando tudo, sua intervenção também.

— Não parece irritado por isso.

O Sano sorriu antes de se levantar balançando a cabeça, parecendo estar se divertindo as custas de [Nome].

A taça foi deixada de lado e não precisou de um aviso para saber que já estavam de saída, e não soube se Manjiro conseguiu o que quer que quisesse saber.

Os curiosos pareciam estar mais dispersos quando voltaram até o elevador, os funcionários se curvaram mesmo sabendo que o líder da Toman não se importava em ver.

Os pés tocaram o metal e os olhos se focaram no vidro e no que havia do outro lado, e não na caixa que estava presa temporariamente.

Cruzando os braços, esperou o térreo enquanto contava os andares, e quando parou, não se importou em apressar os passos para sair.

O sol estava alto no céu e o lado de fora estava vazio, ninguém em nenhum dos dois lados da extensão verde.

Os sapatos sem salto dela faziam barulho na ponte de madeira junto ao som da pequena correnteza que deságuava no lago, talvez fosse o momento certo para verbalizar sua decisão.

— Eu não vou mais me meter em nada que envolva sua Gangue.

Tá que já havia feito esse tipo de promessa a si mesma — qual falhara —, não se envolver em problemas era o mesmo que não se envolver com a Tokyo Manji, certo? Porém, daquela vez, não teria como dar errado.

— Quis ver quem tentou matar Takemichi e acabei batendo em uns caras. — revirou os olhos, alheia a expressão de tédio a sua frente. — mas é só.

— Esqueceu que apontou uma arma para mim.

— Seus homens miraram onze, e pareciam mais que dispostos em me matar. — se virou completamente para trás, quando não obteve resposta além do silêncio, disse: — meu interesse era em quem machucou meu primo, e esse interesse está morto. Só me envolverei em coisas que possam machucar Takemichi.

O gesto que ele fez podia indicar algo entre compreensão e um "não me importa, só quero sair desse sol", e ela sinceramente não se importou em saber qual era.

— Sabia que ele chorou quando soube que foi amarrada em uma cadeira enferrujada em um lugar cheio de homens que queriam te machucar? — o movimento que Manjiro fez, se aproximando enquanto as palavras quase caíam da língua. — pediu para que eu ouvisse seu lado, que não deixasse tudo nas mãos da primeira divisão, como temos o costume de fazer.

— Por que está me dizendo isso?

— Porque vi como olhou Arata, mataria ele sem pensar se achasse que era o momento certo.

Um leve incômodo atingiu o peito dela, saber que suas emoções estavam tão visíveis não causavam uma sensação boa, mas ver Takemichi naquele estado fez com que se lembrasse dos meses que queria enterrar, do sangue que não conseguiu impedir de cair e que sangrou para fora do primo.

Manjiro estava certo, faria isso por ele, e não se arrependeria ou ligaria se vissem que a raiva dela era mais pura do a ambição de Arata.

— Eu poderia ter te impedido se sua determinação não fosse tão parecida com a dele, as pessoas do lado oculto do Japão não esquecem alguém que atrapalha seus planos, e Takemichy não vai parar de tentar proteger você deles.

E se machucaria no processo.

— Acho que ele deveria cuidar mais de si mesmo, a Toman não parece ser tão segura.

O tédio pareceu ficar longe do Sano pelos segundos em que olhara para ela, e um arrepio lhe subiu pela espinha ao pensar, de verdade, se já estivera em um lugar como aquele, mas sem a luz do sol, sem plantas e com barulho, entretanto, o mais estranho era que era com ele.

E aquilo a assustou, que tipo de déjà vu esquisito era aquele que envolvia o Sano?

Como podia algo ser tão vivido e tão distante ao mesmo tempo?

Pelo tempo que em ficou em silêncio, tentou achar algo de familiar nas feições do loiro, mas durante toda a volta nada veio a mente dela além de um pedaço de um vazio escuro.

                                    ☾︎

Sem despedidas decentes [Nome] foi deixada na calçada da casa de Hanagaki, vendo o carro cantar pneu até sumir na esquina das mansões bonitas, não bastava o bastardo do Hiroshi tentando tirar as empresas do nome dela, teria que cortar todos os laços frágeis que criara com a gangue.

A casa estava silenciosa quando passou pelo portão, entrando e esperando encontrar a sala vazia, mas o misto de rosa chiclete e uma saia azul escuro tomou a visão dela, Naomi se virou a porta, se levantando do sofá.

Com uma expressão confusa, viu que o primo estava no outro sofá, com as bochechas vermelhas e uma almofada cobrindo a barriga.

— O que está acontecendo? — perguntou enquanto parava na frente dela, colocando uma mão na cintura.

— Você não me atendeu e nem respondeu minhas mensagens desde a faculdade, passei na sua casa e não tinha ninguém, tive que vim aqui ver se você ainda estava viva. — falou rápido, os babados da blusa rosa balançando com o exagero dela.

— Perdão, eu andei um pouco ocupada. — riu, tomando o braço dela em um aperto delicado, voltando ao sofá.

— Takemichi me contou que se machucou no trabalho e que você tá ajudando. — ergueu uma sombrancelha bem desenhada, como fazia quando não acreditava em alguma coisa.

— E aí, quer alguma coisa pra comer?

— Valeu, mas só vim confirmar sua presença no casamento, estou organizando as mesas dos mais próximos e preciso do número certo dos convidados. — afundou no sofá soltando um suspiro.

Olhou Takemichi de esgueira, ele não tirara a atenção dela desde que chegara, mais pesada do que o costume, do tipo que ele fazia quando queria esconder alguma coisa importante.

— Pode ir, [Nome]. — ele se apressou em dizer, como se soubesse que ela recusaria. — eu já tinha combinado da Hina passar o sábado aqui, não vou ficar sozinho.

Mesmo que Takuya tivesse dito que a segurança dobrara, [Nome] não precisava falar que não confiava na gangue o suficiente para deixar as coisas como estavam e sair para festa. Mas ele não parecia estar mentindo quanto a Hina, e não queria ser estraga prazeres.

Naomi rolou os olhos até ela, cruzando os braços sobre o peito.

— Eu vou sim.

— Passei essa semana cuidando das coisas mais importantes, então podemos começar a nos arrumar juntas, sabe, eu vou ter que ir mais cedo ao salão de festas. — sorriu com a idéia, se levantando em seguida.

— Se você tiver tempo pra me receber. — brincou.

— Consigo arrumar um tempinho. — Naomi piscou um olho, rindo de volta. — melhoras, Takemichi.

Abanou a mão para o loiro enquanto se afastava, [Nome] a levou até o carro que não vira estacionado quando chegou, recebendo um beijo mandado através do vento pela janela aberta do carro.

Entrando de volta, viu o primo tentando se levantar apoiando uma mão na cintura, então se colocou ao lado dele.

— Ainda dói?

— Só quando o movimento é muito difícil. — fechou os olhos derrotado. — sua amiga é...

— Animada? — completou.

— Exatamente. Eu precisava de uma bebida, e justamente quando desci pra buscar, ela tocou a campainha, falando dez palavras por segundo, até esqueci de ir na cozinha.

Riu, mas logo aquela expressão de que algo estava errado voltou, [Nome] segurou seu ombro, o levando até às bebidas.

— Está tudo bem? Fora esses pontos e os remédios ruins.

— B-bem? Tá sim, só a dor que volta as vezes. — o silêncio veio em seguida, ele não teve problemas em sentar na banqueta.

— Conversou com a Hina?

— Ah, sim, quer dizer, quero falar tudo pessoalmente, então ela ainda não sabe... Disso. — apontou para si e para os machucados cobertos.

Colocou uma cerveja na frente dele, abrindo a própria depois de se sentar.

— O que o Mikey queria?

— Saber o motivo dos espiões da Toman estarem putos comigo. — deu um gole, vendo a confusão no rosto dele, claro que iria dizer a verdade ao primo assim que tivesse oportunidade, mas com tudo o que aconteceu depois...

— Como assim o motivo? Ele já não sabe?

— Eu acabei ocultando umas coisas dele e de Draken.

— De mim também. — disse, e foi uma afirmação, ela inclinou a cabeça, não negaria o que era verdade. — o que, exatamente.

Então [Nome] começou a contar, vendo os olhos azuis se arregalarem quando saiu do tópico "espanquei uns homens perto do aeroporto" e entrou no "participei de uma reunião da Toman e ameacei Arata".

Se fosse contar, aproveitaria para dizer o resto.

— Mas como Mikey permitiu isso?! E o Draken?!

— O Draken foi totalmente contra. — girou a latinha quase vazia.

— Arata morreu pouco tempo depois disso! Vão pensar que foi você! — segurou os próprios cabelos, afundando nos pensamentos.

— Obrigada por não perguntar se foi eu. — empurrou a latinha seca para o lado, puxando a cerveja do primo, qual ele deixara de beber enquanto ela contava.

— Mas você sabia que seria perigoso, por que foi lá, [Nome]? A gangue Manji não é um daqueles grupos que você batia quando era mais nova, eles são outro nível. — sua voz foi diminuindo, sendo tomada pelo nervosismo e medo.

— Eu sei, mas você deveria saber que se eu tivesse oportunidade de ficar cara a cara quem quase te matou, não iria desperdiçar.

— Eu também não contei tudo quando você chegou, da gangue e de tudo mais, então não posso ficar chateado, mas...

Lágrimas sinceras brotaram dos olhos dele, caindo em uma grande quantidade durante a fala, Hanagaki tentou limpar, mas elas caíram de novo.

— Sei que não vai se machucar, mas você é família, [Nome]... Não quero que se machuque, de jeito nenhum.

Antes que pudesse dizer alguma coisa, ela se viu abraçando o loiro, os braços dele fazendo peso em sua cintura, a blusa branca sendo molhada pelas lágrimas.

Apoiando o queixo delicadamente acima da cabeça dele, deixou as mãos fazerem carinho na cabeça dele, fazendo um barulho calmo com a boca ao sentir a respiração contra o abdômen falhar.

— Calma, priminho, não vai acontecer nada. — os próprios olhos arderam.

[Nome] ficou naquela posição até Takemichi se acalmar e dizer, somente quando o corpo ficou mole que o remédio que tomara antes de Naomi chegar estava fazendo efeito, então o ajudou a subir as escadas com as pernas bambas, reclamando como um velho que não tomara a cerveja que queria.

Ele sempre fora muito emotivo, mas poucas vezes o viu chorar até a respiração falhar, então entendeu que poderia ser efeito do medicamento.

— Vou tomar minha cerveja quando acordar, né? — resmungou, puxando mais os panos sobre si.

— Vai sim, até estar caindo pelo álcool e não por remédios.

— Não vou deixar você se machucar, viu? ... — disse baixo, entrando em um estado que era mais inclinado ao sono. — você não vai se machucar, não é?

— Não, Takemichi... pode dormir.

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