𝑭𝒐𝒖𝒓𝒕𝒆𝒆𝒏
Poucas coisas tinham alguma relevância aos olhos de Manjiro, e elas diminuam a cada dia, chegava a ser inquietante o quanto elas eram iguais. Mesmo o que gostava de fazer, com o tempo, se tornava sem graça, deixava um gosto ruim na boca.
Gostaria de dizer que mudança foi repentina, quando começou a perceber que a Toman deixara de ser um grupo de delinquentes comuns de Tokyo para se tornar uma organização nacional.
No entanto, estaria mentindo, assim como fazia quando "esquecia" das reuniões em que todos precisavam aparecer, por mais que tivesse plena consciência de que alguns assuntos só seriam finalizados com sua sentença final.
Porque o Sano liderava todo o lado obscuro do Japão, todas as coisas ilegais precisavam de uma ordem para circular pelas ruas, desde drogas a corridas clandestinas.
E era ele que balanceava se seria, ou não, útil.
Mas aquilo não significava que precisava estar, sem faltas, em todas as reuniões, com pessoas tão irritantes que gostaria de acabar com tudo em sangue.
O looping não cessava um minuto dentro de sua cabeça, uma série interminável de coisas que atiçavam sua raiva, qual pedia um final diferente de todos os outros em que não fizera nada.
Que mal fazia ceder um pouco?
Todos se entregavam com a quantidade certa de pressão, suas bocas cuspiam insultos junto com saliva e sangue, entretanto, sempre acabavam com os joelhos no chão.
E a pequena chama que esbraveava dentro dele sumia, se apagava, deixando o mais puro nada correr por suas veias, ansiando por mais, exigindo mais.
Durante toda a caçada que acontecia nos últimos anos, tentava buscar algo para suprir aquele desejo, mas todo dia ficava preso naquele infindável ritmo.
Desafios não existiam mais, não com alguém invencível.
Diante de tudo isso, com certeza não esperava se encontrar com algo indecifrável, que parecia separá-lo da comum e previsível vitória.
Porque era aquilo que encontrara quando cruzou os olhos com ela, desinteressada demais nele, assim como Manjiro era com o resto do mundo.
Ostentava a mais pura inércia ao tentar puxá-lo para baixo, na direção de uma queda que continha mais de vinte degraus. O álcool e a maconha – que pareciam conter as rédeas daquele instinto selvagem por genuínos segundos – estavam em ação desde o início da noite, mas deram espaço a um mínimo pensamento de razão ao tentar se equilibrar sobre os pés.
Se desprendera dele exatamente como alguém fazia ao se enroscar em uma teia de aranha.
Tinha se esquecido do que era ficar curioso sobre algo, do que esperar de alguém que ele não sabia a motivação de cada passo. De passos que ele não coordenava.
O que tornava tudo estranhamente inquietante ao Sano era que ela não se lembrava dele, talvez fosse apenas seu orgulho não aceitando que poderia ser tão efêmero aos olhos dela quanto outras pessoas eram aos do loiro.
Um gesto o fazia se sentir fora do posto que tinha.
Ainda não tinha certeza se aquilo era algo reconfortante ou angustiante, entretanto, quando aquele homem com sotaque estrangeiro teve a petulância de aconselhar ele sobre [Nome], teve vontade de abraçar o desejo crescente e fazer o que realmente lhe cessava os pensamentos.
E assim como apareceu no bar em que o Sano tentava, quase sem sucesso, esquecer da traição que quase levara a vida de Takemichy, o homem fora embora, com passos excêntricos e uma feição de passatempo desagradável.
De modo que não informava que havia bebido whisky ao lado do comandante da Toman, e o avisado sobre a possível ameaça que [Nome] representava ao reinado dele.
O som do tiro soara perto demais dessa vez, então levantou o olhar até o homem caído com a testa no chão e no sangue que pintava o piso branco, depois o direcionando a Sanzu.
— Ele não falou nada importante? — perguntou juntando as mãos na frente do corpo.
— Não, esse tipo de cachorro precisa de um incentivo para latir. — puxou o homem pelos cabelos, o colocando de joelhos, mas o tiro de raspão em sua coxa dificultava o processo.
O ruído de dor tomou conta do galpão subterrâneo, localizado abaixo de um dos prédios sob o comando de Manjiro, mas ele sinceramente não gostava de que mesmo o local tendo a limpeza necessária, a poeira acumulada ainda lhe irritava o nariz.
— O Mikey foi generoso com seu amigo, — virou seu rosto ao outro corpo caído metros dele, não respirava, o sangue saindo de seu pescoço ainda era fresco. — e pode acabar não sendo com você.
— E-eu j-juro, s-só recebo o-ordens! — o pé de Sanzu teve encontro com o machucado recém feito, o homem não rolou apenas pela força com que era mantido no lugar.
— Ordens de alguém que não é o Mikey, apenas isso é motivo para te matar. — a voz saiu por entre os dentes, mesmo portando um sorriso.
Ele engoliu em seco, tentando se rastejar até a poltrona onde o loiro estava sentado, parando ao ver o olhar que esculpia os olhos negros, qual desceu pelo pescoço manchado de sangue, parando na tatuagem de quatro pontas da estrela coberta pela camisa social branca.
O empurrão que levou contra o chão fez um corte em sua testa, e a risada de Sanzu ecoou pelo lugar de novo.
— Sua traição está marcada na pele! — apontou o cano da arma a direita da cabeça dele. — carne maculada não é necessária na Toman!
Pôde sentir a ansiedade de Haruchiyo ao esperar pela ordem de execução, Manjiro não olhou duas vezes para o homem antes de levantar e se virar na direção da porta, o pedido de clemência veio pouco antes do som da arma.
— Eles não servem para nada, os outros foram mais úteis.
O vice-capitão da quinta divisão o acompanhou até o lado de fora, se preocupando mais em limpar os resquícios de sangue da pele do que fechar a porta e esconder os cadáveres lá dentro.
— Sabe o suficiente para saber onde alguns pontos ficam. — afirmou, o outro maneou a cabeça, o rabo de cavalo balançou junto.
— Invadi o que deu com o tempo que me ofereceu, todos peixes pequenos. — estalou a língua.
— Estão se escondendo. — disse mais para si mesmo, mas aonde, era a pergunta que martelava dentro da cabeça dele junto a tanta outras.
Deveria conversar com Draken sobre isso, pois se estavam realmente no Japão, se escondiam junto com os ratos.
— É isso que covardes fazem, ainda mais quando sabem que estão em uma guerra perdida. — riu de novo, guardando a pistola na parte de frente do cinto.
— Mande limparem o lugar — indicou o cômodo atrás com o queixo, se virando ao começo do corredor e ao elevador que levava até o prédio acima. — e troque as poltronas.
Não viu, mas teve certeza que ele afirmou com a cabeça.
— Quero fazer um pedido.
Parando, se virou para ver além de escutar, Sanzu geralmente não fazia pedidos além daqueles que poderiam afetar Manjiro de alguma maneira.
— A garota, quero conhecer ela. — viu que ele tentou, mas o sorriso ainda tremeluziu.
— Por quê?
— Quero ver o que te deixou obcecado.
— Não estou obcecado por nada. — rebateu, calmamente.
— A levou em uma reunião importante e deixou ela ocupar a vaga de vice-capitão da quinta divisão enquanto eu estava fora, estou no mínimo interessado.
Novos membros que despertavam o interesse dele era unicamente os que rodeavam o líder, gostava de ver o quanto eram fortes, o quanto eram leais, se mereciam realmente o cargo.
Porém, era de seu conhecimento que [Nome] não era um membro oficial, mesmo que estivesse no ciclo de pessoas que rodeavam Manjiro, uma averiguação daquelas não era necessária.
— Não é preciso uma verificação. — falou no intuito de colocar um ponto final.
— Não é uma verificação, comandante, só quero me apresentar. — segurou as mãos para trás, e não sorria.
— Faça como achar melhor.
Disse por fim, mesmo não ligando se eles se conheceriam ou não, as chances de Haruchiyo fazer algo que o desagradasse eram quase nulas, e se havia dito que não teria uma verificação seguida a risca como de praxe, significava que não teria.
Mal chegara ao térreo e encontrou Mitsuya, com uma leve olheira e olhos cansados, também saindo do elevador que residia do outro lado do salão com uma pasta de documentos escura em uma mão e um copo de café em outra.
— Não sabia que estava aqui. — disse com a voz grogue, parecendo cansado demais para ficar surpreso.
— Estava interrogando os homens que Sanzu pegou. — deu de ombros, Mitsuya ficou sem expressão por segundos.
— Ah, isso me poupou ir até sua casa te procurar. — suspirou, levantando a pasta para ele.
Tomou os papéis que estavam dentro, puxando o primeiro e começando a ler o cabeçalho que o platinado fizera com as informações que pediu, analisando a foto 3X4 que ocupava o lado esquerdo da folha, o nome Miyazaki [Nome] escupido em itálico abaixo dele.
— Isso foi tudo o que achei desde que me pediu para procurar.
Tinha três folhas dentro da pasta, todas com informações que poderiam ser importantes, mas nenhuma parecendo ser a que queria.
— Ela parece uma garota como qualquer outra, Mikey, nasceu em uma família rica, sempre estudou em colégios particulares, faz faculdade e tem uma família normal. — falou enquanto o comandante ia passando o olho por todas as linhas. — apesar do que ela fez no meu apartamento, não sei por que pediu com tanta veemência uma ficha dela.
O silêncio se estendeu enquanto Manjiro continuava a ver as folhas, parando apenas quando notou a crítica no rosto de Mitsuya, ficando mais evidente com sua sombrancelha cortada arqueada.
" Deveria tomar cuidado com quem deixa ver suas costas, as vezes, um rosto bonito esconde a pior das intenções."
A raiva calma tentou acariciar Manjiro a medida que a lembrança ia embora, achava saber do que [Nome] era capaz, mas o quão perigosa ela poderia ser?
O quanto de cuidado teria que ter com uma simples garota rica?
— Tem certeza que isso é tudo o que achou? — indagou guardando as folha na pasta novamente.
— Está duvidando do meu trabalho? — fechou os olhos em pura satisfação ao beber um gole do café.
— Jamais. — balançou a cabeça, o tom de voz arrancou um sorriso de Takashi, cansado, mas sincero.
Ele ainda era líder da segunda divisão, especializado e responsável por toda a parte tecnológica da Toman, e era um dos únicos que não olhava o Sano diferente, mesmo com sua mudança ficando cada dia mais evidente.
Inevitável.
— Posso ver se acho mais alguma coisa, mas aposto que será irrelevante.
— Veja se encontra.
As chances de o que escutara há dois dias ser uma informação falsa era alta, talvez quisessem, por algum motivo, fazê-lo desconfiar de Miyazaki, mas Manjiro nunca perdeu nada por ser cauteloso.
— O que está procurando, exatamente? Pode ser mais fácil se eu souber.
Como iria explicar algo que não conseguiria colocar em palavras? Manjiro sequer sabia o que estava procurando.
— Não é nada importante, mas quero a ficha mais completa que conseguir fazer. — colocou uma das mãos nos bolsos, se dirigindo a saída que era vigiada por dois seguranças.
— Não posso mandar pelo seu e-mail? — Takashi perguntou, e recebeu um aceno negativo.
— Impresso. — o olhou por cima do ombro, vendo a expressão contrariada do platinado, suspirando antes de voltar a sala climatizada repleta de computadores.
Tentou parecer não saber o por quê o carro de Ken estar parado na frente da saída, mas era evidente sua pressa se não havia parado no estacionamento.
A porta foi aberta e o loiro desistiu de sair do lugar ao ver Manjiro descer os degraus até ele.
O fato do responsável por percorrer o Japão atrás de traidores ser responsabilidade de Sanzu o enfurecia, por mais que não pudesse negar que ele era eficiente no trabalho.
Mal pôde se sentar antes de ter um punhado de papéis no colo, percebendo rápido do que se tratava.
O Sano os segurou de modo que pudesse passar com os dedos as fichas de todos os possíveis suspeitos. Não eram muitos, mas uns estavam em uma patente elevada de outras divisões da gangue, outros eram pequenos comerciantes locais ou trabalhavam em empresas.
Tinha uma significante diferença entre aqueles homens e os que rondavam aeroportos e hotéis baratos, buscando presas fáceis para roubarem.
— O que eles disseram? — Draken perguntou depois que entraram em uma avenida, não se importando em fazer seu motorista passar do limite permitido.
— Recebem ordens de tempos em tempos, não sabem quem é o homem ou onde encontrá-lo. — juntou as folhas na própria coxa, os batendo para ficarem alinhados e colocando dentro da pasta que logo lhe foi entregue.
— E por que essa onda repentina de roubo?
— Ordens. — viu o vice-comandante dar um soco de lado na porta do carro, trincando os dentes.
— Desde que você ocupou Mitsuya para sei lá o quê, Hakkai tem conseguido os registros policiais, não faz mais de quatro meses que turistas e moradores locais tem dado queixa de roubo, — disse, olhando atentamente a estrada. — claro que eles deram pouca importância, ninguém foi preso.
A única coisa que importava ao Sano quando se tratava da polícia era a propina que pagavam e o quanto era bom vê-los correr em círculos, sabendo que mesmo que não fossem subornados, não poderiam pegá-lo.
A frustração que eles sentiam era gratificante.
— Cuide dos policiais da forma como achar melhor. — afirmou, Ken sorriu pequeno.
— Imagino que não tenham achado nenhuma base. — cruzou os braços, o sorriso sumindo aos poucos.
— Nada que valha a pena continuar procurando.
— Eles não estão em Tokyo, e acho que nem no Japão.
Era uma aposta alta, e sabia que Ryuguji tinha ciência daquilo quando a voz ficou calmamente baixa.
— Estão com medo, e em breve, não vão ter mais lugar para se esconder.
☾︎
Os quartos de hospedes da mansão de Naomi poderiam ser comparados a uma suíte de um hotel cinco estrelas, por mais que ela quase tivesse tido um ataque ao escutar [Nome] falar aquilo, porque ela ainda não aceitava ter cedido seu quarto a Nara.
Porque era o mais confortável da casa depois das suítes principais, e foi oferecido de bandeja quando decidiram que a noiva deveria se arrumar lá.
Ela gostava do estilo da decoração, de como a família dela se permanecia "tradicional" com a evolução da tecnologia, ainda optavam por paredes de tijolo ao invés de janelas de vidro que ocupavam todo o espaço em todos os cantos.
Mesmo que Naomi não gostasse tanto assim, não podia reclamar do acomodamento que era oferecido.
Então, em uma posição em que [Nome] não podia descrever exatamente como era, com travesseiros apoiados nas costas e os pés em uma cadeira cheia de roupas bagunçadas, observava a amiga mostrar dois saltos brancos com sutis pedrarias.
— Qual combina mais com o vestido? — indagou, olhando de um a outro, indicou o que era um pouco mais puxado ao rosé do que ao branco. — tem certeza?
— Tenho, e não acredito que ainda não decidiu o que usar.
Se sentou na cama cruzando as pernas, não era novidade Naomi esquecer as coisas, mas quando se tratava de festa, ela sempre tinha uma lista de todas as combinações prontas uma semana antes.
E naquele momento, horas antes do casamento, não sabia que sapato usar.
— Eu acabei gostando dos dois, — andou rápido até o closet, abrindo a capa do vestido rosa claro e o arrumando sobre a cama, que era o único lugar arrumado em todo o quarto. — e aí? — colocou o par ao lado do pano de cetim.
— É esse mesmo. — se levantou para ter uma melhor visão, mas Naomi mordeu o lábio inferior.
— Okay, agora só falta separar as jóias.
Mais panos foram jogados no chão enquanto procurava por elas, deixando o quarto redecorado com roupas coloridas e brilhantes.
— Ainda não escolheu elas também?
— Escolhi, são um conjunto e estão em uma caixinha preta, tenho certeza que trouxe quando aquela bruxa se apossou do meu quarto de novo. — cruzou os braços em evidente raiva, passando os olhos por toda a superfície dos móveis.
Uma batida leve na porta foi ouvida, Naomi suspirou alto, passando por cima das caixas no chão para conseguir atravessar o quarto. Do outro lado uma mulher segurava uma folha com uma caneta.
— O último carregamento de flores chegou, senhorita, pode ir verificar, por favor? — entregou o que parecia uma autorização, ela parecia querer rasgar a folha com a força em que a apoiou na cômoda mais próxima e deixou sua assinatura.
— Mande Nara fazer isso. — entregou junto com a caneta, mas um sorriso amarelo tomou o rosto da mulher.
— Ela está fazendo as unhas, senhorita.
— Não tem mais ninguém que possa fazer isso aqui? — indagou, batendo o pé no chão.
— Não, senhorita.
Naomi suspirou, mas daquela vez era para conter a raiva, maneando a mão enquanto fechava a porta.
— Já estou indo, obrigada.
Ela pareceu se segurar para não surtar quando se virou de novo, calçando o primeiro par de sandálias que encontrou.
— A mãe dela, que não perde uma festa, que deveria estar vendo essas coisas, não eu. — apoiou as mãos na cintura. — se Hayato for casar, se certifique de não estar perto quando as tarefas familiares forem distribuídas.
— Achei que você só iria arrumar os lugares dos mais próximos.
— Eu também. — disse, quase como um suspiro misturado com um riso de desesperado. — pode ir até o meu quarto ver se deixei as jóias lá, por favor?
Se levantou, não se preocupando em calçar os sapatos e andando até onde Naomi estava.
— Uma caixinha preta, não é? — perguntou, a amiga acenou com a cabeça, fechando a porta atrás de si quando já estavam descendo o corredor.
— Se ninguém mexeu, provavelmente vai estar encima de alguma coisa.
Uma bifurcação dividia o caminho, uma levava até às escadas principais, qual Naomi virou em passadas rápidas, a outra acomodava os quartos privados e salas que poucos tinham acesso.
Cada porta ia passando, e cada quadro parecia estar exatamente igual como quando [Nome] entrou ali pela primeira vez.
As risadas e a voz da amiga dizendo como todos aqueles quartos eram desnecessários preencheram o espaço vazio entre ela e o destino final, na época, as duas sequer tinham metade da altura que gostavam de exibir em saltos finos ou botas de cano alto.
Naquele dia, por todos os minutos em que tivera com Naomi para passearem pela casa, [Nome] havia se esquecido do quanto as mangas longas do vestido roxo eram desconfortáveis, ou o quanto os machucados por baixo deles doíam.
Foi a primeira vez em dias que ela deixou o entusiasmo da menina de cabelos negros se espalhar um pouco por ela.
Apaziguando um pouco a dor física.
Olhando novamente, [Nome] percebeu que aquela mansão era ironicamente parecida com a que pegara fogo quando ninguém estava olhando.
E não poderia dizer com sinceridade que sentiu alguma coisa ao ver a fumaça sair dos escombros em uma página de notícias, mas gostaria de ter visto de perto.
O timbre infantil de Naomi sumiu da mente dela como aquela fumaça ao ver a porta entre aberta poucos passos dela, mais silenciosa do que esperava para um quarto de uma noiva.
Espiando antes de entrar completamente, percebeu que não havia ninguém, e apesar de ter alguns acessórios encima da cama, estava incontestavelmente mais arrumado que o de Naomi.
Um mínimo sorriso apareceu com o pensamento, olhando pelas superfícies próximas, procuraria no closet depois. Se aproximando da cama de casal, não demorou para ver a caixinha de veludo escura em meio a produtos de pele e outras coisas.
Não queria ser bisbilhoteira, mas não resistiu em dar uma segunda olhada as fotos perto dos travesseiros, levando a caixa consigo, as espalhou para ver melhor.
Não eram de Naomi, percebeu ao notar que Nara estava em todas, em lugares diferentes e com pessoas diferentes, e portava um sorriso que [Nome] descreveria como bonito.
O completo oposto da feição que vira mais cedo quando chegara, ou quando se conheceram em uma das festas, sequer sabia que ela poderia sorrir daquele jeito.
Enquanto passava os olhos por todas as fotografias, parou em uma que estava perto de um travesseiro, o vento balançava os cabelos castanhos claros e soltos de Nara, que parecia mais nova do que era agora, mas não foi a beleza juvenil que chamou a atenção de [Nome], e sim o homem que ela abraçava de lado.
Com um sorriso igualmente largo, a blusa florida estava aberta e segurava um óculos de sol em uma mão.
A boca de [Nome] se abriu levemente ao ver a cicatriz decorando um lado do rosto dele – fazendo um corte em sua sombrancelha que não permitia mais crescer nenhum pelo – estava mais fina e apagada, mas poderia reconhecê-lo mesmo que a posição da foto não tivesse contribuído para ver o machucado cicatrizado.
Estava mais velho, mas definitivamente era ele.
Largou a foto na cama ao escutar os passos se aproximando, se virou a tempo de ver Nara entrar no quarto com um roupão branco e longo, franzindo as sombrancelhas ao ver [Nome].
— O que está fazendo aqui? — indagou, trocando o olhar dela até às fotos.
— Vim buscar as jóias de Naomi. — deu de ombros, abrindo espaço assim que a viu andar apressadamente até a cama, juntando as fotos com certa agressividade.
— Isso não é motivo para mexer nas minhas coisas! — as juntou em um monte, guardando na bolsa mais próxima que encontrou.
— Não estava mexendo, elas estavam na cama. — indicou a caixinha em mãos, girando sobre os pés e indo até a porta.
Ela realmente não parecia ser a garota das fotos.
Assim que se virou para puxar a porta, viu o cenho de Nara franzido, não em uma expressão de raiva, mas como se estivesse cansada.
Exibiu um sorriso simpático antes de sair.
☾︎
Chegou junto de Naomi, se sentando onde estava anteriormente depois de entregar as jóias, ainda teve que dar uma nota para a roupa completa.
— Naomi, Nara tem irmãos?
— Tem uma irmã mais nova, uma graça, nem parece ser parente dela. — tirou um dos brincos banhados a ouro, o guardando na caixinha antes de continuar. — e um irmão mais velho, acho que temos uma diferença de cinco ou seis anos de idade... Mas não mora no Japão, não sei se vai vir ao casamento.
Tirou todo o conjunto, o guardando delicadamente dentro da caixinha, e não o jogando como fizera com todas as outras coisas do quarto.
— Ele foi embora há muito tempo, não acho que você conheça ele.
[Nome] se jogou para trás na cama ao notar a feição da amiga pelo espelho.
— Não vai me dizer que conheceu ele durante sua "viagem internacional?" A família deles é muito influente no ramo empresarial, sabia? — fez uma voz doce.
— Não conheci não, o confundi com alguém. — Naomi parou de piscar os cílios após escutar, estalando a língua.
— Sabe que eu não acredito que não tenha conhecido ninguém na França, não é?
A palavra que frisou significava mais do que parecia saindo da boca dela, pois desde que [Nome] chegara, a amiga insistia em dizer que ela tivera sim algum significante relacionamento lá.
— Sei. — disse simples, se virando na cama confortável.
— Você é malvada quando quer.
Viu a almofada voar em sua direção no mesmo instante em que a segurou, rindo de Naomi.
— Quer mesmo bagunçar mais seu quarto? — perguntou, a jogando de volta.
— No momento, não, mas você vai ver depois, quando eu estiver realmente no meu quarto. — mostrou a língua antes de pegar algumas roupas e levar de volta ao closet.
Deixou o sorriso acompanhar a amiga, sumindo quando se encontrou sozinha.
☾︎
O nervosismo que fazia as mãos de Takemichi tremerem era o que ele menos gostava, porque quando acontecia, não conseguia esconder suas inseguranças.
Tentou disfarçar segurando o copo de cerveja, esperando Chifuyu terminar de beber o líquido em poucos goles.
— Sinceramente, hoje foi um dia longo.
Encheu o copo de novo, ele fngiu um sorriso, mas tentar esconder seus sentimentos do Matsuno era como tentar cobrir uma construção com um papel toalha.
Simplesmente não tinha como.
— Vai, desembucha logo o que aconteceu. — cruzou os braços, desistindo da bebida.
Takemichi abriu a boca, escolhendo bem as palavras que iriam sair dela, mas nenhuma lhe passava segurança.
— É sério assim? — ele se aproximou com a banqueta, chegando a sussurrar. — tem mais alguém aqui? [Nome]?
— Não, ela saiu, estamos sozinho. — mexeu o copo antes de beber um pouco.
— Então conta logo. — falou em tom normal, como se fosse o óbvio. — é alguma coisa relacionada ao Kisaki?
— Eu não sei.
Ele balançou a cabeça, se forçando a lembrar de todos os fleshs que teve naquela fração de segundo, das cores e da feição abalada de Ken.
— Foi apenas uma visão.
— Apenas uma visão?! Sobre o quê?!
— Aconteceu quando Draken veio há dois dias me ver, eu coloquei a mão em seu ombro antes dele ir embora. — engoliu em seco, preferindo tomar do álcool depois. — Então estávamos em um quarto, ele estava perto do vidro de uma janela, e aí percebi que era o quarto da minha prima.
A imagem do prédio atrás das costas de Ken era a mesma que dava para ver pelas janelas dela, foi conferir um tempo depois assim que teve oportunidade, apenas para ter certeza, e quase teve um flashback do loiro ali.
— De [Nome]? — Chifuyu indagou com certa surpresa.
— Sim... Eu perguntei o que ele estava fazendo ali... e ele disse que estava procurando alguma coisa que o ajudasse a... achar ela.
Takemichi apertou uma mão contra a outra, Draken parecia o mesmo de agora, nem mesmo um fio de cabelo havia mudado.
— Não era a visão de um futuro distante, Chifuyu... — as palavras soaram na mente dele, mesmo que não fosse dito, poderia acontecer a qualquer momento.
E aquele pensamento o deixava ansioso, nervoso, ele quase não dormira aquele dia.
— Ela não estava no passado, nem no futuro... — o loiro afrouxou a gravata, cravando os olhos verdes no seu copo ainda cheio.
— Eu sei, você viu meu nervosismo no dia em que a vi, e não era apenas por ela ter batido em uma caras.
Os minutos que se passaram queriam a todo custo engolir Takemichi, era agoniante e terrível. E pensou em tantas coisas nesses minutos, talvez mexer na linha do tempo poderia ter mudado algumas coisas além de tudo com a Tokyo Manji, coisas irrelevantes.
Era aquilo que se obrigava a acreditar, o encontro com a prima não era nada que devesse se preocupar.
Mas Takemichi nunca procurou por ela no outro futuro, em nenhum dos entediantes dias em que era obrigado a trabalhar naquela loja para sobreviver, muito menos naquele, estava tão obcecado com o caso da Toman que esqueceu dela.
Nunca ousou fazer um telefonema ou tentou entrar em contato. Nunca.
E se sentia péssimo por aquilo, [Nome] sempre se preocupou demais com ele, nem mesmo o preconceito de Mizuki a impedia de defendê-lo da mãe, de defendê-lo de qualquer pessoa que tentasse machucá-lo.
Era um amor fraternal, o primeiro que já sentiu.
Como pôde tê-la esquecido por tanto tempo?
— Fizemos alguma coisa que a trouxe da França. — disse, por fim.
— Salvar a vida de Draken e Baji pode ter sido um motivo. — começou Matsuno, traçando linhas invisíveis na bancada. — mas vai ser difícil sabermos, e se colocarmos na balança... O preço que você pegou pela vida deles nos custou todas as provas que tínhamos contra o Kisaki.
Mesmo com o sucesso em mantê-los vivos, ele continuava a espreita, cercando Mikey de todas as maneiras possíveis, se aproximando dele como um verme rastejante.
Planejando fazer o primeiro futuro, o qual comandava a Toman junto ao Sano ser o único existente, – mesmo com Draken nunca dando o braço a torcer.
Seus espiões estavam se mesclando cada vez mais na Gangue, apesar de todos acharem serem de outra pessoa, e mesmo sem provas, Kisaki era o único culpado.
— A vida deles é o mais importante, conseguiremos as provas com o tempo. — tempo, se lembrasse da visão que teve, não saberia dizer o quanto tinha.
— Hanma ainda está solto, mas você está na cola dele, não é?
— Sim, desde que ele matou Arata, mesmo que inicialmente Draken e os outros acharem que foi [Nome], tenho plena certeza que—
— Espera espera. — O dedo do loiro parou de contornar a mesa, e batucou a unha sobre o mármore. — qual a relação de Draken com isso? Por que a visão foi com ele?
— Não sei. — devolveu quase com mesma euforia. — mas não quero que chegue ao ponto de descobrir, — fechou a mão em punho, erguendo o olhar até o loiro. — não vou deixar que ninguém morra nesse futuro, muito menos que ela desapareça.
A determinação de Takemichi nunca tinha se tornado falha, e quis que não falasse daquele vez.
Teve êxito em salvar Ken do confronto com a Moebius, de fazer o Baji sair vivo da facada em seu abdômen.
Faria o que pudesse para saber qual a relação de [Nome] com a Toman e as visões, não a deixaria simplesmente desaparecer.
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