﹙𝗰𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝘂𝗺﹚meu beijo desastroso
• ❄️⛄ •
Seis anos e onze meses depois.
Em minha defesa, o garoto não pareceu se importar tanto com o beijo.
Sim, ele levou um momento para finalmente entender o que tinha acontecido tão de repente — o que era perfeitamente compreensível. Foi um minuto dolorosamente constrangedor.
Eu não conseguia escutar nada em volta de mim. As caixas de som da festa estavam muito altas, o chão inteiro vibrava e eu jurava que os meus órgãos estavam pulando dentro de mim. Eu também tinha certeza de que aquele beijo estava feio e desengonçado como se eu estivesse tentando ganhar em uma briga de cabeçada com aquele garoto. Estava ficando ansiosa, sem saber se conseguiria mentir por mais tempo.
Minha amiga, Wren, que eu tinha visto entre as dezenas de pessoas, iria olhar para nós dois e saber, sem sombra de dúvidas, que não tínhamos vindo para a festa juntos. Sem chance.
Então, por apenas um momento, senti que já não estava mais ansiosa e desengonçada. O garoto inspirou fundo e não pareceu se importar nem um pouco que uma garota desconhecida estava o beijando assim, tão bruscamente. O beijo era mais um selinho bem longo que um beijo de verdade. Naqueles poucos segundos, pareci esquecer o fato de que estava agarrada com um garoto qualquer e aleatório. Esqueci que não tive a decência de lhe dar uma breve explicação antes de grudar os lábios nele. E, com certeza, apaguei da minha mente a razão que me levou a dar aquele show — esperando enganar Wren.
Eu estava começando a me acostumar com aquilo. Já estava passando as mãos no pescoço dele até os cabelos, então algo disparou dentro de mim. Percebi a estupidez que estava cometendo e acho que ele também reparou, porque nos empurramos ao mesmo tempo.
Aparentemente, eu era muito boa em esquecer das coisas, já que tinha ignorado completamente a presença dele na minha frente e comecei a olhar em volta desesperadamente, à procura de Wren. As luzes coloridas e neon piscavam ao redor, mas não havia sinal dela. Mas eu podia jurar que tinha a visto alguns segundos antes de eu agarrar esse pobre garoto. Meu Deus, o garoto!
Ele estava parado bem na minha frente, sem entender, a boca entreaberta, um brilho estranho nos olhos e foi então que meu coração parou e parecia não querer voltar mais a bater.
Puta merda.
— Matt?
— Lexi?
Eu não o via há anos e... digamos que eu não fui embora da maneira mais tranquila possível. Mas estava tudo bem, ele nem se lembrava da carta. Foi um ato estúpido de uma garota adolescente, nada de mais.
Lembro da época que pensava que Matt e eu nunca deixaríamos de sermos melhores amigos, sempre estaríamos juntos e nunca iríamos nos afastar. Acho que estava errada em todos os aspectos possíveis.
Nós dois ficamos em silêncio por um tempo. Eu não sabia dizer exatamente quanto tempo ele durou, mas eu estava revirando todo o meu cérebro para achar as palavras certas a dizer. Matt estava parado, me olhando com aqueles olhos azuis e cabelos escuros. Eu não sabia dizer se ele estava bravo, surpreso, feliz. Talvez tudo ao mesmo tempo?
Está tudo bem. Tudo tranquilo. Supertranquilo. Eu vou fingir que nada aconteceu, sorrir e sair de fininho. Um plano perfeito.
— Você acabou de me beijar?
Não tinha a menor chance de negar o que tinha acabado de acontecer.
Mas resolvi tentar de qualquer jeito.
— Não.
— Ah. — Ele estava dolorosamente confuso.
Matt balançou a cabeça, parecendo um pouco desorientado. Ele abriu a boca para falar mais alguma coisa e, quando eu estava me virando para fugir, ele tocou o meu ombro.
— Tem certeza?
Eu estava fazendo papel de maluca. Estava mesmo.
Cobri o rosto com as mãos, porque olhá-lo seria doloroso demais e muito embaraçador. Simplesmente não havia como explicar aquilo. Acho que se Matt fosse um total desconhecido, seria mais fácil. Mas ele não era. Estava longe de ser.
— Olha, eu sinto muito mesmo. É uma situação complicada. Podemos só esquecer que isso aconteceu?
— Tudo bem.
Mas eu não poderia deixá-lo sair assim. Não mesmo. Eu o deixaria sair andando, pronto para criar suas próprias conclusões sobre o porquê de eu ter o beijado tão de repente, sabendo da carta que enviei anos atrás? Não. Talvez contar a verdade fosse mais fácil.
Matt já estava distante quando corri até ele e segurei seu pulso. Ele parou imediatamente e ficou olhando para os meus dedos envolvendo seu pulso. Eu tinha me ferrado no maior nível possível.
— Wren Graves. — Olhei em volta, torcendo para que ela não estivesse por perto. — A garota que estava passando na hora. Ela é minha amiga.
Matt não pareceu juntar o nome com o rosto, muito menos entender o que diabos Wren tinha a ver com o nosso beijo.
— Eu estava saindo com um cara que conheci, Ash Hall. Nós saímos algumas vezes e eu o levei para a festa de aniversário de Wren, e eles meio que se deram muito bem.
Eu tinha tomado a pior decisão do mundo. Só de imaginar Wren e Ash juntos me deixava um pouco enjoada. Mas também me doía saber que Ash achava Wren muito mais interessante do que eu, mesmo quando estávamos juntos quando se conheceram. Bem, não juntos de verdade. Ah, vocês entenderam!
Abanei as mãos e sorri, mesmo que não houvesse motivo nenhum para sorrir.
— Resumindo tudo... Quando Ash e eu terminamos, ele chamou Wren para sair. Ela negou, por causa da lealdade entre amigas, mas eu sei que ela gosta mesmo dele. E mesmo que eu a diga que não tem problema, ela não acredita.
E o pior de tudo, mas Matt não precisava saber, era que tive que saber por Silena — minha melhor amiga —, que Wren confessou a ela sobre achar Ash incrível, mas nunca me trairia assim. Eu me senti terrível automaticamente.
— Então eu menti, disse que estava saindo com outra pessoa e não quero impedir que ela fique com a pessoa que realmente quer só por causa de mim e de um cara que nem cheguei a namorar de verdade... — Parei e percebi que estava tagarelando. — Hoje à noite. Eu disse a ela que traria o garoto que estava saindo hoje à noite.
— Ah.
A expressão dele era muito parecida com a que fez no dia que nos beijamos no sótão, quando disse que éramos só amigos e nada daquilo importava.
— E você não pensou em arranjar um garoto qualquer antes de chegar aqui?
— Matt. Eu já estou me sentindo uma idiota, não piore as coisas.
Ele deu risada. Ver que já não estava tão confuso era mil vezes melhor. E escutar aquela risada de novo, também.
— Pelo menos tenho quase certeza de que Wren viu a gente se beijando, então ela vai pensar que eu realmente estava com alguém e finalmente vai poder sair com Ash. — Eu estava falando muito rápido. — Eu sinto muito, muito mesmo, pelo beijo.
— Não se preocupe.
Olhei o horário no meu celular e tomei um susto quando vi que faltavam apenas alguns minutos para as três da manhã. Tinha prometido a Silena que voltaria para casa logo e não ficaria tanto tempo na festa.
— Merda... Eu tenho que ir. A gente se vê — anunciei, guardando o celular de volta na bolsa. — Foi bom te ver e... Eu sinto muito.
Dei meia-volta e saí correndo pelo terraço. Esbarrei em várias pessoas, nem consegui contar quantas foram. Fiquei ansiosa sobre os pés enquanto esperava o elevador descer até o primeiro andar. Por que esse prédio tinha que ser tão alto? Quando saí do prédio, o manobrista trouxe o meu carro e eu entrei bem depressa. Dirigi pelas ruas iluminadas de Los Angeles até chegar na garagem de casa.
Foi só quando fechei a porta principal e encostei as costas nela, olhando para Silena e sua expressão confusa, que me dei conta do que tinha acontecido. Estava sentindo o corpo tremer com o turbilhão de informações na minha cabeça.
Matthew Sturniolo?
O MATTHEW STURNIOLO, LEXI?
— Silena.
— Sim?
— Silena.
— O que foi?
Ela pulou do sofá, segurando um pote de sorvete de morango na mão e uma colher pendurada na boca.
— Silena, eu beijei o Matt.
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