•❄️⛄️•

Três dias depois, eu estava atrás do palco, me preparando para começar o show.

Cheguei no Greek Theatre às três da tarde, ensaiamos e testamos os sons, microfones e o palco. Alguns fãs tinham pagado para assistir o ensaio e chegar mais cedo que o horário de abertura dos portões; aquilo tinha me deixado extasiada. Deveria ter mais de cinquenta pessoas ali, me assistindo ensaiar debaixo do sol forte de Los Angeles.

Às seis da noite, faltavam apenas quinze minutos para eu entrar no palco. Eu estava sentindo as pontas dos meus dedos pinicando, meu coração batendo junto com a bateria que Jace tocava lá na frente para os fãs, e eu vibrava junto com as caixas de som.

Escutei três batidas na porta do camarim e, quando gritei para entrar, Lilian Café surgiu com um sorrisinho no rosto, um pouco envergonhada e, é claro, segurando um copo de café na mão.

— Lexi, seus amigos estão aqui — anunciou ela, parando em frente à porta semiaberta.

— Pode deixar eles entrarem, por favor — pedi, lançando-lhe um sorriso.

Então, Lilian saiu da frente da porta e uma fila de quatro pessoas ocuparam o espaço em volta da minha penteadeira. Matt, Chris, Nick e Silena. Estavam todos muito bem vestidos, cheirosos e bonitos. Eu não via Nick e Chris há muito tempo, mas estavam bem crescidos, com barbas prestes a crescer e um olhar bem diferente de quando eram adolescentes.

Abracei Nick e Chris primeiro, principalmente porque já iria completar quase uma década desde que não os via — literalmente. Estavam todos mais altos que eu, exatamente como Matt era, mais maduros e eu senti um aperto no peito. A sensação que tive quando vi Matt estava se multiplicando por dois agora.

— Estou muito feliz que vocês estão aqui — sorri, então abracei Silena e Matt.

— Lexi, eu tenho que te contar uma coisa... — começou Matt, olhando em volta para ter certeza de que ninguém estava por perto, depois olhou para mim, com uma careta culposa.

Eu imediatamente sabia o que tinha acontecido.

— Eles sabem?

— Sabemos — Nick e Chris disseram ao mesmo tempo.

— Ótimo! Mais pessoas para saberem da maior besteira da minha vida — ri, embora não tivesse vontade nenhuma de rir.

Quando respirei fundo e apertei a ponte do nariz, Silena tocou meu ombro e me deu um abracinho de solidariedade, como se aquilo fosse consertar alguma coisa. Eu espiei para ver a expressão que Matt fazia e ele parecia arrependido, como se não estivesse nos planos dele deixar que seus irmãos descobrissem. Eu sabia que os dois não diriam nada, mas ainda assim me deixava nervosa.

— São mais pessoas para te ajudar a esconder, se você quiser enxergar dessa forma — disse Chris, sorrindo como se nem ele acreditasse no que dizia.

— Pois é — concordou Nick. — E não foi culpa do Matt, a gente já sabia do beijo na festa. Então ele saiu à noite pra te encontrar, logo depois que as fofocas sobre vocês estavam soltas pela internet, e, vamos ser sinceros aqui, não tinha como esconder tudo isso da gente.

— Sim, eu sei — falei, notando uma expressão mais aliviada no rosto de Matt. — Eu imaginei que ele não fosse conseguir guardar esse segredo de vocês.

Escutei os gritos dos fãs lá da plateia e, quando espiei o relógio na parede, vi que faltavam apenas dez minutos para que eu entrasse. Fiquei mais nervosa ainda, como se nunca tivesse me apresentado antes. Eu jurava que acabaria desmaiando.

— Vou indo para o VIP pra gravar a entrada do show do melhor ângulo — disse Silena, dando um beijinho na minha bochecha. — Arrasa, amor!

Então Silena sumiu pela porta, se apressando para ir ao VIP. Eu amava como ela era sempre a primeira a me apoiar, a primeira a ouvir as músicas mais bestas que eu escrevia. Ela era minha irmã, eu a amaria da lua até saturno.

Chris olhou por cima dos ombros até que Silena não estivesse mais por perto. Ele se aproximou de mim com um sorrisinho no canto dos lábios, abraçou meus ombros e deu uma risada cheia de intenções.

— Lexi, aquela sua amiga não está namorando com ninguém, está?

— Christopher.

— O quê? — perguntou ele, levantando as mãos.

Nick começou a balançar a cabeça, como se não acreditasse em como Chris poderia ser tão... canalha. Ao menos ele não era um canalha dos piores, só gostava de beijar muita gente. Todos eles eram lindos, cada um com o seu charme específico, mas Chris era quem mais conversava com as garotas — levando em consideração que Nick é gay — e chamava mais atenção. Isso não mudou até hoje, aparentemente.

Agarrando o irmão pelo braço, Nick sorriu para mim antes de levar Chris consigo ao VIP, agradecer pelos ingressos e dizer que estava muito orgulhoso de quem eu tinha me tornado. Então Matt e eu estávamos sozinhos. De novo. Olhei para o relógio e agora faltavam oito minutos. O som que o ar condicionado fazia parecia superar o grito dos fãs lá fora. Não sei se Matt me deixava nervosa ou era a situação inteira que me deixava tremendo.

Agora, só nos dois, prestei mais atenção nele. Matt vestia uma camisa branca com uma jaqueta azul escuro e bege, calça preta e bota combat marrom claro. Fiquei desconcertada por um momento, não exatamente porque as roupas lhe caíam bem, mas porque ele tinha se arrumado todo só para o show. Para estar aqui hoje. Ele cheirava muito bem, usava um perfume bem amadeirado e gostoso e tinha cortado o cabelo. Sei disso porque estava mais curto e aparado desde que nos vimos da última vez, há três dias atrás.

— Ansiosa para o show? — começou ele, andando dois passos para perto de mim.

— Ansiosa tipo, quero que comece logo, ou meu deus, vou acabar vomitando agora mesmo, porque a resposta seria uma boa mistura dos dois — disse, então ri.

Eu vi Matt sorrir, como se tentasse esconder uma risada. Ele tocou meu braço, fazendo um carinho estranhamente confortável. A pele dele era quente, quase como se estivesse fervendo a minha junto. Por um momento eu hesitei, pensando se deveria cortar qualquer tipo de interação mais íntima quando ninguém estivesse vendo. Afinal, era tudo uma farsa. Mas aquilo parecia ingênuo demais, então não me importei.

— Você vai se sair bem — disse ele. — Para alguém que se apresentou todo ano na banda da escola, acho que você vai estar preparada.

Dei risada porque era verdade. Sempre me apresentei, sempre cantei para o público ou para as embalagens de shampoo no meu banheiro. Cantei desde que aprendi a falar. Nada daquilo deveria ser difícil para mim. E, de repente, eu me senti mais calma e confiante. Olhei para os olhos de Matt e lá estava aquela cor azul brilhante, que já estava olhando profundamente para mim, me examinando. Senti o peito esquentar e, antes que pudesse entrar em um transe maluco, Lilian bateu na porta e avisou que faltavam cinco minutos para a minha entrada.

Matt se despediu e saiu do camarim, indo se encontrar com seus irmãos e Silena no VIP. Deixei que Lilian e outras pessoas da equipe entrassem para verificar o aparelho de som preso às minhas costas, enquanto verificava meu celular uma última vez antes de subir no palco. Tinha uma mensagem não lida de Dylan. Cliquei para ver as respostas dele às mensagens que tinha enviado mais cedo.

WESBENNETTSWIFE:
e vc?
vai ficar em casa sem
fazer nada o dia inteiro
de novo ou vai sair para
tocar um pouco de grama?

IMDIPPERPINES:
para a sua informação
hoje eu vou sair de casa sim

WESBENNETSWIFE:
omg 😱😱😱
você vai sair pra
varanda de casa???

6:12 PM
one unread message

IMDIPPERPINES:
não dessa vez 🫡
vou num show hoje
Lexi Dankworth, conhece?
já to aqui inclusive

Para ser sincera, eu não sabia que merda eu responderia. Meus dedos estavam tremendo e eu joguei meu celular para o sofá. Não era como se ele soubesse que eu era a pessoa na qual ele iria ver o show hoje, não é? Não tinha como ele saber. Ainda assim, estava ficando nervosa de novo. Lilian teve que estalar os dedos na frente do meu rosto para me fazer voltar à realidade.

— Vamos, você tem que entrar agora! — exclamou ela, me levando até o outro lado por trás do palco.

A contagem regressiva no telão chegou no zero e o guitarrista, Mike, começou a tocar, fazendo o solo que antecede a minha entrada. Quando surgi no palco, mesmo antes da luz do holofote focar em mim, me senti sendo engolida pelos gritos frenéticos, extasiados e empolgados. Os gritos se tornaram mais altos quando a luz acendeu e agora eu pude ver mais pessoas, muito mais do que tinham mais cedo no ensaio.

Durante o show, tentei procurar Dylan no meio da plateia, então percebi que estava sendo burra porque nem ao menos sabia como ele era fisicamente. Estava procurando agulhas em um monte de feno. E não tinha porque eu me preocupar, Dylan não sabia quem eu era e tudo aquilo não passava de uma coincidência.

Meus olhos procuraram pelos olhos de Matt lá do palco algumas vezes, quase como se fosse um instinto. Ele estava perto o suficiente para me fazer sentir como uma garotinha de novo, quando costumava procurar por ele na plateia durante as apresentações da banda da escola. E, exatamente como fazia, ele sorriu para mim daquele jeito que me deixava acolhida e com vários fogos de artifício se acendendo dentro da minha barriga.

Pela primeira vez, cantei Best Friend olhando bem para ele, como se ímãs me fizessem focar em seus olhos azuis o tempo inteiro. Pela primeira vez, cantei ao vivo a música que escrevi para ele há muito tempo atrás. E era como se estivesse cantando só para ele, como se a multidão de fãs não estivesse ali e mais ninguém. Só ele.

Eu esperava que ele não percebesse que a música era para ele, até porque a letra "but I don't wanna risk it, don't want to lose you. You're my best friend. I just hope that maybe you're feeling it too" não é lá muito discreta. De qualquer forma, são águas passadas. Eu escrevi essa música com quatorze anos, seis anos atrás. Tudo mudou desde então. Não vejo Matt desse jeito. Não mais.

Uma hora e meia depois, quando o show chegou ao final e eu ainda conseguia sentir a animação e a adrenalina deixando o meu corpo bem quente, me despedi de todos assistindo os confetes dourados brilhando, voando e caindo sobre os fãs como uma chuva brilhante e maravilhosa. Então corri para trás do palco e abracei todos da equipe, o baterista, guitarrista, staffs. Todo mundo. Eu estava vibrando com gratidão e realização. Todos ali fizeram o meu sonho de garotinha se tornar realidade.

Voltei ao camarim com lágrimas felizes escorrendo pelas bochechas e escutei as vozes de Chris e Silena no corredor, aproximando-se de onde estava. Os dois abriram a porta e Nick e Matt vieram atrás. Os quatro me abraçaram, vibrando juntos como se eles estivessem no palco comigo há alguns minutos atrás. Eles sempre seriam as minhas pessoas favoritas no mundo.

— Você estava perfeita! — exclamou Silena. — Eu sabia que você ia arrasar, mas não sabia que ia ser tanto!

— Você vai crescer muito depois dessa turnê, tenho certeza — disse Nick, então puxou uma câmera digital do bolso da bermuda larga. — Eu tirei uma foto perfeita, olha.

Nós nos inclinamos sobre os ombros de Nick para ver a foto e eu senti um ar surpreso entrar pela minha boca. Nem parecia eu naquela foto. Meus olhos brilhavam, a iluminação azul batia direto em mim, lançando luzes brilhantes no meu figurino junto da projeção no telão atrás de onde estava, projetando flocos de neve. Havia um ar diferente, um ar que eu nunca tinha visto em fotos. Eu sabia que Nick era ótimo em fotografia — levando em consideração que fazia parte do clube de fotografia da escola —, mas aquilo estava perfeito.

— Nick! — exclamei, quase como um grito surpreso. — Isso tá perfeito! Nem parece eu na foto!

— É claro que é você — disse Silena.

— Você só está se vendo do jeito que a gente te vê — disse Matt, um pouco hesitante.

Nick lançou-lhe um olhar desconfiado e Matt curvou as sobrancelhas a ele, dando de ombros. Não tinha ideia do que aquilo se tratava, mas tinha aprendido há muito tempo atrás que, por mais que tentasse, nunca entenderia as conversas por sinais dos trigêmeos.

Ficamos ali no camarim por alguns minutos até que Lilian bateu à porta e anunciou que o ônibus da turnê estava ao lado de fora do Greek Theatre, me esperando. Eu assenti, então comecei a juntar meus pertences dentro da bolsa de maquiagem e da mala de mão que tinha levado também.

— Talvez seja melhor você e o Matt saírem juntos para o ônibus — sugeriu Chris, olhando para mim. — Você sabe... pra reafirmar esse papo de relacionamento de vocês dois.

— Ah... — disse, então olhei para Matt. — Acho que você tem razão.

— Depois você larga ele em um beco qualquer, não importa, é só para aparecerem juntos — disse ele, dando risada da expressão que Matt o lançava.

Eu pendurei a alça da mala sobre o ombro, dando risada. Minutos depois, Chris, Nick e Silena saíram em direção à saída dos staffs e Matt e eu fomos ao lado em que o ônibus da turnê me esperava. Estávamos parados em frente à porta enorme de incêndio, em um corredor onde a luz era vaga e dois seguranças esperavam o meu aviso para poderem abrir a passagem. Olhei para ele, então respirei fundo.

— Como vamos fazer isso? — perguntei.

— Como assim? Não é só andar até o ônibus?

— Sim, mas... não temos que fazer alguma coisa que vai garantir alguns surtos de fãs?

Matt mordiscou o lábio, pensando em algo. Então balançou a cabeça e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos. Ele parecia muito confiante, certo do que fazia como se sempre fizéssemos aquilo.

— Tudo bem — disse, baixinho. — Pronto?

— Pronto.

Lancei um aceno aos dois seguranças e a porta foi aberta. Antes mesmo de sair vi a quantidade de fãs que se debruçaram contra as grades dos dois lados da passagem, gritando e dizendo algumas coisas que eu não conseguia entender muito bem. Quando Matt e eu saímos, os gritos cresceram e eu dei risada, principalmente porque já sabia que isso aconteceria. Acenei para eles, subi as escadas do ônibus e entrei, olhando para Matt. Ele riu quando as portas fecharam e eu soltei nossas mãos.

— Tudo bem, temos duas opções — começou ele. — Ou eles estão muito surpresos que você, enfim, está namorando alguém ou me acharam bonito demais e toda a atenção veio pra mim.

— Nos seus sonhos, Matt — falei, largando a mala sobre a cama. — Eles devem estar surpresos por eu ter desencalhado, isso você deve ter razão. E é pior ainda porque eu nem desencalhei mesmo.

— Eu estou brincando — ele sorriu, ficando mais perto de mim. — Eles gritaram porque estavam vendo a cantora talentosa que amam depois de ter arrasado no show.

Eu sorri, sentindo o peito esquentar e as bochechas ferverem. Eu não sabia reagir a elogios, principalmente tão repentinamente. Não era como se eu estivesse fazendo pouco caso deles, só me faltavam palavras para agradecer. Então eu sempre fazia algo besta como apenas sorrir ou simplesmente começar a prestar atenção em outra coisa para escapar do labirinto que é responder a elogios.

Eu pedi ao motorista que deixasse Matt na casa dele, mesmo que fosse na direção contrária de onde deveria ir, e me desculpei pelo transtorno. Graças a Deus o motorista era um doce e não pareceu se importar, Jeff era o nome dele. Então, quando Matt já tinha ido embora e eu vestia meu sweater, calça moletom de pijama, sem maquiagem no rosto e com o cabelo sem grampos, me joguei na cama e suspirei, cansada porém realizada.

Em um estalo, lembrei-me de Dylan. Eu não tinha lhe respondido e, como meu show já tinha acabado havia cerca de uma hora, ele deveria ter notado que sua mensagem tinha sido lida e não respondida. Peguei meu celular de dentro da bolsa, abri o Twitter e respirei fundo antes de digitar.

6:12 PM

IMDIPPERPINES:
não dessa vez 🫡
vou num show hoje
Lexi Dankworth, conhece?
já to aqui inclusive
Read 6:14 PM

8:48 PM

WESBENNETTSWIFE:
sumi desculpa
tava ajudando minha colega
de quarto matar aquelas
formigas de novo e acabei me
distraindo
eu já ouvi falar dela sim mas n
conheço muito não
como foi??

IMDIPPERPINES:
aquelas formigas voltaram???
o show foi perfeito
ela é perfeita
a música mais famosa dela é
a que mais me pega
pareço até um idiota q conheceu
ela pelo tiktok

WESBENNETSWIFE:
voltaram 💔💔
qual música?

IMDIPPERPINES:
best friend
meio q me identifico
um pouco e tem um
significado maior pra mim
é uma música sobre se
apaixonar pelo melhor amigo

WESBENNETTSWIFE:
E VOCÊ NUNCA ME CONTOU
DESSE BABADO?
me conta agora
vc tá apaixonado pela sua
melhor amiga dylan???

IMDIPPERPINES:
meio q to rs
eu conheço ela há muito tempo
ela é amiga dos meus amigos
se dá bem com a minha família
ela é tipo minha versão feminina
a gnt cresceu junto
eu queria falar pra ela que eu fico
maluco toda vez que eu vejo o canto
dos olhos dela se enrugando quando
ela sorri
é a coisa mais linda do mundo alisson
mas ela não sente o mesmo
eu tenho quase certeza

WESBENNETTSWIFE:
meu deus
como pode eu estar descobrindo
agora q vc tem um lado romântico?
mas como vc sabe q ela não gosta
de você de volta?

IMDIPPERPINES:
pq eu fui idiota e não percebi
q gostava dela muito antes
daí a gnt cresceu e eu continuei
gostando dela pq eu sou um mané

WESBENNETTSWIFE:
é mesmo
q menino burro
eu tenho q parar de te chamar
de sabidinho
mas eu espero q ela goste de vc
e que vcs fiquem juntos
adoro um friends to lovers

IMDIPPERPINES:
eu tambem espero

•❄️⛄️•

i. demorei mas to aqui viu

ii. eu ia tentar colocar uma edição q eu fiz do álbum da lexi aqui, mas acho q vai ficar pro próximo cap rs