Capítulo Cinquenta | Facing Death
Eu não me identifico com você
Eu não me identifico com você, não
Porque eu nunca me trataria tão mal assim
Você me fez odiar esta cidade
Happier Than Ever | Billie Eilish
━ ANY GABRIELLY
EUA · Illinois · Chicago
Eu o encaro com um sorriso de puro divertimento preenchendo meu rosto, enquanto Sílvio parece atemorizado o que para mim seria muito improvável tendo em vista a fama de homem cruel e a crueldade que eu sabia que ele tinha.
Tamborilo meu dedo na madeira escura da cadeira acolchoada em que estou sentada, ao lado da cama hospitalar adaptada de Sílvio.
- O que dizia a carta? Quem a mandou? - eu questionei quebrando o silêncio.
- Não é da sua conta. - ele disse rude.
- Será mesmo? - entortei a cabeça para o lado, um bico nos lábios. Pura irônia exalada.
- Você está aqui, por que não acaba com isso de uma vez? - questionou.
- Porque eu não sou tão idiota quanto pensa, papai. - eu balancei a cabeça. - Eu encontrei Vanessa, ou Lilith, tanto faz, ela me contou algumas coisas e outras eu descobri por mim mesma.
O vi engolir em seco.
Há um clima tenso e um silêncio perturbador de sua parte. Eu vim com um objetivo e muitas coisas quebradas que realmente importavam, eu esperava algo a mais dele, não imaginava que seu estado pudesse ser quase catatônico.
- Ela me disse que foi uma das maiores responsáveis pelo suicídio da minha mãe, porque ela era a mulher quem você mantia antes e depois do casamento com minha mãe, porque ela realmente teve um filho que você tirou dela. E apesar de tudo ela ainda continuou do seu lado, mas ela não era tão leal a você assim. Ela teve um esposo que a ajudou em seu serviço de acabar comigo, mas ela me falou que quando soube que eu estava viva, anos depois do acontecido, rompeu com ele. Eu até o encontrei, mas meu marido o matou. Perguntei a ela porque não me matou depois que descobriu que eu estava viva, então eu descobri um ponto. - brinquei com meus próprios dedos enquanto o olhava friamente.
Ele não diz nada, nem se move além do que a respiração com a elevação do peito.
- Eu era o bebê tirado dela, que minha mãe de criação pensou que tivesse tido, mas ela teve um bebê morto e você trocou e ela não sabia. Mas alguém soube e deixou isso na carta, não é? Vanessa poderia fazer um estrago além da morte no que você consquistou. Sei que você é um traidor da famiglia que se envolveu com sua cunhada que todos pensavam que estava morta, mas ela é Vanessa e está viva, diferente da família dela que morreu com tudo isso, porque encobriu a traição. - eu neguei com a cabeça e um sorriso sarcástico.
- Cale-se. - ele tossiu.
- Mas por que te deixaram vivo? Existiu um trato, não é? Mas você continuou sendo um maldito traidor que o quebrou. - falei com puro escárnio. - Noah Urrea já sabe e está atrás de você. - informei.
Eu vi seu pomo de Adão se mover brusco.
- Você não conhece toda a história. - ele cuspiu.
- Então conte, essa é a segunda é a última chance antes da fúria recair sobre você. - eu me aconcheguei a cadeira.
- Você pode estar certa em toda a história, mas você não conhece a famiglia. Sua tia/mãe sempre foi apaixonada por mim, tivemos um caso por muito tempo, mas um filho da puta descobriu e vazou a informação por nossas costas. Vanessa fugiu com a família, mas a família acabou sendo morta no processo e ela conseguiu fugir, mas foi pega pela polícia. - ele conta e tosse uma vez ou outra.
Porra.
- Meu irmão fez da vida dela um inferno, ele matou um casal e jogou todas as acusações para cima dela e inventou um diagnóstico absurdo e ela viveu em um sanatório por anos. Tudo por vingança. Mas ela conseguiu sua liberdade e me encontrou muito tempo depois. Eu gostava dela, não amor, mas uma obsessão. Ficamos juntos por anos, mas como amantes, pois ela me encontrou já casado com sua mãe de criação.
- Como você continuou intacto depois de uma traição que tem a pena de morte na máfia? - questionei realmente curiosa.
- Nessa época eu já tinha me reerguido depois que fiz um trato com meu irmão. Eu ainda faço parte da famiglia, mas lidando com negócios que a irmandade não aceita, mas meu irmão queria. Mas Noah, seu herdeiro quer acabar com isso. Eu faço o trabalho sujo e assim dividimos os lucros e o poder em nossos territórios distintos. - explicou sem entrar em mais detalhes.
- Vanessa sabe sobre esse trato?
- Sabe e ela aceitou bem, porque tem toda sua dependência em mim.
- Não depois que soube que sou filha dela. Ela me entregou você de bandeja. - eu arrumei uma mecha de cachos que voam na frente do meu rosto. - Mas toda essa história não é a razão pelo qual eu quero acabar com você. Você foi um pai de merda e só por isso que quero te matar.
Eu me levantei, tão pronta para puxar uma arma e enfiar uma bala na cabeça dele.
- Era parte do acordo.
- O quê?
- Eu deveria entregar um filho que eu pudesse ter com Vanessa para Killian, pois ele seria um ótimo aliado para o negócio mais sujo. Foi seu tio, eu apenas segui o contrato, não fui o traidor que seu primo Urrea pensa. - ele tossiu.
- Você poderia ter me protegido como meu pai, mas você é um abusador cruel, que machucou todas as mulheres que passou por sua fodida vida. - eu vociferei.
- Eu aprendi assim. - ele disse sem qualquer sinal de remorso.
- E você vai morrer por isso, papai. - eu disse um sorriso triste, mas também com aquele cintilante escárnio.
- Eu estive me preparando para isso. - ele disse, uma falsa tranquilidade.
Foi questão de segundos para eu me sentir cercada por três homens prontos para me acertar com seus golpes e armas. Mas tão rápido quanto foram os disparos no andar debaixo e gritos atordoados e uma voz que reconheci quando ecoou dos corredores.
- Eu nunca vou perder o poder que eu conquistei. - Sílvio esbravejou.
- Eu disse a Deus que não mancharia minha mão com o seu sangue. - falei, minhas pálpebras ardendo com lágrimas que se acumulam nelas.
- Eu posso ser isso por você. - três tiros dispararam e sangue respingou por todas as minhas costas. Os seguranças caíram desfalecidos e meu marido apareceu banhado em sangue e fúria completa.
Eu olho para Sílvio e ele empalidece porque tem a noção que encontrou a fúria do meu marido que antes de mim era o monstro impiedoso. Joshua tem um sorriso pintado em seu rosto.
Sílvio estava fraco para reagir e em sua consciência ele já sabia que estava fadado a esse momento, que ele aconteceria mais cedo ou mais tarde e que nem todo o poder que ele acha que possui poderia nos impedir. Então ele apenas assistiu a morte vindo o encontrar, frente a frente.
- Eu já quebrei muitas coisas, faça o que deve. - eu segurei os lados do rosto do meu marido e o beijei levemente antes que ele acertasse meu progenitor seguidas vezes.
- Agora ele vai ter a conversa sobre poder com o diabo. - ele sussurrou em meu ouvido.
- Como você veio tão rápido? - eu questionei o abraçando, mesmo sujos de sangue e lágrimas salpicadas.
- Descobri contatos e ter influência ajuda. - ele me beija novamente. - Agora vamos embora, depois você pode decidir o que fazer com o que restou dele.
- Pegou Cavallaro?
- Ele está sendo encaminhado para seu inferno particular agora. - comentou. - Vamos pra casa, ainda temos muito o que conversar.
...
Eu olho para meu marido que dorme serenamente na poltrona do jatinho em minha frente. Não sei ao certo o que estou sentindo no momento.
Eu deveria me sentir aliviada, porque finalmente os homens que foram meus piores pesadelos estão mortos, mas tudo o que sinto é um vazio oco e barulhento no meu interior. Por anos almejei que esse momento chegasse e pensava no que faria depois que matasse meu progenitor, mas nunca pensei que seria dessa forma e que não seria pelas minhas mãos e não tão doloroso como planejei por tanto tempo.
Foi rápido e frio.
Sem tanta raiva para descontar, apenas um rancor e o vazio.
E eu realmente não posso compreender.
Mas me retorna em mente a noite em que tive a conversa com Joshua no escritório de nossa casa. Eu tive percepção de algumas coisas da nossa vida, eu não era meu pai, não ruim como ele, fria como ele.
Eu não poderia sentir prazer na morte, mesmo depois de tudo.
Eu não sou o reflexo da sequela dos traumas que ele me causou, como quando eu era criança e ele dizia o quanto eu me parecia com ele, eu inocente achava que era algo bom até provar da violência dele.
Sou além.
Vejo Josh se remexer na poltrona e balançar a cabeça de um lado para o outro, parecendo ser atormentado por um pesadelo.
Me estico o quanto posso e o balanço e cutuco até que ele desperte do pesadelo, o que demora mais do que deveria.
- Amor! Ei, estou aqui! - eu falo com ele, enquanto ele desperta de abrupto.
- Não, não. - ele balança a cabeça e coça os olhos.
- Amor. - eu o chamo. Josh me olha piscando lento. - Estou aqui e está tudo bem agora. Finalmente chegou ao fim.
Ele sorri, quase forçado.
- Sim. - ele boceja.
- Você vai voltar para casa comigo? Sofya, Thor e Joalin estão loucos pela sua volta. - falei sorrindo.
- Joalin, eu sinto tanto a falta dela. É incrível pensar em como o mundo foi pequeno em como vocês viveram juntas e se tornaram cunhadas. - ele diz e eu aceno em concordância.
- Ela é incrível. Está cuidando de Sofya como se também fosse uma irmã. Sofya disse que você quis cuidar dela como não pode cuidar da jo. - contei e ele sorriu assentindo. - Mas você não respondeu a minha pergunta.
- Precisamos conversar sobre nós e outras coisas, mas em casa. Vou acompanha-la.
- Não vai ficar? - murcho como uma rosa sem vida.
- Eu quero, mas tenho problemas a resolver antes disso. - ele disse e eu cruzei os braços e fiz beicinho como uma criança birrenta.
- Temos mesmo que conversar, e muito. - eu falei um pouco mais seca do que deveria.
- Mimadinha. - ele sorriu negando com a cabeça.
Por mais que ele tentasse descontrair e disfarçar sei que há algo de errado, não só entre nós, mas com ele. Com certeza é sobre seu pai e todas as ameaças feitas a Camorra. Ele está mais distante que o normal, mais falante e mais frio que o normal.
Tenho medo das coisas entre nós não melhorarem para tão melhor quanto foi antes.
Eu o amo e para isso não me restam dúvidas, mas com certeza eu o fiz duvidar e me sinto mal por isso. Josh fez, e faz, tudo por mim, mas sinto agora que o que eu tenho feito não é completamente suficiente para deixar mais explícito e claro tudo o que eu sinto de mais puro por ele.
Ele esteve lá para mim nos meus momentos ruins, mas parece que eu não estive presente quando ele mais precisou e talvez esteja precisando agora.
Dessa vez fui eu quem adormeci durante o tempo de vôo que ainda tínhamos até retornar para Las Vegas com meus pensamentos voltados para as formas de como eu poderia provar para Josh que eu o amo com todo meu ser.
To be continued???
Ficou claro agora algumas dúvidas? Comentem a que ainda tiverem.
Ainda fico pensando de onde eu tiro tanta maluquice.
Vocês gostam dessa minha criatividade bizarra? Podem fazer críticas construtivas.
Any agora está entrando em uma fase de amadurecimento muito importante para a evolução do personagem. Por isso a morte do pai dela não foi impactante como todos esperavam.
Mas pelo menos eles tiveram uma conversar esclarecedora no final e vimos que ele é um merda mesmo.
Bjs de luz!
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