➣ 𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 ━ 𝐎𝟏
Como em um dia normal de fim de semana, Manjiro despertou um pouco antes de os raios de sol se fazerem presentes. Às vezes, sua filha mais nova chorava quando acordava sozinha no berço de seu quarto. Mesmo com um ano de idade e estando acostumada a dormir em seu próprio espaço, recentemente essa situação vinha se repetindo há algumas manhãs. Além disso, Manjiro também precisou acordar no meio da noite para pôr seus filhos mais velhos na cama novamente.
Mikey chegou ao quarto de sua filha mais nova e automaticamente abriu as cortinas para observar o céu — ainda escuro —, seguindo para pegar a garota em seus braços. Acariciou as bochechas brancas daquela que parecia uma boneca vestida com um pijama rosa florido. As mãos de Mikey pareciam mágicas quando secavam as lágrimas da bebê. O choro de um filho é desesperador e inevitável, embora o pai esteja se esforçando para cuidar dos menores da melhor forma possível.
— Está tudo bem, minha querida.
De qualquer forma, o loiro não conseguia evitar pensar que estava desamparado nessa parte da paternidade.
Manjiro estava só com seus filhos, vivendo em uma bela casa de três quartos, dois banheiros, cozinha e sala, totalmente mobiliada e com a hipoteca paga. Foi um belo investimento feito pelo pai das crianças para confortar a família. Esses privilégios ficavam para o usufruto de Kenzaru, Mikeyru e Manako. Convém saber que Manjiro e Ken estavam separados, ainda que o mais alto tentasse evitar a abertura de um enorme abismo em seu casamento.
Mikey havia pedido um tempo, insistindo que tinha o direito, afinal cultivava uma chateação dentro de si. Sentia-se solitário e distante de seu marido. Não lembrava da última vez que realmente passou tempo de qualidade com Draken. Apenas recordava que estava cansado de não ter um retorno decente para o que entregava. E isso soava egoísta para as pessoas ao seu redor. O próprio Manjiro reconhecia todo o esforço do tatuado pelo bem-estar da família. Até a loja de motos ocupava o segundo lugar em seu coração.
Meses passaram como se estivessem em câmera lenta. Entre o ex-casal havia mais do que distância; essa era apenas a ponta do iceberg. Abaixo dessas águas, residia o triplo de dificuldades para uma separação. Seus dois meninos de cinco anos entendiam pouco do que estava acontecendo e, inocentemente, magoavam o loiro com suas constantes perguntas sobre o pai. Manako não sabia o que se passava, mas Mikey reconhecia que certamente ela sentiria sua falta.
A garota foi recolocada em seu berço após voltar a dormir. Manjiro se apoiou no móvel e a observou como de costume. Imaginava como deviam ser maravilhosos os sonhos de uma criança pequena: um mundo colorido e estruturado em diversão e felicidade; um cenário que desmorona à medida que os indivíduos crescem e amadurecem. Contudo, na infância ainda não há o conhecimento da realidade; a juventude é o mais longe que chegará com seu coração a cinquenta por cento.
Manjiro despertou vendo a luz do raiar da manhã invadindo o quarto. O loiro se perdia no tempo sempre que mergulhava nesse assunto. As lágrimas salgadas desciam por sua face sem que ele resistisse. Mikey sentia muito — insistir na separação não significava que não doía — ele amava Draken. As primeiras horas passaram a ser uma preparação mental: lidar com as crianças era difícil e cuidar de sua casa, nada pequena, ocupava muito de seu tempo, mas não sua mente (fortemente estressada).
Mikey deixou o cômodo e seguiu em direção ao banheiro. Escovou os dentes e lavou o rosto para acordar definitivamente antes de prosseguir até a cozinha e preparar o café da manhã. Era sábado, ele deixaria suas crianças dormirem um pouco mais, mas não até o horário do almoço. Já que o mais velho mantinha uma rotina matinal com seus filhos para não desregular o sono apenas no fim de semana — acordá-los nas segundas-feiras seria trabalhoso.
Todo tipo de comida que seus filhos adoravam estava disponível, desde frutas, ovos e leite até dorayaki e outros doces (ele também era uma formiga quando se tratava de doces). Na sua cozinha, os armários de madeira e azulejos amarelados eram um gosto pessoal de Mikey, assim como o restante da decoração da casa. Ele admirava toda a sua residência quando acordava angustiado, era inegável que sentia saudades de Draken; a essa hora ele estaria o carregando nas costas e cozinhando para todos — era um combinado.
Mikey olhou para o relógio da cozinha, conferindo o quão cedo os ponteiros marcavam. Estaria precipitado preparar uma refeição nesse horário, portanto, resolveu adiantar seu trabalho com as roupas. Nos últimos dias, deixou essa tarefa de lado para cuidar de sua bebê (Manako estava tão apegada que não saía do colo), as peças acumularam e estavam misturadas. Era terrível o cheiro que passava de um tecido para o outro, além de possíveis manchas, limpar demandaria tempo.
Manjiro foi até os quartos recolher as roupas dos cestos, depois as levou à máquina e a deixou trabalhar em seu tempo. Os trabalhos menores foram realizados nesse meio tempo, e o loiro conseguiu arrumar o quarto de seus meninos sem incomodá-los. As horas passaram em uma velocidade normal e os afazeres foram concluídos até a hora do café da manhã. Kenzaru acordou primeiro e logo se arrumou para ir sentar-se à mesa. Seu pai o notou logo que entrou, pois seus filhos tinham o hábito de abraçá-los assim que se reencontravam nas manhãs.
— Bom dia, mamãe.
— Bom dia, querido!
Manjiro o carregou no colo e depositou um beijo carinhoso em sua bochecha, observou um pequeno sorriso do garoto e não pôde deixar de pensar em como Kenzaru era praticamente um espelho de Draken, semelhantes em personalidade e aparência. Kenzaru tinha uma forma protetora e carinhosa com Mikeyru, talvez isso o fizesse lembrar de si e de seu parceiro — para completar, o outro gêmeo era a cópia de Manjiro.
— Bebê, chama o seu irmão, tá?
— Pode deixar! — disse ao ser colocado no chão.
O loiro colocou a mesa após o menino sair e buscou Manako para fazerem sua refeição em família. As manhãs continuavam barulhentas, a maioria do silêncio era quebrado por Mikeyru, enquanto as risadas vinham da mais nova que brincava com Kenzaru, que ficava sentado em sua cadeirinha. A zona era armada assim que os três se encontravam, e Manjiro sentia uma grande dor de cabeça com eles.
— Aí, fiquem quietos! — ele pediu, levantando e recolhendo as louças. — Mikeyru, termina logo.
— Ainda tem muito leite, mamãe! — respondeu, tomando um gole da bebida já fria.
— Não enrola, nós precisamos sair.
— Vamos ver o papai?
Mikeyru gemeu ao sentir seu pé ser chutado por seu irmão. O mais velho massageou a têmpora e suspirou, para não irritar Manjiro, o garoto bebeu rapidamente o leite e correu para o quarto, seguido por Kenzaru. Manako ficou sozinha, Mikey ainda estava na pia olhando as louças; ele parecia esquecer como fazer os trabalhos domésticos quando tocavam em assuntos que queria evitar. Seu celular estava sobre a mesa e começou a tocar com a ligação do "assunto", ao mesmo tempo em que a filha mais nova chorava.
— Deus, por que isso tá acontecendo? — resmungou enquanto lavava as mãos.
Com a garota em seu colo, ele pegou o celular com um pouco de raiva, deslizou o dedo na tela recusando a chamada (recusava todas desde a separação), jogou o aparelho de volta na mesa, digitou “para de me ligar”, e Manjiro bufou descontente com seu início da manhã, tentando acalmar Manako. O loiro gostaria de ter um dia em que não perguntassem sobre Draken, mas sabia que pedir isso aos filhos era demais.
— Ei! Se arrumem pra gente sair!
— Sim, mamãe! — os gêmeos responderam em uníssono.
Manjiro estava cansado, aquilo não contava como dez por cento do seu dia e já estava acabado. Sano decidiu durante a refeição deixar seus filhos com o tio, Izana não saía de casa nos fins de semana — Mikey sabia que seu cunhado, Kakuchō, não trabalhava nesses dias —, seria a melhor opção por haver crianças em sua residência. O loiro voltou ao quarto da mais nova, deu-lhe seu banho matinal em água morna e a vestiu, estreando um lindo conjunto de calça e blusa branca com ursos pardos, um presente de Ken (da última vez que a viu).
Os meninos esperavam pelo pai na sala, sentados como crianças comportadas. Mikeyru balançava as pernas com entusiasmo enquanto Kenzaru estava ao lado mexendo em seu cabelo, e Manako dormia nos braços do pai.
— Escutem, vou levá-los na casa do Izana.
— Depois vamos ver o papai? — Mikeyru perguntou com um sorriso.
— Para! — Kenzaru sussurrou, deixando o irmão chateado.
O loiro olhou para os gêmeos por alguns segundos, pensava sobre a resposta que daria para essas perguntas diárias, mas, naquele instante, acenou positivamente, e um brilho brilhou nos olhos de seus filhos — a cena aquecia o coração de Mikey. A casa de seu irmão adotivo ficava a duas ruas, o trajeto curto se tornava a melhor opção para uma caminhada com suas crianças; os mais velhos carregavam a bolsa de acessórios da mais nova para que Mikey a levasse.
O relógio já marcava o horário das oito e trinta da manhã; com certeza Izana estava acordado preparando café para sua família. Manjiro tinha conhecimento de que o mais velho não gostava de visitas em um período tão cedo, principalmente se estas não tivessem a decência de anunciar sua vinda — o caso de Mikey. Os quatro pararam na porta, o loiro deu as primeiras batidas, escutando Izana pedir um tempo para atender devido ao barulho no interior. Mikey pediu aos filhos para manterem bom comportamento.
— Desculpa a demora. — Izana se surpreendeu ao atender. — Mikey...
— Bom dia, Izana!
— Te convidei pra vir e não lembro?
— Passaram anos e você continua agradável. — Mikey respondeu.
— Amo seus elogios. Entrem.
Ambos esboçaram um sorriso e o mais velho abriu espaço para o quarteto, os gêmeos correram para abraçar o homem de íris roxas que retribuiu calorosamente, ajoelhando-se para ficar na altura dos sobrinhos.
— Vocês estão muito fofos, como sempre!
— Viemos ver vocês. — Mikeyru sorriu, abraçando-o novamente.
— Ótimo! Há muito que não vêm aqui.
— E depois vamos ver o papai! — dessa vez foi Kenzaru quem anunciou alegremente.
Esse foi o momento em que o gêmeo mais novo repreendeu-o, como uma manifestação imediata dos genes de seus pais. Kenzaru cortou-o imediatamente:
— Você não manda em mim!
— E você faz isso comigo o tempo todo! — Mikeyru retrucou.
Os garotos fizeram bico após serem separados pelo tio e ouviram bronca de seu pai, enquanto Mikey ninava a bebê que acabara de acordar. Toda a atenção se voltou para o início do corredor, a filha mais velha de Izana — um reflexo do filipino, porém, de olhos puníceos — apareceu na sala ainda de pijama, reclamando de seu irmão mais novo e o menor a seguia como sua sombra para se explicar.
— Pai, ele tá pegando minhas coisas de novo.
— Eu não... — o garoto, que lembrava o Kakuchō, pausou ao notar as visitas, abrindo um belo sorriso. — Oi, tio Mikey.
— Olá, pessoal. — a garota acenou ao percebê-los.
— Acabou a discussão? — Izana cruzou os braços, irritado. — Não encham o saco tão cedo.
A mais velha se aproximou do homem, colocando as mãos em seus braços e dramatizando seu sofrimento com o garoto.
— Mas, pai, esse moleque entra no quarto e pega meus mangás.
— Eu quero ver os desenhos.
— É BL, NÃO É COISA DE CRIANÇA!!!
— Ei, abaixa o tom que aqui não é palco e ninguém te deu microfone. — Izana a repreendeu, vendo a garota bufar.
— Mana, você também não é adulta, por que lê isso?
A garota — de doze anos — o encarou com uma grande lacuna em sua mente, pela primeira vez não tinha uma resposta na ponta da língua. Manjiro já havia se acomodado no sofá com seus filhos e assistia como um telespectador vip à interação de seus parentes, enquanto seu sobrinho mais novo parecia se sentir vitorioso por deixar a mais velha sem reação (claramente herdou isso de Izana). O gosto de vitória durou até seu cunhado aparecer e resgatar a edição para devolvê-la à filha, advertindo o filho.
— Porque ela tem os próprios gostos, não se meta.
— Obrigada, papai! — agradeceu enquanto o mais novo correu para longe deles.
— Certo, vão tomar banho.
Izana ordenou e as crianças saíram, despedindo-se de Mikey e seus primos. O de cabelo esbranquiçado deu um beijo matinal em seu marido, que seguiu para a cozinha, virando-se para Mikey e pedindo desculpas pela cena. Aquilo acontecia tantas vezes que havia se acostumado, esquecendo-se das pessoas ao seu redor. O loiro apenas acenou. Ele entendeu perfeitamente.
— Meninos, vão falar com seu tio para ver se ele acorda de uma vez. — Izana brincou com os sobrinhos, mantendo o pedido.
— Tá bom.
A sala ficou silenciosa, apenas Manako havia ficado com os mais velhos, olhando diretamente para o tio. A garota estendia os braços pedindo o colo dele, ela o adorava. Manjiro aproveitou todo tempo que pôde com a família de seu irmão. Também foi a primeira vez que seu sobrinho mais novo pôde segurar Manako, sendo que a garota era um tanto pesada para a sua idade e o garoto tinha apenas nove anos. Conversas se desenrolaram por uma hora, porém, o arrependimento em pedir opinião a Izana era constante para Mikey.
— Combinaram que Draken os veria quando fosse melhor para eles, mas, na verdade, é quando VOCÊ quiser!
Manjiro sentia-se totalmente irritado por todos ficarem do lado de Ken. Sua vontade era a mais questionada em todos os pontos. Entretanto, Sano não havia comparecido para pedir conselhos sobre sua vida. Tinha em mente que procuraria pelo pai das crianças para resolver esse problema, pois não formalizaram qualquer acordo de custódia (o ex-marido ainda tentava reatar).
— Pode cuidar das crianças? — o loiro perguntou, recebendo confirmação. — Voltarei antes do almoço.
— Tá, tenta não sair no soco.
O de pele bronzeada riu da careta do mais novo, e saiu ao se despedir de todos e entregar as coisas de sua bebê. Confiava em Izana para vigiar seus filhos, sendo o mais experiente nesse quesito, ao contrário de Shinichiro (o mais velho acabara de ter sua primeira filha) e Emma, que tinha o papel de tia babona. Sua única missão era estragar os sobrinhos e protegê-los dos pais. Mikey retornou à sua casa para buscar sua moto. Antes, deixou uma mensagem para Draken, não esperando uma confirmação, pois o veria de qualquer forma.
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