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Papai

Capítulo trinta e três

Naomi

A arrumadeira está doente e Marcel disse que eu deveria ir até a lavanderia para poder deixar as roupas para lavar.

No jardim, a caminho da lavanderia, encontrei com Daryl. Ele estava com sua besta e outros homens ao redor dele. Um desses homens era Jace.

— O que está acontecendo? Está encrencado? — Comecei a procurar machucados ou sinal de luta pelo corpo do Daryl.

— Parece uma mãe preocupada —  Disse me fazendo dar uma risada — Vou sair para fazer uma busca — Já confiam tanto em nós assim?, pensei. Fiz uma careta de reprovação — Não faça essa cara de cão chupando manga azeda. Sabe que eu não posso escolher não ir.

— Eu sei. Só não gosto da ideia de você sair com eles, sem mais ninguém confiável perto.

— Vai ficar tudo bem, Naomi. Eu vou voltar. Prometo.

Subi na ponta dos pés para poder abraçar Daryl. O homem retribuiu o abraço envolvendo minha cintura em seus braços. Jace pigarreou avisando que estava na hora de ir. Tudo bem, ele prometeu que vai voltar.

A lavanderia era um lugar silencioso apesar dos murmúrios. Dois guardas vigiavam a lavanderia. Dois guardas? Como se elas fossem pegar as roupas e sair matando todos com camisas e cuecas. Um dos guardas apontou para as duas moças para quem eu deveria  entregar as minhas roupas. Elas eram lindas. Uma era alta, com cabelos encaracolados e pele escura, a outra, tinha olhos amarelados e pequenas sardas envolvendo seu rosto inteiro.

— As flores estão se abrindo — A de olhos amarelados tinha uma voz doce.

— O verde está florescendo — A de cabelo encaracolado dizia enquanto esfregava uma blusa cinza.

— Com licença —  Sorri para as duas. No mesmo instante a de olhos amarelados e sardas recolheu o cesto de roupas sujas da minha mão e murmurou alguma coisa, a qual eu não consegui entender — Posso ajudar em alguma coisa?

—  Não — A mulher alta respondeu com um sorriso — Você não deve nos ajudar. Seu pai vai ficar bravo. Volte no final do dia para buscar.

— Naomi — uma voz masculina familiar ressoou atrás de mim, me fazendo revirar os olhos de desgosto.

—  Querido Marcel — me virei para o homem musculoso — A que devo sua presença?

A presença de Marcel não deveria ser usual, não na lavanderia. As mulheres paravam de fazer o que estavam fazendo para olhar o homem, até mesmo os guardas ajeitavam a própria postura.

— Me acompanhe, por favor — Me despedi das mulheres e caminhei até Marcel —  Está atrasada para o seu almoço — O homem colocou sua mão nas minhas costas me conduzindo para fora da área de serviço — Você não deve conversar com as funcionárias.

— Veio até aqui para dizer que eu estou atrasada para comer e despejar ordens?

O homem gargalhou.

— Estou te levando para almoçar —  Fuzilei o homem com o olhar —  Relaxa, Naomi. Não é um encontro — Nem por cima do meu cadáver eu sairia com você, pensei — Preciso de você com força para o nosso treino de amanhã.

— Amanhã? E o de hoje?

— Vou sair para pegar materiais para a reforma do laboratório. Cortesia da sua amiga pequena. Seu pai vai querer te ver as sete para um jantar.

— Quem janta as sete?

— Ele sim. Agora sente com os seus amigos, almoce, tome um banho, faça o que quiser. Não vou estar te vigiando pelas próximas horas.

— Grande alívio — Forcei um sorriso para Marcel.

O almoço passou bem rápido. Maven e Davina pareciam um pouco mais próximos do que de costume, nunca vi Davina sorrir tanto para ele em um pouco período de tempo.

Conheci uma mulher chamada Hannah e ela é uma graça, animada para a chegada da primavera. Rick almoçou conosco pela primeira vez desde que chegamos aqui e por algum motivo ele não queria demonstrar afeto em público. Alguma coisa que Jace fez, provavelmente. Depois converso com Rick sobre isso.

Houveram carícias secretas por baixo da mesa e toques discretos que ninguém jamais saberia sobre, ninguém além de mim e do xerife.

Seis e cinquenta Fred bateu na porta do meu quarto para me levar até o jantar. Meu pai parecia mais velho, mas ainda tinha a mesma cara de quando eu tinha doze anos. Me sentei na ponta oposta da mesa cruzando os braços enquanto o silêncio dominava a sala. Logo trouxeram comida e eu comecei a brincar com a comida no meu prato.

Um estrondo ecoou pela sala enquanto os guardas se prepararam para um ataque, mas depois perceberam de quem se tratava e esticaram cada centímetro das suas costas. Sangue pingava das roupas do homem que passava por mim com rapidez.

— Fomos cercados, senhor —  Jace falava baixo com pesar — Perdemos dois corredores, um guarda e o grandão.

Grandão?

—  Quantos sobreviventes?

— Apenas eu e Steinfeld — meu pai enterrou o rosto nas mãos e murmurou alguma coisa.

Daryl prometeu que voltaria. Ele prometeu. Se recomponha Naomi, não vai chorar na frente do seu pai.

—  Sente-se —  meu pai aponta em direção da cadeira e Jace se sentou no centro, como um cãozinho obediente, mesmo visivelmente incomodado com o sangue na roupa.

— Qual o propósito desse jantar? —  empurro o prato quase vazio para frente e cruzo os braços.

— Ora... Ficar com você e te conhecer melhor.

— Me conhecer? — gargalhei com deboche enquanto uma mulher chegou com uma bandeja prateada com comida para Jace — Que paternal. Pensei que o Jace já tinha te contado tudo visto que...  — Jace arregalou os olhos e negou com a cabeça discretamente.

Ele não queria que eu falasse sobre o meu passado com ele.

— Visto que? — Meu pai levantou o garfo casualmente enquanto esperava uma resposta.

— Visto que ele é sua cadela.

— Você é engraçada, devo admitir. Todos —  meu pai limpou a garganta —  Todos são minhas cadelas.

— Então Jace é sua cadela favorita. Cadela do Tony. Jace é sua vadia —  Não pude conter um sorriso perigoso de se formar em meus lábios.

— Chega! — Anthony elevou a voz —  Vai falar alguma coisa que preste?

— Vejamos... —  Jace enfiou a cara no copo tentando evitar o que iria acontecer em seguida — Por que você não se livra do seu pessoal? São tão incompetentes. Voltaram só dois.

Jace engasgou.

— Seu amigo também estava com eles. E não voltou.

Bati na mesa e arremessei a faca perto do meu pai.

— Como você me garante que não foram seus guardas que mataram meu amigo? Quando vocês invadiram a fazenda ele matou alguns dos seus.

— Acha que eu me vingaria? — Meu pai perguntou.

— Acho.

— Naomi Scott Stark —  Meu pai tentou me dar uma bronca.

— Anthony Scott Stark. Isso é apenas um nome. Se você acha que eu vou abaixar a cabeça, pensar "Aí pela mãe! Papai brigou comigo! Sou uma garota muito má" e fazer chorinho está muito enganado. Você perdeu o privilégio de me dar bronca quando eu tinha doze.

— Você ainda é inacreditável — meu pai falou.

— Pelo menos eu soube liderar meus homens. Fomos cercados algumas vezes, tentaram assassinar Maven e ele quebrou o pé. Adivinhe? Mesmo encurralado por errantes, ele voltou com vida. Seus homens são uma vergonha e a culpa é sua.

— Fora — Tony disse ríspido.

— O que foi, papai? Não te ouvi bem.

— Fora! — dessa vez ele falou alto o suficiente para quem estivesse do lado de fora pudesse ouvir — Jace, tire ela daqui.

Antes que Jace pudesse chegar até mim, taquei o meu prato perto o suficiente da cabeça de Anthony para fazê-lo se esquivar. Jace revirou os olhos enquanto me conduzia para fora da sala, apertando fortemente o meu braço com as mãos.

— Você não tem senso, vergonha, juízo ou noção — Jace falava baixo —  Eu não quero ficar chegando perto de você, Naomi, mas toda vez que você é descuidada assim o seu pai manda eu dobrar a minha atenção sob você. Sabe o quanto que é difícil ter que ficar de olho em você enquanto eu sei que você não me quer por perto? — Ele me conduzia rápido entre as pessoas, e, pelo caminho, ele estava me levando para meu quarto — Você é tão inteligente, mas consegue ser tão estúpida. Você se considera líder do seu pessoal, mas toda vez que você é desleixada, o cuidado com você aumenta e se o cuidado com você aumenta, a vigilância também recai sobre os seus amigos — A porta do meu quarto já estava a vista — Você está me entendendo? Você não consegue ser mais esperta e fingir pelo menos suportar ficar um jantar com o seu pai? Ele quer informações, Naomi. Quem você acha que ele vai querer que pegue as informações? Eu. Como foi mesmo que você disse... —  As pessoas nos encaravam enquanto ele me puxava pelo braço até o meu quarto — A cadela do Tony. Acha que eu quero bisbilhotar e ser sua babá? Entre — Ele disse abrindo a porta, praticamente me jogando para dentro do quarto — Não quero ficar perto de você.

—  Eu... — não sei o que responder.

— Me poupe — Jace fechou a porta. Ele se aproximou de mim e encostou sua testa na minha, me deixando cada vez mais sem reação —  Não posso ficar perto de você —  Jace sussurrou.

Me afastei.

— Não fale com ninguém que nós nos conhecemos. Principalmente para o seu pai.

Sem dizer mais nada ele saiu e fechou a porta do quarto me deixando sozinha.

Que merda foi essa?

Fui até a lavanderia pegar as minhas roupas. Quando chego lá percebi que não eram as mesmas pessoas trabalhando naquele horário, exceto pela menina de pele escura e a menina de olhos amarelados de mais cedo.

Minhas roupas secavam perto delas e eu fui até o varal para pegar as minhas peças.

— As flores estão se abrindo — A de olhos amarelados dizia enquanto dobrava uma camiseta laranja.

— O verde está florescendo. — A de cabelo encaracolado respondeu.

Do mesmo jeito e com a mesma entoação de antes.

— Com licença. Do que estão falando? — As duas mulheres se entreolharam.

Era como se estivessem falando em códigos.

— Nada, minha senhora — A moça com o cabelo encaracolado e calça na mão respondeu.

— Estamos apenas lavando a roupa —  A outra respondeu casualmente.

— Sei.

Terminei de pegar as minhas roupas e voltei para o quarto logo em seguida. "O verde está florescendo." O que é isso? Me perco nos pensamentos até a hora de dormir.

Tomei um banho rápido e escovei os dentes. Saí do banheiro apenas de camiseta e calcinha quando senti uma mão tampar a minha boca.

— Não grite — A voz feminina ordenou e soltou a mão devagar.

— Que diabos? — perguntei ao ver Steinfeld parada dentro do meu quarto.

— Apostei com Lily que você demoraria semanas para captar a mensagem, mas lily estava certa. Você é esperta.

— Que mensagem? O que a Lily tem a ver com isso? Está falando sobre o verde florescer, não é? — A mulher de cabelos castanhos assentiu.

— Sou membro de algo maior que isso tudo, Naomi —  Hailee abriu os braços conforme falava — Estou falando sobre tirar seu pai do poder. Está dentro?

— Estou.

— Então seja bem-vinda a maré verde.

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