Escola
Capítulo quatorze
Maven
Meu coração gritava e seu som ecoava pelos meus ouvidos. Minha respiração estava descompensada enquanto corria desesperadamente pelos corredores da escola abandonada.
Bem, não estava tão abandonada assim.
Os únicos barulhos ecoavam pelos corredores eram o som vindo dos sapatos batendo no chão e os grunhidos dos errantes atrás de nós.
Consegui ultrapassar Shane e Otis na corrida implorando para que alguma das duas portas no fim do corredor estivesse aberta. Meus dedos já estavam dormentes devido a força que eu segurava o facão que Naomi havia me emprestado.
Parei de correr bruscamente, fazendo com que Shane esbarrasse em mim soltando um palavrão. Eu escorreguei e dou de cara com a porta. Não pensava que o chão estaria tão sujo a ponto da crosta de poeira deixar o mesmo deslizante.
Tentei abrir a porta fazendo força inutilmente. A maçaneta não girava, o que aumentou o meu desespero.
Dessa vez sou eu quem xinga e alto.
Shane me olha com desprezo após eu xingar.
— O que foi? Não é hora para se espantar com o quanto eu sou bonito.
Cantei um pouco de You Belong With Me da Taylor Swift para tentar dissipar um pouco do nervosismo, mas não adiantou quando eu olhei para trás.
Três errantes andavam mais a frente de seu bando com quase uma dúzia de andarilhos. O primeiro morto-vivo era uma mulher pálida e suja de sangue seco, com uma mordida exposta no pescoço com larvas à mostra.
Os outros dois são homens, um com uniforme de zelador, baixo e sem cabelo, e o outro, um moreno com o rosto mordido e sangue jorrado na blusa que costumava a ser social.
Meu coração batia cada vez mais rápido e posso ter certeza que Shane e Otis não estavam tão diferentes do meu estado. Eu queria vomitar, não pelo cheiro de morte e podridão que os mortos exalavam, mas sim porque estavam se aproximando e a maldita porta não abria.
— Não abre! — Shane gritou o óbvio.
Se estamos prestes a morrer, que a última coisa que eu escute seja: "Maven foi o homem mais bonito no Apocalipse e antes do fim do mundo também. Que descanse em paz" e não que a porcaria da porta não abre quando todo mundo nessa porra de escola sabe que está trancada.
Se houvesse um prêmio estudantil por perto com certeza eu o entregaria para Shane pela brilhante observação.
Os três andarilhos que estavam mais à frente se aproximavam, todos os três bem desengonçados, os passos tortos e lançavam olhares de famintos para nós.
Shane mirou na andarilha e puxou o gatilho. Uma cratera se abriu no crânio do errante fazendo com que um líquido escuro e fedorento jorrasse no chão atrás dele.
Otis correu em direção da última porta. O barulho das botas dele contra o chão alarmaram mais seis monstros que estavam em outro corredor.
Ótimo, agora mais seis errantes querem arrancar um pedacinho meu.
Assim não sobra Maven para todo mundo.
— Abre! ABRE! — Otis disse girando a última maçaneta.
Um suspiro de alívio saiu pelos meus desenhados e delicados lábios quando a porta se abriu. Não pensamos duas vezes antes de entrar no cômodo e tentar trancar a porta.
Tentar, porque não havia chave nenhuma.
Não podiam deixar a porcaria da chave na fechadura?
Os primeiros andarilhos que chegaram até nós começaram a forçar a porta, tentando abri-la. Porém Otis e eu empurramos a porta com ainda mais força, usando o resto de energia que ainda existia no meu corpo cansado.
— Mexa seu traseiro e faça alguma coisa para nos ajudar! — repreendi Shane.
— É. Estamos ficando sem tempo aqui.
Pude sentir Shane revirar os olhos. Não sei o porque disso, ao menos mexa a porcaria do dedo para ajudar a gente e impedir que sejamos comidos por essas criaturas imundas.
Shane pegou um armário no canto da sala e colocou a peça de metal enorme na frente da porta, arrumando tempo para fugirmos pela janela.
— Vamos ter que pular — disse Shane.
— Você enlouqueceu? Se pularmos vamos acabar nos machucando feio! — reclamei com a insanidade que Shane acabara de dizer.
— Prefere ficar aqui e virar banquete dos mortos? — Shane rebateu.
— É. O ex policial tem um ponto.
— Jura Otis? Pensei que você tava do meu lado.
— Vamos logo.
O primeiro a pular foi Shane, logo em seguida Otis. Os dois levantaram mancando. Eu avisei.
Os gemidos gurutais ficaram cada vez mais altos. Inspirei fundo e saltei. Por um segundo, pude jurar que ouvi o som do meu osso se rachar.
— Merda! — segurei o tornozelo tentando amenizar a dor, o que foi inútil.
Quatro errantes vinham pelo beco onde saltamos, estavam cada vez mais perto de mim. Otis já estava longe e Shane estava estático me olhando.
— Me ajuda a levantar! — implorei para Shane, mas ele virou de costas e saiu andando, me deixando ali sozinho — Seu filho da puta mesquinho, egoísta, mal amado! Por Deus! Como a sua mãe conseguiu colocar um ser tão merda no mundo? Espero que você consiga sair daqui bem vivo e que pise em um lego descalço. Seu merda! Você é tão podre quanto os errantes! Tenho certeza que agora a Lori irá prefirir trair o Rick com Otis do que com você. Sim! A Naomi me contou tudo seu talarico idiota! E vai a merda Otis! Você também está me deixando sozinho aqui! — usei quase todos os xingamentos que Naomi me ensinou.
Não acredito que esses vagabundo me deixaram aqui para virar comida de carne podre. Os andarilhos estavam mais perto, esse era o meu fim.
Naomi
Já era noite e nenhuma notícia de Maven. Carl está cada vez pior e os sedativos já estão perdendo efeito.
— Eles vão voltar — Maggie encostou na parede — Você sabe que vão.
— Sabe, eu não me despedi do meu melhor amigo achando que ele ia voltar. Já estou começando a me arrepender por não ter dito tchau antes dele sair.
— Você sabe que Maven vai voltar.
— E se não voltar? — perguntei dessa vez fazendo Maggie ficar quieta.
Ela não tinha uma resposta para me dar. Na verdade ela sabia que ele não iria sair de lá com vida. Seria tolisse se ela tentasse me dar esperanças agora. Estavam demorando demais.
Maven
Sangue escorria pelo meu braço esquerdo, minha roupa já estava escura e suja devido ao líquido plasmático que agora envolvia minha roupa. Muito sangue.
Um rastro nojento se formava a medida em que eu arrastava meu tornozelo quebrado no asfalto. Me certifiquei que o sangue não era meu e me dei o luxo de suspirar em alívio. Um dos andarilhos teve seu abdômen rasgado pelo facão e suas entranhas caíram bem em cima de mim.
Os outros andarilhos que passavam a minha volta simplesmente me ignoraram. Não sei se era porque eu parecia morto, ou se eu fedia igual a eles, mas era como se eu fosse invisível.
Finalmente pude ver Shane e Otis. Eles tavam chegando ao carro quando eu ouvi um disparo.
Shane atirou no peito de Otis fazendo ele gritar de dor e cair no chão. Os errantes começaram a se amontoar disputando por um pedaço de Otis.
Ele gritava a medida em que um andarilho arrancava a carne de seu rosto enquanto os outros mordiam e se deliciavam com o resto de seu corpo. Quando ele finalmente parou de gritar agonizando, Shane fugiu com o carro me deixando mais uma vez.
Shane é um assassino sádico e ele está voltando para a fazenda.
Preciso avisar a Naomi.
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