❛❛ 000 | Prólogo ❜❜

L A S T  F R I D A Y  N I G H T
by Katy Perry

⭑

NARRADOR
Outer Banks, 2019

  Verão.

  Uma simples palavra que poderia significar tudo, ou quase tudo. Segundo o dicionário, verão é a estação do ano mais quente, que antecede o outono e sucede a primavera. A palavra verão vem do latim vulgar veranum tempus, significando tempo primaveril.

  E foi em um verão despretensioso, que a vida em Outer Banks para Kaylee Thornfield nunca mais foi a mesma. Não pode-se dizer que fora culpa da maldita estação tão magnífica, afinal, sabia que era culpa de si mesma e da sua impulsividade descontrolada.

  Outer Banks, o paraíso na terra. Uma ilha, duas tribos. Kooks e Pogues. Não existe trégua em obx, essas tribos vivem em guerra desde que Kay se entende por gente. Duas partes distintas da ilha, em uma forma mais informal, ricos e pobres. Como uma vez sua prima disse, ou você tem duas casas ou dois empregos.

  Cassandra Thornfield, sua priminha de quinze anos, não muito diferente na questão idade, mas completamente na personalidade. Sendo filha do irmão de sua progenitora, as famílias eram próximas demais.

Cass tendo perdido a mãe pelo câncer aos quatro anos e Kay tendo um pai completamente ausente que a abandonou quando ainda era bebê, fez elas terem a mesma residência. Fazia quase dez anos que moravam juntas e Kaylee nunca se acostumou. Sempre achava a prima muito insuportável por sempre preferir a periferia do que o luxo, sair com os amigos pogues do que ter um momento com a família kook. Isso a causava indignação.

Quem não prefere a riqueza?

Saiu de seus devaneios quando ouviu gritarem seu nome.

── Kaylee Lorelai Thornfield.

O tom de voz de sua mãe parecia tão sério que teve de engolir em seco, do jeito mais discreto possível. Ela simplesmente odiava ser chamada pelo nome completo, era sinal de bronca.

── Eu já falei que não. ── Revirou os olhos. ── Por acaso me ouviu?

  Bufou, cruzando os braços.

── Ava ── Disse o apelido de sua mãe, pois se falasse o nome completo, pode apostar que teria levado uma surra, e não podia arriscar o convite que Sarah Cameron havia feito. Ela odiava o nome com todas as forças. ── Meus amigos vão estar lá!

── Você tem dezesseis anos e essa é sua quinta festa na semana. Não cansa, não?

  Kaylee entendia que isso poderia ter sido um pouco mimado e desesperado demais. Mas, caramba, fazia meses que tinha feito dezesseis. Para ela, a vida tinha começado ali, queria viver o máximo.

── Qual é! Você fazia a mesma coisa que eu, dona Ava. ── A mais velha franziu o cenho ao escutar as palavras e Kaylee estava pronta para soltar a língua. ── 'Teve aquela vez que...

── Cala boca, criatura. ── Sorriu quando os olhos dela arregalaram. ── Volte antes da meia noite. Sem drogas e sexo. ── Mesmo que ainda fosse uma virgem encalhada, sua mãe insistia em avisa-la sobre os cuidados. ── Entendido?

Kay soltou um gritinho animado, batendo as palmas juntas.

── Sim, senhora. ── Beijou a bochecha dela e correu para as escadas. Porém, não antes de grita-lá. ── Te amo, mãe!

Talvez ela realmente deveria ter ouvido sua mãe dessa vez.

Kaylee vestia um vestido curto completamente branco e sedado, que batia um pouco depois de sua bunda, fazendo as coxas e pernas ficaram a mostra. A maquiagem que usava era mais leve, por ser uma festa na praia, e o cabelo mantinha solto, apenas com algumas presilhas prendendo a franja não tão curta que tinha. Nos pés, um simples tênis preto a calçava, deixando-a mais jovial.

  Ao sair de casa e sentir o vento no rosto, fechou a expressão quando encarou a casa do lado da sua. Os Carrera. Kiara mora ali, e sentiu-se os próprios olhos se revirando ao lembrar de tudo que passaram sendo ex-amigas.

  O ano kook de Kiara, era assim que chamavam. Nunca entraram muito no assunto, por não quererem reviver isso. Além do mais, Kie não esperou para começar a andar com os pogues, assim como Cassandra.

── Vadia! ── Kaylee sentiu braços rodeando todo seu corpo, e os cabelos loiros não negavam quem ela já suspeitava ser.

Sarah Cameron, ou mais conhecida como sua melhor amiga desde a infância. Ela e Sarah se conheceram há nove anos atrás, quando Kay jogou uma bola de vôlei na cabeça dela, sem querer obviamente. Eram crianças, e isso fora uma desculpa para a amizade iniciar.

── Então, como estou? ── Assim que se afastaram, Kaylee deu um giro no próprio eixo.

── Uma grande gostosa. ── Sarah deixou um sorriso malicioso plantar nos lábios. Em qualquer oportunidade, as duas flertavam na brincadeira, e isso chegava a ser engraçado para as pessoas de fora.

── Eu sei, mas obrigada. ── Mandou um beijinho com a mão. ── Você também está linda, amor. ── Parou de prestar atenção na loira e viu uma figura alta, com os cabelos cheios de gel e o típico óculos escuros, encarando-as como se fossem extraterrestres. ── Ah, oi, Cameron. ── Ele não respondeu, apenas olhou-a de cima a baixo, e isso deixou Kay um pouco desconfortável.

  Rafe é o irmão mais velho idiota da melhor amiga dela, mesmo que não quisesse, via ele todos os dias. Infelizmente, ele sempre fora idiota. Quando eram crianças, Rafe pegava demais no pé dela, deu sorte que quando cresceram, isso parou.

── Rafe vai nos levar para a festa, se não tiver nenhum problema. ── Fechou o sorriso do rosto, engolindo em seco.

── Não... Não, sem problemas. ── Sorriu falsamente para a amiga. Era óbvio que tinha problemas, Rafe é o cara mais canalha de toda Outer Banks. ── Onde é?

── Onde é o que? ── Sarah tentou enrolar.

── A festa, Sarah. ── Estalou os dedos na frente do rosto dela. ── Acorda.

── Então, sobre isso... ── Mordeu os lábios, antes de continuar. ── É do lado pogue da ilha.

── O quê?

  Definitivamente, não estava pronta para tanto estresse hoje. O lado pogue da ilha era capaz de dar cabelos brancos a ela, e Kay odiava isso. Odiava ser desafiada.

── Não pense que estamos felizes com isso. Mas todos vão, e pense pelo lado bom, vai ter bebida alcoólica! ── Com a animação de Sarah, ela quase sorriu.

── Isso tem em toda festa. Eu não quero ver Cassandra e a gangue dela. ── Resmungou descontente. Sempre que podia evitar a prima, o fazia. Era mais fácil desse jeito. ── Por que você foi me meter nisso?

  Cass e Kay viviam na mesma casa, não no mesmo lar. Elas poderiam dividir residência, mas odiavam isso e quase não se viam. Quando Cassandra estava em casa, que é quase nunca, nem se viam, ficavam trancadas no quarto como adolescentes rebeldes.

── Olha, desculpa mesmo. ── Disse, mas não pareceu muito arrependida. ── Vamos ficar bem longe dela, eu prometo.

── Tanto faz. ── Deu de ombros, como se não ligasse, mas sabia que tinha se chateado. Família sempre fora seu ponto fraco, não importava que Cass era afastada dela.

── As duas pararam de falar? ── Rafe interrompeu, com uma carranca e Kaylee revirou os olhos. ── Ótimo, vamos.

  Infelizmente, saíram do lado kook da ilha estando no carro caríssimo de Rafe. O caminho até o lado pogue fora extremamente barulhento, com Sarah e Kaylee cantarolando as letras da Taylor Swift, com uma desafinação aparente.

  As expressões que Rafe tinha, como se estivesse odiando cada segundo e se segurasse para não surtar, a fazia rir escandalosamente.

  Ao chegarem da festa, que Kay descobriu ser da fogueira, os três adotaram uma postura mais arrogante, principalmente o Cameron, que estava indo de encontro ao loiro para pegar as bebidas.

  Kaylee avistou Cassandra com JJ e suspirou, antes de seguir.

── Aí, cara, eu quero uma cerveja. ── Rafe ordenou, com um sorriso de lado, que provavelmente irritava-o.

── Oi? Acho que não. ── Ele negou com a cabeça.

  Sarah, ao lado de Rafe, suspirou frustrada, visivelmente impaciente com o clima tenso entre os grupos. Kaylee apenas revirava os olhos, odiando estar no mesmo ambiente que sua prima e os amigos dela.

── Anda logo, JJ. ── A Cameron insistiu, cruzando os braços. ── A gente só quer curtir a festa sem brigas, tá?

  JJ finalmente se virou para encarar os dois, o sorriso sarcástico já surgindo em seu rosto. Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse considerando a ideia por um segundo.

── Ah, é? ── O loiro disse, a voz carregada de falsa simpatia. ── Então eu acho que vocês deveriam ter trazido as próprias bebidas, porque essa festa aqui é dos pogues. E as bebidas... ── Ele fez uma pausa, olhando diretamente para Rafe, o sorriso aumentando. ── São exclusivas para os pogues.

  Ele fez questão de enfatizar a última palavra, o que fez o Cameron dar um passo à frente, claramente irritado. Kay realmente não queria se estressar, mas parecia que era impossível isso não acontecer perto deles. Antes que a situação escalasse, JJ voltou-se para as duas loiras, fingindo uma expressão pensativa.

── Mas aí, meninas, se vocês pedirem com jeitinho, eu posso até pensar no caso de vocês. ── JJ sorriu descaradamente, olhando Kaylee e a amiga. A Thornfield fez uma careta e Topper, que estava por perto, se aproximou claramente incomodado.

  Kaylee sentia os olhares azuis de Cassandra a queimando, como se pudesse a fura-lá apenas encarando.

── Eu fico com isso. ── Em um movimento, Kay pegou a bebida que JJ segurava, lançando um sorriso esnobe, mas no momento em que foi levá-la à boca, Cassandra, com um gesto rápido, bateu na garrafa, derrubando o conteúdo no chão.

  A mais velha arregalou os olhos, definitivamente não esperava por isso. Cerrou os punhos, voltando o olhar à loira na sua frente.

── Pelo visto você não entendeu, a bebida é só para os pogues. ── Cassandra sorriu com ironia, o olhar afiado. ── Engraçado te ver por aqui. Não era você que sempre desprezava os pogues? E agora está no nosso lado da ilha, tomando cerveja barata. Que irônico, não?

── Kay, deixa para lá. Vamos. ── Sarah tentou segurar o braço dela, porém a loira soltou-se rapidamente

── Engraçado mesmo é você fingir não ter o luxo que tem. ── Sua prima trincou o maxilar, engolindo em seco. Sorriu com a conquista. ── O que foi, Cassie? A bebida barata te conquistou? ── Virou o olhar para JJ, fechando o sorriso irônico. ── Ou foi esse loiro maconheiro? ── O Maybank ficou com a postura ereta, na defensiva. ── Não sabia que você gostava disso, priminha. ── Riu sarcasticamente.

Por um momento, achou que Cassandra fosse ficar em silêncio, porém o sorriso ácido formava em seu rosto.

── Você sempre foi ótima em falar besteira, Kaylee. ── A voz dela era baixa, carregada de veneno. ── O luxo não me define, e é isso que te incomoda, né? ── Engoliu em seco. ── No fundo, você sabe que só está aqui porque precisa se apoiar em alguém, seja na Sarah ou em qualquer outro que te faça sentir parte de algo.

── Cuidado com o que diz ── Escutou o loiro falar, mas ignorou.

Ela se aproximou um pouco de Kay, com a postura firme, sem desviar o olhar.

── E sobre o JJ? ── Cassandra inclinou a cabeça, mantendo os olhos fixos nos de Kaylee, que sentia a irritação palpitando em seu peito. ── Prefiro estar com alguém verdadeiro, mesmo com todos os defeitos, do que ser só mais uma bonequinha de luxo perdida, sem identidade. ── Agora as unhas de Kaylee cravavam contra a palma da mão. ── Talvez seja isso que te incomoda tanto, priminha. Que eu não precise fingir ser quem eu não sou. ── O sarcasmo dela fez seu estômago revirar.

  Enquanto discutiam, uma roda se formou em volta das duas. Os irmão Cameron estavam prestando totalmente atenção, Sarah com a expressão preocupada e Rafe com indiferença, mas sabia que estava intrigado com tudo aquilo por dentro.

Ninguém ousava em interromper elas. Nunca faziam isso, pois uma vez que brigaram na frente de todos, como agora, quando cortaram-as, virou um caos, com bebida espalhadas e gritos ecoando.

── Eu posso ser tudo isso que você falou, mas não muda o fato de que você querer levar o título de pogue para esconder a vida merda que tem, mesmo com os luxos da minha. Deixa eu te contar uma coisa, priminha. ── Colocou a mão sobre a boca, como se fosse contar um segredo. ── Sempre será uma kook, nada vai mudar tentar se misturar com seus amiguinhos.

Cassandra soltou uma risada curta, desafiando Kaylee.

── Vida de merda que eu tenho? Olhe só, estamos no mesmo barco. ── Ela ergueu uma sobrancelha, a confiança evidente em sua postura. ── Aprenda uma coisa: a vida não se resume a status, Kaylee. Diferente de você, eu não preciso me esconder atrás de quem os outros querem que eu seja.

Cassandra lançou um olhar significativo para Kaylee, o tipo de olhar que dizia muito sem precisar de palavras, fazendo referência ao que ambas enfrentavam com os pais. Elas sabiam. Poderiam brigar a maioria do tempo e quase se matar, mas sabiam o que enfrentavam naquela casa.

Quando fora respondeu, viu Cassandra jogar todo o drink que segurava na cara dela, manchando sua roupa.

── Ops... ── Ela fingiu uma expressão de pena, mas os olhos brilhavam de satisfação. Kay sentia vontade de chorar de raiva apenas em ver o estado que a roupa havia ficado. ── Cai fora do nosso lado da ilha, sua vadia.

As veias de Kaylee pulsavam, tentando circular o sangue, enquanto os cabelos e o vestido estavam encharcados.

Não demorou muito, antes de recobrar a postura.

── Filha da puta!

Avançou nela, mas não chegou a bater, pois mãos firmes seguraram sua cintura. Eram fortes, não conseguia se mexer. E, mesmo que não admitisse, sentia-se aliviada por isso, se não teria perdido a cabeça e iria escutar um sermão enorme da dona Ava.

── Acalme-se, princesa. ── A voz conhecida embrulhou o estômago dela, enquanto os olhos ainda estavam presos em Cassandra.

── Me solta, Rafe! ── Gritou com raiva e ele soltou, mas ficou por perto caso ela queira avançar na prima novamente.

── Eu te ajudo a limpar, Kay. ── Sarah falou e Kaylee negou, com os olhos ardendo.

Merda. Por que sentia a necessidade de chorar quando estava a beira de um colapso de raiva?

── Não precisa, a festa acabou para mim. ── Respondeu, lançando um último olhar aos pogues e deu meia volta.

Sarah se sentiu apreensiva ao ver a amiga de costas, indo embora de uma festa que a mesma havia convidado. No mínimo, se sentia extremamente culpada, não esperava que assim que colocassem o pé ali, iriam brigar. Mordeu os lábios, pensando em uma saída daquela situação.

── Rafe ── Olhou o irmão, que quando percebeu as intenções dela, massageou a própria testa.

── Se vira ── Resmungou, não dando a mínima.

── Eu te pago. Vá atrás dela, Kay não pode andar por essas ruas sozinha. E eu não tenho carro.

── Quero quinhentos

── Eu não tenho esse dinheiro comigo ── Rafe sabia que era completamente mentira. Era só Sarah estralar os dedos, que tinha tudo o que quiser em um piscar de olhos. Como dizem, filinha de papai.

── Se vira ── Repetiu, passando as mãos pelo cabelo cheio de gel.

── 'Tá! ── Diz, se dando por vencida. ── Eu arranjo e te pago amanhã, juro.

── Como eu vou saber que não está mentindo?

── Não vai saber. ── Ela sorriu, pensando em algo que pudesse fazer o jogo virar. ── Vamos fazer melhor, se não levar Kaylee para casa, eu conto pro papai que você está metido com drogas. ── Os olhos dele arregalaram e engoliu em seco.

── Como você sabe? ── Arqueou as sobrancelhas, e arrumou a postura, percebendo exatamente no esquema que caiu. ── Desgraçada. ── Xingou, arrumando os óculos escuros. ── Eu vou. Mas eu quero meu dinheiro amanhã.

── Foi bom fazer negócios com você, maninho.

── Vá se ferrar, Sarah. ── Balbuciou, antes de sair de perto da irmã, apenas para não ver o sorriso vitorioso dela.

  Rafe não se preocupava nem um pouco com a amiguinha irritante de Sarah, na verdade as vezes sentia repulsa, exceto quando se pegava encarando o corpo dela demais por cima do biquíni rosa, que Kaylee insistia em usar toda vez que os kooks iam para a praia. Ela usava todos os tipos de rosa e isso irritava profundamente o Cameron. Patricinha insuportável, era o que Rafe pensava toda vez que a via.

── Rafe, que merda está fazendo? ── Kaylee quase gritou ao sentir as mãos fortes de Rafe segurando seu pulso com firmeza. Ela estava definitivamente assustada, nunca teve tanta intimidade assim com o Cameron mais velho. Era sempre apenas um "oi, Cameron" ou outros cumprimentos.

Ele a puxou, como se estivesse com muita raiva por estar ali.

── Entra no carro ── Abriu a porta do veículo, empurrando a loira para dentro, contra a vontade dela, que não estaca entendendo nada.

── Não. ── Soltou-se rapidamente dele, com o coração na garganta. Estava realmente assustada, mais por não conhecer ele direito e, mesmo assim, por falas de Sarah e Wheezie, Rafe é um completo idiota. ── O que você pensa que está fazendo, Cameron?

── Entra no carro logo, porra ── Ordenou, massageando a têmpora, cansado de ficar gastando seu precioso tempo com a garota. Já Kaylee, engoliu em seco, entrando no carro.

  Quando Rafe entrou no acento de motorista, a loira ficou intrigada.

── Ficou maluco? ── Perguntou, com a voz falhando. ── Você vai me sequestrar?

── Quê? ── Ele apertou o volante, tirando o carro da rua não muito movimentada que estava estacionado. ── De onde tirou isso? Eu só vou te levar para casa.

── É sério? ── Cruzou os braços, fechando a expressão. ── Quem te subornou?

── Sarah. ── Ele deu de ombros, não muito feliz, assim como a loira.

── Previsível. ── Ela revirou os olhos, pensando nas diversas maneiras de matar alguém sem ser descoberta. ── De qualquer jeito, não posso ir para casa. ── Falou, imaginando o quão irritada sua mãe ficaria de vê-lá encharcada com bebida barata. ── Me leva para outro lugar.

── 'Tá me achando com cara de uber? ── Diz, completamente grosseiro. Mas, ao contrário do jeito que estava falando, ele acelerou o carro, como se soubesse exatamente o que fazer.

── Onde está me levando? ── Perguntou de mal-humor. Estava mais tranquila por saber que Rafe não era nenhum louco psicopata, apenas o irmão mais velho de Sarah. Não havia nenhum problema, né? Ele só estava fazendo um favor, mas, por algum motivo, ela só conseguia pensar nas mãos dele segurando o volante fortemente. Pigarreou, saindo do transe. ── Eu falei que não vou para casa.

── Não estou te levando para sua casa, estou te levando para a minha.

  A fala não a afetou tanto, já que passava mais tempo na casa dos Cameron do que na própria. Vendo como uma oportunidade, sorriu e perguntou:

── Tem bebida?

── Minha casa não é um bar, Kaylee. ── A forma rouca como o Cameron disse o nome dela, fez suas pernas ficarem bambas e agradecia aos céus por estar sentada, se não, definitivamente teria caído. ── Tem. ── Respondeu mesmo assim.

── Ótimo. ── Bateu as duas palmas juntas, animada. Finalmente poderia compensar pela festa que perdeu. ── Podemos ir para lá, então. Sem problemas, vou avisar Sarah.

Rafe não estaca com nenhum ânimo para lidar com as frescuras de Kaylee, então apenas ficou quieto, ouvindo ela tagarelar no telefone com Sarah. Se fosse em outra situação, não teria se importado e, de qualquer forma, iria jogar a mesma na casa dela própria, mesmo que fosse contra a vontade. Mas, não queria se estressar com Ward hoje e pensou que até poderia ser divertido ver a patricinha bêbada.

O caminho inteiro foi em silêncio. Antes, com a Sarah no carro se tornava bem mais fácil, porém Rafe era alguém complicado e tinha certeza de três coisas; a) ele iria responder grosseiramente, b) ele iria responder sarcasticamente ou c) ele não iria responder. Não podia arriscar sua sanidade mental tentando ter uma conversa civilizada com Rafe Cameron.

  Quando chegaram na residência dos Cameron, Kaylee foi correndo para a cozinha, não se importando nem um pouco com o que pensariam, todos já estavam acostumados com sua presença ali. Wheezie provavelmente deveria estar jogando algum tipo de jogo no celular em seu quarto, pois as vezes escutava alguns xingamentos e ria.

── Whiskey! ── Deu um gritinho animada, pegando a garrafa que estava escondida em um armário na cozinha. Impressionantemente, fora Wheezie que contara, alertando que Sarah escondia ali.

Pegou a garrafa de bebida e, como se a casa fosse dela, subiu as escadas, pretendendo ficar no quarto da Cameron até a mesma chegar. Não viu mais Rafe, provavelmente ele deveria estar trancado no quarto dele fazendo coisas ilegais. Assim que abriu a porta do quarto da amiga, tirou o próprio vestido - que estava completamente encharcado - e foi buscar por uma roupa no armário da Cameron.

  No fim, vestiu uma blusa larga, que tinha quase certeza que era sua, porém Sarah nunca admitiria que pegou "emprestado" para nunca mais devolver. Ficou apenas com a parte de cima, deixando as pernas a mostra.

"Sarah: Vou chegar mais tarde, não espere por mim :)"

A mensagem apareceu na barra de notificação, e Kaylee suspirou. Sabia que isso iria acontecer. Sarah provavelmente deveria estar transando com Topper, mesmo alegando ser virgem. Bom, não é uma coisa que a Thornfield poderia contrariar ou duvidar, pois também era.

  Fala sério, quem era virgem aos dezesseis anos?

  As vezes, Kay parecia uma desesperada por sexo, mas ser virgem tornava as coisas um pouco mais complicadas. Nem mesmo seu ex-namorado quis tirar a merda de sua virgindade, o que foi de certa forma um alívio por ele era um completo babaca.

  "Kaylee: me conta tudo depois ok???"

  Respondeu Sarah, bebendo um gole na garrafa, querendo esquecer tudo ao seu redor. E, não demorou para isso acontecer de fato. Terminou o whiskey inteiro em menos de duas horas.

Já estava cambaleando, o que definitivamente não era um bom sinal. Sempre que ficava bêbada, fazia alguma merda ou acabava se machucando. Como quando da vez em que subiu em cima da mesa de um bar lotado e dançou sensualmente, ou quando por conveniência roubou uma loja, porém no dia seguinte sua mãe pagou a vendedora, apenas para não se meter em encrencas.

Permanecia deitada na cama de Sarah, até o desespero por mais álcool no organismo se fizesse presente. Talvez sua mãe estivesse certa, talvez um dia viraria a porra de uma alcoólatra inconsciente. Assim como o pai dela. Tal pai tal filha, não era isso que o ditado dizia?

  Mesmo que os próprios pés não conseguissem mantê-la por muito tempo parada, saiu do quarto e desceu as escadas, com a garrafa em mãos e o som dos passos desequilibrados dela.

  Quando fora passar pela cozinha, avistou uma silhueta que aparentemente estava embaçada em sua visão, até se aproximar e reconhecer como o irmão Cameron, ou como Kay apelidou: o Cameron mais babaca.

  Cambaleou mais uma vez, e isso foi suficiente para que o garoto percebesse sua presença. Mas, ao contrário do que achou que faria, ele apenas sorriu e Kaylee pôde reparar nos olhos vermelhos que o mesmo tinha. Entretanto, estava alcoolizada demais para pergunta-lo.

── Você quer um pouco? ── Apertou os olhos e observou pó em cima da mesa, que antes estava apoiado.

  Não precisava estar muito sóbria, para recusar imediatamente.

── Está me oferecendo drogas? ── Perguntou de uma vez, vendo-o sorrir. ── Desde quando você aspira pó? ── Ele deu de ombros.

── Não respondeu minha pergunta.

── Não, Rafe. ── A forma lenta e cantada que falou, afirmou para o loiro de que a garota não estava sã de si mesma. ── Eu não quero.

── Está bêbada? ── Ela não respondeu, soltando uma risada. ── Interessante.

── E você está chapado, não é muito diferente.

── Sempre quis saber como é ver a patricinha de Outer Banks, embriagada.

── Está vendo agora ── Riu consigo mesma, como se tivesse feito a piada mais engraçada do mundo.

── Não acha que está muito a vontade? ── Ele desceu os olhos para as pernas dela e, só então, Kaylee reparou que não havia colocado uma calça sequer. Estava sem a parte de baixo da roupa, na frente de Rafe Cameron. Quão ruim era isso? ── Não que eu esteja reclamando, claro.

  Felizmente, ou infelizmente, o efeito simbólico do álcool não a fez corar de vergonha. Se estivesse sóbria, era completa certeza de que teria fugido do país com tamanho constrangimento.

── Eu vim pegar bebida, se não se importar ── Começou a andar, sentindo suas costas queimarem, mas parou no meio do caminho e soltou uma gargalhada escandalosa. ── Quem eu tô querendo enganar? Sua opinião não importa. ── Saltou de susto quando as mãos grandes de Rafe seguraram o pulso dela.

Ela se virou bruscamente, dando de cara no peito dele. Teve que respirar fundo ao perceber o quão perto estão. A visão turva começou a dar enjoos nela e pôde jurar que fosse vomitar ali mesmo, se não fosse por ele começar a falar.

── Alguém já disse que você está gostosa hoje? ── Ela arregalou os olhos azuis, totalmente chocada. Rafe estava chapado e, surpreendentemente, dando em cima dela.

── É... Não? ── Tentou seu máximo para não gaguejar, mas não estava nem conseguindo raciocinar neste momento.

── Então, eu falo ── Ele subiu as mão que estavam no pulso dela, até o pescoço da garota, que respirava com dificuldade. ── Kaylee Thornhill, você está uma gostosa hoje.

── Thornfield, Rafe. ── Corrigiu, engolindo em seco e piscou várias vezes, tentando manter a razão, mesmo querendo fazer loucuras. ── E me solta! Não estou bêbada o suficiente para cair nos seus encantos.

── Não é o que parece ── O sorrisinho sarcástico dele a fez delirar e desejar estar com sua prima irritante. ── Qual é, Kay. ── A menção do apelido na voz arrastada dele a fez estremecer. Rafe parecia estar implorando por aquilo e, se não estivesse na posição que está agora, teria rido. ── Eu sei que me quer. Vejo como me olha. ── Apertou o pescoço de Kaylee, fazendo-a arfar e deixou a mão deslizar sobre a clavícula exposta dela.

── E como eu te olho, huh? ── Não conseguiu segurar e devolveu o flerte. Estava bêbada, afinal, poderia colocar a culpa de tudo o que fez na bebida depois, como sempre faz.

O Cameron aproximou a boca de Kaylee, e ela pôde sentir a respiração pesada dele. Estava uma bagunça de sentimentos na cabeça da loira, e todas foram intensificadas pelo maldito whiskey, e agora não sabia exatamente o que estava acontecendo. Porém, gostava e gostava muito.

── Como se quisesse fazer... ── Abaixou a cabeça e olhou diretamente nos olhos dela, mordendo os lábios e sorrindo de um jeito que Kay jurou ser bastante sexy. ── Isso. ── Puxou a cabeça dela com uma força brutal e Kaylee paralisou quando as bocas se tocaram.

  Era como um sonho, ou um pesadelo. Teve que retribuir ao beijo, pois Rafe mexia seus lábios com tanta rapidez, que segurou no peito dele para não acabar caindo para trás. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e suspirou quando sentiu a língua do garoto invadir seu interior. O jeito como ele a explorava com a língua, fazia-a sentir coisas que não devia e isso ocasionou um leve gemido, mordendo o lábio inferior dele no processo.

  As mãos de Rafe foram parar em suas pernas desnudas e automaticamente tomou impulso para pular sobre ele, fazendo-o segurar as cochas da garota. Kaylee separou as bocas deles, apenas para soltar um gemido contido, quando sentiu o anel dele roçando a pele dela.

  É, essa seria uma longa noite.

dia seguinte

  Kaylee lentamente abriu os olhos, tentando se acostumar com a claridade. Assim que abriu-os totalmente, percebeu estar em um quarto completamente desconhecido. Piscou diversas vezes, e quando notou estar nua, arregalou os olhos.

Que porra aconteceu?

  Sentiu uma respiração pesada ao seu lado e rapidamente virou-se para ver quem era e isso fez seu coração palpitar mais rápido.

  Rafe Cameron. Ele estava nu. Isso significa que...

  Não. A consciência de Kaylee gritou mais alto que os gritos que sua mãe vai dar quando descobrir onde passou a noite. Começou a ofegar, buscando desesperadamente por ar e podia sentir a cabeça latejando, indicando indícios de uma ressaca fortíssima.

  Tentava se recordar de tudo, mas a noite passada simplesmente era uma memória em branco. um breu. Levantou tão rápido, que suas pernas falharam e, só então, percebeu que estavam doendo para caralho.

  Pegou as roupas espalhadas pelo chão que encontrou e, quando estava pronta para sair daquele maldito quarto, se viu no espelho, causando um choque nela. Seu pescoço estava com marcas e havia chupões por todo seu corpo, seria inevitavelmente difícil de esconde-los.

  Quando pegou tudo, inclusive o celular, saiu rapidamente da casa dos Cameron, que provavelmente deveriam estar dormindo e ligou o aparelho, mostrando ter setenta e nove ligações perdidas de sua mãe e quatro mensagens de Sarah.

  Seria absurdo contar à amiga que transou com o irmão dela, então a outra opção seria...

  "Kaylee: mãe, fiz merda"

  E a resposta foi imediata.

4771 words

UM ── Demorei horrores para terminar o capítulo, mas com o incentivo (cof cof ameaça cof cof) das minhas amigas, eu terminei! E espero muito que tenham gostado.

DOIS ── As narrações dos outros capítulos serão em primeira pessoa, este apenas fora uma exceção.

TRÊS ── Tenham paciência com a Kay, só isso que eu digo. Quem quiser ver o pov da Cassandra de tudo isso, vão no perfil da etherealwtp

QUATRO ── Votem, isso é importante para eu trazer mais atualizações para vocês.

CINCO ── Quem aí já viu obx4 e morreu de ciúmes do Rafe com a Sofia? (eu)

xoxo
- lu 💋