CAPÍTULO XIX
†
O silêncio. Apenas ele. Após o enterro do chefe de família, o Conselho esteve presente para nomear o novo líder. No canto da casa, Hyunjin encarava o irmão sem expressar absolutamente nada, apenas inclinou o rosto de lado e olhou rapidamente para o teto. Soyoung observava minuciosamente cada movimento do mais novo, mas franziu o cenho ao ver ele rir mansamente em direção ao enorme lustre da sala de reunião, sem entender o que de fato ele ria, apenas ignorou e voltou sua imensa atenção ao assunto.
— E os papéis, consigliere Park? — O homem indagou.
— A maioria está no escritório do senhor Alejandro, buscarei. — Proferindo já dando sua saída rápida.
A sala de reuniões ficara poucos cômodos do escritório do falecido, desde que morreu carbonizado, Soyoung não havia entrado mais ali. Ao empurrar a porta vagarosamente, percebeu estar do mesmo jeito que o homem havia deixado, alguns papéis bagunçados sob a mesa, a pequena estatueta de um dos seus cavalos ainda estavam ali. Ela suspirou ao sentar na cadeira para pegar os documentos de posse, seu corpo sentiu um arrepio percorrer, e uma imensa vontade de chorar. Desde que Alejandro faleceu, ela nem sequer chora ou demonstra o luto, parecia estar preso em algum lugar dentro de si.
Então ela percebeu o sentimento de vazio ao ver que o seu chefe não estaria ali. Para ela, o Villanueva era considerado como o seu segundo pai, mesmo diante das atrocidades que cometeu.
— Uau. — Ela sorriu sorrateiramente tentando não pôr para fora.
Então abriu a pequena portinha do lado da mesa fungando e ali embaixo se encontrava um dos cofres da casa, digitou minuciosamente a senha, assim que o cofre abriu por completo, Soyoung piscou diversas vezes ao perceber que não havia papéis ali.
— O quê?! — Um fio de voz sussurrou em meio aos seus lábios carnudos, mas ressecados, Soyoung havia sido pega pelo susto, não encontrava os papéis.
Então ela saiu da cadeira e agachou-se e passou a palma da mão por debaixo da mesa do escritório tentando analisar para ver se não havia algum fundo falso naquele móvel. Soyoung tinha a certeza que havia escondido os documentos, ninguém além dela e o próprio Alejandro saberia do esconderijo, documentos de posse eram importantes naquele momento e quando ouvira batidas leves na porta, Soyoung bateu a cabeça na mesa.
— Porra! — Xingou e massageou as têmporas.
— Ei, por que a demora? — Christopher adentrou questionando. — Ragazza, o que faz debaixo da mesa?
— Os documentos sumiram! — Ela alertou firmemente, seus ombros ficaram tensos com a notícia, Soyoung ficou de pé e andou para os lados fazendo bagunças entre as gavetas.
— Como assim “sumiram”?
— Eu não sei! Estavam guardados aqui no cofre e simplesmente quando abri não havia nada dentro. — Ela explicou temendo o pior a acontecer se esses papéis não aparecerem. — Seu pai e eu somos os únicos capazes de abrir o cofre, com ele morto não há como eu ter aberto sem algum motivo.
— Não tem outro documento ou alguma cópia?! — O moreno estava prestes a alterar seu tom de voz quando ouviu a garota lamentar ao dizer que possui um documento. — Por que está lamentando? Onde está então?
— A carta do autárquico — Proferiu, e fora buscar com agilidade.
Com carta na mão, ambos se preparavam para descer, até que então Christopher parou no meio da escadaria e encarou Soyoung descer vagarosamente segurando aquela carta e acabou percebendo algo de estranho na morena. Quando ela chegou até a sala de reunião, os olhares foram em direção a si, e sem temer entregou aquela carta. O que definirá tudo a partir daquele momento quando o Conselho ler.
Os mais velhos murmuravam entre si após abrirem a carta e logo deram início.
— “Na presente data, perante o Conselho e a consigliere presente, toma posse neste exato momento… Sophie Santiago Park como Capo da família Villanueva diante das circunstâncias ocorridas a Alejandro Villanueva.” — O secretário do conselho ao ler não encarou ao seu redor, mas ali Christopher havia ficado incrédulo e logo percebeu-se o motivo da lamentação da garota. — “Com isso, Christopher Bang Villanueva, filho primogênito e Hwang Hyunjin, seu segundo filho, ambos ficarão sob a guarda e terão todos os seus bens e propriedades passados para o nome da americana-coreana.”
O homem leu com tanta cautela que esperava o caos acontecer brevemente. Então deu uma pausa e em seguida um suspiro, insinuando que haveria mais a vir.
— Senhores, diante a esta carta, fica claro que a senhorita Park é a nova chefe-líder da família Villanueva. De fato é impressionante, senhorita Park. Alejandro Villanueva deixar tudo em suas mãos significa que ele realmente confiava em ti de olhos fechados. — O italiano proferiu demonstrando um sorriso.
Christopher encarou de prontidão o rosto da ex-agente, seus olhos pareciam estarem petrificados com a notícia, enquanto o seu irmão ria discretamente. A reação de Soyoung não existia naquele momento, apenas esperava o próprio Christopher elaborar algo contra ela, o que de fato não acontecia.
— Está na hora, senhorita Park. Concretize seu juramento. — O homem ficou de pé e lhe entregou o anel sinete, em que foram usados pela máfia italiana.
Soyoung com sua postura militar ficou ali prestes a proferir seu juramento, então encarou ao seu redor, esperando ansiosamente um, tapa por trair a “confiança” de Christopher.
— Candidato-me com o firme empenho de promover novas práticas, novas formas de organização criminosa e funcionamento do tal. Diante disso… — Uma pequena agulha foi entregue a mesma com uma foto de uma santa católica. E proferiu: — Se eu trair os meus amigos e nossa família, minha alma e eu queimaremos no inferno como esta santa.
Ao realizar seu juramento e a punciuta — furando com uma agulha na ponta do dedo indicador da mão direita, a mão que atira — o sangue escorria e fora derramado na foto. Sendo assim logo queimado com agilidade. Alguns felicitaram, entretanto, nem outros. Christopher saiu enfurecido com a tamanha humilhação e muito menos pensou em seu irmão, que observava o circo pegar fogo.
(…)
— “Com a morte do chefe da Máfia Siciliana, Alejandro Villanueva, não marca o fim do clã mafioso, Los Villanueva, mas é improvável que o grupo criminoso permita que seja concedido poder como um só homem, assim, uma nova líder fora anunciada sem revelar identidade!”
A televisão da sala onde os empregados ficavam era ouvida por Soyoung que caminhava por perto, e ouviu mais uma vez.
— “Alejandro, com 54 anos, morreu em uma explosão na propriedade onde vivia, na cidade do norte da Itália em que estava cumprindo 38 sentenças de prisão por assassinatos cometidos entre 1985 e 1992.”
— O fim de Alejandro não é o fim dos Villanueva. — Disse a mais nova líder.
— A senhora acha? — A mulher a questionou.
— Não me chame de senhora, por favor. Eu não favorito esse respeito. — Suspirou pesadamente
A morena voltou a pensar no sumiço dos documentos e lembrou-se da cena em que Hyunjin estava sorrindo sorrateiramente. Ela não se sentia bem com aquele título de liderança da máfia siciliana, para ela, liderar a máfia se tornam em maior parte por herança familiar, aquilo não era o seu título e sim porque o “correto” é, pai deixar o cetro do comando e o título de “príncipe” ou de “marquês” ao filho.
Christopher merecia o título por mais que ele fosse ruim, fazia parte dele, mas aparentemente o próprio pai não o considerou. E mesmo morto acabou iludindo o sangue de líder do filho. Então ela ouviu o barulho do carro próximo à propriedade, então saira para checar, Christopher havia dado as caras após passar horas fora após sentir a humilhação lhe corroer. Soyoung ajeitou o casaco de lã branca e saiu, esperou o mesmo colocar o carro na garagem e seguiu em sua direção.
— O quê? Veio atrás de mim para dizer ser a nova líder? — O rapaz disse em tom de deboche. — Você é uma filha da puta! Como que eu não percebi esse tempo todo que você seria a tal?
— Por favor me escuta… — Soyoung segurou o pulso do rapaz que logo puxou com irritação. — Christopher, eu juro que isso não era para acontecer!
— Então me diz, Sophie. Diz-me o que merda deveria ter acontecido.
— Fui eu que planejei o testamento e posse, mas o seu nome estava escrito, não o meu. O seu pai não queria que você liderasse, pois, não era útil o suficiente para ser o próximo Capo e então ele escreveu a carta do autárquico, o que prova que lidero metade a Siciliana e também boa parte de Sinaloa. — A Park admitiu esperando o mínimo de raiva vindo dele. — E então acabei escrevendo o testamento onde o seu nome está, mas eu não sei onde esse documento pode estar…
— Mentirosa! — Acusou-a grave e rudemente. Seu olhar rígido causou incômodo na garota.
— Eu só queria… — Sussurrou prendendo o nó em sua garganta. Mas foi impedida ao observar Christopher balançar a cabeça negativamente.
— Não. Apenas pare de tentar, essa conversa não levará a lugar algum. — Christopher percebeu que Soyoung aproximou-se de si, e logo a afastou-a com convicção.
Mas o que ele não esperava era que a garota ficasse em sua frente com uma expressão marcante e prendesse o seu olhar. Ela lançou-lhe um olhar gélido e cansado do fardo que estava agora em suas mãos.
— Você vai me escutar, Christopher! — Vociferou arduamente sem escândalo.
O homem a olhava fixamente, esperando as palavras vindo da sua boca, Christopher sentia seus nervos se aflorarem com tamanha humilhação que sentia em viver no mesmo teto em que a garota usurpou o seu lugar.
— Estou ouvindo, agora me diga o que tem a dizer. — Cruzou os braços soltando um riso sarcástico.
— Eu suponho que o seu irmão pode estar envolvido na morte de Alejandro.
Tudo se paralisa. Soyoung sabia muito bem que a morte do Villanueva havia afetado o mais velho dos filhos, mas não tanto ao mais novo, então Christopher fez uma expressão nada agradável, sentira arfar segundos depois quando aquilo foi “exposto”. Aparentemente, o mais velho nunca pôde parar por um momento e analisar o próprio irmão.
— Do que está falando? — Questionou o óbvio.
— Isso não é óbvio? — Indagou quase inaudível. — Hyunjin sabia que eu seria líder, mas ele nunca teve acesso à carta, e os documentos estavam no cofre. Apenas eu e seu pai sabia da porra do código!
— Merda… tem algo de errado. — Alertou e adentrou a casa puxando Soyoung. E soltou-a no momento em que pararam em meio a entrada da sala. — Ele está obcecado.
— Obcecado? Pelo quê?
— Por você.
(...)
O quarto escuro e com livros ao redor do chão, Christopher adentrou o quarto do irmão, acendeu as luzes e o encontrou sentado em direção a janela. As cortinas balançavam e o clima parecia filme de terror ao ouvir a risada anasalada do mais novo. Hyunjin não possuía mais o cabelo tingido de loiro e sim pelo vermelho-sangue, Christopher nunca julgou a “rebeldia” do irmão por gostar disso. Mas não achou estranho e deu de ombros, mas tinha um assunto a ser tratado, e para isso ele teria que jogar.
— É estranho você vir aqui, nunca recebi visitas suas, nem quando eu estava naquele maldito lugar. — O garoto proferiu. — Mas, e aí? Como se sente depois que a Soyoung roubou o seu lugar?
— Não sinto nada. Quem sabe, ela saiba liderar melhor que eu. — Ao dizer isso, Christopher observou o irmão ficar de pé andando vagarosamente em sua direção.
— Perfetto. — Elogiou em italiano demonstrando verdade em sua feição.
— Fratello, o que você sentiu após o nosso pai morrer? — O rapaz perguntou, queria tanto saber de sua resposta, mas viu que o irmão deu de ombros.
— Como qualquer pessoa em seu luto. Entretanto, é diferente.
— Diferente como? — Insistiu no questionário. — O seu luto é tão… vazio. Isso é perceptível, só espero que o showzinho que faz toda noite para Soyoung aparecer aqui e te amparar não seja descoberto.
O Villanueva sorriu ladino e com tamanha empáfia ao dirigir-se em direção a prateleira decorativa e mexer nos pertences de Hyunjin.
— Acredita que eu não percebi, irmãozinho? Mas entenda, ela não te olharia com tamanha… você sabe. — Christopher sorriu em deboche para o mais novo que a arque a sobrancelha incrédulo. — Você é apenas um garoto, não percebe?
— Você pode me explicar que merda é essa? — A voz soou como um relâmpago abrindo luz no céu. Não houve uma resposta instantânea porque o olhar que ele desferiu quis deixar a pergunta aberta a especulações.
— Sinto muito, não é a intenção — Christopher bufou, irritado consigo mesmo, esfregando a palma da mão pelo pescoço, com aquele tom insuperável do deboche. —, até porque não tem uma forma de dizer isso. É muito difícil. Que merda, é insuportável. Mas, você está obcecado pela Soyoung, não é isso?
Ao ver que o irmão arfou e em seguida soltou uma risada anasalada alta, então em passos lentos caminhou em direção ao mais velho.
— O seu ar de superioridade e de julgamento moralista está estampado em toda essa sua cara de metido a educado. E se eu estiver? Lei è mia!
Talvez Christopher finja que já não mais escuta os lemúrios falso reverberando no fundo da sua mente, toda vez que a insônia o deixa acordado na madrugada, e que aquilo não havia nem chegado perto de ser a coisa mais horrível que Hyujin dizia, talvez o garoto seja louco. O ruivo carregava terrorismo em sua voz, amedrontava um pouco com a insanidade, então numa imensa agilidade, o mais novo jogara em direção do irmão, objetos de vidros. Christopher não havia percebido de primeira e não conseguiu desviar dos primeiros objetos e acabou se machucando, e conforme o irmão jogava ele correu em sua direção tentando proteger-se daqueles ataques.
Christopher empurrou o irmão ao chão de carpete e ambos começaram a entrar em luta corporal, o mais novo socou o rosto duas vezes do irmão mais velho, deixando-o inerte com os movimentos que fazia, já que Christopher estava ocupado demais sufocando Hyunjin.
— Você tentou me provocar? — Hyunjin sorriu com uma força que lhe exigiu um esforço hercúleo. Os sorrisos eram autorizados, exceto se só fossem os que transformassem a visão do rosto de Christopher em um completo palerma.
— Que dó de você! — O mais novo rosnou enfurecido mesmo diante de sorriso e sufocamento.
Quando Christopher percebeu estar prestes a sujar sua mão matando o próprio irmão, o soltou rapidamente. O momento de raiva o consumiu que deixou-o cego por míseros e malditos segundos, ele suspirou pesadamente e ouviu a porta abrir-se abruptamente e Hyunjin correr em direção a porta, choramingando de joelhos à silhueta parada ali o acalentando em seguida.
— O que aconteceu?! — Soyoung perguntou ambos. E Hyunjin é claro, apontou em direção ao irmão como uma criança birrenta acusando-o. — Christopher!
Soyoung fora em sua direção e firmou suas mãos que antes gélidas agora estavam quentes, firmaram-se no rosto do mais velho analisando aqueles cortes pelos objetos quebrados, e então permaneceu assim sem desviar os olhares. Não sabe de onde tirou forças para sair do seu estado de espanto desfalecido, nem como teve tempo de olhar para outra coisa a não ser a imponente e desconcertante presença da garota, porém, nesse meio segundo, pôde constatar sob uma rápida vasculhada visual. Inconcebível. Era a única palavra que o Villanueva encontrou para defini-la naquele momento. Totalmente inconcebível.
E meio a isso, ela dedilhou seus dedos no rosto do rapaz, questionando se estava bem. Deixando para trás um garoto de cabelos como sangue irritado.
— Estou bem. — Admitiu segurando sua mão e apertando levemente.
— Ainda não me disseram o que aconteceu aqui. — Ao perceber, Soyoung se desvencilhou, questionando mais uma vez.
— Christopher veio aqui me provocar, noona! — Hyunjin continuara acusando o irmão.
— Que tipo de provocação foi essa capaz de quebrarem os pertences? — Ela cruzou os braços sentindo um pouco de mentira, ela sabia o que estava acontecendo, mas precisava constatar. — Me diga, Hyunjin. O que Christopher lhe disse?
— Ele disse que você matou nosso pai. — O garoto mentira, e Soyoung sabia disso, pois horas antes, não fora isso que ela e Christopher combinaram. — Você não faria isso, Soso. Você me ama demais para realizar essa atrocidade, e mesmo que tivesse feito, não ficaria chateado. Além disso, ele disse isso, pois ele está obcecado por você.
Soyoung dera um passo ao meio encarando o chão, esperando o caos vir novamente ao ouvir aquelas palavras. Christopher tinha razão. O irmão estava obcecado pela, a mesma, e agora mentiras o entornaram insanamente.
— Eu sei. — Ela afirmou vendo a expressão desconcertada de Christopher. — Tenho olhos em todos os lugares, querido.
A garota sorriu prepotente, ajeitando as madeixas fartas e estruturadas em um penteado que, quem não a conhecesse, juraria ter sido arrumado cinco minutos atrás no melhor cabeleireiro da Itália, mas, na verdade, era só como a genética resolveu abençoar Soyoung a nem se preocupar em fazer qualquer esforço para ser maravilhosa como é.
— Mas eu não matei o seu pai, talvez os meus amigos policiais corruptos possam ter conduzido esse trabalho. — Soyoung estava sendo um pouco cruel, mas esse era um bom plano em que bagunçava a mente do avermelhado. — Era isso que estavam esclarecendo aqui?
— Que mentira, Hyunjin! — Christopher observou a falsidade do irmão e tentou aproximar-se mas Soyoung o impediu e colocou-se na sua frente. — Assume, monello! Você é obcecado pela Soyoung e não eu! Veja com seus próprios olhos! Ela não se interessaria por um pirralho como você.
Soyoung ficou calada observando a raiva do rapaz, logo percebe a expressão abismada de Hyunjin, o avermelhado passou as mãos entre os fios ficando cada vez mais irritado. Então a garota apenas se afastou e deixou que ambos se enfrentassem, para ver o que daria depois.
— Sabiam que vocês dois estão parecendo crianças? — Soyoung proferiu. — Christopher, já chega. Saia daqui.
O Villanueva não obedeceu e seu rosto virou-se em direção a morena deu um sorriso ladino antes abrir os lábios para falar algo. E então suspirou. Ele iria aprontar, porém, Soyoung não sabia da sua breve artimanha naquele momento. Ela pendeu o rosto de lado sem franzir o cenho perguntando a si mesma o que ele iria fazer.
— Eu não vou sair daqui, bonequinha. — Christopher esticou sua mão e apertou a bochecha de Soyoung com leveza.
— Bonequinha?! Você ficou maluco? — Soyoung estapeia sua mão indignada com a situação. — Eu não estou pedindo Christopher, eu estou mandando.
— Sei disso. Mas não vou enquanto esse moleque não falar a verdade.
— Chris, pare… — Desta vez ela suplicou dando um olhar apreensivo.
— Confessar o quê? Se o único a perder é você! — O garoto retrucou, no entanto, ficara ofendido.
— Você matou o nosso pai. Mentiu sobre mim para Soyoung apenas para salvar sua pele, mas não é assim que funciona, você é obcecado por ela desde o dia que queimou aquele maldito quadro! — Christopher respondeu ríspido e conforme falava, seu tom de voz saia arrastado porém alto. — Você aprecia ver ela te acalentar com abraços, fique às espreitas enquanto vê ela durante a madrugada fazendo chá, você sabia Soyoung que, ele sabia sobre os documentos?
— Isso é sério, Hyunjin? — Ela o questionou seriamente.
— Não, noona…— A respiração de Hyunjin parecia falhar e logo ele choramingava em direção a ela negando o que o irmão mais velho dizia. — Isso é mentira! Eu nunca mataria o nosso pai e não… eu-
— Tudo bem… vai ficar tudo bem. — Soyoung mais uma vez o “acobertou” mesmo sabendo que no fundo era verdade. E então ela o envolveu em um abraço confortando-o enquanto Christopher saiu do quarto com uma expressão de “Eu avisei.”
(...)
9:45 PM
†
Sentados no jardim, Soyoung limpava os cortes do rosto de Christopher com leveza, mesmo ele fazendo algumas caretas conforme ela fazia o curativo com band-aid.
— Pare de drama! — Ela rebateu ao por o último curativo.
— O que fez com o pirralho?
— Conhece o “Boa noite, Cinderela”? — Soyoung perguntou e rapidamente o rapaz negou. — É um golpe usado em festas, substâncias de Flunitrazepam, Cetamina e Ácido Gama Hidroxibutírico, e são colocados em bebidas. No começo a pessoa aparenta estar “embriagada”, perde a atenção, reflexos e raciocínio. E não demora muito para a pessoa apagar por completo.
— Drogou o meu irmão?! — Questionou quase incrédulo.
— Talvez. Mas ele não percebe, eu sempre digo que os chás que tomo me ajudam na insônia, então é um golpe perfeito. — Soltou uma risada fraca e virou-se para encarar ao redor e sentir a ventania da noite. — Minha mãe me ensinou o truque do chá, e me apresentou as substâncias, não é comum esse tipo de golpe na Europa mas atualmente o “Boa noite, Cinderela" se tornou popular.
Soyoung tagarelou um pouco e suspirou pesadamente, a mesma pensava que estava se perdendo de si mesma com a situação que ocorrera horas atrás. Seu olhar baixo encarou os pés descalços sentindo a grama fria, aquela noite não poderia ser um caos, não agora que fez descobertas um tanto confusas.
— Ei, eu não sei… — Ela voltou a falar mas logo deu uma pausa. — Não posso acusar o seu irmão assim, Christopher. Eu apenas supus, entende? Mas ele agiu estranho no dia do testamento, quando o seu pai morreu, ele estava na sacada com uma expressão vazia e tão calculista.
— Hyunjin começou a agir dessa forma desde que tinha seis anos, ele tinha um coelho de estimação e afogou o animal, foi o primeiro ato "criminoso" dele.
— Ele nunca teve alguma ajuda? Por exemplo, um psicanalista. — Soyoung o questionou curiosa sobre o garoto. — Eu acabei descobrindo por acaso que o seu irmão esteve no Hospital psiquiátrico Gorizia, conversei com o diretor do hospital, ele constatou que o Hyunjin havia sido colocado lá mesmo sem nenhum transtorno mental há seis anos atrás.
— Isso é verdade, mas de todas as vezes que ele ia ao um psicólogo, psiquiatra ou até mesmo um psicanalista, nenhum conseguia dar o diagnóstico a ele. O que de fato é estranho e impressionante ao mesmo tempo.
Soyoung o ouviu atentamente, a forma como Christopher contava o que o irmão fizera era instigante, o mais novo tinha inúmeras capacidades de mentiras e manipulações para conseguir o que queria. E isso soava como um estudo ao paciente não diagnosticado, era isso que Hyunjin conseguia ser.
— Talvez ele tenha transtorno de personalidade paranóide.
— Como assim? — Ele perguntou.
— Preste atenção. Durante o meu convívio com o garoto eu percebi que ele suspeita constantemente de que as pessoas estão explorando, enganando e manipulando de alguma forma, por exemplo: você. Além de duvidar da confiabilidade de pessoas com uma resistência em confiar em outras pessoas, pois pensa que, caso se exponha, tudo pode ser usado contra ele. — A morena explicou com uma certa dúvida mas parecia estar prestes a se felicitar por diagnosticar alguém assim.
— Mas Soyoung, o pirralho tem atitudes macabras, isso não se encaixa. — Constatou.
— Eu ainda não terminei. — Ela rebateu e mostrou um sorriso um tanto orgulhoso de si mesma. — O seu irmão tem retenção ao rancor, possui atitudes responsiva e rápida para reagir com raiva, como horas atrás, entende? Estávamos duvidando do caráter dele, o que de fato fez ele contra-atacar você, além de que suspeita constantemente sem fundamento sobre a fidelidade de alguém.
— Uau! — Exclamou impressionado. — E podemos fazer algo?
— Por enquanto não, ele vai se sentir ameaçado se viermos com papo de psicólogo para ele, então até lá eu tenho que manter a confiança dele intacta.
— Soyoung, eu não confio naquele garoto, talvez ele saiba. — Alertou.
— Seu irmão já teria me matado o mais rápido possível, então é melhor focarmos em algo que faça-o sentir raiva mais ainda. — Ela sugeriu, então Christopher a encarou pensativo, ambos pensavam em algo, mas de repente, uma pequena certeza surgiu na mente do garoto. — Sabe, tem algo que faria a mente obsessiva e psicótica do seu irmão entrarem em surto.
— Espero que seja o que estou pensando. — Riu gradativamente ladino com a resposta, ficando totalmente intuitivo e confiante. E Soyoung demonstrou interesse e pediu para que ele continuasse. — O tão patético contrato de casamento.
— Isso aí!
(...)
†
Vocabulário:
Noona: É um termo que apenas os garotos sul-coreanos chamam as garotas mais velhas, é um “apelido” bem comum que irmãos mais novos chamam as irmãs mais velhas.
Monello: Pode ser denominado para moleques ou pirralhos.
Fratello: Denominação de “irmão”.
Punciuta: Punciuta é um termo siciliano que significa punção e dá nome ao rito de iniciação dos membros da Cosa Nostra.
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