CAPÍTULO X
†
Foram estimadas doze horas de viagem pelo jatinho particular da família Villanueva, Soyoung sabia que não iria ser bem recebida, mas tinha esperanças. Quando por fim aterrissaram em solo estadunidense, havia um carro à espera de ambos, que os levariam até o local fúnebre. O local era uma igreja na qual Ellie frequentava, e Soyoung de vez em quando ia. Depois de quarenta minutos, o motorista havia estacionado um pouco longe, e olhar de Soyoung vendo o caixão sendo levado para dentro da igreja fôra algo triste.
Christopher analisava cada reação que ela tinha, quando viu que ela sentia a enorme vontade de sair daquele carro, ele não poderia impedir. Cabe a ela escolher.
— Você quer ir até lá? — Ele questionou, ela não respondeu e ficou quieto.
— Apenas quando todos saírem. Um cortejo militar só ocorre no cemitério, nunca em uma igreja, então eu esperarei até que todos saiam.
— Ela era militar?
— Minha avó foi detetive na década de sessenta, subiu de cargo e se aposentou, então ela merece esse cortejo.
A cada minuto que se passava, ela via pessoas saindo, até ver que já não teria ninguém para sair, ela por fim desceu do veículo e seguiu até a entrada da igreja. Ela sentiu os olhares da família lhe percorrer mas ignorou. Ela caminhou vagarosamente até o caixão, vendo aquele rosto pálido ali e virou-se em direção a todos.
— Por que não me queriam aqui? — Ela questionou calmamente. Ninguém a respondeu. — Meus próprios pais não quiseram a minha presença. Que engraçado isso. Ninguém até agora me dirige a palavra, eu apenas não entendo.
— Não queríamos que você surtasse — A voz da irmã vociferou em sua direção. — Isso é um medo que todos aqui tem. Todos têm medo de você. Mamãe nunca te disse, mas é a verdade!
— Pare com isso Jessie! — Ji-Hun rebateu, enfrentando a irmã mais velha.
— De forma alguma! Ela tem que entender, não quer a verdade? Então tudo bem. Você sempre foi uma espécie de pesadelo, sua mente nunca foi perfeita, eu jamais deixaria meus filhos em suas mãos sangrentas. — A mulher proferiu palavras dolorosas para Soyoung que sequer reagiu.
Discretamente na entrada da igreja, Christopher adentrou a igreja quieto, observando o caos da família.
— Você é a cópia do maldito García! — A mesma novamente repeliu em berros e logo foi interrompida pela mãe.
— Calem as malditas bocas! — A mais velha rebateu brava — Soyoung, não queríamos que você estivesse aqui por motivos que nesse momento não queremos dizer.
— E quando então? Vocês simplesmente estão me retirando de suas vidas como se eu fosse um completo azar para essa família! — Sua voz ficou embargada a cada palavra que saia de sua boca sem chorar.
— Saia daqui, imediatamente! — A voz masculina gritou ordenando sua saída.
— Vocês já pensaram o quão machucam essa garota? — Do alto, Christopher proferiu. Ele caminhava em direção a família totalmente incrédula.
Todos ali estavam perplexos, e o principal silêncio reinou imediatamente.
— Senhor Park, se me permite… você é incrivelmente babaca. Suas atitudes como pai são falhas. E senhora Park, você é uma graça mas, eu não encontro aquela proteção materna em você. — Christopher não temia o que eles poderiam fazer, já que ninguém falava nada. — Na mente de vocês, o engomadinho e a irmã gostosa da Soyoung são os seus únicos filhos. E ela não é nada. Vai por mim, já passei pela crise familiar.
— Como teve coragem de trazer esse criminoso até aqui? — O Park mais velho retrucou e indo em direção a Soyoung.
Chris estalou a língua, e ironicamente riu, aproximando-se do homem sem temer.
— Veja só… desde que a sua filha carbonizou a família Belova, vocês agem com indiferença em relação a ela. Não acha, senhor Park Jimin?
Jimin tentou agredi-lo, mas a filha foi ágil e sacou sua arma em direção ao próprio pai, que logo se afastou.
— Abaixe a arma imediatamente, Soyoung! — Ele ordenou.
— Eu queria tanto contar o que eu tenho guardado pra mim durante esse tempo que passei longe de vocês… mas sempre me afastam. — Por fim, ela deixou as lágrimas descerem, e logo prosseguiu — E eu sinto muito mesmo pelo o que aconteceu com a vovó Ellie. Mas isso não significa que vocês simplesmente poderiam me proibir de vê-la pela última vez.
— Você não é mais a mesma, querida… não é a garotinha no qual é vi crescer, então eu peço que abaixe lentamente a sua arma — Jimin pediu calmamente, então viu o cenho franzido da filha.
Ela suspirou e fechou os olhos e manteve o olhar sôfrego, e vagarosamente ela seguiu até o caixão e encarou pela última vez. Depositando um selar naquele rosto frio sem vida.
— Adeus, vovó Ellie. Ti voglio bene… — Soyoung se despediu, e dando seu último “Eu amo você” em italiano. — Eu amo todos vocês, mas eu não sei se mereço essa rejeição, então essa será a última vez que irão me ver.
— O que vai fazer Soyoung? — O irmão questionou preocupado. — Maninha, o que está fazendo?
Ela caminhou e parou ao lado de Christopher, vendo ele estender a palma, e ela segurou sua mão firmemente.
— Vocês vão se arrepender por estarem fazendo isso com a Soyoung, se depender de mim, ela será feliz longe de vocês.
— Leve-a então! — Jessie proferiu raivosa.
— Soyoung, por favor não faça isso… — Amy correu em sua direção, tentando impedir a garota. Mas a reação que ela teve foi inesperada.
— Isso não vai mudar em nada, mãe. Que diferença vai fazer?
Aquele silêncio perturbador não fazia mais diferença, todos ali presentes estavam perdidos, não tinha mais o que responder em questão a Soyoung. Ela reprimiu os lábios e encarou o garotinho que estava agarrado às pernas de sua irmã mais velha, correr em sua direção e abraçá-la.
— Tia Soso… para onde vai? Cadê a bisa Ellie?
— Oh meu anjo, a titia Soso está indo para um lugar na qual ela não fique mais dodói. E a bisa Ellie, foi viajar por um tempo.
— Vocês vão voltar em bleve? — O garotinho fazia um biquinho em seus lábios rosados ao encarar a tia.
— Damian, eu em breve estarei viajando com a bisa, e não sei quando vou voltar. Mas saiba que eu sempre estarei com você. — Soyoung tentou não se comover mais ainda, e fitou a irmã ficar tensa.
Amy segurou o pulso da filha e ainda em negação proferiu:
— Por favor, não faça isso novamente… eu não quero perder você. Filha…
Soyoung apenas se desvencilhou e seguiu até a entrada junto a Christopher, ainda calada, ela ainda suspirava. E logo viu a silhueta de alguém que conhecia, seu parceiro de investigação, quer dizer, não mais. Ao ver Félix se aproximar, ele deu suas condolências e a abraçou fortemente.
— Como você está? Achei que não viesse — Félix a questionou, mas não havia percebido a presença do rapaz ao lado. — Espera… esse é o..? Meu deus, ele é o filho de Alejandro Villanueva! Você é o famoso Bang Chan!
— Famoso? — Chris ficou confuso e arqueou a sobrancelha desconfiado.
— Cara, você é uma dor de cabeça. Nunca conseguimos provas o suficiente para efetuar uma prisão contra você.
— Félix… você precisa parar com isso. Não pode fazer esse tipo de reação escandalosa. — Soyoung o advertiu seriamente.
O rapaz ficou calado, Soyoung deu sua última palavra a ele, mas ele não permitiu que fosse ainda. Meio receoso, ele respirou fundo e por momentos olhavam para os lados.
— Preciso contar algo urgente. — Félix avisou e apoiou ambas as mãos nos ombros da garota. — O caso do seu noivo Jeongin foi reaberto. Aparentemente foram descobertas novas provas e talvez possa soar estranho mas…
— Mas o quê? Me fale Félix! Sabe que eu fico angustiada quando faz suspenses.
— O seu noivo conhecia a família Belova, e o corpo nunca esteve no túmulo, aparentemente, não há nada além de pedras.
A feição de Soyoung fora de confusão extrema, ela piscou os olhos algumas vezes e continuou a andar em direção ao veículo, parando em seguida. Algumas folhas caíram sobre o seu casaco e ela voltou a encarar de longe Félix. Ela o chamou rapidamente vendo ele percorrer rápido.
— Como eu fui expulsa da corporação, você será o meu informante. Te ajudarei no caso. — Ela suspirou rendida, não acreditava que o caso fosse reaberto, já que muitas vezes alegaram por suicídio e homicídio culposo, porém, sem suspeitos. — Alejandro conhece um cara, ele é um dos melhores, eu nunca o vi mas, sei da experiência. Se ele conseguir encontrar provas o suficiente e até mesmo o suspeito, finalmente eu ficarei em paz.
— Vai pedir ajuda para o velho? — Christopher questionou.
Ao vê-la assentir, o rapaz não iria discutir com ela, mas ver Alejandro parecia estar fora de cogitação.
— E onde ele está?
— Bang Chan, se sente falta do seu pai é só me dizer. Mas ele está sob proteção do FBI, vivendo uma vida simples, com trabalho e acho que também sozinho — Ela proferiu, e andou para os lados vagarosamente, seus coturnos batiam firmemente no asfalto molhado.
— Soso, eu não sabia que tinha heterocromia… — Félix disse, e logo o riso irônico de Chris fora ouvido.
— Eu não tenho heterocromia. Isso é uma… é uma… — A mulher pensava numa forma de arranjar uma desculpa esfarrapada e rapidamente prosseguiu — Foi um produto na verdade, já conversei com o oftalmologista.
— Que estranho. Mas enfim, vá até a casa de Alejandro, eu te encontro daqui a uma hora para ser exato.
Feliz foi embora e discretamente ela agradeceu, deu seu último olhar para a igreja e adentrou o carro, dando as coordenadas para o motorista na qual o Villanueva havia contratado. O trajeto foi por conversas aleatórias contínuas até tudo ficar quieto novamente, ela observava as folhas caindo por conta do vento e soprou seu hálito quente contra o vidro e acabou fazendo rabiscos. Chris logo aproximou-se e fez o mesmo e riu provocativamente.
— Desenho melhor que você. — Ele disse, retirando um riso soprado da morena. — Então, acha que podemos ficar amigos?
Soyoung demorou para responder, atentamente ela ouvia a música Bellyache da Billie Eilish tocar baixinho, ela não fazia ideia de como falar e dizer o que realmente seriam. Ela o fitou vendo esperar uma mísera resposta.
— Melhor não. Quando tudo isso acabar eu quero viver a minha vida e bem longe de todos que eu conheci, recomeçar do zero.
— Sozinha? E a proposta que eu lhe fiz?
— Não quero o dinheiro dos Villanueva, Bang Chan. Acredite, nem tudo gira em torno do dinheiro da sua família. — A mesma respondeu sem deixar de encará-lo.
Quando Christopher fôra rebater, ele não percebeu que haviam chegado, apenas percebeu quando ela saiu do veículo. O lugar onde o pai morava era aconchegante e ao ar livre, tinha acesso ao lago, estradas acessíveis, e a imensa floresta. Ela caminhou até a casa e tocou a campainha duas vezes, e fora recebida pelo homem, que agora estava com barba e usava chapéu.
Alejandro se surpreendeu tanto que a abraçou fortemente e a levitou no ar e a rodopiando. Christopher observava de longe, dentro do veículo, ele percebeu que o próprio pai tinha mais afeição pela Soyoung do que os filhos. Vendo ele passar a mão gentilmente pelos fios castanhos dela, então ele percebeu.
Algo se encaixa, e que Soyoung era o único alvo de Alejandro. Pagando de bonzinho e se afugentando. Christopher tinha a certeza que ela ficaria com tudo. E que apenas reuniu os filhos para apenas um propósito que não havia sido descoberto.
Ele sabia. E ela talvez ainda não.
O rapaz saiu do carro com o olhar de desprezo para o próprio pai, e que logo que viu o filho sorriu largo, gritando seu nome. Aproximando-se e sorriu falso e felino, a tensão não havia sido exposta ainda, Chris precisaria saber mais. Ou ele surtaria jogando o que tinha em mente.
— Querida, não percebi que tinha heterocromia. — E mais uma vez Alejandro a encarou segurando o seu rosto, Bang Chan cerrou os punhos fortem controlando-se.
— Foi um acidente na verdade, um produto vencido causou isso.
— Mas minha filha, não viu a validade? — Ele questionou, e ainda não havia dirigido a palavra ao filho ainda.
Christopher percebia isso, e que o tratamento estava diferente em relação a ela, era carinhoso demais e a tocava constantemente.
— Então, é nesse moquifo que você mora? — Bang Chan interrompeu coçando a garganta e adentrou a casa sem pedir.
— Christopher Bang Villanueva… — Soyoung o advertiu séria. Tentando controlar as palavras irônicas.
— Está tudo bem, querida. Aceita algo para beberem? Eu irei buscar.
— Eu vou querer veneno e limão, tem? — O Villanueva perguntou brincando e recebeu um beliscão da garota.
Alejandro apenas riu e saiu em direção a cozinha, enquanto isso, Soyoung o repreendeu já brava. Ela não estava entendendo a atitude repentina do rapaz e o quão ele estava sendo insuportável.
— Por que está agindo assim, hein? — Ela bateu em seu ombro, proferindo baixo.
— Eu ainda não acredito que vim até esse lugar — Ele revirou os olhos reclamando.
— Olha aqui, praga, é melhor fechar o seu bico e ficar quieto, eu não estou reclamando sobre o meu olho ainda e ainda perdi a minha avó, então pare de agir como criança.
Assim que Alejandro voltou com bandejas em mãos, Soyoung parou de resmungar com Bang Chan, acabou que sentiu o cheiro de torta de frango que acabara de sair do forno. Ela aprontou-se e pegou o prato com a torta e devorava com degustação.
— Sabia que teria esse tipo de reação, e você Christopher? Não vai provar? — O mais velho indagou vendo a teimosia do filho primogênito, que logo se rendeu. — Eu soube o que aconteceu com a Ellie, sinto muito, Soso.
Alejandro lamentou suspirando pesadamente e encarou o chão.
— Como soube disso? Está do outro lado de Chicago! — Bang Chan não perdia a oportunidade de retrucar em questionamento.
— Ainda com os seus contatos, senhor Alejandro? — Dessa vez Soyoung o perguntou, logo ele assentiu. — Sobre isso, eu preciso de um deles. É para um investigação.
— Que tipo? Apenas dois estão disponíveis, Sophie.
— Eu preciso que ele encontre um corpo e provas de um assassinato. — Soyoung disse ainda dando garfadas na torta.
— Oh… eu acho que o I.N é perfeito para isso, vou te entregar o contato dele. Peça-lhe para lhe encontrar a sós. Diga que eu mandei a Viúva e ele saberá.
— Ainda amedrontando os seus contatos com isso? — Ela riu e bebericou o chá gelado vagarosamente.
— Você é a melhor, e ele conhece a sua fama, porém nunca viu você. Talvez tente algo, mas ele é difícil, I.N teve um relacionamento mas nunca esqueceu — O Villanueva continuava, e sorriu fraco. — E como está na Itália?
— Um caos, e Hannah apareceu. — Bang Chan impediu que Soyoung falasse colocando o garfo com torta em sua boca. — E adivinha, velhote? Haverá uma festa de Sostrato Belova e fomos convidados, mas a sua consigliere não quer ir.
— E ela está certa. — Ele falou, mas para Christopher soava como absurdo — E por isso mesmo que aguardem minha presença, verei uma forma de sair daqui, espero que…
Alejandro logo é interrompido pela campainha que tocara duas vezes.
— É um amigo, senhor. Não se preocupe.
Ela levantou-se e seguiu até a porta e abriu vendo Félix ofegante e suado, ela achou estranho vê-lo daquela forma e logo observou alguns galhos em sua roupa.
— Sem querer eu vi algo que não deveria — Ele adentrou rapidamente dizendo. — Ácido muriático vai funcionar super bem.
— Viu alguma vizinha sem roupa?
— Acabei de ver uma senhora fazendo aquilo — Félix estava nervoso e era nítido e piscava constantemente.
— Viu ela transando? — Soyoung questionou segurando a risada, e o rapaz negou e ela logo entendeu. — Então a senhorinha estava se masturbando? Pelo amor, Félix! Ela está velha e não morta. Aliás, eu consegui o contato.
— Certo, você vai entrar em contato, e me repassar algumas coisas. Talvez consigamos algo. Como vai fazer isso mesmo?
— Pela primeira vez depois de anos, serei a Viúva esta noite.
(...)
A noite havia por fim chegado, enquanto isso, Christopher voltou para o hotel sozinho, e Soyoung fora encontrar-se com o suposto contato. Ela usava uma peruca ruiva e roupas pretas — já fazia anos que a mesma não tingia o cabelo, optou por peruca —, em seu ouvido havia uma escuta para que Félix pudesse se comunicar. A mesma aguardava em um restaurante, onde havia poucas pessoas, e em local escuro e reservado.
— Viúva? — Soyoung paralisou ao ouvir aquela voz, parecia tão conhecida que não ligou muito. — Estou surpreso em finalmente conhecê-la, não sabe o quão desejei isso, sua fama é inestimável.
Ele se aproximava cada vez mais, porém Soyoung não havia o encarado ainda. Assim que ele pôs a mão em seu ombro, ela viu a tatuagem o acobertar.
— Que honra então… — Ela paralisou ao ver o seu rosto, não imaginava o que ela estava vendo. — O quê?!
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